QUARESMA PASSO A PASSO - 2023
EVANGELHO Jo 5, 1-3a.5-16
«Queres ser curado?»;
"Disse-lhe Jesus: «Levanta-te, toma a tua enxerga e anda»";
"Ora aquele dia era sábado."
Movido pelo Espírito da Ressurreição, o homem, desde longa data enfermo, é liberto do pecado, fica são pela vida que Jesus lhe comunica, e assim curado, libertado, perdoado, ressuscitado em Jesus - que é e dá a Vida - caminha são, e é convidado a não mais pecar.
"Naquele tempo, por ocasião de uma festa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém. Existe em Jerusalém, junto à porta das ovelhas, uma piscina, chamada, em hebraico, Betsatá, que tem cinco pórticos. Ali jazia um grande número de enfermos, cegos, coxos e paralíticos. Estava ali também um homem, enfermo havia trinta e oito anos. Ao vê-lo deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, Jesus perguntou-lhe: «Queres ser curado?» O enfermo respondeu-Lhe: «Senhor, não tenho ninguém que me introduza na piscina, quando a água é agitada; enquanto eu vou, outro desce antes de mim». Disse-lhe Jesus: «Levanta-te, toma a tua enxerga e anda». No mesmo instante o homem ficou são, tomou a sua enxerga e começou a caminhar. Ora aquele dia era sábado. Diziam os judeus àquele que tinha sido curado: «Hoje é sábado: não podes levar a tua enxerga». Mas ele respondeu-lhes: «Aquele que me curou disse-me: ‘Toma a tua enxerga e anda’». Perguntaram-lhe então: «Quem é que te disse: ‘Toma a tua enxerga e anda’». Mas o homem que tinha sido curado não sabia quem era, porque Jesus tinha-Se afastado da multidão que estava naquele local. Mais tarde, Jesus encontrou-o no templo e disse-lhe: «Agora estás são. Não voltes a pecar, para que não te suceda coisa pior». O homem foi então dizer aos judeus que era Jesus quem o tinha curado. Desde então os judeus começaram a perseguir Jesus, por fazer isto num dia de sábado."
A liturgia de hoje faz-nos refletir sobre a água, a água como símbolo de
salvação, porque é um meio de salvação, mas a água é também um instrumento de
destruição: pensemos no dilúvio... Mas nestas leituras, a água é para a
salvação.
Na primeira leitura fala-se da água que traz a vida, que saneia as águas do
mar, uma água nova que cura. E no Evangelho fala-se da piscina, daquela piscina
repleta de água à qual os doentes iam para ser curados, porque se dizia que de
vez em quando as águas se moviam, como se fosse um rio, porque um anjo descia
do céu e as movia, e o primeiro, ou os primeiros, que se lançavam na água
ficavam curados. E ali havia muitos doentes: “Um grande número de enfermos,
cegos, coxos, paralíticos” ficavam ali, à espera da cura, do movimento da água.
Encontrava-se também um homem que estava doente há 38 anos. Há 38 anos ali,
à espera da cura! Isto faz pensar, não é verdade? É demasiado... porque quem
quer ser curado organiza-se para ter alguém que o ajude, faz algo, é um pouco
ágil, inclusive um pouco astuto... mas ele, há 38 anos ali, a ponto que não se
sabe se está doente ou morto... Vendo-o deitado, e conhecendo a realidade, que
há muito tempo estava ali, Jesus diz-lhe: “Queres ficar curado?”. E a resposta
é interessante: não diz que sim, lamenta-se. Da doença? Não. O doente responde:
“Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada.
Quando estou para chegar – estou prestes a tomar a decisão de ir – outro desce
antes de mim”. Um homem que chega sempre atrasado. Jesus diz-lhe: “Levanta-te,
toma o teu leito e anda”. No mesmo instante, aquele homem ficou curado.
A atitude deste homem leva-nos a pensar. Estava doente? Sim, talvez, tinha
alguma paralisia, mas parece que podia caminhar um pouco. Mas estava doente no
coração, na alma, estava doente de pessimismo, de tristeza, de preguiça. Eis a
doença daquele homem: “Sim, quero viver, mas...”, estava ali. A sua resposta
não é: “Sim, quero ser curado!”. Não, é lamentar-se: “São os outros que chegam
primeiro, sempre os outros”. A resposta à oferta de cura de Jesus é uma
lamentação contra os outros. E assim, 38 anos a lamentar-se dos outros. E sem
nada fazer para ser curado.
Era sábado: ouvimos o que os doutores da Lei fizeram. Mas a chave é o
encontro com Jesus, mais tarde. Encontrou-o no templo e disse-lhe: “Eis que
estás curado. Não voltes a pecar, para que não te aconteça algo pior”. Aquele
homem vivia no pecado, mas não porque tinha feito algo grave, não. O pecado de sobreviver
e de se lamentar da vida dos outros: o pecado da tristeza, que é a semente do
diabo, da incapacidade de tomar uma decisão sobre a própria vida, mas de olhar
para a vida dos outros a fim de se lamentar. Não para os criticar: para se
queixar. “Eles chegam antes, eu sou a vítima desta vida”: queixas, estas
pessoas respiram lamentações.
Se fizermos uma comparação com o cego de nascença, que ouvimos domingo
passado: com quanta alegria, com quanta decisão reagiu à sua cura, e também com
quanta determinação foi discutir com os doutores da Lei! Este [paralítico]
somente foi ali e informou: “Sim, é ele”, Ponto. Sem compromisso com a vida...
Faz-me pensar em muitos de nós, em muitos cristãos que vivem esta condição de
preguiça, de incapacidade de fazer algo, lamentando-se de tudo. E a preguiça é
um veneno, uma neblina que circunda a alma e não a deixa viver. E é também uma
droga, porque se a experimentares com frequência, gostarás dela. E assim acabas
por te tornares “dependente da tristeza”, “dependente da preguiça”... É como o
ar. E este é um pecado bastante comum entre nós: a tristeza, a preguiça, não
digo a melancolia, mas assemelha-se.
E far-nos-á bem reler o capítulo 5 de João, para ver como é a doença em que
podemos cair. A água é para nos salvar. “Mas não posso salvar-me” – “Por que
motivo?” – “Porque a culpa é dos outros”. E permaneço 38 anos ali... Jesus
curou-me: não se vê a reação dos outros que são curados, que tomam o leito e
dançam, cantam, agradecem e contam a todos. Não, ele vai em diante assim. Os
outros dizem-lhe que não se deve fazer isto, mas ele diz: “Aquele que me curou
disse-me que sim”, e vai adiante. E depois, em vez de ir ao encontro de Jesus e
de lhe agradecer, informa: “Foi Ele”. Uma vida cinzenta, cinzenta com aquele
mau espírito que é a preguiça, a tristeza, a melancolia.
Pensemos na água, a água que é símbolo da nossa força, da nossa vida, a
água que Jesus usou para nos regenerar, o Batismo. E pensemos também em nós, se
alguém de nós corre o perigo de escorregar nesta preguiça, neste pecado
“neutral”: o pecado do neutro é este, nem branco nem preto, não se sabe o que
é. E este é um pecado que o diabo pode usar para aniquilar a nossa vida
espiritual e também a nossa vida como pessoas. Que o Senhor nos ajude a
entender quão terrível e mau é este pecado.
O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística,
convidando a fazer a Comunhão espiritual.
Oração para fazer a Comunhão espiritual
As pessoas que não podem receber a Eucaristia, agora fazem a Comunhão
espiritual
Meu Jesus, creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-vos acima de tudo e a minha alma suspira por Vós. Mas dado que agora não posso receber-vos no Santíssimo Sacramento, vinde, pelo menos espiritualmente, ao meu coração. Abraço-vos come se já estivésseis comigo: uno-me inteiramente a Vós. Ah! Não permitais que eu volte a separar-me de Vós!
Papa Francisco
(Capela de Santa Marta, 24 de março de 2020)
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