domingo, 30 de maio de 2021

Encerramento da maratona de oração pelo fim da pandemia - Ecclesia

Vaticano: Papa encerra maratona de oração pelo fim da pandemia diante de Nossa Senhora, desatadora de nós

Mai 27, 2021 - 11:15 

31 Maio, 2021@16:45


Cidade do Vaticano, 27 mai 2021 (Ecclesia)

O Papa Francisco vai encerrar esta segunda-feira, no Vaticano, a maratona de oração pelo fim da pandemia que decorre desde 1 de maio, com a recitação do terço diante de Nossa Senhora, “desatadora de nós”.

O Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização (Santa Sé) indica, em comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA, que a celebração decorre nos Jardins do Vaticano, a partir das 17h45 (menos uma em Lisboa).

A “maratona” passa por santuários marianos dos cinco continentes, entre eles o de Fátima, que acolheu a oração do terço a 13 de maio, na Capelinha das Aparições, com transmissão Mundial.

“Como sinal final, o Papa Francisco quis orar a uma imagem de Nossa Senhora de que é muito devoto, a Virgem Maria que desata os nós”, adianta o organismo do Vaticano.

O ícone que retrata esta representação particular está localizado em Augsburgo, Alemanha, e consiste num óleo sobre tela do pintor alemão Johann Georg Melchior Schmidtner.

“O Papa Francisco sempre demonstrou uma forte devoção a esta imagem e difundiu o culto, principalmente em Buenos Aires e na Argentina. A pintura retrata a intenção de Nossa Senhora de desatar os nós de uma fita branca esticada por dois anjos, rodeada por cenas bíblicas que remetem simbolicamente a imagens de esperança, misericórdia e vitória sobre o mal”, indica o Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização.

Francisco vai receber uma cópia da Virgem Maria que desata os nós, oferecida pelo bispo de Augsburgo, D. Bertram Johannes Meier.

A escolha desta imagem pretende representar uma oração particular para que a Virgem Maria “interceda para ‘desatar’ os sofrimentos que assolam o mundo neste momento de crise de saúde, mas também de relações económicas, psicológicas e sociais”.

Simbolicamente, o Papa vai apresentar cinco intenções de oração, cinco “nós” para desatar: nos relacionamentos humanos, por causa da solidão e da indiferença; o desemprego; a tragédia da violência, em particular contra as mulheres e nas tensões sociais; o desenvolvimento humano, para que as descobertas científicas “possam ser acessíveis a todos, especialmente os mais fracos e os mais pobres; a pastoral da Igreja Católica.

A celebração do Rosário começará com uma procissão solene, liderada pelo bispo de Augsburgo, que levará o ícone da Virgem Maria que desata os nós.

A oração será transmitida em direto pelos canais do Vaticano e vai contar com a participação de um conjunto de santuários marianos de vários países - França, Alemanha, Ruanda, Chile, Espanha, Escócia, Paraguai, Itália.

OC

sábado, 29 de maio de 2021

 SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE 


Hoje, a Igreja está novamente em festa, pois celebra a festa do Amor, de Deus Uno e Trino. E é, neste mistério de três pessoas distintas, numa só natureza, que participamos a partir do momento em que somos batizados.  É na comunhão de Amor Divino que somos mergulhados, quando recebemos o sacramento do Batismo, passando a fazer parte da Igreja, a “esposa”, eternamente amada por Deus. É caso para dizemos que esta é a melhor forma de voltarmos ao tempo comum, de o reiniciarmos alicerçados no essencial da nossa fé, que é a verdadeira essência do nosso Deus: o Amor. Deus é todo Amor, por mim, por ti, por cada um de nós individualmente, pela humanidade inteira, pela Criação.  Em Jesus Cristo faz-Se um connosco, verdadeiramente habita-nos, por inteiro, vive em cada um de nós. Bendito e louvado seja Deus, por nos amar assim, perdidamente.

Na 1ªleitura (Deut 4, 32-34.39-40) entramos em contacto com o Deus da nossa história, fazendo memória do caminho que Deus fez com o Seu povo. Somos convidados a olhar para todas as provas do Amor do Senhor, e da Sua fidelidade, apesar de tantas infidelidades do povo de Israel, como garantia de que fará o mesmo com cada um de nós, isto é, nunca nos deixará sós, estará sempre connosco, até ao fim dos tempos, amando-nos infinitamente.

"Moisés falou ao povo, dizendo: «Interroga os tempos antigos que te precederam, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra. Dum extremo ao outro dos céus, sucedeu alguma vez coisa tão prodigiosa? Ouviu-se porventura palavra semelhante? Que povo escutou como tu a voz de Deus a falar do meio do fogo e continuou a viver? Qual foi o deus que formou para si uma nação no seio de outra nação, por meio de provas, sinais, prodígios e combates, com mão forte e braço estendido, juntamente com tremendas maravilhas, como fez por vós o Senhor vosso Deus no Egito, diante dos vossos olhos? Considera hoje e medita em teu coração que o Senhor é o único Deus, no alto dos céus e cá em baixo na terra, e não há outro. Cumprirás as suas leis e os seus mandamentos, que hoje te prescrevo, para seres feliz, tu e os teus filhos depois de ti, e tenhas longa vida na terra que o Senhor teu Deus te vai dar para sempre»."

Na 2ªleitura (Rom 8, 14-17)   S.Paulo centra-nos na nossa identidade de filhos, no Filho e somo-Lo mesmo, filhos de Deus, por isso deixemo-nos abraçar por Ele e chamemos-Lhe Abá. Entreguemo-nos de coração a este amor sem limites. Deus continua enamorado da Sua Igreja, de cada um e de todos nós.

Irmãos: Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para recair no temor, mas o Espírito de adoção filial, pelo qual exclamamos: «Abá, Pai». O próprio Espírito dá testemunho, em união com o nosso espírito, de que somos filhos de Deus. Se somos filhos, também somos herdeiros, herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo; se sofrermos com Ele, também com Ele seremos glorificados.

No evangelho (Mt 28, 16-20) Jesus dá-nos a missão de O anunciarmos nos nossos ambientes e  periferias, ou por onde nos deslocarmos, na continuidade do que disse aos Seus discípulos.

Naquele tempo, os Onze discípulos partiram para a Galileia, em direção ao monte que Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos»


Senhor, que o meu coração se abra à ação do Teu Santo Espírito.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Plataforma de «Ação Laudato Si´» - artigo in Ecclesia

 


Vaticano: Papa lança plano de sete anos para superar «crise ecológica sem precedentes»

Mai 25, 2021 - 11:01

Plataforma «Laudato Si» quer tornar comunidades católicas «totalmente sustentáveis»

Cidade do Vaticano, 25 mai 2021 (Ecclesia)  

O Papa lançou hoje no Vaticano a Plataforma de Ação ‘Laudato Si’, no final do ano dedicado à sua encíclica de 2015, sublinhando a necessidade de enfrentar a atual “crise ecológica sem precedentes”.

“Há algum tempo que esta casa que nos hospeda sofre com as feridas que causamos por uma atitude predatória”, refere, numa mensagem em vídeo, sublinhando que “essas feridas se manifestam de forma dramática numa crise ecológica sem precedentes, afetando o solo, o ar, a água e, em geral, o ecossistema em que vivem os seres humanos”.

Francisco destaca que a pandemia veio sublinhar a interdependência entre os seres humanos e a natureza.

“Precisamos de uma nova abordagem ecológica, que transforme a nossa forma de viver no mundo, os nossos estilos de vida, a nossa relação com os recursos da Terra e, em geral, a forma como olhamos o homem e vivemos”, sustenta.

A mensagem foi apresentada na conferência de imprensa conclusiva do ‘Ano Laudato Si’ (maio de 2020-maio de 2021), que decorreu no Vaticano.

O Papa propõe uma “ecologia humana integral”, que ajude a superar estilos de vida “irresponsáveis” que estão a ameaçar o futuro.

“Vamos cuidar da nossa mãe Terra, vamos superar a tentação do egoísmo que nos torna predadores dos recursos, vamos cultivar o respeito pelos dons da Terra e da criação, vamos inaugurar um estilo de vida e uma sociedade que finalmente seja ecossustentável”, apela.

Temos a oportunidade de preparar um amanhã melhor para todos. Recebemos um jardim das mãos de Deus, não podemos deixar um deserto para os nossos filhos”.

Francisco adianta que a Plataforma de Ação ‘Laudato Si’ propõe uma “jornada” de sete anos para que todas as comunidades católicas “se tornem totalmente sustentáveis, no espírito da ecologia integral”.

O desafio foi lançado, em particular, a sete realidades: famílias; paróquias e dioceses; escolas e universidades; hospitais; empresas e negócios agrícolas; organizações, grupos e movimentos; institutos religiosos.

“Trabalhando juntos. Só assim poderemos construir o futuro que desejamos: um mundo mais inclusivo, fraterno, pacífico e sustentável”, sustenta o Papa.

percurso é inspirado pelos sete objetivos da ‘Laudato Si’: “a resposta ao grito da Terra, a resposta ao clamor dos pobres, a economia ecológica, a adoção de um estilo de vida simples, a educação ecológica, a espiritualidade ecológica e o compromisso comunitário”.

“Há esperança. Todos podemos colaborar, cada um com a sua cultura e experiência, cada um com as suas iniciativas e capacidades, para que a nossa mãe Terra volte à sua beleza original e a criação volte a brilhar segundo o desígnio de Deus”, refere Francisco.

A nova plataforma, disponível em nove línguas, incluindo o português, conta com o apoio do Movimento Católico Global pelo Clima e de todos os Institutos Religiosos.

O Papa Francisco assinalou o quinto aniversário da sua encíclica ecológica e social, lançando um ano especial a 24 de maio do 2020.

O Vaticano apresentou, durante esta celebração, um “manual” de aplicação da ‘Laudato Si’ com mais de 200 recomendações em defesa do ambiente e da vida humana.

OC

Oração - Papa Francisco - Pastoral da Cultura

 

Porque é que Deus não me dá o que lhe peço? É Ele que nos converte, não o contrário, lembra Francisco

Há uma contestação radical à oração, que deriva de uma observação que todos fazemos: nós rezamos, pedimos, mas por vezes as nossas orações parecem ficar por escutar: o que pedimos – para nós ou para os outros – não se realiza – temos esta experiência muitas vezes. Se depois o motivo pelo qual rezámos era nobre (como pode ser a intercessão pela saúde de um doente, ou para que cesse uma guerra, por exemplo), o não acolhimento parece-nos escandaloso – por exemplo com as guerras, rezamos para que acabem as guerras em tantas partes do mundo, pensemos no Iémen, na Síria, países que há anos e anos são martirizados pela guerra; rezamos e não acabam. Como é que isto pode ser?

«Alguns deixam até de rezar porque, pensam, a sua súplica não é acolhida» (Catecismo da Igreja Católica, n. 2734). Se Deus é Pai, porque não nos escuta? Ele que nos assegurou dar coisas boas aos filhos que lhe pedem (cf. Mateus 7, 10), porque não responde aos nossos pedidos? Todos nós temos a experiência disto. Rezámos, rezámos pela doença deste amigo, este pai, esta mãe, mas depois morreu. Deus não nos escutou. É uma experiência de todos nós.

O Catecismo oferece-nos uma boa síntese sobre a questão. Adverte-nos para o risco de não viver uma autêntica experiência de fé, mas de transformar a relação com Deus em algo de mágico. A oração não é uma varinha mágica. É um diálogo com o Senhor. De facto, quando rezamos podemos cair no risco de não sermos nós a servir a Deus, mas pretender que seja Ele a servir-nos. Eis então uma oração que está sempre a reclamar, que quer dirigir os acontecimentos segundo o nosso desígnio, que não admite outros projetos a não ser os nossos desejos.


domingo, 23 de maio de 2021

 SANTA MARIA, MÃE DA IGREJA


Nota histórica

À Virgem Santa Maria foi atribuído o título “Mãe da Igreja”, porque deu à luz a Cabeça da Igreja e se tornou a Mãe dos redimidos quando seu Filho ia morrer na cruz. O papa São Paulo VI confirmou solenemente a mesma designação na alocução aos Padres do Concílio Vaticano II, no dia 21 de Novembro de 1964, e decidiu que todo o povo cristão honrasse, agora ainda mais, com este santíssimo nome, a Mãe de Deus.

Cidade do Vaticano

A Memória de Maria, Mãe da Igreja, será celebrada todos os anos na Segunda-feira depois de Pentecostes

Com um Decreto publicado no sábado, 03 de março de 2018, pela Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, o Papa Francisco determinou a inscrição da Memória da “Bem-aventurada Virgem, Mãe da Igreja” no Calendário Romano Geral. Esta memória será celebrada todos os anos na Segunda-feira depois de Pentecostes.

O motivo da celebração está brevemente descrito no Decreto "Ecclesia Mater": favorecer o crescimento do sentido materno da Igreja nos Pastores, nos religiosos e nos fiéis; assimo como, também, fomentar a genuína piedade mariana.

“Esta celebração ajudará a lembrar que a vida cristã, para crescer, deve ser ancorada no mistério da Cruz, na oblação de Cristo no convite eucarístico e na Virgem oferente, Mãe do Redentor e dos redimidos”

"Naquele tempo, estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Ao ver sua Mãe e o discípulo predileto, Jesus disse a sua Mãe: «Mulher, eis o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis a tua Mãe». E a partir daquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa."

No evangelho (Jo 19,25-27) contemplamos Maria junto à cruz. É o momento mais doloroso de toda a sua vida porque é também o momento mais incompreensível da vida de Jesus, o seu Filho. Naquele cenário, o olhar da mãe e do Filho encontram-se. O olhar de Jesus cruza-se com o de Maria para estender a maternidade de Sua mãe para lá dos laços de sangue, até que ela seja a Mãe da Igreja, a Mãe de todos os homens. O mistério da cruz transformou Maria na Mãe dos discípulos de seu filho, que têm como missão anunciar o evangelho. 

Reunida com os discípulos em oração, ela torna-se a Mãe da Igreja que no Cenáculo dá os primeiros passos na consciência da sua vocação universal.

Virgem Santa Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, ensina-nos a rezar com coração generoso para acolhermos em todas as coisas a vontade do teu Filho.

Texto adaptado do site "Liturgia"

sábado, 22 de maio de 2021

SOLENIDADE DE PENTECOSTES

Hoje celebramos a Festa do Pentecostes, fazemos memória do nascimento da Igreja, da descida do Espírito Santo sobre Maria Santíssima e os Apóstolos reunidos no Cenáculo. Para dar continuidade ao que era pedido no domingo passado, os apóstolos e nós, homens e mulheres de hoje, "fechados" nas nossas "casas", com medo da pandemia, necessitamos de nos deixar repassar pelo Espírito Santo, que Jesus nos envia, de junto do Pai. Terminado o tempo pascal é a hora de, cheios do Espírito Santo, anunciarmos na vida, do dia a dia, no que somos e na forma como agimos, respeitando sempre as regras de saúde pública: o Amor infinito de Deus, por cada ser vivente; o triunfo do Amor em Jesus que está ressuscitado, vive em nós e venceu a morte. 

Na 1ª leitura (Atos 2, 1-11) S. Lucas situa-nos num mesmo lugar, com os apóstolos, ainda cheios de medos e angústias, sem saberem o que fazer . E é neste contexto que percebemos ( talvez nos seja até mais fácil de entender agora, por causa do Covid-19) a ação do Espírito Santo: 

Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Residiam em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria língua? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus».” É Deus que se faz ouvir, entender, por todos aqueles povos de diferentes línguas, através dos apóstolos, que se lhe entregaram, com a toda a sua fragilidade, mas também com toda a confiança. É Deus que se revela através deles e continua a manifestar-se através de outras pessoas, tendo chegado até aos dias de hoje. Façamos como os apóstolos. Agora é a nossa vez!

Na 2ªleitura (1 Cor 12, 3b-7.12-13) S. Paulo projeta-nos para a nossa missão de batizados no Espírito Santo. Cada batizado, que se deixa guiar por Jesus, que se deixa moldar pelo Seu Santo Espírito, que se encontra com Ele, no mais íntimo de si mesmo, porá a render os dons que o Senhor lhe confiou, para a continuação da construção do Seu Reino de Amor. Somos todos necessários ao “bem comum”, à Igreja, cada um ao seu jeito, com a sua missão. 

“Irmãos: Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela ação do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – Todos ficaram cheios do Espírito Santo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.”

No Evangelho (Jo 20, 19-23)  somos reconduzidos ao mesmo acontecimento da 1ªleitura, só que, desta vez, por S. João, que nos centra no nascimento da Igreja, na missão que Jesus confiou aos seus apóstolos. Deixemos que o Espírito Santo continue, em nós, a missão iniciada com os primeiros apóstolos, com os que, naqueles primeiros tempos, se deixaram habitar totalmente pelo Espírito Santo de Deus. 

“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».”


"Senhor, Deus do universo, que no mistério de Pentecostes, santificais a Igreja, dispersa entre todos os povos e nações, derramai sobre a terra os dons do Espírito Santo, de modo que também hoje se renovem nos corações dos fiéis os prodígios realizados nos primórdios da pregação do Evangelho".

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Espírito Santo - Pastoral da Cultura

A humanidade precisa que o Espírito a sacuda

Quando vier o Espírito, orientar-vos-á para toda a verdade (cf. João 15,26-27; 16,12-15). É a humildade de Jesus, que não pretende dizer tudo, de ter a última palavra sobre tudo, mas fala da nossa história com Deus com verbos conjugados no futuro: o Espírito virá, anunciará, guiará, falará. Um sentido de vitalidade, de energia, de espaços abertos!

O Espírito como uma corrente que arrasta a História para o futuro, abre veredas, faz avançar. Rezar-lhe é como assomar à varanda do futuro. Que é a terra fértil e por cultivar da esperança.

O Espírito provoca como um curto-circuito na História e no tempo: restitui-nos ao coração, acende em nós, como uma pederneira que cria centelhas, a beleza de então, de gestos e palavras daqueles três anos de Galileia.

Enamorados da beleza espiritual, tornamo-nos «buscadores verdadeiros de Deus, que tropeçam numa estrela e, tentando caminhos novos, se perdem na poeira mágica do deserto» (D.M. Montagna).

Somos como peregrinos sem estrada, mas tenazmente a caminho (João da Cruz), ou no meio de um mar plano, sobre uma casca de nós, onde tudo é maior que nós. Nesse momento, é preciso saber a todo o custo/ fazer levantar uma vela/ sobre o vazio do mar (Julian Gracq).

Uma vela, e o mar muda, já não é um vazio no qual nos perdemos ou afundamos; basta que se levante uma vela e nos deixemos investir pelo sopro vigoroso do Espírito (eu a vela, Deus o vento) para iniciar uma aventura apaixonante, esquecendo o vazio, seguindo uma rota.

O que é o Espírito Santo? É Deus em liberdade. Que inventa, abre, sacode, faz coisas que não esperas. Que dá a Maria um filho fora-da-lei e a Isabel um filho profeta, e que em nós cumpre incansavelmente a mesma obra de então: torna-nos ventres do Espírito, que dão carne e sangue e história à Palavra.

Deus em liberdade, um vento nómada, que leva pólenes aonde quer, leva primaveras e dispersa as neblinas, e a todos nos faz vento no seu Vento. Deus em liberdade, que não suporta estatísticas.

Os estudiosos procuram recorrências e esquemas constantes; dizem: na Bíblia Deus age assim. Não acredites. Na vida e na Bíblia, Deus nunca segue esquemas.

Precisamos do Espírito, dele precisa o nosso mundo estagnado, sem impulsos. Para esta Igreja que tem dificuldade em sonhar. O Espírito com os seus dons dá a cada cristão uma genialidade que lhe é própria. E a humanidade tem necessidade extrema de discípulos geniais.

Precisamos que cada um acredite no seu dom, na sua unicidade, e assim possa manter elevada a vida com a inventiva, a coragem, a criatividade, que são dons do Espírito. Então nunca faltará o vento ao meu veleiro, ou àquela pequena vela que se agita alta no vazio do mar.

 

Ermes Ronchi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: mexitographer/Bigstock.com
Publicado em 20.05.2021


quarta-feira, 19 de maio de 2021

Rezar não é fácil - Pastoral da Cultura


«Rezar não é fácil»: Francisco aponta espinhos e sugere estratégias para perseverar na oração

Seguindo o modelo do Catecismo, nesta catequese referir-nos-emos à experiência vivida da oração, procurando mostrar-lhe algumas das dificuldades muito comuns, que devem ser identificadas e superadas. Rezar não é fácil: há muitas dificuldades que ocorrem na oração. É preciso conhecê-las, especificá-las e superá-las.

O primeiro problema que se apresenta a quem reza é a distração. Começas a rezar e depois a mente gira, gira por todo o mundo; o teu coração está lá, a mente está lá... a distração da oração. A oração convive muitas vezes com a distração. Com efeito, a mente humana tem dificuldade em deter-se longamente sobre um só pensamento. Todos experimentamos este contínuo turbilhão de imagens e de ilusões em perene movimento, que nos acompanha até durante o sono. E todos sabemos que não é bom dar seguimento a esta inclinação desordenada. A luta para conquistar e manter a concentração não diz respeito apenas à oração. Se não se alcança um grau suficiente de concentração não se pode estudar com aproveitamento nem se pode trabalhar bem. Os atletas sabem que as competições não se vencem só com o treinamento físico, mas também com a disciplina mental: sobretudo com a capacidade de estar concentrados e manter desperta a atenção.

As distrações não são culpáveis, mas devem ser combatidas. No património da nossa fé há uma virtude que com frequência é esquecida, mas que está muito presente do Evangelho. Chama-se “vigilância”. E Jesus di-lo muito: «Vigiai. Orai». O Catecismo cita-a explicitamente na sua instrução sobre a oração (cf. n. 2730). Jesus, assiduamente, chama os discípulos para o dever de uma vida sóbria, orientada pelo pensamento que mais cedo ou mais tarde Ele regressará, como um esposo das bodas ou um proprietário de uma viagem.

Não conhecendo, todavia, o dia e a hora do seu regresso, todos os minutos da nossa vida são preciosos e não devem ser dispersos em distrações. No instante que não conhecemos ressoará a voz do nosso Senhor: nesse dia, felizes aqueles servos que Ele encontrar laboriosos, ainda concentrados naquilo que verdadeiramente conta. Não se dispersaram seguindo cada atração que se apresentava às suas mentes, mas procuraram caminhar no caminho certo, fazendo o bem e fazendo a sua tarefa. Esta é a distração: que a imaginação gira, gira, gira... Santa Teresa chamava a esta imaginação que gira, gira na oração, «a louca da casa»: é como uma louca que te faz girar, girar... Temos de a fechar e enjaular, com a atenção.

Um discurso merece o tempo da aridez. O Catecismo descreve-o desta maneira: «O coração é insensível, sem gosto pelos pensamentos, as recordações e os sentimentos inclusive espirituais. É o momento da fé pura, que permanece com Jesus na agonia e no túmulo» (n. 2731). A aridez faz-nos pensar na Sexta-feira Santa, na noite e no Sábado Santo, todo o dia: Jesus não está, está no túmulo; Jesus está morto: estamos sós. E este é o pensamento-mãe da aridez. Muitas vezes não sabemos quais são as razões da aridez: pode depender de nós mesmos, mas também de Deus, que permite certas situações da vida exterior ou interior. Ou, por vezes, pode ser uma dor de cabeça ou uma indisposição no fígado que te impede de entrar na oração. Muitas vezes não sabemos bem a razão. Os mestres espirituais descrevem a experiência da fé como uma alternância contínua de tempos de consolação e de desolação; momentos em que tudo é fácil, enquanto outros são marcados por um grande peso. Muitas vezes, quando encontramos um amigo, dizemos «como estás?»; «hoje estou em baixo». Muitas vezes estamos "em baixo", isto é, não temos sentimentos, não temos consolações, não conseguimos. São aqueles dias cinzentos... e há-os, muitos, na vida. Mas o perigo é ter o coração cinzento: quando este "estar em baixo" chega ao coração e o adoece... e há pessoas que vivem com o coração cinzento. Isto é terrível: não se pode rezar, não se pode sentir a consolação com o coração cinzento. Ou não se pode levar por diante uma aridez espiritual com o coração cinzento. O coração deve ser aberto e luminoso, para que entre a luz do Senhor. E se não entra, é preciso esperá-la com esperança. Mas não fechá-la no cinzentismo.

Diferente, ainda, é a acídia, que é uma verdadeira tentação contra a oração e, mais em geral, contra a vida cristã. A acídia é «uma forma de depressão devida ao relaxamento da ascese, a um desvanecimento da vigilância, à falta de cuidado pelo coração» (n. 2733). É um dos sete “vícios capitais” porque, alimentado pela presunção, pode conduzir à morte da alma. Como fazer, então, neste suceder-se de entusiasmos e desânimos? Deve aprender-se a caminhar sempre. O verdadeiro progresso da vida espiritual não consiste em multiplicar os êxtases, mas em ser-se capaz de perseverar nos tempos difíceis.

Recordemos a parábola de S. Francisco sobre a perfeita alegria: não é nas riquezas infinitas que chovem do Céu que se mede a bravura de um frade, mas no caminhar com constância, mesmo quando não se é reconhecido, mesmo quando se é maltratado, mesmo quanto tudo perdeu o gosto dos inícios.

Todos os santos passaram por este “vale escuro”, e não nos escandalizamos se, ao ler os seus diários, escutamos a narração de noites de oração indolentes, vivida sem gosto. É preciso aprender a dizer: «Mesmo se Tu, meu Deus, pareces fazer de tudo para que eu deixe de acreditar em ti, eu, porém, continuo a rezar-te».

Os crentes nunca extingam a oração! Ela, por vezes, pode assemelhar-se à de Job, que não aceita que Deus o trate injustamente, protesta e chama-o a juízo. Mas, muitas vezes, também protestar diante de Deus é uma maneira de rezar, ou, como dizia aquela velhinha, «zangar-se com Deus é uma maneira de rezar, também», porque muitas vezes o filho zanga-se com o pai: é uma maneira de relação com o pai; zanga-se porque o reconhece "pai", zanga-se.

E também nós, que somos muito menos santos e pacientes que Job, sabemos que no fim, no termo deste tempo de desolação, em que elevámos ao Céu gritos mudos e muitos “porquê?”, Deus responder-nos-á. Não esquecer a oração do "porquê?": é a oração que fazem as crianças quando começam a não compreender as coisas, e os psicólogos chamam-na "a idade dos porquês", porque a criança pergunta ao pai: «Pai, porque é que...? Pai, porque é que...? Pai, porque é que...?». Estejamos atentos: a criança não escuta a resposta do pai. O pai começa a responder e a criança vem com um outro «porquê». Quer apenas atrair para si o olhar do pai; e quando nós nos zangamos um pouco com Deus e começamos a dizer «porquê», estamos a atrair o coração do nosso Pai para a nossa miséria, para a nossa dificuldade, para a nossa vida. Mas sim, tende a coragem de dizer a Deus: «Mas porquê...?». Porque às vezes zangar-se um pouco faz bem, porque nos faz despertar esta relação de filho para com o Pai, de filha para com o Pai, que devemos ter com Deus. E mesmo as nossas expressões mais duras e mais amargas, Ele as recolherá com o amor de um pai, e as considerará como um ato de fé, como uma oração.

Papa Francisco
Audiência geral, 19.5.2021, Vaticano
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: Tinnakorn/Bigstock.com
Publicado em 19.05.2021


sábado, 15 de maio de 2021

 DOMINGO VII DA PÁSCOA

ASCENSÃO DO SENHOR

As leituras do Domingo da Ascensão centram-nos, ao mesmo tempo, em duas realidades diferentes: por um lado somos convidados a contemplar a subida de Jesus aos céus, é o momento da partida, da separação; mas, por outro lado, porque Jesus foi preparando a Sua subida para o Pai, damo-nos conta de um movimento, de um impulso, para sairmos de nós próprios e, conscientes de que Ele continua connosco, “partirmos”, em conjunto com os apóstolos, a anunciar o amor de Deus a todos aqueles que, nos nossos caminhos, O procuram de coração sincero.

Na 1ªleitura (Atos 1, 1-11) também nós escutamos a pergunta feita pelos dois homens vestidos de branco: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu». E, porque os Apóstolos continuaram a missão que Jesus lhes confiou e, assim, a Boa Nova de Jesus Ressuscitado, por nosso amor, chegou até nós, homens e mulheres do séc.XXI, recebemos, naquela refeição, mas também em cada  eucaristia em que participamos, as palavras de Jesus como missão também dirigida a cada um de nós, hoje e sempre: «mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Que na nossa vida quotidiana sejamos testemunhas do Amor de Deus!

“No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus. Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, «da qual – disse Ele – Me ouvistes falar. Na verdade, João batizou com água; vós, porém, sereis batizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?». Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».”

Na 2ªleitura (Ef 1, 17-23) S.Paulo relembra-nos a imensa graça que temos pelo facto de sermos crentes, de termos fé e o Espírito Santo nos habitar. E, quando nos reconhecemos assim amados por Deus, todo o nosso ser exclama e agradece, desejando que todos as outras pessoas, principalmente aquelas que conhecemos, na família, no trabalho, na nossa rua, ou que, ocasionalmente, se cruzam connosco, se sintam também assim, verdadeira e infinitamente amadas por Deus, tal qual são.

“Irmãos: O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há de vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.” 

No Evangelho (Mc 16, 15-20) recebemos de Jesus a missão de levar o Evangelho a todo o lugar por onde andarmos. Não podemos deixar de o fazer, pois todos têm o direito a ser felizes, a conhecerem o quanto Deus os ama. Façamos a nossa parte.

“Naquele tempo, Jesus apareceu aos Onze e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado. Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demónios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados». E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.” 

Envia Senhor sobre mim o Teu Santo Espírito, para que, sob a Sua ação, eu seja Tua testemunha, por onde quer que ande.

Imigrantes em Odemira - Pastoral da Cultura

Imigrantes em Odemira: Igreja denunciou e está próxima, mas o que fez o Estado?

O arcebispo de Évora recorda hoje que a arquidiocese apontou há ano e meio as dificuldades por que passavam os imigrantes a trabalhar nas explorações agrícolas da diocese de Beja, assim como suspeitas de ilegalidades na sua contratação, mas as autoridades civis não fizeram caso das denúncias.

«Para esta nova forma de escravatura, nenhuma resposta surgiu, exceto o silêncio de muitos, mesmo tratando-se de um apelo urgente com consequências de desumanização; escreve D. Francisco Senra Coelho em nota publicada na página da arquidiocese.

No texto intitulado "Sobre a humilhante problemática dos migrantes no Alentejo" o prelado começa por questionar «porque pouco ou nada se fez?», e a seguir recorda um documento da Comissão arquidiocesana Justiça e Paz apresentado em dezembro de 2019.

«Permito-me refrescar a memória cultural, social e política do país que somos e lembrar no atual contexto de forte rumor político e mediático, as constatações então apresentadas e a disponibilidade para colaborar por parte da Igreja presente no Alentejo», assinala.

O texto salientava que «em muitos» casos das migrações, quer sazonais quer pemanentes, para o trabalho sobretudo na fruticultura, floricultura e pecuária, «suspeita-se a existência de tráfico de pessoas com exploração das mesmas, quer por máfias dos seus países de origem, quer pelas entidades empregadoras».

Os imigrantes «trabalham muitas horas para vantagem deles, porque conseguem usufruir, ao fim do mês, de um salário que compensa um pouco a sua deslocação, mas nada disso justifica que sejam tratados como se fossem máquinas e não seres humanos»

A Comissão Justiça e Paz oferecia-se, então, para contribuir para o acolhimento dos migrantes «através dum acompanhamento próximo da realidade laboral e social, ajudando, dentro da sua esfera de influência local/regional, a uma melhor integração».

O documento lançava «o repto de, numa primeira abordagem, denunciar/expor situações anómalas e não compagináveis com os princípios e os valores da Igreja Católica e da boa convivência entre pessoas».

Depois de citar excertos da mensagem da comissão Justiça e Paz, D. Francisco Senra Coelho conclui a nota manifestando «esperança e confiança na competência das autoridades constituídas» «, e refere que a Igreja vai acompanhar e apoiar «todas as medidas regularizadoras, de fiscalização, e humanizantes» relativas a uma «situação que toca os direitos fundamentais da pessoa humana».

O bispo de Beja, D. João Marcos, declarou esta sexta-feira à agência Lusa que a paróquia de Odemira tem procurado ajudar os migrantes - por exemplo, aloja um casal de indianos -, mas tanto ela como outras instituições católicas «não têm capacidade para resolver um problema desta magnitude».

«Basta chegar a São Teotónio [freguesia do concelho de Odemira] e vê-se rua abaixo, rua acima, grupos de homens asiáticos. Toda a gente sabe disso» e «não é uma coisa de agora», afirmou.

A denúncia, por parte da Igreja católica, das condições de vida dos imigrantes em explorações agrícolas no Alentejo, não é recente. Em 2011, por exemplo, o então bispo de Beja, D. Vitalino Dantas, chamou a atenção para o «trabalho escravo» de trabalhadores estrangeiros «vítimas de intermediários sem escrúpulos».

Os imigrantes «trabalham muitas horas para vantagem deles, porque conseguem usufruir, ao fim do mês, de um salário que compensa um pouco a sua deslocação, mas nada disso justifica que sejam tratados como se fossem máquinas e não seres humanos», vincou.

Rui Jorge Martins
Fontes: Arquidiocese de ÉvoraObservadorRTP
Imagem: © SIC
Publicado em 08.05.2021