quarta-feira, 28 de junho de 2023

FESTAS DE S.PEDRO - 2023

Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, Apóstolos

A Igreja celebra neste dia dois  apóstolos que marcaram, de forma especial, a Igreja dos primeiros tempos e continuam a ser, ainda hoje, faróis que norteiam a nossa caminhada eclesial: S. Pedro e S.Paulo.

No entanto, hoje, a piedade popular festeja apenas S.Pedro. Na paróquia a que pertenço também estamos em festa, pois S.Pedro é o nosso padroeiro. 

As leituras deste dia falam-nos dos dois apóstolos.

Na 1ª leitura (At 12, 1-11) , S. Pedro preso pela autoridades judaicas e suportado pela oração da Igreja nascente, dá-nos um testemunho de confiança e de fé na misericórdia divina, que se faz presente e atua libertando-o.

"Naqueles dias, o rei Herodes começou a perseguir alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João, e, vendo que tal procedimento agradava aos judeus, mandou prender também Pedro. Era nos dias dos Ázimos. Mandou-o prender e meter na cadeia, entregando-o à guarda de quatro piquetes de quatro soldados cada um, com a intenção de o fazer comparecer perante o povo, depois das festas da Páscoa. Enquanto Pedro era guardado na prisão, a Igreja orava instantemente a Deus por ele. Na noite anterior ao dia em que Herodes pensava fazê-lo comparecer, Pedro dormia entre dois soldados, preso a duas correntes, enquanto as sentinelas, à porta, guardavam a prisão. De repente, apareceu o Anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela da cadeia. O Anjo acordou Pedro, tocando-lhe no ombro, e disse-lhe: «Levanta-te depressa». E as correntes caíram-lhe das mãos. Então o Anjo disse-lhe: «Põe o cinto e calça as sandálias». Ele assim fez. Depois acrescentou: «Envolve-te no teu manto e segue-me». Pedro saiu e foi-o seguindo, sem perceber a realidade do que estava a acontecer por meio do Anjo; julgava que era uma visão. Depois de atravessarem o primeiro e o segundo posto da guarda, chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade, e a porta abriu-se por si mesma diante deles. Saíram, avançando por uma rua, e subitamente o Anjo desapareceu. Então Pedro, voltando a si, exclamou: «Agora sei realmente que o Senhor enviou o seu Anjo e me libertou das mãos de Herodes e de toda a expectativa do povo judeu»."

Na 2ªleitura (2Tim 4, 6-8. 17-18)  S. Paulo, também preso, deixa-nos um testamento, único, sinal de uma vivência na fé sem limites. É o testemunho de quem todo se entregou a Cristo e por Ele se deu até ao fim.

"Caríssimo: Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todos os pagãos a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Ámen."

No Evangelho (Mt 16,13-19) , depois do testemunho de fé de S.Pedro, Jesus estabelece-o como o "chefe" da Igreja. É uma autoridade especial, pois afirma-se pelo serviço, pela prática da caridade e não pelo poder temporal. É chamado a fazer como Jesus fazia. E Pedro seguiu Jesus até ao fim.

"Naquele tempo, Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe e perguntou aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?». Eles responderam: «Uns dizem que é João Batista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas». Jesus perguntou: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Jesus respondeu-lhe: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus. Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus»."

S.Pedro e S.Paulo intercedei junto de Deus pela Igreja, para que nos deixemos renovar na fé e vivamos centrados em Jesus Cristo, por Ele e para Ele.

Senhor aumentai a minha fé.

sábado, 24 de junho de 2023

  Tempo Comum - 2023

As leituras de hoje levam-nos a abrir caminhos de reflexão e aprofundamento das razões da nossa fé, no viver de cada dia. Somos interpelados, no mais fundo do nosso ser cristão, sobre o que nos leva a optar por um, ou por outro modo de atuar na relação com os que connosco vivem, convivem ou, simplesmente, se cruzam nos caminhos da vida. E quando surgem obstáculos, dificuldades, zombarias, ou perseguições, face à coerência de testemunho de vida, com o essencial da nossa fé, como fazemos, em quem nos apoiamos, a quem nos agarramos? Senhor, que nesses momentos nunca duvidemos do Teu Amor e nos deixemos habitar totalmente por Ti. Que sejas Tu, e só Tu, a força em quem sempre nos apoiemos, a razão de ser da nossa vida.

Na 1ªleitura (Jer 20, 10-13) o profeta Jeremias abre a sua alma e ajuda-nos a olhar, de frente e com toda a verdade, para aqueles momentos da nossa vida em que sentimos dificuldade em dar testemunho do Amor, na relação com os que nos rodeiam. Mas também nos auxilia no encontro com o Único em quem podemos confiar, em todos os momentos da nossa vida, sejam eles quais forem: Deus Uno e Trino, O Amor sem fim por todos e por cada um de nós.

“Disse Jeremias: «Eu ouvia as invetivas da multidão: ‘Terror por toda a parte! Denunciai-o, vamos denunciá-lo!’. Todos os meus amigos esperavam que eu desse um passo em falso: ‘Talvez ele se deixe enganar e assim o poderemos dominar e nos vingaremos dele’. Mas o Senhor está comigo como herói poderoso e os meus perseguidores cairão vencidos. Ficarão cheios de vergonha pelo seu fracasso, ignomínia eterna que não será esquecida. Senhor do Universo, que sondais o justo e perscrutais os rins e o coração, possa eu ver o castigo que dareis a essa gente, pois a Vós confiei a minha causa. Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, que salvou a vida do pobre das mãos dos perversos».

Na 2ªleitura (Rom 5, 12-15) S.Paulo ao alertar-nos para a nossa condição de pecadores, fá-lo desafiando-nos a contemplar quem é maior do que o pecado, Aquele que venceu a morte e em quem podemos entregarmo-nos completamente, porque Ele nos ganhou para Deus, no Amor. Ele é o Amor gratuito por todos e cada um, deu a Sua vida por cada um de nós, quando ainda éramos pecadores. Então, porque será que ainda temos medo? O que continua a impedir-nos de n’Ele confiarmos totalmente? De a Ele nos entregarmos com tudo o que somos e temos? Ajuda-nos Senhor, a aprender a viver de Ti, no concreto da vida! Sto.António (13-06), S.João Batista (24-06), S.Pedro e S.Paulo (29-06) intercedei por nós.

“Irmãos: Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram. De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo. Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei. Entretanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo para aqueles que não tinham pecado por uma transgressão à semelhança de Adão, que é figura d’Aquele que havia de vir. Mas o dom gratuito não é como a falta. Se pelo pecado de um só todos pereceram, com muito mais razão a graça de Deus, dom contido na graça de um só homem, Jesus Cristo, se concedeu com abundância a todos os homens. 

No evangelho (Mt 10, 26-33) é Jesus quem nos diz diretamente “Não temais”. Depois, explica-nos que somos demasiado preciosos para Deus, que Ele nos ama infinitamente, muito mais do que às aves do céu, para quem  providencia o alimento. Efetivamente, em Jesus, também cada um de nós é filho querido do Pai. Não deu Jesus a Sua vida para que encontrássemos o Amor, que é Deus? Arrisquemos, entreguemo-nos de coração. Jesus, e só Ele, será sempre a nossa força!

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: «Não tenhais medo dos homens, pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nada há oculto que não venha a conhecer-se. O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia; e o que escutais ao ouvido proclamai-o sobre os telhados. Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes Aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo. Não se vendem dois passarinhos por uma moeda? E nem um deles cairá por terra sem consentimento do vosso Pai. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Portanto, não temais: valeis muito mais do que todos os passarinhos. A todo aquele que se tiver declarado por Mim diante dos homens, também Eu Me declararei por ele diante do meu Pai que está nos Céus. Mas àquele que Me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos Céus».

Sagrado Coração de Jesus, tende misericórdia de nós. Que sejas Senhor o único amor da minha vida.

Que eu nunca, mas nunca mesmo, duvide do Teu Amor.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste domingo (cf. Mt 10, 26-33) faz eco ao convite que Jesus dirige aos seus discípulos para que não tenham medo, sejam fortes e confiantes diante dos desafios da vida, alertando-os para as adversidades que os esperam. O trecho de hoje faz parte do discurso missionário com o qual o Mestre prepara os Apóstolos para a primeira experiência de proclamação do Reino de Deus. Jesus exorta-os insistentemente a “não terem medo”. O medo é um dos piores inimigos da nossa vida cristã. Jesus exorta: “não receeis”, “não tenhais medo”. E Jesus descreve três situações concretas que eles enfrentarão.

Antes de tudo, a primeira, a hostilidade daqueles que gostariam de silenciar a Palavra de Deus, edulcorando-a, diluindo-a ou reprimindo quantos  a anunciam. Neste caso, Jesus encoraja os Apóstolos a difundir a mensagem de salvação que Ele lhes confiou. Até àquele momento, Ele transmitiu-a com prudência, quase em segredo, no pequeno grupo dos discípulos. Mas eles deverão proclamar o seu Evangelho “à luz do dia”, ou seja, abertamente, e anunciá-lo “sobre os telhados” - assim diz Jesus - isto é, publicamente.

A segunda dificuldade que os missionários de Cristo irão encontrar é a ameaça física contra eles, isto é, a perseguição direta do seu povo, inclusive a morte. Esta profecia de Jesus verificou-se em todos os tempos: trata-se de uma realidade dolorosa, mas atesta a fidelidade das testemunhas. Quantos cristãos ainda hoje são perseguidos em todo o mundo! Sofrem pelo Evangelho com amor, são os mártires dos nossos dias. E podemos dizer com certeza que são mais do que os mártires dos primeiros tempos: muitos mártires unicamente pelo facto de serem cristãos. A estes discípulos de ontem e de hoje que sofrem a perseguição, Jesus recomenda: «Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma» (v. 28). Não nos devemos deixar assustar por aqueles que procuram extinguir a força da evangelização através da arrogância e da violência. Na verdade, nada podem fazer contra a alma, ou seja, contra a comunhão com Deus: ninguém a pode tirar aos discípulos, pois é um dom de Deus. O único medo que o discípulo deve ter é o de perder esse dom divino, a proximidade, a amizade com Deus, renunciando a viver segundo o Evangelho e causando deste modo a sua morte moral, que é a consequência do pecado.    

O terceiro tipo de prova que os Apóstolos terão de enfrentar, é indicada por Jesus no sentimento que alguns terão de que o próprio Deus os abandonou, permanecendo distante e silencioso. Também aqui nos exorta a não ter medo, porque, apesar de passarmos por estas e outras ciladas, a vida dos discípulos está firmemente nas mãos de Deus, que nos ama e nos guarda. São como as três tentações: edulcorar o Evangelho, diluí-lo; segunda, a perseguição; e terceira, o sentimento de que Deus nos deixou sozinhos. Jesus também sofreu esta provação no Jardim das Oliveiras e na Cruz: “Pai, por que me abandonaste”, diz Jesus. Por vezes sentimos esta aridez espiritual; não devemos ter medo dela. O Pai cuida de nós porque o nosso valor é grande aos Seus olhos. O importante é a franqueza, a coragem do testemunho, do testemunho de fé: “reconhecer Jesus diante dos homens” e ir em frente praticando o bem.

Maria Santíssima, modelo de confiança e abandono em Deus na hora da adversidade e do perigo, ajuda-nos a nunca ceder ao desânimo, e a confiar sempre n'Ele e na Sua graça, porque a graça de Deus é sempre mais poderosa do que o mal.

Papa Francisco

(Angelus, 21 de junho de 2020)

SOLENIDADE DO NASCIMENTO DE SÃO JOÃO BATISTA 

A igreja, regra geral, só comemora o dia da morte dos santos, ou seja, o dia em que passaram a ver Deus face a face e entraram na glória celestial. Com S. João Batista é diferente. O nascimento de S.João é mesmo um caso especial, que também merece ser celebrado, pois as circunstâncias que rodearam o seu nascimento foram o culminar de uma verdadeira história de amor que se desenrolou entre Deus e os pais de S.João, que vale a pena ser conhecida. Zacarias e Isabel são para nós, neste dia em que celebra o nascimento de seu filho, o testemunho de como Deus conduz a história de todos os que se Lhe confiam de corpo e alma. Deus está sempre presente na nossa vida, nós é que, muitas vezes, não ousamos entregarmo-nos totalmente a Ele. Deus ama-nos infinitamente e quer sempre o que é melhor para nós, mesmo quando nos parece que está tudo ao contrário. Deixemos que nos Deus nos ame, confiemos n’Ele, como o fizeram Isabel e Zacarias!

 

Na 1ª leitura (Is 49, 1-6) Isaías projeta-nos para Jesus: «Tu és o meu servo, Israel,  por quem manifestarei a minha glória». E é em Jesus que olhamos para S.João, que preparou os caminhos para a Sua vinda, para que a luz de Cristo e a salvação de Deus chegassem até aos confins da terra. É por tudo isto que lhe damos o nome de “O precursor”. 

Terras de Além-Mar, escutai-me; povos de longe, prestai atenção. O Senhor chamou-me desde o ventre materno, disse o meu nome desde o seio de minha mãe. Fez da minha boca uma espada afiada, abrigou-me à sombra da sua mão. Tornou-me semelhante a uma seta aguda, guardou-me na sua aljava. E disse-me: «Tu és o meu servo, Israel, por quem manifestarei a minha glória». E eu dizia: «Cansei-me inutilmente, em vão e por nada gastei as minhas forças». Mas o meu direito está no Senhor e a minha recompensa está no meu Deus. E agora o Senhor falou-me, Ele que me formou desde o seio materno, para fazer de mim o seu servo, a fim de Lhe restaurar as tribos de Jacob e reconduzir os sobreviventes de Israel. Eu tenho merecimento aos olhos do Senhor e Deus é a minha força. Ele disse-me então: «Não basta que sejas meu servo, para restaurares as tribos de Jacob e reconduzires os sobreviventes de Israel. Farei de ti a luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra».

Na 2ªleitura (Atos 13, 22-26) S.Paulo desafia-nos a fazer a vontade de Deus, para sermos felizes. E ao deixar-nos esta mensagem apresenta-nos, como exemplo, dois homens com vidas tão diferentes, mas ambos, segundo o coração de Deus: David e João Batista. Seja qual for a nossa história de vida, uma coisa é certa para mim, só o amor incomparável que Deus nos tem, se O aceitarmos e a Ele correspondermos, nos pode transformar em seres felizes, porque assim não quereremos outra coisa,que não seja, fazer a vontade de Deus.

“Naqueles dias, Paulo falou deste modo: «Deus concedeu aos filhos de Israel David como rei, de quem deu este testemunho: ‘Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará sempre a minha vontade’. Da sua descendência, como prometera, Deus fez nascer Jesus, o Salvador de Israel. João tinha proclamado, antes da sua vinda, um batismo de penitência a todo o povo de Israel.  Prestes a terminar a sua carreira, João dizia: ‘Eu não sou quem julgais; mas depois de mim, vai chegar Alguém, a quem eu não sou digno de desatar as sandálias dos seus pés’. Irmãos, descendentes de Abraão e todos vós que temeis a Deus: a nós é que foi dirigida esta palavra de salvação»."

No evangelho (Lc 1, 57-66.80) S.Lucas introduz-nos na alegria pelo nascimento de João, manifestação concreta do amor de Deus na vida do casal, da família. A forma como nos vai colocando dentro dos acontecimentos, relacionados com o nascimento deste menino, vai-nos conduzindo para o momento da escolha do nome da criança: João. E é nesta altura que Zacarias recupera a fala e, depois de tanto tempo em silêncio, começa a dar glória a Deus, porque verdadeiramente reconhece Deus Amor presente na sua vida, na sua história, na história da sua família. Um homem de Deus, que verdadeiramente se sente amado pelo Senhor, não pode senão bendizer e louvar a Deus, como fez Zacarias. 

"Naquele tempo, chegou a altura de Isabel ser mãe e deu à luz um filho. Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe tinha feito tão grande benefício e congratularam-se com ela. Oito dias depois, vieram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. Mas a mãe interveio e disse: «Não, Ele vai chamar-se João». Disseram-lhe: «Não há ninguém da tua família que tenha esse nome». Perguntaram então ao pai, por meio de sinais, como queria que o menino se chamasse. O pai pediu uma tábua e escreveu: «O seu nome é João». Todos ficaram admirados. Imediatamente se lhe abriu a boca e se lhe soltou a língua e começou a falar, bendizendo a Deus. Todos os vizinhos se encheram de temor e por toda a região montanhosa da Judeia se divulgaram estes factos. Quantos os ouviam contar guardavam-nos em seu coração e diziam: «Quem virá a ser este menino?». Na verdade, a mão do Senhor estava com ele. O menino ia crescendo e o seu espírito fortalecia-se.  E foi habitar no deserto até ao dia em que se manifestou a Israel."  

Senhor, eu Te louvo e bendigo pelo imenso, infinito, incomparável amor que tens por cada um de nós e por toda a humanidade. Bendito e louvado sejas hoje e sempre, pelos séculos sem fim.

sábado, 17 de junho de 2023

 Tempo Comum - 2023

As leituras de hoje levam-nos a refletir sobre o chamamento que Deus faz a cada cristão, independentemente do seu estado civil, ou social. Todos somos chamados a ser testemunhas do Amor infinito de Deus por cada homem, sejamos solteiros, casados, sacerdotes, consagrados, fiéis leigos, adultos, velhinhos ou crianças. Abramos sinceramente o nosso coração a Deus e escutemos o que tem para nos dizer.

Na 1ªleitura (Ex 19, 2-6a) Deus envia Moisés com uma missão muito especial: anunciar ao povo eleito, o povo de Israel, que Ele, Deus, continua a Sua relação de Amor com eles, pelo que lhes propõe que, ao longo do caminho, sejam fiéis, que guardem a Sua Aliança e que se deixem amar por Ele. É exatamente isso o que o Senhor nos pede hoje a nós, seres viventes deste séc.XXI, que também queiramos ser amados por Ele, “O Amor” sem fim, entregando-nos de coração, por inteiro, a Ele e só a Ele. 

“Naqueles dias, os filhos de Israel partiram de Refidim e chegaram ao deserto do Sinai, onde acamparam, em frente da montanha. Moisés subiu à presença de Deus. O Senhor chamou-o da montanha e disse-lhe: «Assim falarás à casa de Jacob, isto dirás aos filhos de Israel: ‘Vistes o que Eu fiz ao Egipto, como vos transportei sobre asas de águia e vos trouxe até Mim. Agora, se ouvirdes a minha voz, se guardardes a minha aliança, sereis minha propriedade especial entre todos os povos. Porque toda a terra Me pertence; mas vós sereis para Mim um reino de sacerdotes, uma nação santa’».”

Na 2ªleitura (Rom 5, 6-11) S.Paulo desperta-nos para a dimensão do amor de Deus por cada um de nós. Traz-nos Jesus como Aquele que se dá todo por nós, fracos e pecadores. É assim, tal qual somos, imperfeitos, que Jesus nos ama gratuita e infinitamente, para que n’Ele nos tornemos perfeitos, para que vivamos no Amor. Deixemos que Jesus nos estreite nos seus braços e entreguemo-nos de coração, deixando cair tudo o que d’Ele nos afasta. Se assim fizermos, também nós seremos reconciliados com Deus, e n’Ele  amaremos o nosso próximo. 

“Irmãos: Quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios no tempo determinado. Dificilmente alguém morre por um justo; por um homem bom, talvez alguém tivesse a coragem de morrer. Mas Deus prova assim o seu amor para connosco: Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores. E agora, que fomos justificados pelo seu sangue, com muito mais razão seremos por Ele salvos da ira divina. Se, na verdade, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, com muito mais razão, depois de reconci­liados, seremos salvos pela sua vida. Mais ainda: também nos gloriamos em Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem alcançámos agora a reconciliação.”

No evangelho (Mt 9, 36 – 10, 8) somos desafiados a fazer como os apóstolos, como Santo António e tantos outros santos e santas de Deus: responder sim ao chamamento que Jesus nos faz para anunciarmos com a nossa vida, em tudo o que somos e na forma como vivemos, o Amor infinito de Deus por cada ser criado. 

“Naquele tempo, Jesus, ao ver as multidões, encheu-Se de compaixão, porque andavam fatigadas e abatidas, como ovelhas sem pastor. Jesus disse então aos seus discípulos: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara». Depois chamou a Si os seus doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos impuros e de curar todas as doenças e enfermidades. São estes os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Cananeu, e Judas Iscariotes, que foi quem O entregou. Jesus enviou estes Doze, dando-lhes as seguintes instruções: «Não sigais o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Ide primeiramente às ovelhas perdidas da casa de Israel. Pelo caminho, proclamai que está perto o reino dos Céus. Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, sarai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça».”

Senhor, a messe é grande e os operários são poucos. Enviai Senhor operários para a vossa messe.

Continuemos as nossas catequeses; o tema que escolhemos é: “A paixão de evangelizar, o zelo apostólico. Pois evangelizar não é dizer: “Olha, blá-blá-blá” e nada mais; há uma paixão que engloba tudo: a mente, o coração, as mãos, ir... tudo, a pessoa inteira está envolvida na proclamação do Evangelho, e por isso falamos de paixão de evangelizar. Depois de termos visto em Jesus o modelo e o mestre do anúncio, hoje passemos aos primeiros discípulos, àquilo que os primeiros discípulos fizeram. O Evangelho diz que Jesus «designou doze dentre eles - a quem chamou apóstolos - para andarem com Ele e para os enviar a pregar» (Mc 3, 14), duas coisas: para que andassem com Ele e para os enviar a pregar. Há um aspeto que parece contraditório: chama-os para que andem com Ele e para os enviar a pregar. Dir-se-ia: ou um ou outro, ou andar ou enviar. Mas não: para Jesus, não há estar sem ir e não há ir sem estar. Não é fácil entender isto, mas é assim. Procuremos compreender um pouco em que sentido Jesus diz estas coisas.

Em primeiro lugar, não há ir sem estar: antes de enviar os discípulos em missão, Cristo - diz o Evangelho – “reúne-os” (cf. Mt 10, 1). O anúncio nasce do encontro com o Senhor; toda a atividade cristã, especialmente a missão, começa a partir dali. Não se aprende numa academia: não! Começa pelo encontro com o Senhor. Com efeito, testemunhá-lo significa irradiá-lo; mas, se não recebermos a sua luz, extinguir-nos-emos; se não o frequentarmos, anunciar-nos-emos a nós próprios e não a Ele – anuncio-me a mim mesmo, não a Ele - e tudo será vão. Portanto, só a pessoa que andar com Ele poderá anunciar o Evangelho de Jesus. Quem não andar com Ele não pode anunciar o Evangelho. Anunciará ideias, mas não o Evangelho. Mas de igual modo não há estar sem ir. Na realidade, seguir Cristo não é algo intimista: sem anúncio, sem serviço, sem missão, a relação com Jesus não cresce. Observemos que no Evangelho o Senhor envia os discípulos antes de ter completado a sua preparação: pouco depois de os ter chamado, já os envia! Isto significa que a experiência da missão faz parte da formação cristã. Então, recordemos estes dois momentos constitutivos para cada discípulo: estar com Jesus e ir, envidados por Jesus.

Tendo chamado os discípulos a si, e antes de os enviar, Cristo dirige-lhes um discurso, conhecido como o “sermão missionário”, assim se chama no Evangelho. Encontra-se no capítulo 10 do Evangelho de Mateus e é como que a “constituição” do anúncio. Daquele discurso, cuja leitura vos recomendo hoje – é apenas uma página do Evangelho - friso três aspetos: porquê anunciar, o que anunciar e como anunciar.

Porquê anunciar. A motivação está em cinco palavras de Jesus, que nos fará bem recordar: «Recebestes de graça, dai de graça!» (v. 8). São cinco palavras. Mas porquê anunciar? Porque recebi de graça e devo dar de graça. O anúncio não começa por nós, mas pela beleza do que recebemos de graça, sem mérito: encontrar Jesus, conhecê-lo, descobrir que somos amados e salvos. É um dom tão grande que não podemos guardá-lo para nós, sentimos a necessidade de o irradiar; mas com o mesmo estilo, ou seja, na gratuidade. Em síntese: temos um dom, por isso somos chamados a fazer-nos dom; recebemos um dom e a nossa vocação consiste em tornar-nos dom para os outros; em nós há a alegria de ser filhos de Deus, e ela deve ser partilhada com os irmãos e irmãs que ainda não O conhecem! Esta é a razão do anúncio. Ir e anunciar a alegria daquilo que recebemos.

Segundo, o que anunciar? Jesus diz: «Pregai, anunciando que o reino dos céus está próximo» (v. 7). Eis o que se deve dizer, antes de tudo e em tudo: Deus está próximo. Mas, nunca esqueçamos isto: Deus esteve sempre próximo do povo, Ele próprio o recordou ao povo, Disse assim: “Vede, que Deus está tão próximo das nações como Eu estou próximo de vós?”. A proximidade é uma das coisas mais importantes de Deus. Há três aspetos importantes: proximidade, misericórdia e ternura. Não vos esqueçais disto. Quem é Deus? O Próximo, o Terno, o Misericordioso. Esta é a realidade de Deus! Pregando, frequentemente convidamos as pessoas a fazer algo, e isto é bom; mas não esqueçamos que a mensagem principal é que Ele está próximo: proximidade, misericórdia e ternura. Aceitar o amor de Deus é mais difícil, porque queremos estar sempre no centro, desejamos ser protagonistas, estamos mais propensos a deixar-nos plasmar, mais a falar do que a ouvir. Mas, se em primeiro lugar estiver o que fazemos, continuaremos a ser os protagonistas. Ao contrário, o anúncio deve dar a primazia a Deus: dar a primazia a Deus, o primeiro lugar a Deus e oferecer aos outros a oportunidade de O acolher, de sentir que Ele está próximo. E eu, atrás!

Terceiro ponto: como anunciar. É o aspeto sobre o qual Jesus mais insiste: como anunciar, qual é o método, qual deve ser a linguagem para anunciar; é significativo: diz-nos que o modo, o estilo, é essencial no testemunho. O testemunho não envolve apenas a mente, dizer algo, conceitos: não! Engloba tudo, mente, coração, mãos, tudo, as três linguagens da pessoa: a linguagem do pensamento, a linguagem do afeto e a linguagem da obra. As três linguagens. Não se pode evangelizar apenas com a mente ou só com o coração ou unicamente com as mãos. Envolve tudo. E, neste estilo, o importante é o testemunho, como Jesus quer que façamos. Ele diz assim: «Envio-vos como ovelhas no meio de lobos» (v. 16). Não nos pede para saber enfrentar os lobos, isto é, para saber argumentar, reagir e defender-se: não! Pensaríamos assim: tornemo-nos relevantes, numerosos, prestigiosos, e o mundo ouvir-nos-á, respeitar-nos-á e derrotaremos os lobos: não, não é assim! Não, envio-vos como ovelhas, como cordeiros. Isto é importante. Se não quiseres ser ovelha, o Senhor não te defenderá dos lobos. Arranja-te como puderes. Mas se fores ovelha, tem a certeza de que o Senhor te defenderá dos lobos. Ser humilde! Ele pede-nos que sejamos assim, mansos e desejosos de ser inocentes, dispostos ao sacrifício; com efeito, é o que o cordeiro representa: mansidão, inocência, dedicação, ternura. E Ele, o Pastor, reconhecerá os seus cordeiros e protegê-los-á dos lobos. Ao contrário, os cordeiros disfarçados de lobos são desmascarados e dilacerados. 

Um Padre da Igreja escrevia: «Enquanto formos cordeiros, venceremos; e mesmo que sejamos circundados por numerosos lobos, conseguiremos vencê-los. Mas se formos lobos, seremos derrotados, pois seremos privados da ajuda do pastor. Ele não apascenta lobos, mas cordeiros» (São João Crisóstomo, Homilia 33 sobre o Evangelho de Mateus). Se eu quiser ser do Senhor, devo deixar que Ele seja o meu pastor, e Ele não é pastor de lobos, é pastor de cordeiros mansos, humildes, bons para com o Senhor.

Ainda sobre o modo como anunciar, é impressionante que Jesus, em vez de prescrever o que levar em missão, diga o que não levar. Às vezes, vê-se algum apóstolo, alguma pessoa que se muda, algum cristão que se diz apóstolo e deu a vida pelo Senhor, e carrega muitas bagagens: mas isto não é do Senhor, o Senhor torna suave o nosso fardo e diz o que não devemos levar: «Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro nos vossos cintos, nem alforge para a viagem, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado» (vv. 9-10). Não levar nada. Diz para não nos apoiarmos em certezas materiais, para ir ao mundo sem mundanidade. É o que se deve dizer: vou ao mundo não com o estilo do mundo, não com os valores do mundo, não com a mundanidade - e para a Igreja, cair na mundanidade é o pior que pode acontecer. Vou com simplicidade! Eis como se anuncia: mostrando Jesus, mais do que falando de Jesus. E como mostramos Jesus? Com o nosso testemunho. Em síntese, caminhando juntos, em comunidade: o Senhor envia todos os discípulos, mas ninguém vai sozinho. A Igreja apostólica é toda missionária e na missão encontra a sua unidade. Portanto: ir mansos e bons como cordeiros, sem mundanidade, e ir juntos. Eis a chave do anúncio, eis a chave do bom êxito da evangelização! Aceitemos estes convites de Jesus: as suas palavras sejam o nosso ponto de referência!

Papa Francisco

(Audiência Geral, 15 de fevereiro de 2023)

segunda-feira, 12 de junho de 2023

 FESTA DE SANTO ANTÓNIO

Deus eterno e omnipotente: Vós quisestes que o vosso povo encontrasse em Santo António um grande pregador do Evangelho e um poderoso intercessor. Concedei-nos a graça de pôr em prática os seus  ensinamentos, para que mereçamos tê-lo como guia e protetor em toda a nossa vida. Por Cristo, Senhor nosso. Ámen.

LEITURA I    Sir 39, 8-14 (gr. 6-11) 

Sirac convida-nos a mergulhar mais profundamente na palavra de Deus para alcançar a inteligência que vem do Espírito. O verdadeiro conhecimento vem de Deus e adquire-se na reflexão e meditação das Escrituras. Não é um conhecimento humano nem fundado nas ciências humanas, mas um penetrar no mistério de Deus. A sabedoria divina é útil para ensinar os homens e para louvar a Deus na oração. Aquele que medita a palavra não será esquecido porque a sua vida e as suas palavras se tornam fecundas como chuva e transformam aqueles que o escutam. Estas palavras, tão apropriadas à vida de Santo António, servem-nos de estímulo para continuar na leitura, meditação e aprofundamento da palavra de Deus.

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Aquele que medita na lei do Altíssimo, se for do agrado do Senhor omnipotente, será cheio do espírito de inteligência. Então ele derramará, como chuva, as suas palavras de sabedoria e na sua oração louvará o Senhor. Adquirirá a retidão do julgamento e da ciência e refletirá nos mistérios de Deus. Fará brilhar a instrução que recebeu e a sua glória estará na lei da aliança do Senhor. Muitos louvarão a sua inteligência, que jamais será esquecida. Não desaparecerá a sua memória e o seu nome viverá de geração em geração. As nações proclamarão a sua sabedoria e a assembleia celebrará os seus louvores. 

EVANGELHO    Mt 5, 13-19

O texto faz parte do Sermão da montanha. Jesus apresenta aos discípulos e às multidões uma nova maneira de viver. A sabedoria de Deus quando atua no homem faz com que veja novas realidades e as deseje com o seu coração. Desta forma o homem torna-se um sinal, sal e luz. Sal que dá sabor ao mundo e luz que indica o caminho. Jesus insiste com os discípulos para que a sua luz brilhe, que não se esconda, mas brilhe no mundo para que se vejam as boas obras e provoquem o louvor. O contrário será arriscar ser o menor no Reino dos Céus. Ou seja, o cumprimento dos mandamentos até à mais pequena letra é a garantia do Reino.

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Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus. Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus».

Tenho que fazer o caminho da minha vida. Ninguém me livra dessa realidade. Posso fazê-lo sem sabor, sem sentido, sem direção, sem luz, às apalpadelas. Mas posso também encontrar o sabor, o sentido, a direção para o meu caminho e tornar-me sal e luz para outros, se escutar a palavra e nela encontrar os mandamentos de Deus. Posso ser sal e luz se viver e ajudar a viver a palavra de Deus. Posso ser oportunidade para que todos glorifiquem o Pai que está nos céus. Depende de mim unicamente.

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No Evangelho de hoje (cf. Mt 5, 13-16), Jesus diz aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra [...] Vós sois a luz do mundo» (vv. 13.14). Ele usa uma linguagem simbólica para indicar àqueles que pretendem segui-lo, alguns critérios para viver a presença e o testemunho no mundo.

Primeira imagem: o sal. O sal é o elemento que dá sabor, que conserva e preserva os alimentos contra a corrupção. Portanto, o discípulo é chamado a manter longe da sociedade os perigos, os germes corrosivos que poluem a vida das pessoas. Trata-se de resistir à degradação moral, ao pecado, dando testemunho dos valores da honestidade e da fraternidade, sem ceder às lisonjas mundanas do arrivismo, do poder e da riqueza. É “sal” o discípulo que, não obstante os fracassos diários – porque todos nós os temos – se levanta do pó dos próprios erros, recomeçando com coragem e paciência, todos os dias, a procurar o diálogo e o encontro com os outros. É “sal” o discípulo que não busca o consentimento nem o elogio, mas que se esforça por ser uma presença humilde e construtiva, na fidelidade aos ensinamentos de Jesus que veio ao mundo não para ser servido, mas para servir. E há tanta necessidade desta atitude!

A segunda imagem que Jesus propõe aos seus discípulos é a da luz: «Vós sois a luz do mundo». A luz dissipa a escuridão e permite ver. Jesus é a luz que dissipou as trevas, mas elas ainda permanecem no mundo e nas pessoas individualmente. É tarefa do cristão dispersá-las, fazendo resplandecer a luz de Cristo e anunciando o seu Evangelho. Trata-se de uma irradiação que pode derivar até das nossas palavras, mas deve brotar principalmente das nossas «boas obras» (v. 16). Um discípulo e uma comunidade cristã são luz no mundo quando orientam os outros para Deus, ajudando cada um a experimentar a sua bondade e misericórdia. O discípulo de Jesus é luz quando sabe viver a sua fé fora dos espaços restritos, quando contribui para eliminar preconceitos, para eliminar calúnias e para fazer entrar a luz da verdade nas situações corrompidas pela hipocrisia e pela mentira. Fazer luz. Mas não se trata da minha luz, é a luz de Jesus: nós somos instrumentos para que a luz de Jesus chegue a todos.

 Jesus convida-nos a não ter medo de viver no mundo, embora às vezes nele haja condições de conflito e de pecado. Diante da violência, da injustiça e da opressão, o cristão não pode fechar-se em si mesmo, nem esconder-se na segurança do próprio espaço; nem sequer a Igreja pode fechar-se em si mesma, não pode abandonar a sua missão de evangelização e de serviço. Na Última Ceia Jesus pediu ao Pai para não tirar os discípulos do mundo, para os deixar aqui, no mundo, mas para os proteger contra o espírito do mundo. A Igreja dedica-se com generosidade e ternura aos pequeninos e aos pobres: este não é o espírito do mundo, esta é a sua luz, é o sal. A Igreja escuta o grito dos últimos e dos excluídos, porque está consciente de que é uma comunidade peregrina, chamada a prolongar na história a presença salvífica de Jesus Cristo.

Que a Virgem Santa nos ajude a ser sal e luz no meio do povo, levando a todos, com a vida e a palavra, a Boa Nova do amor de Deus.

Papa Francisco

(Angelus, 9 de fevereiro de 2020)