quarta-feira, 31 de março de 2021

 QUARESMA PASSO A PASSO

44º Dia – quinta-feira – semana santa – 01/04/2021 - 1ºdia do Tríduo Pascal

"Senhor, Tu vais lavar-me os pés?."

EVANGELHO  Jo 13, 1-15

Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. No decorrer da ceia, tendo já o Demónio metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, a ideia de O entregar, Jesus, sabendo que o Pai Lhe tinha dado toda a autoridade, sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura. Depois, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cintura. Quando chegou a Simão Pedro, este disse-Lhe: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «O que estou a fazer, não o podes entender agora, mas compreendê-lo-ás mais tarde». Pedro insistiu: «Nunca consentirei que me laves os pés». Jesus respondeu-lhe: «Se não tos lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro replicou: «Senhor, então não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça». Jesus respondeu-lhe: «Aquele que já tomou banho está limpo e não precisa de lavar senão os pés. Vós estais limpos, mas não todos». Jesus bem sabia quem O havia de entregar. Foi por isso que acrescentou: «Nem todos estais limpos». Depois de lhes lavar os pés, Jesus tomou o manto e pôs-Se de novo à mesa. Então disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também».

João não descreve o relato da última ceia como fazem os demais evangelistas, o seu discurso revela o espírito eucarístico como “Lei do Amor”, caminho de maturidade espiritual num clima marcado pelo afeto filial e fraterno de Jesus.

A Páscoa é a grande festa do povo judeu, em que faz memória da saída do Egito e da opressão.

Antes desta festa, Jesus quer cear com os seus amigos – discípulos, de modo solene, numa oportunidade reveladora da riqueza do Reino de Deus.

Jesus percebe que tinha chegado a ‘Sua hora’, o momento de “passar deste mundo para o Pai”!

Não é um caminho fácil, porque Jesus tem vínculos estreitos de amor com “os seus”, e esse mesmo amor leva-O a separar-Se deles.

É o preço que terá que pagar por ter anunciado o Reino de Deus: Reino pleno da pureza do Amor em gratuidade de entrega, de verdadeira alegria, e da paz como oferta de vida e justiça para todos.

Estas realidades que são desejadas por cada coração humano, só podem ser verdadeiras se verificadas na vivência de uma prática através da conduta, que os poderes deste mundo ficam recalcitrantes em admitir.

O gesto profético de Jesus de Se levantar para lavar os pés dos seus discípulos é expressão de acolhimento e serviço, pedagogia de inversão de paradigmas estabelecidos pela hierarquia social. Ao inverter os termos, o Seu Amor leva-O ao serviço mais humilde.

Pedro protesta, e isso não O detém, fazendo ver a importância do que está a acontecer. Não exclui Judas, mas adverte que "nem todos estão limpos", dando-lhe a oportunidade de reconsiderar e tomar consciência do que está prestes a fazer. A pergunta é: “compreendeis o que Eu vos fiz?”

Ao lavar os pés dos discípulos, Jesus vive o ‘ministério do serviço entre os irmãos como o Senhor e o Filho glorificado pelo Pai’ (Jo 13, 31). Filho identificado com o Pai de tal maneira, que conhecer a Jesus é conhecer o Pai (Jo 14, 9), glorificação da humanidade quando se tornar discípula de Jesus e produzir frutos de seguimento.

O Reino que anuncia é descrito como vida eterna, uma vida que começa na história, porque consiste em crescer no conhecimento de quem é o Pai e o Filho e na prática de sua única lei: a de nos amarmos uns aos outros como Jesus nos amou, dispostos a entregar a vida em favor dos irmãos, medida de amor que revela a vontade do Pai como Rei.

Jesus ensina na ceia que não há lei se não houver amor, essa é a única lei! O que parece estar em oposição, quando exercitado chega a um ponto em que lei e amor se fundem numa única realidade. A autonomia da liberdade (amor) busca conhecer o desejo do Amado, o Outro, que pela lei oferece toda a expressão do Seu Amor na liberdade.

As palavras de Jesus que consagram o pão e o vinho em corpo e sangue são anúncio de algo que ocorrerá na sexta-feira de sua paixão e morte, e representam o compromisso de algo que se irá realizar, juramento e promessa de doação total.

A eucaristia é memória de todo o Mistério Pascal: promessa realizada na quinta-feira e que se concretiza na sexta-feira santa, englobando a aceitação do Pai e dos irmãos, e a revelação no domingo da ressurreição.

in https://www.jesuitasbrasil.org.br/ 

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

terça-feira, 30 de março de 2021

 QUARESMA PASSO A PASSO


43° Dia
 – quarta-feira - semana santa – 31/03/2021

" A partir de então Judas procurava uma ocasião para O entregar ."


EVANGELHO Mt 26,14-25 


“Naquele tempo, um dos Doze, chamado Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e disse-lhes: “Que estais dispostos a dar-me para vos entregar Jesus?” Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. A partir de então, Judas  procurava uma oportunidade para O entregar. No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe: “Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?” Ele respondeu “Ide à cidade, a casa de tal pessoa, e dizei-lhe: “O Mestre manda dizer:o meu tempo está próximo. É em tua casa que Eu quero celebrar  a Páscoa com os meus discípulos”. Os discípulos fizeram como Jesus lhes tinha mandado e prepararam a Páscoa. Ao cair da tarde, sentou-Se à mesa com os Doze. Enquanto comiam declarou: “ Em verdade vos digo: Um de vós Me entregará”. Profundamente entristecidos, começou cada um a perguntar-Lhe: “Serei eu Senhor?” Jesus respondeu: “Aquele que meteu comigo a mão no prato é que vai entregar-Me. O Filho do homem vai partir, como está escrito acerca d’Ele. Mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser entregue! Melhor seria para esse homem não ter nascido”. Judas, que O ia entregar, tomou a palavra e perguntou: “Serei eu, Mestre?” Respondeu Jesus: “ Tu o disseste”.”



Na Quarta-Feira Santa, a Igreja propõe-nos que meditemos o Evangelho de Jesus segundo Mt 26, 14-25. Esta leitura apresenta-nos a traição de Judas. Descreve-nos  como Judas foi ter com os chefes dos sacerdotes e se ofereceu para trair Jesus. Aceitou trinta moedas de prata como recompensa da sua traição. Por apenas trinta moedas de prata, um dos Doze entregou o Mestre! Por quantas moedas cada um de nós tem vendido Jesus? É chegada a hora das trevas!

Com um simples beijo Judas planeia vender o seu mestre. Por trinta moedas traça-se o poder financeiro, material e finito pela vida, dom de Deus. Uma verdadeira contradição, o dono de tudo é trocado pelo dinheiro. Ontem como hoje a opção pelo dinheiro e a rejeição da vida têm falado mais alto. 

Estamos hoje diante da agonia de Jesus no Monte das Oliveiras quando, diante do sofrimento que passaria nas próximas horas, Jesus, numa tristeza mortal, num gesto humano suplica ao Pai: “Meu Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice ” (Mt 26, 39). Mas imediatamente, como cordeiro que vai para o matadouro, diz: “Contudo, não seja feito como Eu quero, mas como Tu queres” (Mt 26, 39). É a Vítima perfeita que Se entrega, é o Cordeiro Pascal, é Aquele que tira o pecado do mundo por Amor! É o Bom Pastor, aquele que dá a vida pelas Suas ovelhas!

Hoje, São Mateus revela-nos o modo como Jesus foi traído por um dos Seus homens de confiança. O evangelho destaca que o gesto estava inserido num contexto maior do desígnio divino sobre o destino do Messias. Nem por isso a sua responsabilidade foi menor. As palavras terríveis que recaíram sobre ele não deixam dúvida a este respeito: “Seria melhor que nunca tivesse nascido!” Só Judas age na contramão da vontade do Mestre, mesmo que a sua decisão, já estivesse no contexto da vontade de Deus.

A atitude cristã, que devemos ter, é a de corresponder à graça divina, e não a desprezar, traindo o Amor de Cristo, como fez Judas. Peçamos ao Senhor que nos conceda uma fé firme e permanente a ponto de fazermos a diferença neste mundo, cheio de ganância e numa busca constante de privilégios e, sobretudo, onde parece que o grito de Maquiavel “os fins justificam os meios” continua ditando normas. Tira-se a vida em troca de Poder, Prazer e Posse.Jesus faz do dom da Sua vida entregue, doada livremente por nós, a Nova e Eterna Aliança com o Pai celeste, a fim de que, livres do pecado, vivamos agora na liberdade de filhos e filhas de Deus.

                                                          in https://www.jesuitasbrasil.org.br/ 


Pai-Nosso, que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Ámen.

segunda-feira, 29 de março de 2021

 QUARESMA PASSO A PASSO

42º Dia – terça-feira - semana santa – 30/03/2021

" Em verdade, em verdade vos digo: Um de vós Me entregará "

 EVANGELHO Jo 13, 21-33.36-38:

”Naquele tempo, estando Jesus à mesa com os discípulos, sentiu-Se intimamente perturbado e declarou: «Em verdade, em verdade vos digo: Um de vós Me entregará». Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saberem de quem falava. Um dos discípulos, o predileto de Jesus, estava à mesa, mesmo a seu lado. Simão Pedro fez-lhe sinal e disse: «Pergunta-Lhe a quem Se refere». Ele inclinou-Se sobre o peito de Jesus e perguntou-Lhe: «Quem é, Senhor?» Jesus respondeu: «É aquele a quem vou dar este bocado de pão molhado». E, molhando o pão, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Naquele momento, depois de engolir o pão, Satanás entrou nele. Disse- lhe Jesus: «O que tens a fazer, fá-lo depressa». Mas nenhum dos que estavam à mesa compreendeu porque lhe disse tal coisa. Como Judas era quem tinha a bolsa comum, alguns pensavam que Jesus lhe tinha dito: «Vai comprar o que precisamos para a festa»; ou então, que desse alguma esmola aos pobres. Judas recebeu o bocado de pão e saiu imediatamente. Era noite. Depois de ele sair, Jesus disse: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus foi glorificado n’Ele. Se Deus foi glorificado n’Ele, também Deus O glorificará em Si mesmo e glorificál’O-á sem demora. Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Haveis de procurar-Me e, assim como disse aos judeus, também agora vos digo: não podeis ir para onde Eu vou». Perguntou-Lhe Simão Pedro: «Para onde vais, Senhor?». Jesus respondeu: «Para onde Eu vou, não podes tu seguir-Me por agora; seguir-Me-ás depois». Disse-Lhe Pedro: «Senhor, por que motivo não posso seguir-Te agora? Eu darei a vida por Ti». Disse-Lhe Jesus: «Darás a vida por Mim? Em verdade, em verdade te digo: Não cantará o galo, sem que Me tenhas negado três vezes».


Depois de três anos de convivência parece que Judas não entendeu nada. Pelo que percebemos, embora S. João diga que ele era ladrão, que não cuidava bem da caixa de despesas… o pensamento de Judas era mais político: esperava, como tantos, que Jesus com o seu poder haveria de conduzir os judeus à liberdade de serem, de novo, uma pátria livre dos romanos. Digo isto porque Judas não ficou com o preço da traição.(Mt 27, 3-7)

Todos somos pecadores e frágeis. Todos os santos pediam a Deus a graça da perseverança até ao fim da vida. Não basta estar agora com Deus, devemos ficar sempre com Ele.

Pensemos um pouco sobre a traição entre amigos. Trair é enganar, é não confiar. Se se continua a conviver com essa pessoa, muitas vezes é por fingimento, para ter alguma vantagem, ou por tantas outras razões…

Sentimos muito o que Judas fez com Jesus! Mas, nós, na nossa relação com Deus, quantas vezes nos desviamos, afastamos, rejeitamos… Precisamos de purificar as nossas intenções e os nosso atos. 

De Pedro aprendemos outra lição de vida. Devemos decidir o que queremos e, depois, tentar cumprir o que prometemos.

O erro de Pedro foi, não só, o não reconhecer a possibilidade de nem sempre seguir o Mestre, mas também a forma, aparentemente orgulhosa, como fez a sua afirmação. É quase como se dissesse: os outros podem abandonar o Senhor, mas eu nunca!

E Jesus prevê o que vai acontecer e previne-o das negações que iria cometer…

Voltamos a lembrar: deve ser sempre claro, para cada um de nós, que quer seguir o Mestre. Mas, depois, é preciso confiar no Senhor, isto é, contar mais com a força de Deus do que com as nossas forças.

Jesus deseja muito que tenhamos bem claro em todo o nosso ser, bem definido, o que é verdadeiramente importante na nossa vida: o que, ou quem é que verdadeiramente nos faz mover, existir, viver. O Senhor deseja que queiramos sempre seguir o que é melhor, isto é, que acreditemos que Ele nos ama infinitamente, a cada um de nós em particular e a todos em geral.

Que Jesus seja a única força em que sempre nos apoiemos. 

Deixemo-nos amar por Jesus!

in https://www.jesuitasbrasil.org.br/ 

Pai-Nosso, que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Ámen.

domingo, 28 de março de 2021

 QUARESMA PASSO A PASSO

41º Dia – segunda-feira - semana santa – 29/03/2021

“...se afastavam e acreditavam em Jesus."

EVANGELHO Jo 12, 1-11

“Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Ofereceram-Lhe lá um jantar: Marta andava a servir e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Jesus. Então Maria tomou uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-Lhos com os cabelos; e a casa encheu-se com o perfume do bálsamo. Disse então Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que havia de entregar Jesus: «Porque não se vendeu este perfume por trezentos denários, para dar aos pobres?» Disse isto, não porque se importava com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa comum, tirava o que nela se lançava. Jesus respondeu-lhe: «Deixa-a em paz: ela tinha guardado o perfume para o dia da minha sepultura. Pobres, sempre os tereis convosco; mas a Mim, nem sempre Me tereis». Soube então grande número de judeus que Jesus Se encontrava ali e vieram, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes resolveram matar também Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, se afastavam e acreditavam em Jesus.”


Nosso Senhor amava Lázaro, Marta e Maria. Ele volta a Betânia seis dias antes da Páscoa: “Jesus visita de novo os Seus amigos de Betânia. Comove ver como o Senhor tem esta amizade, tão divina e tão humana, que se manifesta num convívio frequente”.

Cristo Jesus foi sempre muito bem recebido por Lázaro, Marta e Maria, em qualquer dia e a qualquer hora, com alegria e afeto. Havia grande respeito, atenção e caridade entre eles. E nós, qual tem sido o nosso comportamento ante os que não têm onde reclinar a cabeça? Assim como Lázaro, Marta e Maria recebiam o Senhor em sua casa com alegria e amor, abramos também o nosso coração para O receber.

Era costume da hospitalidade do Oriente honrar um hóspede ilustre com água perfumada depois de se lavar. Mas mal se sentou Jesus, Maria tomou um frasco de alabastro que continha uma libra de perfume muito caro, de nardo puro, aproximou-se de Jesus, ungiu os Seus pés e secou-Lhos com os seus cabelos.

O nardo era um perfume raríssimo, de grande valor, que ordinariamente se encerrava em pequenos vasos de boca estreita e apertada. Quebrar este vaso e derramar o conteúdo sobre a cabeça de alguém, era, entre os antigos, sinal de grande honra e distinção.

Maria ofereceu o melhor a Cristo Jesus. Ela não ofereceu um perfume barato, mas sim, o melhor e o mais caro. E cada um de nós, o que tem oferecido ao seu Senhor?

in https://www.jesuitasbrasil.org.br/ 

Avé-Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte. Ámen.

sábado, 27 de março de 2021

 QUARESMA PASSO A PASSO


Tema da Semana Santa:

“ONDE QUERES QUE PREPAREMOS A REFEIÇÃO DA PÁSCOA?”.

40º Dia – Domingo de Ramos – 28/03/2021

EVANGELHO Mc 14, 1-15,47

«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?»

O relato da paixão de Jesus, que a liturgia nos propõe neste domingo, ao lado do da entrada festiva de Jesus em Jerusalém (Mc 11,1-10), ocupa um quinto de todo o Evangelho segundo Marcos. É o relato mais antigo contido nos Evangelhos, uma longa narração em que encontramos o eco das testemunhas, acima de tudo de Pedro, cujo nome retorna frequentemente, e depois dos outros discípulos. Todos, porém, no momento da prisão, fogem...

O relato é composto por duas partes: a primeira, que narra os eventos vividos por Jesus junto dos seus discípulos, com a sua comunidade, até à captura (cf. Mc 14,1-42), e a segunda que apresenta o processo da Paixão nas suas fases: a execução da condenação, a crucifixão e o sepultamento do corpo de Jesus num túmulo (cf. Mc 14,43-15,47).

Dada a amplitude desse trecho, não podemos fazer um comentário pontual; portanto, nos limitar-nos-emos a um olhar de conjunto que evidencia a boa notícia, o Evangelho contido no relato da Paixão.

Essa narrativa põe à prova o nosso olhar de fé sobre Jesus: somos quase forçados a sofrer o escândalo e a loucura da cruz (cf. 1Co 1,23), somos colocados diante do resultado de um aparente falhanço total da vida de Jesus. Aquele que: passou no meio do seu povo fazendo o bem (cf. At 10,38), cuidando dos doentes e às vezes curando-os, e forçando o diabo a obedecê-lo (cf. Mc 1,27) e a recuar; como profeta poderoso em obras e palavras, “todos procuravam” (cf. Mc 1,37); atraiu a si as multidões, que o aclamaram como bem-aventurado e como Aquele que vem no nome do Senhor (cf. Mc 11,9); conseguiu reunir ao seu redor uma comunidade itinerante de homens e mulheres que O reconhecia como Profeta e Messias, esse homem, Jesus de Nazaré, conhece um fim impensável e chega a uma morte infame cruel e escandalosa.

Cada leitor atento do Evangelho, cada discípulo que seguiu Jesus desde seu batismo até o fim, não pode deixar de ficar profundamente abalado, perturbado com tal resultado... 

Onde foi parar – alguém pode perguntar-se – a força de Jesus, o poder com que ele libertava da doença e da morte aqueles que por elas estavam marcados? “A outros salvou, a Si mesmo não pode salvar” (Mc 15,31) – os seus adversários zombam dele...

Onde foi parar aquele carisma profético com o qual Ele anunciava como muito próximo ou, melhor, presente o Reino de Deus (cf. Mc 1,15)? Por que é que, na Paixão, Jesus está reduzido ao silêncio e Se deixa humilhar sem abrir a boca (cf. Is 53,7)?

Onde está aquela autoridade que lhe foi reconhecida tantas vezes por aqueles que o chamavam de Mestre, o aclamavam como Profeta, o invocavam como Messias e Salvador?

Todos aqueles que pareciam ser seus seguidores e simpatizantes desapareceram, e Jesus está sozinho, abandonado por todos, inerme e sem qualquer defesa.

Mas o enigma é ainda mais radical: onde está Deus durante a Paixão de Jesus? Aquele Deus que parecia ser tão próximo d’Ele e a quem chamava confidencialmente de “Abba”, isto é, “Paizinho”; aquele Deus que O havia declarado “Filho amado” no batismo (cf. Mc 1,11) e na transfiguração (cf. Mc 9,7); aquele Deus por quem Jesus havia colocado em jogo e consumido toda a Sua vida, onde está agora?

Não nos esqueçamos: a morte de cruz – como o apóstolo Paulo compreendeu - é a morte de um amaldiçoado (cf. Dt 21,23; Gl 3,13), julgado como tal pela legítima autoridade religiosa de Israel, e ao mesmo tempo, é o suplício extremo infligido a quem é considerado como nocivo à sociedade humana. Jesus verdadeiramente morreu como um impostor, na ignomínia, pendurado entre céu e terra, por ter sido rejeitado pelos homens…

in https://www.jesuitasbrasil.org.br/ 

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

 DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR

Com as leituras deste domingo iniciamos a Semana Santa. Também hoje, à semelhança do que aconteceu o ano passado, somos convidados a viver esta semana, que agora começa, num ambiente de oração, recolhimento e silêncio interior. Que seja um tempo de verdadeiro encontro com Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Que o Senhor, que deu a vida por cada um de nós, tenha compaixão da humanidade inteira e nos salve. Confiemos totalmente n’Ele, hoje e sempre, pelos séculos sem fim. 


Na 1ªleitura (Is. 50, 4-7) Isaías fala-nos d’Aquele que todo Se entrega ao Pai, num ato de Amor total, sem qualquer reserva, para salvação de cada um de nós. É nesta entrega incondicional a Deus que Jesus é prefigurado por Isaías. É nesta intimidade total com o Pai que Jesus nos revela Deus Amor infinito pelas Suas criaturas. Deixemo-nos amar por Deus, Trindade Santíssima, para que, cada um dos que connosco convive, possa também sentir-se assim amado, na totalidade do seu ser, por Deus.

“O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio, e, por isso, não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido.”

Na 2ª leitura (Filip 2, 6-11) S.Paulo explica-nos o mistério da Paixão. Apresenta-nos Jesus como Aquele que nos resgatou, por Amor a Deus e nos adquiriu para o Pai, com o Seu Sangue. N’Ele fomos garantidos como filhos de Deus, no Filho, passando também nós a poder tratar Deus por Abbá. Confiemos e entreguemo-nos, de coração, a Deus, uno e trino.

“Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”

O texto, do evangelho de hoje, (Mc 14, 1 – 15, 47) introduz-nos em duas multidões diferentes: uma, a dos que vêm a Jerusalém celebrar a Páscoa, gente simples, temente a Deus, que louva Jesus e o aclama como Filho de David; a outra, gente importante, socialmente falando, muitos deles fariseus, que querem acabar com Jesus, querem que Ele morra. E é nesta dialética de morte e de vida, de festa e de tristeza, que somos conduzidos, sem nunca perder de vista o Amor maior de Deus que atinge o pico, quando Jesus todo se entrega, por Amor, no Jardim das Oliveiras. É aí que Jesus, o inocente, que é também homem, num sofrimento sem paralelo, verdadeiramente se sente só e abandonado e, no limite das Suas forças, todo Se entrega por Amor ao Pai, para restabelecer, de uma vez para sempre, a Aliança entre Deus e a humanidade, por nosso Amor. Meu Senhor e meu Deus, como nos amais! Bendito e louvado sejais pelo Vosso Eterno Amor!

“Faltavam dois dias para a festa da Páscoa e dos Ázimos e os príncipes dos sacerdotes e os escribas procuravam maneira de se apoderarem de Jesus à traição para Lhe darem a morte. Mas diziam:

R «Durante a festa, não, para que não haja algum tumulto entre o povo».

N Jesus encontrava-Se em Betânia, em casa de Simão o Leproso, e, estando à mesa, veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro com perfume de nardo puro de alto preço. Partiu o vaso de alabastro e derramou-o sobre a cabeça de Jesus. Alguns indignaram-se e diziam entre si:
R «Para que foi esse desperdício de perfume? Podia vender-se por mais de duzentos denários e dar o dinheiro aos pobres».

N E censuravam a mulher com aspereza. Mas Jesus disse:

J «Deixai-a. Porque estais a importuná-la? Ela fez uma boa ação para comigo. Na verdade, sempre tereis os pobres convosco e, quando quiserdes, podereis fazer-lhes bem; mas a Mim, nem sempre Me tereis. Ela fez o que estava ao seu alcance: ungiu de antemão o meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo: Onde quer que se proclamar o Evangelho, pelo mundo inteiro, dir-se-á também em sua memória o que ela fez».

N Então, Judas Iscariotes, um dos Doze, foi ter com os príncipes dos sacerdotes para lhes entregar Jesus. Quando o ouviram, alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro. E ele procurava uma oportunidade para entregar Jesus.

N No primeiro dia dos Ázimos, em que se imolava o cordeiro pascal, os discípulos perguntaram a Jesus:

R «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?».

N Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes:

J «Ide à cidade. Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água. Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: ‘O Mestre pergunta: Onde está a sala, em que hei de comer a Páscoa com os meus discípulos?’. Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior, alcatifada e pronta. Preparai-nos lá o que é preciso».

N Os discípulos partiram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito e prepararam a Páscoa.

Ao cair da tarde, chegou Jesus com os Doze. Enquanto estavam à mesa e comiam, Jesus disse:

J «Em verdade vos digo: Um de vós, que está comigo à mesa, há de entregar-Me».

N Eles começaram a entristecer-se e a dizer um após outro:

R «Serei eu?».

N Jesus respondeu-lhes:

J «É um dos Doze, que mete comigo a mão no prato. O Filho do homem vai partir, como está escrito a seu respeito, mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser traído! Teria sido melhor para esse homem não ter nascido».

N Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o aos discípulos e disse:

J «Tomai: isto é o meu Corpo».

N Depois tomou um cálice, deu graças e

entregou-lho. E todos beberam dele. Disse Jesus:

J «Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança, derramado pela multidão dos homens. Em verdade vos digo: Não voltarei a beber do fruto da videira, até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus».

N Cantaram os salmos e saíram para o monte das Oliveiras.

N Disse-lhes Jesus:

J «Todos vós Me abandonareis, como está escrito: ‘Ferirei o pastor e dispersar-se-ão as ovelhas’. Mas depois de ressuscitar, irei à vossa frente para a Galileia».

N Disse-Lhe Pedro:

R «Embora todos Te abandonem, eu não».

N Jesus respondeu-lhe:

J «Em verdade te digo: Hoje, esta mesma noite, antes de o galo cantar duas vezes, três vezes Me negarás».

N Mas Pedro continuava a insistir:
R «Ainda que tenha de morrer contigo, não Te negarei».
N E todos afirmaram o mesmo.

Entretanto, chegaram a uma propriedade
chamada Getsémani e Jesus disse aos seus discípulos:

J «Ficai aqui, enquanto Eu vou orar».

N Tomou consigo Pedro, Tiago e João e começou a sentir pavor e angústia. Disse-lhes então:

J «A minha alma está numa tristeza de morte.

Ficai aqui e vigiai».

N Adiantando-Se um pouco, caiu por terra e orou para que, se fosse possível, se afastasse d’Ele aquela hora. Jesus dizia:

J «Abá, Pai, tudo Te é possível: afasta de Mim este cálice. Contudo, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres».

N Depois, foi ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro:

J «Simão, estás a dormir? Não pudeste vigiar uma hora? Vigiai e orai, para não entrardes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca».

N Afastou-Se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras. Voltou novamente e encontrou-os dormindo, porque tinham os olhos pesados e não sabiam que responder. Jesus voltou pela terceira vez e disse-lhes:

J «Dormi agora e descansai... Chegou a hora: o Filho do homem vai ser entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos. Vamos. Já se aproxima aquele que Me vai entregar».

N Ainda Jesus estava a falar, quando apareceu Judas, um dos Doze, e com ele uma grande multidão, com espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes, pelos escribas e os anciãos. O traidor tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar, é esse mesmo. Prendei-O e levai-O bem seguro». Logo que chegou, aproximou-se de Jesus e beijou-O, dizendo:

R «Mestre».

N Então deitaram-Lhe as mãos e prenderam-n’O.

Um dos presentes puxou da espada e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha. Jesus tomou a palavra e disse-lhes:

J «Vós saístes com espadas e varapaus para Me prender, como se fosse um salteador. Todos os dias Eu estava no meio de vós, a ensinar no templo, e não Me prendestes! Mas é para se cumprirem as Escrituras».

N Então os discípulos deixaram-n’O e fugiram todos. Seguiu-O um jovem, envolto apenas num lençol. Agarraram-no, mas ele, largando o lençol, fugiu nu.

N Levaram então Jesus à presença do sumo sacerdote, onde se reuniram todos os príncipes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas. Pedro, que O seguira de longe, até ao interior do palácio do sumo sacerdote, estava sentado com os guardas, a aquecer-se ao lume. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um testemunho contra Jesus para Lhe dar a morte, mas não o encontravam. Muitos testemunhavam falsamente contra Ele, mas os seus depoimentos não eram concordes. Levantaram-se então alguns, para proferir contra Ele este falso testemunho:

R «Ouvimo-l’O dizer: ‘Destruirei este templo feito pelos homens e em três dias construirei outro que não será feito pelos homens’».

N Mas nem assim o depoimento deles era concorde. Então o sumo sacerdote levantou-se no meio de todos e perguntou a Jesus:

R «Não respondes nada ao que eles depõem contra Ti?».

N Mas Jesus continuava calado e nada respondeu. O sumo sacerdote voltou a interrogá-l’O:

R «És Tu o Messias, Filho do Deus Bendito?».

N Jesus respondeu:

J «Eu Sou. E vós vereis o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso vir sobre as nuvens do céu».

N O sumo sacerdote rasgou as vestes e disse:

R «Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfémia. Que vos parece?».

N Todos sentenciaram que Jesus era réu de morte. Depois, alguns começaram a cuspir-Lhe, a tapar-Lhe o rosto com um véu e a dar-Lhe punhadas, dizendo:

R «Adivinha».

N E os guardas davam-Lhe bofetadas. Pedro estava em baixo, no pátio, quando chegou uma das criadas do sumo sacerdote. Ao vê-lo a aquecer-se, olhou-o de frente e disse-lhe:

R «Tu também estavas com Jesus, o Nazareno».

N Mas ele negou:

R «Não sei nem entendo o que dizes».

N Depois saiu para o vestíbulo e o galo cantou. A criada, vendo-o de novo, começou a dizer aos presentes:

R «Este é um deles».

N Mas ele negou segunda vez. Pouco depois, os presentes diziam também a Pedro:

R «Na verdade, tu és deles, pois também és galileu».

N Mas ele começou a dizer imprecações e a jurar:

R «Não conheço esse homem de quem falais».

N E logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro lembrou-se do que Jesus lhe tinha dito: «Antes de o galo cantar duas vezes, três vezes Me negarás». E desatou a chorar.

N Logo de manhã, os príncipes dos sacerdotes reuniram-se em conselho com os anciãos e os escribas e todo o Sinédrio. Depois de terem manietado Jesus, foram entregá-l’O a Pilatos.
Pilatos perguntou-Lhe:

R «Tu és o Rei dos judeus?».

N Jesus respondeu:

J «É como dizes».

N E os príncipes dos sacerdotes faziam muitas acusações contra Ele. Pilatos interrogou-O de novo:

R «Não respondes nada? Vê de quantas coisas
Te acusam».

N Mas Jesus nada respondeu, de modo que Pilatos estava admirado. Pela festa da Páscoa, Pilatos costumava soltar-lhes um preso à sua escolha. Havia um, chamado Barrabás, preso com os insurretos que numa revolta tinham cometido um assassínio. A multidão, subindo, começou a pedir o que era costume conceder-lhes. Pilatos respondeu:

R «Quereis que vos solte o Rei dos judeus?».

N Ele sabia que os príncipes dos sacerdotes O tinham entregado por inveja. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes incitaram a multidão a pedir que lhes soltasse antes Barrabás. Pilatos, tomando de novo a palavra, perguntou-lhes:

R «Então que hei de fazer d’Aquele que chamais o Rei dos judeus?».

N Eles gritaram de novo:

R «Crucifica-O!».

N Pilatos insistiu:

R «Que mal fez Ele?».

N Mas eles gritaram ainda mais:

R «Crucifica-O!».

N Então Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás e, depois de ter mandado açoitar Jesus, entregou-O para ser crucificado. Os soldados levaram-n’O para dentro do palácio, que era o pretório, e convocaram toda a coorte. Revestiram-n’O com um manto de púrpura e puseram-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos que haviam tecido. Depois começaram a saudá-l’O:

R «Salve, Rei dos judeus!».

N Batiam-Lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-Lhe e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante d’Ele. Depois de O terem escarnecido, tiraram-Lhe o manto de púrpura e vestiram-Lhe as suas roupas. Em seguida levaram-n’O dali para O crucificarem. Requisitaram, para Lhe levar a cruz, um homem que passava, vindo do campo, Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo. E levaram Jesus ao lugar do Gólgota, quer dizer, lugar do Calvário. Queriam dar-Lhe vinho misturado com mirra, mas Ele não o quis beber. Depois crucificaram-n’O. E repartiram entre si as suas vestes,
tirando-as à sorte, para verem o que levaria cada um.

Eram nove horas da manhã quando O crucificaram. O letreiro que indicava a causa da condenação tinha escrito: «Rei dos Judeus».
Crucificaram com Ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. Os que passavam insultavam-n’O e abanavam a cabeça, dizendo:
R «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo e desce da cruz». Os príncipes dos sacerdotes e os escribas troçavam uns com os outros, dizendo:
R «Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo! Esse Messias, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para nós vermos e acreditarmos».
N Até os que estavam crucificados com Ele O injuriavam. Quando chegou o meio-dia, as trevas envolveram toda a terra até às três horas da tarde. E às três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte:

J «Eloí, Eloí, lemá sabactáni?».

N Que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?». Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram:

R «Está a chamar por Elias».

N Alguém correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta duma cana, deu-Lhe a beber e disse:

R «Deixa ver se Elias vem tirá-l’O dali».

N Então Jesus, soltando um grande brado, expirou. O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo. O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-l’O expirar daquela maneira, exclamou:

R «Na verdade, este homem era Filho de Deus».
N Estavam também ali umas mulheres a observar de longe, entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e Salomé, que acompanhavam e serviam Jesus, quando estava na Galileia, e muitas outras que tinham subido com Ele a Jerusalém.

Ao cair da tarde – visto ser a Preparação, isto é, a véspera do sábado – José de Arimateia, ilustre membro do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, foi corajosamente à presença de Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ficou admirado de Ele já estar morto e, mandando chamar o centurião, perguntou-lhe se Jesus já tinha morrido. Informado pelo centurião, ordenou que o corpo fosse entregue a José. José comprou um lençol, desceu o corpo de Jesus e envolveu-O no lençol; depois depositou-O num sepulcro escavado na rocha e rolou uma pedra para a entrada do sepulcro. Entretanto, Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde Jesus tinha sido depositado.”

Senhor Jesus, Deus Filho, que com o Teu Sangue nos conquistastes para o Pai, bendito sejas pelo Teu Amor sem limites, hoje e sempre, pelos séculos sem fim.