DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO
SENHOR
Com as leituras deste domingo iniciamos a Semana
Santa. Também hoje, à semelhança do que aconteceu o ano passado, somos
convidados a viver esta semana, que agora começa, num ambiente de oração, recolhimento
e silêncio interior. Que seja um tempo de verdadeiro encontro com Deus, Pai,
Filho e Espírito Santo. Que o Senhor, que deu a vida por cada um de nós, tenha
compaixão da humanidade inteira e nos salve. Confiemos totalmente n’Ele, hoje e
sempre, pelos séculos sem fim.
Na 1ªleitura (Is. 50, 4-7) Isaías fala-nos d’Aquele que
todo Se entrega ao Pai, num ato de Amor total, sem qualquer reserva, para
salvação de cada um de nós. É nesta entrega incondicional a Deus que Jesus é
prefigurado por Isaías. É nesta intimidade total com o Pai que Jesus nos revela
Deus Amor infinito pelas Suas criaturas. Deixemo-nos amar por Deus, Trindade
Santíssima, para que, cada um dos que connosco convive, possa também sentir-se
assim amado, na totalidade do seu ser, por Deus.
“O Senhor deu-me a graça de falar como um
discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam
abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como
escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem
recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me
arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam.
Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio, e, por isso, não fiquei envergonhado;
tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido.”
Na 2ª leitura (Filip 2, 6-11) S.Paulo explica-nos o mistério da Paixão.
Apresenta-nos Jesus como Aquele que nos resgatou, por Amor a Deus e nos
adquiriu para o Pai, com o Seu Sangue. N’Ele fomos garantidos como filhos de
Deus, no Filho, passando também nós a poder tratar Deus por Abbá. Confiemos e
entreguemo-nos, de coração, a Deus, uno e trino.
“Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se
valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a
condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem,
humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O
exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de
Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua
proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”
O texto, do evangelho de hoje, (Mc 14, 1 – 15, 47) introduz-nos
em duas multidões diferentes: uma, a dos que vêm a Jerusalém celebrar a Páscoa,
gente simples, temente a Deus, que louva Jesus e o aclama como Filho de David;
a outra, gente importante, socialmente falando, muitos deles fariseus, que
querem acabar com Jesus, querem que Ele morra. E é nesta dialética de morte e
de vida, de festa e de tristeza, que somos conduzidos, sem nunca perder de
vista o Amor maior de Deus que atinge o pico, quando Jesus todo se entrega, por
Amor, no Jardim das Oliveiras. É aí que Jesus, o inocente, que é também homem,
num sofrimento sem paralelo, verdadeiramente se sente só e abandonado e, no
limite das Suas forças, todo Se entrega por Amor ao Pai, para restabelecer, de
uma vez para sempre, a Aliança entre Deus e a humanidade, por nosso Amor. Meu
Senhor e meu Deus, como nos amais! Bendito e louvado sejais pelo Vosso Eterno Amor!
“Faltavam
dois dias para a festa da Páscoa e dos Ázimos e os príncipes dos sacerdotes e os
escribas procuravam maneira de se apoderarem de Jesus à traição para Lhe darem a
morte. Mas diziam:
R «Durante a festa, não, para que não haja
algum tumulto entre o povo».
N Jesus encontrava-Se em Betânia, em casa de Simão
o Leproso, e, estando à mesa, veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro com perfume de
nardo puro de alto preço. Partiu o vaso de alabastro e derramou-o sobre a cabeça de
Jesus. Alguns indignaram-se e diziam entre si:
R «Para que
foi esse desperdício de perfume? Podia vender-se por mais de duzentos denários
e dar o dinheiro
aos pobres».
N E censuravam a mulher com aspereza. Mas Jesus disse:
J «Deixai-a. Porque estais a importuná-la? Ela
fez uma boa ação para comigo. Na verdade, sempre tereis os pobres convosco
e, quando
quiserdes, podereis fazer-lhes bem; mas a Mim, nem sempre Me tereis. Ela fez o que estava
ao seu alcance: ungiu de antemão o meu corpo para a sepultura. Em verdade vos
digo: Onde
quer que se proclamar o Evangelho, pelo mundo
inteiro, dir-se-á também em sua memória o que ela fez».
N Então, Judas Iscariotes, um dos Doze, foi ter com os
príncipes dos sacerdotes para lhes entregar Jesus. Quando o ouviram, alegraram-se
e
prometeram dar-lhe dinheiro. E ele procurava uma oportunidade para entregar Jesus.
N No primeiro dia dos Ázimos, em que se imolava
o cordeiro pascal, os discípulos perguntaram a Jesus:
R «Onde queres que façamos os preparativos para
comer a Páscoa?».
N Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes:
J «Ide à cidade. Virá ao vosso
encontro um homem com uma bilha de água. Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao
dono da casa: ‘O Mestre pergunta: Onde está a sala, em que hei de
comer a Páscoa com os meus discípulos?’. Ele vos mostrará uma grande sala no
andar superior, alcatifada e pronta. Preparai-nos lá o que é preciso».
N Os discípulos partiram e foram à cidade. Encontraram
tudo como Jesus lhes tinha dito e prepararam a Páscoa.
Ao cair da tarde, chegou Jesus com os Doze. Enquanto
estavam à mesa e comiam, Jesus disse:
J «Em verdade vos digo: Um de vós, que
está comigo à mesa, há de entregar-Me».
N Eles começaram a entristecer-se e a dizer um após outro:
R «Serei eu?».
N Jesus respondeu-lhes:
J «É um dos Doze, que mete comigo a mão no prato. O Filho do homem vai partir, como está escrito a seu respeito,
mas ai
daquele por quem o Filho do homem vai ser traído! Teria sido melhor
para esse homem não ter nascido».
N Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o
aos discípulos e disse:
J «Tomai: isto é o meu Corpo».
N Depois tomou um cálice, deu graças e
entregou-lho. E todos beberam
dele. Disse
Jesus:
J «Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança, derramado pela multidão dos homens. Em verdade vos
digo: Não
voltarei a beber do fruto da videira, até ao dia em que beberei do vinho
novo no
reino de Deus».
N Cantaram os salmos e saíram para o monte das Oliveiras.
N Disse-lhes Jesus:
J «Todos vós Me abandonareis, como está escrito: ‘Ferirei o pastor e dispersar-se-ão as ovelhas’. Mas depois de
ressuscitar, irei à vossa frente para a Galileia».
N Disse-Lhe Pedro:
R «Embora todos Te abandonem, eu não».
N Jesus respondeu-lhe:
J «Em verdade te digo: Hoje, esta mesma
noite, antes de o galo cantar duas vezes, três vezes Me negarás».
N Mas Pedro continuava a insistir:
R «Ainda
que tenha de morrer contigo, não Te negarei».
N E todos
afirmaram o mesmo.
Entretanto, chegaram a uma propriedade
chamada
Getsémani e Jesus disse aos seus discípulos:
J «Ficai aqui, enquanto Eu vou orar».
N Tomou consigo Pedro, Tiago e João e começou a
sentir pavor e angústia. Disse-lhes então:
J «A minha alma está numa tristeza de morte.
Ficai aqui e vigiai».
N Adiantando-Se um pouco, caiu por terra e orou para que,
se fosse possível, se afastasse d’Ele aquela hora. Jesus dizia:
J «Abá, Pai, tudo Te é possível: afasta de Mim
este cálice. Contudo, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu
queres».
N Depois, foi ter com os discípulos, encontrou-os a
dormir e disse a Pedro:
J «Simão, estás a dormir? Não pudeste
vigiar uma hora? Vigiai e orai, para não entrardes em tentação. O espírito está
pronto, mas a carne é fraca».
N Afastou-Se de novo e orou, dizendo as mesmas
palavras. Voltou novamente e encontrou-os dormindo, porque tinham os olhos pesados
e não
sabiam que responder. Jesus voltou pela terceira vez e disse-lhes:
J «Dormi agora e descansai... Chegou a hora: o
Filho do homem vai ser entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos.
Vamos. Já se aproxima aquele que Me vai entregar».
N Ainda Jesus estava a falar, quando apareceu
Judas, um dos Doze, e com ele uma grande multidão, com espadas e varapaus,
enviada
pelos príncipes dos sacerdotes, pelos escribas e os anciãos. O traidor
tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar, é esse mesmo. Prendei-O e
levai-O bem seguro». Logo que chegou, aproximou-se de Jesus e beijou-O,
dizendo:
R «Mestre».
N Então deitaram-Lhe as mãos e prenderam-n’O.
Um dos presentes puxou da espada e feriu o servo
do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha. Jesus tomou a palavra e disse-lhes:
J «Vós saístes com espadas e varapaus para Me prender, como se fosse um salteador. Todos os dias Eu estava no meio de
vós, a
ensinar no templo, e não Me prendestes! Mas é para se cumprirem as
Escrituras».
N Então os discípulos deixaram-n’O e fugiram todos. Seguiu-O um jovem, envolto apenas num lençol. Agarraram-no, mas
ele, largando o lençol, fugiu nu.
N Levaram então Jesus à presença do sumo
sacerdote, onde se reuniram todos os príncipes dos sacerdotes, os anciãos e os
escribas. Pedro, que O seguira de longe, até ao interior do palácio do sumo
sacerdote, estava sentado com os guardas, a aquecer-se ao lume. Entretanto, os
príncipes dos sacerdotes e todo o
Sinédrio procuravam um testemunho contra Jesus para Lhe dar a morte, mas não o
encontravam. Muitos testemunhavam falsamente contra Ele, mas os seus
depoimentos não eram concordes. Levantaram-se então alguns, para proferir
contra Ele este falso testemunho:
R «Ouvimo-l’O dizer: ‘Destruirei este
templo feito pelos homens e em três dias construirei outro que não será
feito pelos homens’».
N Mas nem assim o depoimento deles era concorde. Então o sumo sacerdote levantou-se no meio de todos e perguntou a
Jesus:
R «Não respondes nada ao que eles depõem contra Ti?».
N Mas Jesus continuava calado e nada respondeu. O sumo sacerdote voltou a interrogá-l’O:
R «És Tu o Messias, Filho do Deus Bendito?».
N Jesus respondeu:
J «Eu Sou. E vós vereis o Filho do homem sentado à direita
do Todo-poderoso vir sobre as nuvens do céu».
N O sumo sacerdote rasgou as vestes e disse:
R «Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfémia. Que vos parece?».
N Todos sentenciaram que Jesus era réu de morte. Depois, alguns começaram a
cuspir-Lhe, a tapar-Lhe o rosto com um véu
e a dar-Lhe
punhadas, dizendo:
R «Adivinha».
N E os guardas davam-Lhe bofetadas. Pedro estava em
baixo, no pátio, quando chegou uma das criadas do sumo sacerdote. Ao vê-lo a
aquecer-se, olhou-o de frente e disse-lhe:
R «Tu também estavas com Jesus, o Nazareno».
N Mas ele negou:
R «Não sei nem entendo o que dizes».
N Depois saiu para o vestíbulo e o galo cantou. A criada, vendo-o de novo, começou a dizer aos presentes:
R «Este é um deles».
N Mas ele negou segunda vez. Pouco depois, os
presentes diziam também a Pedro:
R «Na verdade, tu és deles, pois também és galileu».
N Mas ele começou a dizer imprecações e a jurar:
R «Não conheço esse homem de quem falais».
N E logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro
lembrou-se do que Jesus lhe tinha dito: «Antes de o galo cantar duas vezes,
três vezes
Me negarás». E desatou a chorar.
N Logo de manhã, os príncipes dos
sacerdotes reuniram-se em conselho com os anciãos e os escribas e todo o Sinédrio.
Depois de
terem manietado Jesus, foram entregá-l’O a Pilatos.
Pilatos
perguntou-Lhe:
R «Tu és o Rei dos judeus?».
N Jesus respondeu:
J «É como dizes».
N E os príncipes dos sacerdotes faziam muitas
acusações contra Ele. Pilatos interrogou-O de novo:
R «Não respondes nada? Vê de quantas coisas
Te acusam».
N Mas Jesus nada respondeu, de modo que
Pilatos estava admirado. Pela festa da Páscoa, Pilatos
costumava soltar-lhes um preso à sua escolha. Havia um, chamado Barrabás, preso com
os insurretos que numa revolta tinham cometido um assassínio. A multidão,
subindo, começou a pedir o que era costume conceder-lhes. Pilatos
respondeu:
R «Quereis que vos solte o Rei dos judeus?».
N Ele sabia que os príncipes dos sacerdotes O
tinham entregado por inveja. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes incitaram a
multidão a pedir que lhes soltasse antes Barrabás. Pilatos, tomando de novo a
palavra, perguntou-lhes:
R «Então que hei de fazer d’Aquele que chamais o Rei
dos judeus?».
N Eles gritaram de novo:
R «Crucifica-O!».
N Pilatos insistiu:
R «Que mal fez Ele?».
N Mas eles gritaram ainda mais:
R «Crucifica-O!».
N Então Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás e, depois de ter mandado açoitar
Jesus, entregou-O para ser crucificado. Os soldados levaram-n’O para dentro
do palácio, que era o pretório, e convocaram toda a coorte. Revestiram-n’O com
um manto de púrpura e puseram-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos que haviam
tecido. Depois começaram a saudá-l’O:
R «Salve, Rei dos judeus!».
N Batiam-Lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-Lhe e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante d’Ele. Depois de O terem
escarnecido, tiraram-Lhe o manto de púrpura e vestiram-Lhe as suas roupas.
Em seguida
levaram-n’O dali para O crucificarem. Requisitaram, para Lhe levar a cruz, um homem
que passava, vindo do campo, Simão de
Cirene, pai de Alexandre e Rufo. E levaram
Jesus ao lugar do Gólgota, quer dizer,
lugar do Calvário. Queriam
dar-Lhe vinho misturado com mirra, mas Ele não
o quis beber. Depois crucificaram-n’O. E repartiram entre si as suas
vestes,
tirando-as
à sorte, para verem o que levaria cada um.
Eram nove horas da manhã quando O crucificaram. O letreiro que indicava a causa da condenação tinha escrito:
«Rei dos Judeus».
Crucificaram
com Ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. Os que passavam
insultavam-n’O e abanavam a cabeça, dizendo:
R «Tu que
destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti
mesmo e desce da cruz». Os príncipes dos sacerdotes e os escribas troçavam uns com
os outros, dizendo:
R «Salvou
os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo! Esse Messias, o Rei de Israel, desça
agora da cruz, para nós vermos e acreditarmos».
N Até os
que estavam crucificados com Ele O injuriavam. Quando chegou o meio-dia, as trevas
envolveram toda a terra até às três horas da tarde. E às três horas
da tarde, Jesus clamou com voz forte:
J «Eloí, Eloí, lemá sabactáni?».
N Que quer dizer: «Meu Deus, meu
Deus, porque Me abandonastes?». Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram:
R «Está a chamar por Elias».
N Alguém correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta duma cana, deu-Lhe a beber e disse:
R «Deixa ver se Elias vem tirá-l’O dali».
N Então Jesus, soltando um grande brado, expirou. O véu do
templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo. O centurião que estava em
frente de Jesus, ao vê-l’O expirar daquela maneira, exclamou:
R «Na verdade, este homem era Filho de Deus».
N Estavam
também ali umas mulheres a observar de longe, entre elas Maria Madalena, Maria, mãe
de Tiago e de José, e Salomé, que acompanhavam e serviam Jesus, quando estava na
Galileia, e muitas outras que tinham subido com Ele a Jerusalém.
Ao cair da tarde – visto ser a
Preparação, isto é, a véspera do sábado – José de Arimateia, ilustre membro do
Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, foi corajosamente à presença de
Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ficou admirado de Ele já
estar morto e, mandando chamar o centurião, perguntou-lhe se
Jesus já tinha morrido. Informado pelo centurião, ordenou que o corpo fosse entregue a
José. José
comprou um lençol, desceu o corpo de Jesus e envolveu-O no lençol; depois
depositou-O num sepulcro escavado na rocha e rolou uma pedra para a entrada do
sepulcro. Entretanto, Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde
Jesus tinha sido depositado.”
Senhor Jesus, Deus Filho, que com o Teu Sangue nos
conquistastes para o Pai, bendito sejas pelo Teu Amor sem limites, hoje e
sempre, pelos séculos sem fim.