domingo, 28 de fevereiro de 2021
Papa alerta para a preguiça espiritual - Pastoral da cultura
Papa propõe
jejum que não dá fome e alerta para a «preguiça espiritual»
A transfiguração de Jesus no alto do monte
narrada no Evangelho proclamado nas missas de hoje, é um bálsamo que atenua as
dificuldades da vida, mas exige que a contemplação orante implique caridade
operativa, afirmou o papa.
Os cristãos são chamados a «contemplar a
beleza do Ressuscitado que acende vislumbres de luz» na existência humana, em
particular quando passa «por uma provação difícil», mas não deve converter-se
em «preguiça espiritual» - «estamos bem, com as nossas orações e liturgias, e
isso basta-nos. Não!» - vincou Francisco durante a oração do Angelus.
«Subir à montanha não é esquecer a
realidade» e «rezar nunca é fugir das fadigas da vida», porque «a luz da fé não
é para uma bela emoção», frisou, ao comentar a passagem do Evangelho, que
permite «viver a antecipação da luz» da ressurreição na Quaresma.
Do brilho esplendoroso da transfiguração
de Jesus, os discípulos de então e de todos os tempos são desafiados a «acender
pequenas luzes no coração das pessoas, a ser pequenas lâmpadas de Evangelho que
levam um pouco de amor e de esperança», a guardar «outro olhar», que «ajude a
ir além» dos «esquemas» pessoais e dos «critérios» do mundo.
«”A transfiguração” é um convite a
recordar-nos, especialmente quando atravessamos uma provação difícil – e tantos
de vós sabem o que é atravessar uma provação difícil – que o Senhor está
ressuscitado e não permite à escuridão ter a última palavra», assinalou.
Neste domingo, em que se assinala o Dia
Mundial das Doenças Raras, Francisco sublinhou a importância das redes de
solidariedade que se estabelecem entre famílias, contribuindo para os doentes
não se sentirem sós.
Francisco exprimiu a sua «proximidade» aos
doentes e às famílias, «mas especialmente às crianças», das quais também se
cuida «com a oração»: «Quando há estas doenças que não se sabe o que são, ou há
um prognóstico relativamente mau. Rezemos por todas as pessoas que têm estas
doenças raras, especialmente rezemos pelas crianças que sofrem».
No contexto do tempo penitencial da
Quaresma, o papa sugeriu um «bonito jejum» que «não vai dar fome», o das
coscuvilhices das maledicências, e lembrou a importância de «ler todos os dias
uma passagem do Evangelho», levá-los para todo o lado, no bolso, na bolsa, para
incentivar a «abrir o coração» a Deus.
O papa uniu a sua voz à dos bispos da Nigéria para condenar o sequestro de 317 meninas numa escola do país, declarou que está próximo delas e das suas famílias, e pediu orações para que possam rapidamente voltar às suas casas.
Rui Jorge Martins
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Imagem: "Transfiguração de Jesus"
Publicado em 28.02.2021
QUARESMA PASSO A PASSO
Tema da segunda semana: “EIS MEU FILHO MUITO AMADO, EM QUEM PUS TODA A MINHA AFEIÇÃO: OUVI-O...”
12º Dia – Domingo
II – 28/02/2021
" E transfigurou-se diante deles."
EVANGELHO Mc 9, 2-10
O Segundo Domingo da Quaresma é
tradicionalmente o domingo da Transfiguração de Jesus, ou seja, o polo oposto ao primeiro domingo,
dedicado às tentações de Jesus. Neste
ano, lemos o relato presente
no Evangelho segundo Marcos e
tentamos evidenciar as particularidades dessa narração em relação à dos outros sinóticos.
Começamos contextualizando o relato
desse evento, que é colocado durante o ministério de Jesus, após a reviravolta
da confissão de Pedro sobre a identidade messiânica desse rabino e profeta que
anunciava a vinda do reino de Deus (cf. Mc 8, 29).
Marcos enfatiza que, depois dessa
declaração, sobre a qual Jesus impôs a obrigação do silêncio (cf. Mc 8, 30),
ele começou (érxato) a ensinar com parrhesía (cf. Mc 8, 32) que o Filho do
Homem devia sofrer muitas coisas, ser rejeitado pelos
anciãos, pelos sumos
sacerdotes, pelos escribas, em seguida ser morto e, depois de três dias, ressuscitar (cf. Mc 8, 31).
Este ensinamento é seguido por uma promessa solene: “Em verdade
vos digo: alguns
dos que estão
aqui não experimentarão a morte sem ter visto
o reino de Deus chegar
com poder” (Mc 9, 1). Palavras enigmáticas, que certamente
diziam respeito aos discípulos que ouviam Jesus,
mas também nos dizem
respeito a nós que, hoje, lemos
o Evangelho. Portanto, a confissão de Pedro, a profecia de Jesus sobre a
Sua paixão, morte e ressurreição, e a promessa da visão do reino
de Deus são aquilo que precede em seis dias o evento
da transfiguração. No dia da criação do homem (cf. Gn 1, 26-31), Jesus é
revelado pelo Pai como o Filho amado, aquele a quem se deve escutar.
Por isso,
Marcos assinala: “Seis
dias depois, Jesus
tomou consigo Pedro,
Tiago e João,
e levou-os sozinhos a um
lugar à parte, sobre
uma alta montanha”. Jesus toma e leva para o alto,
com soberana e livre iniciativa, os três discípulos
mais próximos dele, que fazem parte do grupo dos Doze, mas separados dos outros
em algumas ocasiões, para serem testemunhas privilegiadas de experiências únicas:
a ressurreição da filha de Jairo (cf. Mc 5, 37-43), a transfiguração e depois a
des-figuração, a agonia no Getsémani (cf. Mc 14, 32-42). Situações vividas por Jesus “à parte”, numa
solidão compartilhada apenas
com os escolhidos, para entrar
na Sua intimidade com o Pai.
Poder-se-ia dizer que Jesus os carrega
sobre os ombros e os leva para o alto, a uma montanha, lugar da revelação de
Deus e da sua teofania; montanha que a tradição antiga identificou no Tabor (Tab’or,
“perto da luz”).
E aqui ocorre a revelação: “Jesus
foi transfigurado diante deles”.
Uma ação de Deus muda a
aparência
visível de Jesus, de modo que ele seja visto de outra forma. Mateus tenta
expressar essa mudança escrevendo que “seu rosto brilhou
como o sol” (Mt 17, 2). Lucas
atesta que “seu
rosto mudou de aparência” (Lc 9,
29), enquanto Marcos
alude com muita
discrição à mudança
ocorrida, especificando, porém,
que “suas roupas ficaram
brilhantes e tão brancas”, de uma brancura que ninguém sobre a terra poderia dar às vestes, sendo esta uma ação que somente
Deus pode fazer.
in https://www.jesuitasbrasil.org.br/
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre. Ámen.
sábado, 27 de fevereiro de 2021
II DOMINGO DA QUARESMA
As leituras de hoje são um bálsamo, nesta caminhada de confinamento em
confinamento. Nestes tempos, parece que sentimos mais profundamente o Amor de
Deus que nos chega das mais variadas formas, seja através da Sua Palavra, ou por
meio dos irmãos, por um telefonema, um mail, uma mensagem, uma notícia, um
acontecimento... Há sinais que nos tocam mais do que outros, mas a certeza de
que Jesus caminha connosco, nos sustém quando nos afundamos e nos dá a força
para nos levantarmos e continuarmos a caminhada até ao Tabor, é graça que nunca
conseguimos agradecer suficientemente. Deus seja louvado, hoje e sempre, pelos
tempos sem fim.
Na 1ªleitura (Gen 22,
1-2.9a.10-13.15-18) Abraão demonstra
uma fé, uma confiança total em Deus. Com o coração despedaçado, mas, ao mesmo
tempo, acreditando na promessa de Deus sobre a sua imensa descendência, Abraão
cumpre a vontade do Senhor. Deus, ainda que, às vezes, possa não parecer, está
sempre connosco e, nunca, mas nunca mesmo, nos abandona.
“Naqueles dias, Deus quis pôr à prova Abraão e chamou-o: «Abraão!». Ele
respondeu: «Aqui estou». Deus disse: «Toma o teu filho, o teu único filho, a
quem tanto amas, Isaac, e vai à terra de Moriá, onde o oferecerás em
holocausto, num dos montes que Eu te indicar. Quando chegaram ao local
designado por Deus, Abraão levantou um altar e colocou a lenha sobre ele.
Depois, estendendo a mão, puxou do cutelo para degolar o filho. Mas o Anjo do
Senhor gritou-lhe do alto do Céu: «Abraão, Abraão!». «Aqui estou, Senhor»,
respondeu ele. O Anjo prosseguiu: «Não levantes a mão contra o menino, não lhe
faças mal algum. Agora sei que na verdade temes a Deus, uma vez que não Me
recusaste o teu filho, o teu filho único». Abraão ergueu os olhos e viu atrás
de si um carneiro, preso pelos chifres num silvado. Foi buscá-lo e ofereceu-o
em holocausto, em vez do filho. O Anjo do Senhor chamou Abraão do Céu pela
segunda vez e disse-lhe: «Por Mim próprio te juro – oráculo do Senhor – já que
assim procedeste e não Me recusaste o teu filho, o teu filho único,
abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e
como a areia das praias do mar, e a tua descendência conquistará as portas das
cidades inimigas. Porque obedeceste à minha voz, na tua descendência serão
abençoadas todas as nações da terra».”
Na 2ªleitura (Rom 8, 31b-34) é S.Paulo quem nos brinda com uma das mais
belas leituras que nós, cristãos, podemos escutar. Linda a forma como nos fala
do imenso Amor de Deus por cada um de nós, pela humanidade inteira. Só Deus nos
ama assim, desta forma infinita e total. Bendito e louvado sejas pelo Teu Amor.
“Irmãos: Se Deus está por nós, quem estará contra nós? Deus, que não poupou o seu próprio Filho, mas O entregou à morte por todos nós, como não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas? Quem acusará os eleitos de Deus, se Deus os justifica? E quem os condenará, se Cristo morreu e, mais ainda, ressuscitou, está à direita de Deus e intercede por nós?”
No evangelho (Mc 9, 2-10) vemos a confirmação do
que foi dito nas outras leituras: Jesus, o Filho Único, muito amado de Deus,
veio habitar-nos, está entre nós, para, por puro Amor e só por Amor, nos
resgatar para o Pai, confirmando a Aliança que Deus fez com os nossos primeiros
antepassados.
“Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles
para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas
vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre
a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando
com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos
aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias».
Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os
cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho
muito amado: escutai-O». De repente, olhando em redor, não viram mais ninguém,
a não ser Jesus, sozinho com eles. Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes que
não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do homem não
ressuscitasse dos mortos. Eles guardaram a recomendação, mas perguntavam entre
si o que seria”
Senhor, eu creio em Ti, mas aumenta a minha fé.
11º
Dia
– Sábado da semana I – 27/02/2021
"Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito"
EVANGELHO Mt 5, 43-48
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu
inimigo’. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que
vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz
nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos. Se amardes
aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem a mesma coisa os
publicanos? E se saudardes apenas os vossos irmãos, que fazeis de
extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, como o
vosso Pai celeste é perfeito».”
A lei da perfeição não é uma lei exterior,
imposta de fora para dentro; é lei inscrita já dentro de nós, no mais íntimo do
coração, como nos diz S. Agostinho “criastes-nos para Vós, Senhor, e o nosso
coração anda inquieto enquanto não repousar em Vós”. Será esse o grande
repouso, o grande Sábado: repousar em Deus!
Disse-nos o Papa no Angelus do passado
dia 20 de fevereiro: “De facto, o Senhor diz: «Sede, pois, perfeitos, como é
perfeito vosso Pai celeste» (Mt 5, 48). Mas quem poderia tornar-se
perfeito? A nossa perfeição é viver como filhos de Deus, cumprindo
concretamente a sua vontade. São Cipriano escrevia que «à paternidade de Deus
deve corresponder um comportamento de filhos de Deus, para que Deus seja
glorificado e louvado pela boa conduta do homem» (De zelo et livore, 15: CCL 3a,
83).
De que modo podemos imitar Jesus? Ele
diz: «Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim,
tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está nos Céus» (Mt 5,
44-45). Quem acolhe o Senhor na própria vida e o ama com todo o coração é capaz
de um novo início. Consegue cumprir a vontade de Deus: realizar uma nova forma
de existência animada pelo amor e destinada à eternidade. O apóstolo Paulo
acrescenta: «Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito de Deus
habita em vós?» (1 Cor 3, 16). Se estivermos deveras conscientes
desta realidade, e a nossa vida for por ela profundamente plasmada, então o
nosso testemunho torna-se claro, eloquente e eficaz. Um autor medieval
escreveu: «Quando, por assim dizer, todo o ser do homem se misturou com o amor
de Deus, então o esplendor da sua alma reflete-se também no aspeto exterior»
(João Clímaco, Scala Paradisi, XXX: pg 88, 1157 b), na
totalidade da vida. «É grandioso o amor — lemos no livro da Imitação de
Cristo — um bem que torna leve tudo o que é pesado e suporta
tranquilamente tudo o que é difícil. O amor aspira a elevar-se, sem ser aprisionado
seja pelo que for na terra. Nasce de Deus e só em Deus pode encontrar repouso»
(III, v, 3).
Avé-Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte. Ámen.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
QUARESMA PASSO A PASSO
10º
Dia
– Sexta-feira da semana I – 26/02/2021
"Se a vossa justiça não for maior que a dos escribas
e fariseus..."
EVANGELHO Mt 5, 20-26
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se a
vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos
Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será
submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o
seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será
submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo.
Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares
que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do
altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a
tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a
caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas
metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o
último centavo».”
Não é suficiente a justiça dos fariseus. Não basta evitar os homicídios, as mortes, as guerras. Jesus quer ir à raiz do mal, que se situa no mais
profundo de nosso ser, e quer que nos convertamos ao nível dessa estrutura. O
lugar privilegiado de Deus no mundo, após a encarnação, não é mais nos templos,
mas sim na pessoa humana, no mais
íntimo do coração de cada um de nós.
É preciso decidir-se pela fé e pela
conversão. O perdão fraterno não pode ser adiado. Converter-se é seguir Jesus,
no amor que ele tem por todos nós.
Hoje, sabemos, que é inútil um culto a
Deus se não cultuarmos o irmão, se não amarmos o nosso próximo. O nosso
primeiro mandamento é: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a
nós mesmos. Estamos assim perto
de Deus na medida em que estamos perto do nosso próximo.
Pai-Nosso, que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome,
venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade assim na terra como no
céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim
como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal. Ámen.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
QUARESMA PASSO A PASSO
9º
Dia
– Quinta-feira da semana I – 25/02/2021
"Pedir.
Buscar. Achar. Bater."
EVANGELHO Mt 7, 7-12
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: «Pedi e dar-se-vos-á, procurai e encontrareis, batei à porta e
abrir-se-vos-á. Porque todo aquele que pede recebe, quem procura encontra e a
quem bate à porta abrir-se-á. Qual de vós dará uma pedra a um filho que lhe
pede pão, ou uma serpente se lhe pedir peixe? Ora, se vós que sois maus, sabeis
dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos Céus as
dará àqueles que Lhas pedem! Portanto, o que quiserdes que os homens vos façam
fazei-lho vós também: esta é a Lei e os Profetas».”
Estes ensinamentos de Jesus pertencem a
uma antiga tradição, que Mateus e Lucas apresentam em contextos diversos. Em Lucas servem para ilustrar
como a oração do cristão
deve ser perseverante e confiante, em Mateus,
no entanto, pretende apoiar a decisão do discípulo que opta por servir a Deus.
Os três infinitivos que iniciam a
instrução: Pedir... Buscar... Bater... tinham um sentido religioso no judaísmo:
expressavam a busca em Deus e a confiança na sua providência. Mateus quer
infundir esta mesma confiança na sua comunidade, relembrando-lhes que a oração
cristã exprime e torna possível um estilo de vida em absoluta dependência de
Deus.
Diz o Papa
Francisco na catequese 14, a 11 de novembro de 2020, sobre a oração perseverante:
“(...) Se não rezarmos não teremos forças para ir em frente na vida. A oração é como o oxigénio da vida. A oração é
atrair sobre nós a presença do Espírito Santo que nos leva sempre em frente.(...)
Jesus deu exemplo de uma oração contínua, praticada com
perseverança. O diálogo constante com o Pai, no silêncio e no recolhimento,
é o ponto fulcral de toda a sua missão. Os Evangelhos apresentam-nos também as
suas exortações aos discípulos, para que rezem com insistência, sem se cansar.
O Catecismo recorda as três parábolas contidas no Evangelho de Lucas que sublinham esta
caraterística da oração de Jesus (cf. CIC, 2613).
A oração deve ser antes de mais tenaz: como o personagem
da parábola que, devendo um hóspede que chegou de repente, no meio da noite,
vai bater à porta de um amigo e pede-lhe pão. O amigo responde “não!”, porque
já está na cama, mas ele insiste, e insiste a ponto de o obrigar a levantar-se
e a dar-lhe pão (cf. Lc 11, 5-8). Um pedido tenaz. Mas Deus é
mais paciente do que nós, e quem bate à porta do seu coração com fé e
perseverança não fica desiludido. Deus responde sempre. Sempre. O nosso Pai
sabe bem do que precisamos; a insistência não serve para o informar ou
convencer, mas para alimentar o desejo e a expetativa em nós.
A segunda parábola é a da viúva que se dirige ao juiz para que a ajude a
obter justiça. Este juiz é corrupto, é um homem sem escrúpulos, mas no final,
exasperado pela insistência da viúva, decide contentá-la (cf. Lc 18,
1-8). E pensa: “Mas, é melhor que lhe resolva o problema e me livre dela, sem
que venha continuamente lamentar-se diante de mim”. Esta parábola faz-nos
compreender que a fé não é o impulso de um momento, mas uma disposição corajosa
para invocar Deus, até para “discutir” com Ele, sem se resignar ao mal e à
injustiça.
A terceira parábola apresenta um fariseu e um publicano que vão ao Templo
para rezar. O primeiro dirige-se a Deus gabando-se dos próprios méritos; o
outro sente-se indigno até de entrar no santuário. Contudo, Deus não ouve a
oração do primeiro, isto é, dos soberbos, mas atende a dos humildes (cf. Lc 18,
9-14). Não há verdadeira oração sem espírito de humildade. É precisamente a
humildade que nos leva a pedir na oração.
O ensinamento do Evangelho é claro: é preciso rezar sempre, até quando tudo
parece vão, quando Deus nos parece surdo e mudo, e que perdemos tempo. Mesmo
que o céu se ofusque, o cristão não deixa de rezar. A sua oração anda de mãos
dadas com a fé. E a fé, em muitos dias da nossa vida, pode parecer uma ilusão,
uma labuta estéril. Há momentos escuros na nossa vida e nesses momentos a fé
parece uma ilusão. Mas praticar a oração também significa aceitar esta
dificuldade. “Pai, vou rezar e não ouço nada... Sinto-me assim, com um coração
seco, com um coração árido”. Mas devemos continuar, com a dificuldade dos maus
momentos, dos momentos nos quais não sentimos nada. Muitos santos e santas
viveram a noite da fé e o silêncio de Deus - quando batemos à porta e Deus não
responde - e estes santos foram perseverantes.
Nestas noites de fé, quem reza nunca está sozinho. Na verdade, Jesus não é
apenas testemunha e mestre de oração, é muito mais. Ele acolhe-nos na
sua oração, para podermos rezar n'Ele e através d'Ele. E isto é obra do
Espírito Santo. É por este motivo que o Evangelho nos convida a rezar ao Pai em
nome de Jesus. São João relata estas palavras do Senhor: «E tudo o que pedirdes
ao Pai em meu nome, vo-lo darei, para que o Pai seja glorificado no Filho» (14,
13). E o Catecismo explica que «a certeza de sermos atendidos nas nossas petições baseia-se na
oração de Jesus» (n. 2614). Ela dá as asas que a oração do homem sempre desejou
possuir.
Como deixar de recordar aqui as palavras do Salmo 90-91, carregadas de
confiança, que brotam de um coração que espera tudo de Deus: «Ele cobrir-te-á
com as suas plumas, sob as suas asas encontrarás refúgio. A sua fidelidade
ser-te-á um escudo de proteção. Tu não temerás os terrores noturnos, nem a
flecha que voa à luz do dia, nem a peste que se propaga nas trevas, nem o mal
que grassa ao meio-dia» (vv. 4-6). É em Cristo que esta maravilhosa oração se
cumpre, é n'Ele que encontra a sua verdade plena. Sem Jesus, as nossas orações
correriam o risco de se reduzir a esforços humanos, na maioria das vezes
destinados ao fracasso. Mas Ele tomou sobre si cada grito, cada gemido, cada
júbilo, cada súplica... cada prece humana. E não esqueçamos o Espírito Santo
que ora em nós; é Ele que nos leva a orar, leva-nos a Jesus. É o dom que o Pai
e o Filho nos deram para prosseguirmos ao encontro com Deus. E o Espírito
Santo, quando oramos, é o Espírito Santo que reza nos nossos corações.
Cristo é tudo para nós,
inclusive na nossa vida de oração. Santo Agostinho dizia-o com uma expressão
iluminante, que também encontramos no Catecismo: Jesus, «sendo
o nosso Sacerdote, ora por nós; sendo a nossa Cabeça, ora em nós; e sendo o
nosso Deus, a Ele oramos.Reconheçamos, pois, n'Ele a nossa voz, e a voz d'Ele
em nós» (n. 2616). E é por isso que o cristão que reza nada teme, confia-se ao
Espírito Santo, que nos foi dado como dom e que reza em nós, suscitando a
oração. Que seja o próprio Espírito Santo, Mestre de oração, a ensinar-nos o
caminho da oração.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre. Ámen.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021
QUARESMA PASSO A PASSO
8º
Dia
– Quarta-feira da semana I – 24/02/2021
" Nenhum sinal será
dado a esta geração a não ser o sinal de Jonas. "
EVANGELHO Lc 11, 29-32
“Naquele tempo, aglomerava-se uma
grande multidão à volta de Jesus e Ele começou a dizer: «Esta geração é uma
geração perversa: pede um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal
de Jonas. Assim como Jonas foi um sinal para os habitantes de Nínive, assim o
será também o Filho do homem para esta geração. No juízo final, a rainha do sul
levantar-se-á com os homens desta geração e há de condená-los, porque veio dos
confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; e aqui está quem é maior do
que Salomão. No juízo final, os homens de Nínive levantar-se-ão com esta
geração e hão de condená-la, porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de
Jonas; e aqui está quem é maior do que Jonas».”
No Evangelho de hoje, encontramos Jesus a
usar palavras ásperas. Ele dirige-Se ao povo que O ouve e chama-lhes "
geração perversa ". Mas porquê tanta dureza? Porque eles não estão abertos
a reconhecer o tempo da sua conversão face à pregação de Jesus.
Jesus é o sinal que é, ao mesmo tempo, também um apelo à conversão, muito mais urgente do que o apelo que o profeta Jonas dirigiu aos habitantes de Nínive, que eram pagãos. Hoje, não esperamos outros sinais do céu; é sempre a Palavra de Deus que é, para os homens de todas as gerações, o grande sinal. Para ser “sinal”, a Palavra, o Verbo, o Filho de Deus, fez-Se homem e falou no meio dos homens, em palavras humanas, para Se revelar e revelar o Pai a todos e a cada um de nós.
Para cada um, a conversão tem a sua "hora" certa. É Jesus quem passa nas nossas vidas em determinado momento, quem repousa o Seu olhar sobre o nosso e nos convida a deixarmo-nos habitar, amar, por Ele.
Pai-Nosso, que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Ámen.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
QUARESMA PASSO A PASSO
7º Dia – Terça-feira da semana I – 23/02/2021
"Eis
como deveis rezar."
EVANGELHO Mt 6, 7-15
"Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando orardes, não digais
muitas palavras, como os pagãos, porque pensam que serão atendidos por falarem
muito. Não sejais como eles, porque o vosso Pai bem sabe do que precisais,
antes de vós Lho pedirdes. Orai assim: ‘Pai nosso, que estais nos Céus,
santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino; seja feita a vossa
vontade assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje;
perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal’. Porque se
perdoardes aos homens as suas faltas, também o vosso Pai celeste vos perdoará.
Mas se não perdoardes aos homens, também o vosso Pai não vos perdoará as vossas
faltas»."
Nos evangelhos existem duas versões
do Pai-nosso. Uma de Lucas,
a mais breve e provavelmente a mais antiga. E a outra de Mateus, que, por sua
vez apresenta a que era recitada na sua comunidade.
A
oração, como as demais práticas religiosas, transformaram-se para os fariseus
num motivo de ostentação e pompa, para dar nas vistas; deixaram de ser um modo
do louvar a Deus e passaram a ser somente um instrumento para alcançar honra e
prestígio diante dos homens.
A
oração do cristão deve estabelecer uma relação íntima com o Pai; entra no teu
quarto, fecha a porta; num clima de abandono e confiança com Deus: o teu Pai
recompensar-te-á. Os cristãos devem orar como Jesus orava. Esse estilo de
oração está presente de uma forma condensada no Pai-nosso.
Jesus orava com intensidade nos
momentos públicos, partilhando a liturgia do seu povo, mas procurava também
lugares afastados, separados do turbilhão do mundo, lugares que permitissem
entrar no segredo da sua alma: é o profeta que conhece as pedras do deserto e
sobe aos cimos dos montes. As últimas palavras de Jesus, antes de expirar na
cruz, foram palavras dos salmos, isto é da oração, da prece dos judeus: rezava
com as orações que a mãe lhe ensinara.
Jesus orava como todos os homens do
mundo. E no entanto, no seu modo de rezar, havia também um mistério, algo que
certamente não escapava aos olhos dos seus discípulos, se nos Evangelhos
encontramos aquela súplica tão simples e imediata: “Senhor, ensina-nos a
rezar” (Lc 11, 1). Eles viam Jesus rezar e tinham vontade de
aprender a orar: “Senhor, ensina-nos a rezar”. E Jesus não se recusou, não era
ciumento da sua intimidade com o Pai, pois veio precisamente para nos
introduzir nesta relação com o Pai. E assim torna-se mestre de oração dos seus
discípulos, como certamente quer sê-lo para todos nós. Também nós devemos
dizer: “Senhor, ensina-me a rezar. Ensina-me”.
Mesmo se rezamos há muitos anos, devemos aprender sempre! A oração do homem, este anseio que nasce de maneira tão natural da nossa alma, talvez seja um dos mistérios mais impenetráveis do universo. E não sabemos sequer se as preces que dirigimos a Deus são efetivamente aquelas que Ele quer que lhe dirijamos.
O primeiro
passo para rezar é ser humilde, ir ter com o Pai e dizer: “Olha para mim, sou
pecador, débil, malvado”, cada um sabe o que dizer. Mas começa-se sempre com a
humildade, e o Senhor ouve. A prece humilde é ouvida pelo Senhor.
In Catequese 1 – sobre o Pai Nosso na Audiência Geral do Papa Francisco em 5.12.2018
A oração do “Pai-Nosso” afunda as suas raízes na realidade concreta do homem. Por exemplo, faz-nos pedir o pão de cada dia: pedido simples mas essencial, o qual diz que a fé não é uma questão “decorativa”, separada da vida, que intervém quando todas as outras necessidades foram satisfeitas. No máximo, a oração começa com a própria vida. A prece — ensina-nos Jesus — não começa na existência humana quando o estômago está cheio: ao contrário, existe onde quer que haja um homem, um homem qualquer que tem fome, que chora, que luta, que sofre e se pergunta “porquê”. A nossa primeira prece, num certo sentido, foi o gemido que acompanhou o primeiro respiro. Naquele choro de recém-nascido anunciava-se o destino de toda a nossa vida: a nossa fome contínua, a nossa sede perene, a nossa busca de felicidade.
Não se trata apenas de usar um símbolo
— neste caso, a figura do pai — relacionado com o mistério de Deus; ao
contrário, trata-se de ter, por assim dizer, todo o mundo de Jesus derramado no
próprio coração. Se realizarmos esta operação, poderemos recitar
verdadeiramente o “Pai-Nosso”. Dizer “Aba” é algo muito mais íntimo e
mais comovedor do que simplesmente chamar a Deus “Pai”. Eis por que motivo
alguém propôs traduzir esta palavra aramaica original, “Aba” com “Papá”
ou “Paizinho”. Em vez de dizer “Pai nosso”, dizer “Papá, Paizinho”. Nós
continuamos a dizer “Pai nosso”, mas com o coração somos convidados a dizer
“Papá”, a ter com Deus um relacionamento como o de uma criança com o seu pai,
que diz “papá”, diz “paizinho”. Com efeito, estas expressões evocam afeto e
calor, algo que nos projeta no contexto da infância: a imagem de uma criança
completamente envolvida pelo abraço de um pai que sente ternura infinita por
ela. E por isso, caros irmãos e irmãs, para rezar bem é necessário chegar a ter
um coração de criança! Não um coração suficiente: assim não se pode rezar bem.
Como uma criança no colo do seu pai, do seu papá, do seu paizinho.
Mas certamente são os Evangelhos que nos
introduzem melhor no sentido desta palavra. O que significa para Jesus esta
palavra? O “Pai-Nosso” adquire sentido e cor, se aprendermos a recitá-lo depois
de ter lido, por exemplo, a parábola do pai misericordioso, no capítulo 15 de
Lucas (cf. 15, 11-32). Imaginemos esta prece pronunciada pelo filho pródigo,
depois de ter experimentado o abraço do seu pai, que tinha esperado por muito
tempo, um pai que não se recorda das palavras ofensivas que ele lhe dirigira,
um pai que agora lhe faz entender simplesmente a falta que tinha sentido dele.
Assim descobrimos como aquelas palavras adquirem vida e força! E
interrogamo-nos: como é possível que Tu, ó Deus, conheças unicamente o amor? Tu
não conheces o ódio? Não — Deus responderia — Eu só conheço o amor. Onde se
encontram em ti a vingança, a pretensão de justiça, a raiva pela tua honra
ferida? E Deus responderia: Eu só conheço o amor!
O pai daquela parábola tem modos de
agir que recordam muito o espírito de uma mãe. São sobretudo as
mães que perdoam os filhos, que os defendem, que não interrompem a empatia em
relação a eles, que continuam a amar, mesmo quando eles já não mereceriam mais
nada.
(...)
Deus procura-te, mesmo que tu não o
procures. Deus ama-te, ainda que tu o tenhas esquecido. Deus vislumbra em ti
uma beleza, não obstante tu penses que desperdiçaste inutilmente todos os teus
talentos. Deus é não só um pai, mas é como uma mãe que nunca deixa de amar a
sua criatura. Por outro lado, há uma “gestação” que dura para sempre, muito
além dos nove meses da gestação física; trata-se de uma gestação que gera um
circuito infinito de amor.
Para o cristão, rezar significa dizer
simplesmente “Aba”, dizer “Papá”, “Paizinho”, “Pai” mas com a confiança
de uma criança.
Pode ser que também a nós aconteça
percorrer sendas distantes de Deus, como aconteceu com o filho pródigo; ou
então, precipitar numa solidão que nos faz sentir abandonados no mundo; ou
ainda, errar e ficar paralisados por um sentido de culpa. Nestes momentos
difíceis, ainda podemos encontrar a força para rezar, recomeçando pela palavra
“Pai”, mas dita com o sentido terno de uma criança: “Aba”, “Papá”. Ele
não nos esconderá o seu rosto. Recordai bem: talvez alguém tenha dentro de si
coisas desagradáveis, que não sabe como resolver, tanta amargura por ter feito
isto e aquilo... Ele não esconderá a sua face. Ele não se fechará no silêncio.
Tu diz-lhe “Pai” e Ele responder-te-á. Tu tens um Pai. “Sim, mas eu sou um
delinquente...”. Mas tens um Pai que te ama! Diz-lhe “Pai”, começa a rezar
assim e, no silêncio, Ele dir-nos-á que nunca nos perdeu de vista. “Mas Pai, eu
fiz isto...” — “Nunca te perdi de vista, vi tudo. Mas permaneci sempre ali,
perto de ti, fiel ao meu amor por ti”. Esta será a resposta! Nunca vos
esqueçais de dizer: “Pai”. Obrigado!
In "Catequese
5 – sobre o Pai Nosso" na Audiência Geral do Papa Francisco em 16.01.2019
Pai-Nosso, que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Ámen.