sábado, 30 de abril de 2022

 SEMANA III DO TEMPO PASCAL- 2022

Nas leituras de hoje, sentimo-nos convidados para a mesa do Senhor. É Jesus quem nos convida e, ao mesmo tempo, nos desafia a deixarmo-nos alimentar por Ele mesmo, a confiarmos totalmente em Deus e a entregarmo-nos, de tal forma, que o Senhor seja o nosso único alimento. Só em Jesus poderemos ser transmissores de Deus Amor a todos os que Ele coloca no nosso caminho. Deus é todo Amor, sempre pronto a dar-se a todo o que O procura, de coração sincero, por isso só alimentados d’Ele e n’Ele seremos comunicadores do Amor, onde quer que nos encontremos.  Não é fácil, mas em Jesus a vitória é certa. Ele venceu a morte!

Na 1ªleitura (Atos 5, 27b-32.40b-41) os apóstolos dão-nos um testemunho de fé fortíssimo, pois cheios do Espírito Santo, anunciam Jesus ressuscitado e a sua doutrina, incorrendo em toda a espécie de riscos, incluindo o da própria vida. O que mais espanta, é que de homens cheios de medo, trancados numa sala, tornaram-se anunciadores desassombrados de Jesus ressuscitado, ficando alegres por serem ultrajados por causa do nome de Jesus. A força do Espírito Santo é visível nesta transformação. Vem, Espírito Santo sobre nós, cristãos do séc.XXI e acende, nos nossos corações, o fogo do Teu Amor, para que também nós, hoje, em todas as situações vida, sejamos testemunhas de Jesus ressuscitado e do Amor de Deus por todos e por cada um de nós. 

Naqueles dias, o sumo sacerdote falou aos Apóstolos, dizendo: «Já vos proibimos formalmente de ensinar em nome de Jesus; e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem». Pedro e os Apóstolos responderam: «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro. Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e o perdão dos pecados. E nós somos testemunhas destes factos, nós e o Espírito Santo que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem». Então os judeus mandaram açoitar os Apóstolos, intimando-os a não falarem no nome de Jesus, e depois soltaram-nos. Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria, por terem merecido serem ultrajados por causa do nome de Jesus.” 

Na 2ªleitura (Ap 5, 11-14) S. João envolve-nos num clima de louvor e aclamação a Jesus. Prostrados, adoremos o Senhor. Em uníssono com a criação inteira, com todas as criaturas do universo, rompamos em louvores e aclamações ao Cordeiro Imaculado: a Ele a glória, a honra e o poder, pelos séculos dos séculos sem fim. Que o Senhor, um dia, na plenitude dos tempos, seja tudo em todos. Ámen! 

“Eu, João, na visão que tive, ouvi a voz de muitos Anjos, que estavam em volta do trono, dos Seres Vivos e dos Anciãos. Eram miríades de miríades e milhares de milhares, que diziam em alta voz: «Digno é o Cordeiro que foi imolado de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor». E ouvi todas as criaturas que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e o universo inteiro, exclamarem: «Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro o louvor e a honra, a glória e o poder pelos séculos dos séculos». Os quatro Seres Vivos diziam: «Ámen!»; e os Anciãos prostraram-se em adoração.” 


No evangelho (Jo 21, 1-19)  S.João partilha connosco a experiência de mais um encontro com Jesus ressuscitado. Antes deste encontro, parece, à primeira vista, pela atmosfera em que o evangelista enquadra os acontecimentos, que os apóstolos estavam um pouquinho “perdidos” e entregues a si próprios. Projetam-me para o que nos acontece tantas vezes, no dia a dia da vida, em que nos esquecemos que Jesus está connosco, vivo, presente e acabamos por nos sentir sós e abandonados, a lutar sozinhos pelo que nos parece ser o melhor a fazer. Jesus vivo, ressuscitado, presente em cada um de nós, fez a diferença, com os apóstolos e muda tudo também na nossa vida de hoje. Deixemos que o espírito Santo nos inunde a alma, o coração e  que Jesus se manifeste também através de nós, na vida de cada dia. 

“Naquele tempo, Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos, junto do mar de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo: Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus. Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada. Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Disse-lhes Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?». Eles responderam: «Não». Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes. O discípulo predileto de Jesus disse a Pedro: «É o Senhor». Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar. Os outros discípulos, que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem, vieram no barco, puxando a rede com os peixes. Quando saltaram em terra, viram brasas acesas com peixe em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora». Simão Pedro subiu ao barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes. Esta foi a terceira vez que Jesus Se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos. Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?». Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros». Voltou a perguntar-lhe segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas». Perguntou-lhe pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». Pedro entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: Quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores mais velho, estenderás a mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres». Jesus disse isto para indicar o género de morte com que Pedro havia de dar glória a Deus. Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».”

«De cabeça para baixo», precisamente como Pedro pediu para ser crucificado, ciente de que era «o mais pecador dos apóstolos» — a ponto de ter «renegado o Senhor» — mas de ter sido escolhido «para apascentar com amor o povo». Foi um dos ícones que o Papa Francisco delineou durante a missa celebrada na capela Santa Marta, inspirando-se no diálogo entre Jesus e Pedro do modo como foi narrado por João no trecho evangélico (21, 15-19), proposto pela liturgia de hoje.

«Este diálogo entre o Senhor e Pedro — observou Francisco — é tranquilo, entre amigos, sereno, pudico, às margens do lago onde Pedro tinha sido chamado no início». Animavam este diálogo, explicou o Papa, algumas «palavras» como «amor, apascentar, as minhas ovelhas, segue-me: palavras serenas, daquela atmosfera da ressurreição» que «o Senhor leva em frente».

Assim estamos diante de «um diálogo de amigos e serviço, porque é feito após a refeição que o próprio Jesus tinha preparado». É «um diálogo — insistiu o Pontífice — no qual Jesus, que é o grande pastor, confia as Suas ovelhas a Pedro».

Portanto, «um diálogo entre amigos». De facto, Jesus diz a Pedro: «”Amas-me?”. “Também tu queres ser meu amigo? És meu amigo?”». Exatamente «esta — prosseguiu o Papa — é a atmosfera deste diálogo, desta página do Evangelho tão serena e pudica».

Francisco quis «indicar três aspetos» precisamente em relação a «este diálogo». O primeiro é aquele «segue-me». Sim, explicou, «Jesus escolheu o mais pecador dos apóstolos: os outros fugiram. Ele renegou-o» dizendo «não o conheço». Mas eis que «Jesus lhe pergunta: “Mas tu amas-me mais do que eles?”». Portanto, afirmou o Pontífice, «Jesus escolhe o mais pecador». A tal propósito, confidenciou, «vem-me à mente o diálogo de um santo do século XVII com Jesus, um santo ao qual Jesus tinha concedido muitas graças. Era uma mulher, uma santa: “Mas Senhor a mim que sou tão pequena, tão pecadora”. E o Senhor disse-lhe: “Se eu tivesse encontrado alguém mais pecador do que tu, a ele teria dado isto ˮ». Portanto, prosseguiu Francisco, «o mais pecador foi escolhido para apascentar o povo de Deus, para “cuidar” do povo de Deus: isto faz-nos pensar».

O segundo ponto sugerido pelo Papa foi «a palavra “amor”» que «é recorrente neste diálogo: “apascenta, porque me amas “apascenta”, porque és meu amigo “apascenta”». Sim «apascentar com amor». E «Pedro retoma isto na sua primeira carta: aprendeu». Não é preciso «apascentar com a cabeça erguida, como o grande dominador, não: apascentar com humildade, com amor, como fez Jesus». «Esta é a missão que Jesus confia a Pedro: sim, com os pecados, com os erros». A ponto que «depois deste diálogo, Pedro comete um engano, um erro: é tentado pela curiosidade e diz ao Senhor: “este outro discípulo para onde irá, o que fará?”». Mas «com amor, no meio dos seus erros, dos seus pecados, mas com amor». Porque «”estas ovelhinhas não são as tuas ovelhas, são as minhas”, diz o Senhor». Portanto «“ama”, se és meu amigo, deves ser amigos delas”».

O terceiro aspeto do diálogo entre Jesus e Pedro são «dois ícones». O da «quinta-feira santa — explicou — quando Pedro seguro de si próprio, com a mesma certeza com a qual disse “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, diz à serva do sumo sacerdote: “Não conheço aquele homem, não pertenço ao seu grupo”».

Resumindo, afirmou o Pontífice, «Pedro renegou Jesus e depois cruzaram-se os olhares: quando Jesus sai, olha para ele, e Pedro corajoso, também corajoso na negação, foi capaz de chorar amargamente». «Em seguida, dedicou a vida toda ao serviço do Senhor — acrescentou Francisco — e acabou como o Senhor: na cruz. Mas não se vangloria» dizendo «“Acabo como o meu Senhor!”. Não. Pede “por favor, colocai-me sobre a cruz com a cabeça para baixo, para que se veja pelo menos que não sou o Senhor, sou o servo”».

«É isto que podemos compreender deste diálogo tão bonito, tão sereno e amistoso, tão pudico» concluiu o Pontífice. Fazendo votos «de que o Senhor nos conceda sempre a graça de caminhar na vida com a cabeça para baixo: a cabeça erguida pela dignidade que Deus nos dá, mas de cabeça baixa, sabendo que somos pecadores e que o único Senhor é Jesus: nós somos servos».

Santa Marta, 2 de junho de 2017

Papa Francisco

sexta-feira, 29 de abril de 2022

   SEMANA II DO TEMPO PASCAL- 2022

Sábado II da Páscoa - 30.04.2022

EVANGELHO Jo 6, 16-21

«Sou Eu. Não temais»

Hoje a página do Evangelho descreve o episódio de Jesus que, depois de ter rezado a noite inteira na margem do lago da Galileia, se dirige à barca dos seus discípulos, caminhando sobre as águas. A barca encontra-se no meio do lago, bloqueada por um forte vento contrário. Quando veem Jesus a caminhar sobre as águas, os discípulos confundem-no com um fantasma e sentem medo. Mas ele tranquiliza-os: «Tranquilizai-vos, sou eu; não temais!» (...) 

"Ao cair da tarde, os discípulos de Jesus desceram até junto do mar, subiram para um barco e seguiram para a outra margem, em direção a Cafarnaum. Já fazia escuro e Jesus ainda não tinha ido ter com eles. Como o vento soprava forte, o mar ia-se encrespando. Tendo eles remado duas e meia a três milhas, viram Jesus aproximar-Se do barco, caminhando sobre o mar e tiveram medo. Mas Jesus disse-lhes: «Sou Eu. Não temais». Quiseram então recebê-l’O no barco mas logo o barco chegou à terra para onde se dirigiam."

Esta narração do Evangelho contém um simbolismo rico e faz-nos refletir sobre a nossa fé, quer como indivíduos quer como comunidade eclesial, também a fé de todos nós que estamos aqui hoje na Praça. A comunidade, esta comunidade eclesial, tem fé? Como é a fé em cada um de nós e a fé da nossa comunidade? A barca é a vida de cada um de nós mas é também a vida da Igreja; o vento contrário representa as dificuldades e as provações. (...)

O Evangelho de hoje recorda-nos que a fé no Senhor e na sua palavra não nos abre um caminho onde tudo é fácil e tranquilo; não nos livra das tempestades da vida. A fé oferece-nos a segurança de uma Presença, a presença de Jesus, que nos impele a superar os temporais existenciais, a certeza de uma mão que nos segura a fim de nos ajudar a enfrentar as dificuldades, indicando-nos a estrada inclusive quando está escuro. A fé não é um subterfúgio para os problemas da vida mas apoia no caminho, dando-lhe sentido.

Este episódio é uma imagem maravilhosa da realidade da Igreja de todos os tempos: uma barca que, ao longo da travessia, deve enfrentar até ventos contrários e tempestades, que ameaçam virá-la. O que a salva não são a coragem nem as qualidades dos seus homens: a garantia contra o naufrágio é a fé em Cristo e na sua palavra. Esta é a garantia: a fé em Jesus e na sua palavra. Dentro desta barca estamos em segurança, não obstante as nossas misérias e fragilidades, sobretudo quando nos pomos de joelhos e adoramos o Senhor, como discípulos que, no final, «se prostaram diante dele, dizendo: “És realmente o Filho de Deus!”» . Que bonito dizer a Jesus esta frase: «És realmente o Filho de Deus!». Digamos todos juntos? «És realmente o Filho de Deus!».

A Virgem Maria nos ajude a permanecer firmes na fé para resistir às tempestades da vida, a persistir na barca da Igreja refutando a tentação de subir nos barcos encantadores mas inseguros das ideologias, das modas e dos slogans.

Audiência Geral de 13 de agosto de 2017

Papa Francisco

quinta-feira, 28 de abril de 2022

  SEMANA II DO TEMPO PASCAL- 2022

Santa Catarina de Sena 


Sexta-feira II da Páscoa - 29.04.2022

EVANGELHO Mt 11, 25-30

«Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas.»

Comovido, Jesus eleva a Sua voz para o Pai dando a conhecer que Deus Se revela ao simples e não aos sábios. A revelação de Deus é esta unidade entre o Pai e o Filho. Os dois são um só e quem conhece um conhece o outro. Só Deus pode revelar esta verdade. Em Cristo, todos os que buscam podem descansar. Vinde a mim vós que estais cansados de buscar e não encontrais, os que andais angustiados com o sentido da vida e a existência de Deus e encontrareis alívio. A verdade revelada por Cristo dá o descanso à alma.

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Naquele tempo, Jesus exclamou: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Tudo Me foi dado por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».

No Evangelho encontramos o convite de Jesus. Ele diz assim: «Vinde a mim, vós todos que estais aflitos e oprimidos, e Eu aliviar-vos-ei» (Mt 11, 28). Quando Jesus pronuncia estas palavras, tem diante dos seus olhos as pessoas que encontra todos os dias pelas estradas da Galileia: muita gente simples, pobre, doente, pecadora, marginalizada... Este povo sempre acorreu a Ele para ouvir a Sua palavra — uma palavra que incutia esperança! As palavras de Jesus incutem sempre esperança! — mas também para tocar pelo menos numa orla da Sua veste. O próprio Jesus ia em busca destas multidões cansadas e desgarradas, como ovelhas sem pastor (cf. Mt 9, 35-36), e procurava-as para lhes anunciar o Reino de Deus e para curar muitos no corpo e no espírito. Agora, chama-os todos a Si: «Vinde a mim», prometendo-lhes alívio e consolação.

Este convite de Jesus estende-se até aos nossos dias, para alcançar numerosos irmãos e irmãs oprimidos por condições de vida precárias, por situações existenciais difíceis e às vezes desprovidas de pontos de referência válidos. Nos países mais pobres, mas também nas periferias dos países mais ricos encontram-se muitas pessoas cansadas e abatidas, sob o peso insuportável do abandono e da indiferença. A indiferença: como a indiferença humana faz mal aos necessitados! E pior ainda é a indiferença dos cristãos! Às margens da sociedade há muitos homens e mulheres provados pela indigência, mas inclusive pela insatisfação da vida e da frustração. Numerosas pessoas são obrigadas a emigrar da sua Pátria, pondo em perigo a própria vida. Um número muito maior delas suportam todos os dias o fardo de um sistema económico que explora o homem e impõe um «jugo» insuportável, que os poucos privilegiados não querem carregar. A cada um destes filhos do Pai que está no Céu, Jesus repete: «Vinde a mim, vós todos!». Mas di-lo também àqueles que possuem tudo, mas cujo coração está vazio, sem Deus. Inclusive a eles, Jesus dirige este convite: «Vinde a mim!». A exortação de Jesus está destinada a todos. Mas de modo especial àqueles que sofrem em maior medida.

Jesus promete dar alívio a todos, mas dirige-nos também um convite, que se parece com um mandamento: «Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29). O «jugo» do Senhor consiste em carregar o peso dos outros com amor fraterno. Quando recebemos o alívio e a consolação de Cristo, por nossa vez, somos chamados a tornar-nos alívio e consolação para os irmãos, com atitude mansa e humilde, à imitação do Mestre. A mansidão e a humildade do coração ajudam-nos não apenas a carregar o fardo dos outros, mas também a não pesar sobre eles com os nossos pontos de vista pessoais, os nossos juízos, as nossas críticas ou a nossa indiferença.

Invoquemos Maria Santíssima, que acolhe sob o seu manto todas as pessoas cansadas e abatidas a fim de que, através de uma fé iluminada e testemunhada na própria vida, possamos servir de alívio para quantos têm necessidade de ajuda, ternura e esperança.


Audiência Geral de 6 de julho de 2014

Papa Francisco

quarta-feira, 27 de abril de 2022

   SEMANA II DO TEMPO PASCAL- 2022

Quinta-feira II da Páscoa - 28.04.2022

Evangelho Jo 3, 31-36

«O Pai ama o Filho e entregou tudo nas Suas mãos. Quem acredita no Filho tem a vida eterna. »

."O texto do evangelho, que faz parte do diálogo com Nicodemos, está construído a partir da dicotomia céu terra, vida morte, fé incredulidade, salvação condenação. Jesus vem do céu, tem um testemunho do céu, diz palavras de Deus, tem o Espírito, tem tudo nas Suas mãos, tem a vida e dá a vida. Os homens são da terra, falam da terra, carecem de vida. Quem acolhe o testemunho de Jesus e acredita n'Ele confirma que Deus é verdadeiro e tem a vida n'Ele. Quem não aceita o Seu testemunho recebe a ira de Deus e não a vida.

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"Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Aquele que vem do alto está acima de todos; quem é da terra, à terra pertence e da terra fala. Aquele que vem do Céu dá testemunho do que viu e ouviu; mas ninguém recebe o seu testemunho. Quem recebe o seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro. De facto, Aquele que Deus enviou diz palavras de Deus, porque Deus dá o Espírito sem medida. O Pai ama o Filho e entregou tudo nas suas mãos. Quem acredita no Filho tem a vida eterna. Quem se recusa a acreditar no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele»."

Então, isto significa que aquele juízo final já está em curso, que ele começa agora, durante a nossa existência. Este juízo é pronunciado em cada instante da vida, como referência do nosso acolhimento, com fé, da salvação presente e concreta em Cristo, ou então da nossa incredulidade, com o consequente fechamento em nós mesmos. Mas se nos fecharmos ao amor de Jesus, condenamo-nos a nós mesmos. A salvação é abrir-se a Jesus, e Ele salva-nos; se somos pecadores — e todos somos — peçamos-lhe perdão; e se O procurarmos com o desejo de ser bons, o Senhor perdoa-nos. Mas, por isso, devemos abrir-nos ao amor de Jesus, que é mais forte que todas as outras coisas. O amor de Jesus é grande, o amor de Jesus é misericordioso, o amor de Jesus perdoa; mas tu deves abrir-te, e abrir-se significa arrepender-se, acusar-se das coisas que não são boas e que fizemos. O Senhor Jesus entregou-Se e continua a doar-Se a nós, para nos encher com toda a Sua misericórdia e com a graça do Pai. Portanto, somos nós que podemos tornar-nos, num certo sentido, juízes de nós mesmos, autocondenando-nos à exclusão da comunhão com Deus e com os irmãos. Por isso, não nos cansemos de velar sobre os nossos pensamentos e atitudes, para antegozar desde já o calor e o esplendor da Face de Deus — e será maravilhoso! — que na vida eterna contemplaremos em toda a sua plenitude. Em frente, pensando neste juízo que começa agora, que já começou. Em frente, fazendo com que o nosso coração se abra a Jesus e à Sua salvação; em frente sem receio, porque o amor de Jesus é maior, e se pedirmos perdão dos nossos pecados, Ele perdoa-nos. Jesus é assim. Então, em frente com esta certeza, que nos levará à glória do Céu!

                                                                

Audiência Geral de 11 de dezembro de 2013

Papa Francisco

Nem sempre é fácil dizer a verdade, afirmar convictamente as nossas ideias, apresentar e testemunhar a nossa fé. Muitas vezes temo o que os outros podem dizer, os seus comentários jocosos e as suas críticas perseguidoras. Dá-me, Senhor, a coragem dos apóstolos para dizer como eles “Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens”

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terça-feira, 26 de abril de 2022

   SEMANA II DO TEMPO PASCAL- 2022

Quarta-feira II da Páscoa - 27.04.2022

Evangelho Jo 3, 16-21

«Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna»

O diálogo com Nicodemos torna-se numa catequese de Jesus. No texto de hoje Jesus fala sobre a vontade que Deus tem de salvar o homem. A explicação de Jesus é muito forte. A noite de Nicodemos precisa da luz de Jesus para compreender. Se ele não se deixar invadir pela luz condena-se porque teve a oportunidade ao seu alcance e não se deixou iluminar. Nicodemos é confrontado com a força destas palavras e fica em silêncio.

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"Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus. E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras. Todo aquele que pratica más ações odeia a luz e não se aproxima dela, para que as suas obras não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus»."

Queridos irmãos e irmãs, na cúpula desta belíssima Catedral está representado o Juízo universal. No centro está Jesus, a nossa luz. A inscrição que se lê no ápice do afresco é «Ecce Homo». Olhando para esta cúpula somos atraídos para o alto, enquanto contemplamos a transformação do Cristo julgado por Pilatos no Cristo elevado ao trono do juiz. Um anjo entrega-lhe a espada, mas Jesus não assume os símbolos do juízo, aliás levanta a mão direita e mostra os sinais da paixão, porque Ele «se deu em resgate por todos» (1 Tm 2, 6). «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 17).

À luz deste Juiz de misericórdia, os nossos joelhos dobram-se em adoração, e as nossas mãos e pés fortalecem-se. Só podemos falar de humanismo a partir da centralidade de Jesus, descobrindo n’Ele os traços do autêntico rosto do homem. É a contemplação da face de Jesus morto e ressuscitado que recompõe a nossa humanidade, inclusive daquela fragmentada pelas dificuldades da vida, ou marcada pelo pecado. Não devemos domesticar o poder da face de Cristo. A face é a imagem da sua transcendência. É o misericordiae vultus. Deixemo-nos olhar por Ele. Jesus é o nosso humanismo. Deixemo-nos inquietar sempre pela sua pergunta: «Vós, quem dizeis que eu sou?» (Mt 16, 15).

Olhando para a sua face, o que vemos? Antes de tudo, o rosto de um Deus «esvaziado», de um Deus que assumiu a condição de servo, humilhado e obediente até à morte (cf. Fl 2, 7). A face de Jesus é semelhante à de tantos nossos irmãos humilhados, escravizados, esvaziados. Deus assumiu o seu vulto. E aquele rosto olha para nós. Deus — que é «o ser do qual não se pode pensar senão o maior», como dizia santo Anselmo, o Deus semper maior de santo Inácio de Loyola — torna-se cada vez maior que si mesmo, abaixando-se. Se não nos abaixarmos não poderemos ver a Sua face. Nada veremos da Sua plenitude se não aceitarmos que Deus se esvaziou. E portanto nada compreenderemos do humanismo cristão e as nossas palavras serão bonitas, cultas, refinadas, mas não serão palavras de fé. Serão palavras que ressoam vazias.

Não desejo traçar aqui em abstrato um «novo humanismo», uma determinada ideia do homem, mas apresentar com simplicidade algumas características do humanismo cristão que é aquele dos «sentimentos de Jesus Cristo» (Fl 2, 5). Estes não são abstratas sensações provisórias do espírito, mas representam a fervorosa força interior que nos torna capazes de viver e de tomar decisões.

Quais são estes sentimentos? Gostaria de vos apresentar pelo menos três deles.

O primeiro sentimento é a humildade. «Com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos» (Fl 2, 3), diz são Paulo aos Filipenses. Mais adiante o Apóstolo fala sobre o facto de que Jesus não considera um «privilégio» ser como Deus (Fl 2, 6). Aqui há uma mensagem perfeita. A obsessão de preservar a própria glória, a própria «dignidade», a própria influência não deve fazer parte dos nossos sentimentos. Devemos perseguir a glória de Deus, e ela coincide com a nossa. A glória de Deus que brilha na humildade da gruta de Belém ou na desonra da cruz de Cristo surpreende-nos sempre.

Outro sentimento de Jesus que dá forma ao humanismo cristão é a abnegação. «Sem atender cada um aos seus próprios interesses, mas aos dos outros» (Fl 2, 4), pede são Paulo. Portanto, mais que abnegação, devemos procurar a felicidade de quem nos está próximo. A humanidade do cristão é sempre em saída. Não é narcisista, autorreferencial. Quando o nosso coração é rico e muito satisfeito consigo mesmo, então não tem lugar para Deus. Evitemos, por favor, «de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 49).

O nosso dever é trabalhar para tornar este mundo um lugar melhor e lutar. A nossa fé é revolucionária graças a um impulso que vem do Espírito Santo. Devemos seguir este impulso para sair de nós mesmos, para sermos homens segundo o Evangelho de Jesus. Qualquer vida decide-se na capacidade de se doar. É nisto que se transcende a si mesma, que consegue ser fecunda.

Um ulterior sentimento de Jesus Cristo é o da bem-aventurança. O cristão é um bem-aventurado, tem em si a alegria do Evangelho. Nas bem-aventuranças o Senhor indica-nos o caminho. Ao percorrê-lo, nós seres humanos, podemos alcançar a felicidade mais autenticamente humana e divina. Jesus fala da felicidade que só sentimos quando somos pobres de espírito. Para os grandes santos a bem-aventurança tem relação com humilhação e pobreza. Mas também na parte mais humilde do nosso povo há muita desta bem-aventurança: é a de quem conhece a riqueza da solidariedade, da partilha inclusive do pouco que possui; a riqueza do sacrifício diário de um trabalho, às vezes difícil e mal pago, mas realizado por amor às pessoas queridas; e também aquela das próprias misérias, que contudo, vividas com confiança na providência e na misericórdia de Deus Pai, alimentam uma grandeza humilde.(...)

Confio-vos a Maria, que aqui em Florença é venerada como «Santissima Annunziata». No fresco que se encontra na Basílica homónima — onde irei daqui a pouco — o anjo cala-se e Maria fala, dizendo «Ecce ancilla Domini». Nestas palavras estamos todos nós. Que toda a Igreja as pronuncie com Maria.

«Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa Palavra»


Encontro com os participantes do V Congresso Nacional da Igreja Italiana, Florença,

10 de novembro de 2015

Papa Francisco

segunda-feira, 25 de abril de 2022

  SEMANA II DO TEMPO PASCAL- 2022

Terça-feira II da Páscoa - 26.04.2022

Evangelho Jo 3, 7b-15

«Ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que desceu do Céu: o Filho do homem.»

Diante de Jesus, Nicodemos parece ter deixado de lado a sua sabedoria, ele que é Mestre em Israel. As palavras de Jesus apenas lhe permitem balbuciar uma ou outra pergunta que Jesus aproveita para continuar a falar das coisas importantes da terra e do céu. “Como pode ser isso?” Nascer de novo, nascer do Espírito são realidades estranhas para Nicodemos. Jesus revela-lhe a profundidade do mistério de Deus, que só Ele conhece porque foi Ele quem desceu do céu. Este mistério da vida nova que vem de Deus será conhecida e participada por todos os que acreditarem naquele que será elevado como a serpente no deserto.

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"Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Não te admires por Eu te haver dito que todos devem nascer de novo. O vento sopra onde quer: ouves a sua voz, mas não sabes donde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito». Nicodemos perguntou: «Como pode ser isso?» Jesus respondeu-lhe: «Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo: Nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não aceitais o nosso testemunho. Se vos disse coisas da terra e não acreditais, como haveis de acreditar, se vos disser coisas do Céu? Ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que desceu do Céu: o Filho do homem. Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna»."

No Evangelho fala-se de um certo Nicodemos (cf. Jo 3, 1-21), um idoso, uma autoridade em Israel, que vai procurar Jesus para O conhecer; e o Senhor fala-lhe da necessidade de “renascer do alto” (cf. v. 3). Mas que significa isto? Pode-se “renascer”? Voltar a ter o gosto, a alegria, a maravilha da vida, é possível, mesmo face a tantas tragédias? Esta é uma pergunta fundamental da nossa fé e este é o desejo de qualquer crente verdadeiro: o desejo de renascer, a alegria de recomeçar. Nós temos este desejo? Cada um de nós tem vontade de renascer sempre para se encontrar com o Senhor? Tendes este desejo? Com efeito, pode-se perdê-lo facilmente porque, por causa de tantas atividades, de tantos projetos a concretizar, no final temos pouco tempo e perdemos de vista o que é fundamental: a nossa vida do coração, a nossa vida espiritual, a nossa vida que é encontro com o Senhor na oração.


Audiência Geral de 15 de novembro de 2017

Papa Francisco

Sinto a urgência de beber dessa água e desse Espírito que gera em mim a vida nova do amor de Deus. Que os meus olhos se abram para ti e na cruz encontre a fonte do mistério mais profundo que o homem pode conhecer, o mistério de um Deus que se derrama em amor até à morte para me salvar. Derrama sobre mim, Senhor, a força do teu Espírito e faz-me renascer cada dia um pouco mais, até conhecer totalmente os mistérios do céu. 

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domingo, 24 de abril de 2022

 SEMANA II DO TEMPO PASCAL- 2022

Festa de S. Marcos, Evangelista

Segunda-feira II da Páscoa - 25.04.2022

Evangelho Mc 16, 15-20

«Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura.»

Na celebração de S. Marcos Evangelista, o evangelho apresenta o relato do envio dos apóstolos, no momento da despedida de Jesus, imediatamente antes ser elevado aos céus. As indicações fortalecem os enviados porque lhes é concedido o mesmo poder d'Aquele que os envia. No final fica a certeza de que não estarão sós “o Senhor cooperava com eles”.

"Naquele tempo, Jesus apareceu aos onze Apóstolos e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado. Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demónios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados». E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam."

Jesus apareceu aos onze e aparece-me também a mim. Este aparecer é oferta de vida ressuscitada, de vida eterna. Perante a experiência interior com Cristo ressuscitado ganham sentido as palavras de envio.  

Senhor, que eu seja fiel à missão que me confiaste quando recebi o Batismo.


sábado, 23 de abril de 2022

   Ano C - 2022 

DOMINGO II DA PÁSCOA 

OU DA DIVINA MISERICÓRDIA

Na segunda semana da Páscoa, a liturgia desafia-nos a dar testemunho, na nossa vida, em toda e qualquer situação, de que acreditamos verdadeiramente que Jesus está vivo e ressuscitado no meio de nós.

Na 1ªleitura (Actos 5, 12-16) damo-nos conta da forma como cresciam as primeiras comunidades, graças à ação do Espírito Santo, que agia nos apóstolos e, através deles, no coração de quem os escutava de coração sincero. 

“Pelas mãos dos Apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo. Unidos pelos mesmos sentimentos, reuniam-se todos no Pórtico de Salomão; nenhum dos outros se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo enaltecia-os. Uma multidão cada vez maior de homens e mulheres aderia ao Senhor pela fé, de tal maneira que traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e em catres, para que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Das cidades vizinhas de Jerusalém, a multidão também acorria, trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros e todos eram curados.” 

Na 2ªleitura (Ap 1, 9-11a.12-13.17-19) S.João  dá-nos força e confiança, apontando-nos como único caminho Jesus Cristo, que está vivo e ressuscitado no meio de nós. Se Ele e só Ele for a única força em que nos apoiemos, nada, nem ninguém, poderá separar-nos do Amor de Deus. 

“Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na perseverança em Jesus, estava na ilha de Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. No dia do Senhor fui movido pelo Espírito e ouvi atrás de mim uma voz forte, semelhante à da trombeta, que dizia: «Escreve num livro o que vês e envia-o às sete Igrejas». Voltei-me para ver de quem era a voz que me falava; ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro e, no meio dos candelabros, alguém semelhante a um filho do homem, vestido com uma longa túnica e cingido no peito com um cinto de ouro. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Mas ele poisou a mão direita sobre mim e disse-me: «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos. Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão de acontecer depois destas».”

Hoje é o oitavo dia depois da Páscoa, e o Evangelho de João documenta-nos as duas aparições de Jesus Ressuscitado aos Apóstolos reunidos no Cenáculo: na tarde de Páscoa, quando Tomé estava ausente, e oito dias mais tarde, na presença de Tomé. Na primeira vez, o Senhor mostrou aos discípulos as feridas do seu corpo, fez o sinal de soprar sobre eles e disse: «Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio». Transmite-lhes a Sua própria missão, com a força do Espírito Santo.

Mas naquela tarde não estava presente Tomé, que não queria acreditar no testemunho dos outros. «Se eu não vir nem tocar as suas chagas — disse — não acreditarei». Oito dias depois — ou seja, precisamente como hoje — Jesus volta a apresentar-se no meio dos seus e dirige-se imediatamente a Tomé, convidando-o a tocar as feridas das suas mãos e do seu lado. Ele vai ao encontro da sua incredulidade para que, através dos sinais da paixão, ele possa alcançar a plenitude da fé pascal, isto é, a fé na Ressurreição de Jesus.

“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.” 

Tomé é alguém que não se contenta e procura, tenciona averiguar pessoalmente, realizar uma sua experiência pessoal. Após as resistências e inquietações iniciais, no final também ele consegue crer; não obstante proceda com dificuldade, alcança a fé. Jesus espera-o pacientemente e oferece-Se às dificuldades e às inseguranças daquele que chegou por último. O Senhor proclama «bem-aventurados» aqueles que crêem sem ver — e a primeira é Maria, sua Mãe — mas vai também ao encontro da exigência do discípulo incrédulo: «Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos...». Ao contacto salvífico com as chagas do Ressuscitado, Tomé mostra as suas feridas, as suas chagas, as suas dilacerações, a sua humilhação; no sinal dos pregos encontra a prova decisiva de que era amado, esperado e entendido. Encontra-se diante de um Messias cheio de docilidade, de misericórdia e de ternura. Era aquele o Senhor que ele procurava, Ele, nas profundidades secretas do próprio ser, porque sempre soubera que era assim. E quantos de nós procuram, no profundo do coração, encontrar Jesus como Ele é: dócil, misericordioso e terno! Pois no íntimo nós sabemos que Ele é assim! Tendo recuperado o contacto pessoal com a amabilidade e a paciência misericordiosa de Cristo, Tomé compreende o significado profundo da Sua Ressurreição e, intimamente transformado, declara a sua fé completa e total n’Ele, exclamando: «Meu Senhor e meu Deus!». Como é bonita esta expressão de Tomé!

Ele conseguiu tocar» o Mistério pascal que manifesta plenamente o amor salvífico de Deus, rico de misericórdia. E como Tomé, também todos nós: neste segundo Domingo de Páscoa, somos convidados a contemplar nas feridas do Ressuscitado a Misericórdia Divina, que ultrapassa qualquer limite humano e resplandece sobre a obscuridade do mal e do pecado.

Celebrámos um tempo intenso e prolongado para receber as imensas riquezas do amor misericordioso de Deus no Jubileu Extraordinário da Misericórdia, cuja Bula de proclamação promulguei a 11 de abril de 2015, na Basílica de São Pedro. A Bula começa com as palavras «Misericordiae vultus»: o Rosto da Misericórdia é Jesus Cristo. Mantenhamos o nosso olhar voltado para Ele, que sempre nos procura, espera e perdoa; Ele é deveras misericordioso e não se assusta com as nossas misérias. Nas suas chagas, Ele cura-nos e perdoa todos os nossos pecados. Que a Virgem Mãe nos ajude a ser misericordiosos com o próximo, como Jesus é com cada um de nós.


Regina Caeli de 12 de abril de 2015

Papa Francisco

Senhor eu creio que estás vivo, que ressuscitaste. Aleluia!

sexta-feira, 22 de abril de 2022

 OITAVA DA PÁSCOA - 2022

Sábado da Oitava da Páscoa - 23.04.2022

EVANGELHO Mc 16, 9-15

«Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura»

Uma vez mais, como é típico em Marcos, é sublinhada a incredulidade e a atitude refratária dos discípulos em se darem conta do que aconteceu. Só a presença direta de Jesus libertará os apóstolos da dureza de coração e os transformará em verdadeiros crentes. A Ressurreição não é fruto de imaginação ingénua ou da sugestão coletiva dos discípulos. É um dom do Pai Àquele que Se fez obediente até à morte para salvar a Humanidade. A fé na Ressurreição é também um dom do Senhor aos discípulos. Ao conceder-lho também lhes dá o encargo de continuarem a Sua missão, para que a Boa Nova chegue a toda a terra.

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"Jesus ressuscitou na manhã do primeiro dia da semana e apareceu em primeiro lugar a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demónios. Ela foi anunciá-lo aos que tinham andado com Ele e estavam mergulhados em tristeza e pranto. Eles, porém, ouvindo dizer que Jesus estava vivo e fora visto por ela, não acreditaram. Depois disto, manifestou-Se com aspeto diferente a dois deles que iam a caminho do campo. Eles voltaram para trás a fim de o anunciar aos restantes, mas também não lhes deram crédito. Mais tarde apareceu aos Onze, quando eles estavam sentados à mesa, e censurou-os pela sua incredulidade e dureza de coração, porque não acreditaram naqueles que O tinham visto ressuscitado. E disse-lhes: «Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura»."

A Ressurreição é um mistério de fé que encontrou resistência nos Apóstolos. «Não acreditaram» é o refrão que se repete no epílogo do evangelho de Marcos. Por isso, Jesus tem de lhes censurar a dureza de coração em não acreditarem naqueles que O tinham visto ressuscitado. Também em nós podem surgir resistências à fé na Ressurreição: preferimos as nossas tristezas à alegria da Ressurreição. Isto pode parecer estranho, mas é assim porque a alegria divina nos eleva, enquanto nós preferimos permanecer nas nossas preocupações, nas nossas tristezas, nos nossos interesses humanos. A tristeza leva-nos a ver as coisas na obscuridade do nosso amor-próprio, das nossas ilusões, e não à luz divina da Ressurreição. Por isso é que um autor cristão do século II escrevia: «Desapega-te de ti mesmo, renuncia à tristeza, porque a tristeza é a mãe da dúvida e do erro».

Na primeira leitura, Pedro e João utilizam um argumento que precisamos de redescobrir hoje, diante das prepotências do mundo em que vivemos. Quantas vezes os meios de comunicação social, e outros meios omnipotentes, tentam nivelar o modo de pensar e de avaliar típico dos cristãos pelo baixo nível do consumismo e dos horizontes exclusivamente intramundanos. A identidade cristã sofre agressões cada vez mais claras, ainda que, muitas vezes, soft e dissimuladas, que querem fazer passar por normal e óbvio o que não passa de comportamentos detestáveis. Por isso, é em nome da superior vontade de Deus que havemos de travar um verdadeiro «combate cultural» para desmascarar o perigo da homologação pagã. Mas o «combate cultural» pressupõe o «combate espiritual», em nome de uma forte experiência de Cristo. Não se pode calar a experiência da salvação, a experiência de ser amado por Deus, a experiência de ser acompanhado na vida pelo amor de Deus. Trata-se de um testemunho aberto e corajoso, que nada quer impor, mas que também não aceita imposições para esconder o que tem de mais precioso: a experiência do Ressuscitado.

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Senhor, faz resplandecer sobre a minha mente e sobre o meu coração, a luz esplendorosa da Tua Santa Ressurreição, para que me dê conta de quanto obedeço mais aos homens do que a Deus, de quanto estou inquinado pela mentalidade dos homens, de quanto me deixo levar pelas seduções deste mundo, de quanto me deixo fascinar pelo canto das sereias. Ilumina as profundezas do meu ser, os recantos obscuros da minha personalidade, os pontos menos conscientes do meu sentir, para que possa revê-los e rever o modo como me coloco diante da mentalidade dominante.
Dá-me a coragem dos Apóstolos para que, vencendo todos os obstáculos, testemunhe o Teu nome diante todos e em todas as circunstâncias. Ámen.

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