SEXTA-FEIRA SANTA
«PAIXÃO DO SENHOR» VIA-SACRA COLISEU
ROMA, 29 DE MARÇO DE 2024
VIA-SACRA 2024: «Em oração com Jesus, no
caminho da cruz» Introdução
Senhor Jesus, olhamos para a
vossa cruz e compreendemos que destes tudo por nós. Dedicamo-Vos este tempo.
Queremos passá-lo ao pé de Vós, que rezastes desde o Getsémani até ao
Calvário. No Ano de Oração, unimo-nos ao vosso caminho de oração. Evangelho segundo São Marcos (14,
32-37) Chegaram a uma propriedade
chamada Getsémani (…). Tomando consigo Pedro, Tiago e João, começou a sentir
pavor e a angustiar-Se. E disse-lhes: «(...) Ficai aqui e vigiai».
Adiantando-Se um pouco, caiu por terra e orou (…): «Abbá,
Pai! Tudo Te é possível; afasta de Mim este cálice! Mas não se faça o que Eu
quero, e sim o que Tu queres». Depois, foi ter com os discípulos,
encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «(…) Nem uma hora pudeste vigiar!» Senhor, preparastes com a oração
cada uma das vossas jornadas e agora, no Getsémani, preparais a Páscoa. Abbá,
Pai! Tudo Te é possível – dizeis Vós –, porque a oração
é antes de tudo diálogo e intimidade; mas é também luta e súplica: afasta
de Mim este cálice! E é abandono e oferta: mas não se faça o
que Eu quero, e sim o que Tu queres. Assim, em oração, entrastes pela
porta estreita do nosso sofrimento e atravessaste-la profundamente. Sentistes
medo e angústia (cf. Mc 14,
33): medo
diante da morte, angústia sob o peso do nosso pecado que experimentastes
sobre Vós, enquanto Vos invadia uma amargura infinita. Mas, no apogeu da
luta, rezastes «mais instantemente» (Lc 22,
44): assim
transformastes a veemência do sofrimento em oferta de amor. Uma coisa apenas nos pedistes: ficar convosco, vigiar.
Não nos pedis o impossível, mas a proximidade. No entanto, quantas vezes me
distanciei de Vós! Quantas vezes, como os discípulos, em vez de vigiar dormi,
quantas vezes não tive tempo ou vontade de rezar porque cansado, anestesiado
pelas comodidades, ensonado na alma. Jesus, repeti novamente para mim, para
nós, vossa Igreja: «Levantai-vos e orai» (Lc 22,
46).
Acordai-nos, Senhor, despertai-nos do torpor do coração, porque também hoje,
sobretudo hoje, precisais da nossa oração. 1. Jesus é condenado à morte O Sumo Sacerdote ergueu-se no
meio da assembleia e interrogou Jesus: «Não respondes nada ao que estes
testemunham contra Ti?» Mas Ele continuava em silêncio e nada respondia. (…)
Pilatos interrogou-o de novo, dizendo: «Não respondes nada? Vê de quantas coisas
és acusado!» Mas Jesus nada mais respondeu, de modo que Pilatos estava
estupefacto (Mc 14,
60-61; 15, 4-5). Jesus, sois a vida, e acabais
condenado à morte; sois a verdade, e suportastes um processo cheio de
falsidades. Mas por que não reclamais? Por que não levantais a voz e
explicais as vossas razões? Por que não refutais os eruditos e os poderosos,
como sempre fizestes com tanto sucesso? A vossa reação é surpreendente,
Jesus: no momento decisivo, não falais; calais-Vos. Porque, quanto mais forte
é o mal, mais radical é a vossa resposta. E a vossa resposta é o silêncio.
Mas o vosso silêncio é fecundo: é oração, é mansidão, é perdão, é o caminho
para redimir do mal, para converter o que sofreis num dom que ofereceis.
Jesus, dou-me conta de Vos conhecer pouco, porque não conheço suficientemente
o vosso silêncio; porque no frenesim de correr e fazer, absorvido pelas
coisas, tomado pelo medo de não continuar a figurar ou pela mania de me pôr
no centro, não encontro tempo para parar e ficar convosco: para Vos deixar
agir a Vós, Palavra do Pai que trabalhais no silêncio. Jesus, o vosso
silêncio mexe comigo: ensina-me que a oração não nasce dos lábios que se
movem, mas dum coração que sabe permanecer à escuta: porque rezar é fazer-se
dócil à vossa Palavra, é adorar a vossa presença. Rezemos dizendo: Falai ao
meu coração, Jesus Vós que respondeis ao mal com o bem | | Falai ao meu coração, Jesus | Vós que extinguis o clamor com a mansidão | | Falai ao meu coração, Jesus | Vós que detestais a crítica e as lamentações | | Falai ao meu coração, Jesus | Vós que me conheceis intimamente | | Falai ao meu coração, Jesus | Vós que me tendes mais amor do que me amo eu
próprio | | Falai ao meu coração, Jesus |
2. Jesus carrega a cruz Subindo ao madeiro, Ele levou os
nossos pecados no seu corpo, para que, mortos para o pecado, vivamos para a
justiça: pelas suas chagas fomos curados (1 Ped 2,
24). Jesus, também nós carregamos
cruzes, às vezes muito pesadas: uma doença, um acidente, a morte dum ente
querido, uma desilusão afetiva, um filho que anda perdido, o emprego que
falta, uma ferida interior que não cura, o fracasso dum projeto, a milésima
expetativa para nada... Jesus, como se faz então para rezar? Como fazer
quando me sinto esmagado pela vida, quando um fardo me pesa no coração,
quando estou sob pressão e já não tenho força para reagir? A vossa resposta
reside numa proposta: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos,
que Eu hei de aliviar-vos» (Mt 11,
28). Vir a Vós…
mas eu fecho-me em mim: passo e repasso, sinto pena de mim mesmo, afundo na
condição de vítima, um campeão de negatividade. Vinde a Mim:
dizê-lo, não foi suficiente! Então vindes ao nosso encontro e carregais aos
ombros a nossa cruz, para nos tirar de cima o seu peso. Desejais que lancemos
sobre Vós fadigas e preocupações, pois quereis que nos sintamos livres e
amados em Vós. Obrigado, Jesus! Uno a minha cruz à vossa, trago-Vos o meu
cansaço e as minhas misérias, lanço sobre Vós todos os pesos do meu coração. Rezemos dizendo: Venho a
Vós, Senhor Com a minha história | | Venho a Vós, Senhor | Com as minhas canseiras | | Venho a Vós, Senhor | Com as minhas limitações e fragilidades | | Venho a Vós, Senhor | Com os meus temores | | Venho a Vós, Senhor | Depondo toda a confiança no vosso amor | | Venho a Vós, Senhor |
3. Jesus cai pela primeira vez Em verdade, em verdade vos digo:
se um grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se
morrer, dá muito fruto (Jo 12, 24). Caístes, Jesus! Em que pensais,
como rezais com a face no pó? Mas sobretudo o que é que Vos dá a força para
Vos levantardes? Enquanto estais com o rosto por terra, não podendo já ver o
céu, imagino-Vos a repetir no coração: Pai, que estais nos céus.
O olhar amoroso do Pai, que pousa sobre Vós, é a vossa força. Mas imagino
também que, enquanto beijais a terra árida e fria, estejais a pensar no
homem, tirado da terra, a pensar em nós, que estamos no centro do vosso
coração; e repitais as palavras do vosso Testamento: «Isto é o meu corpo, que
vai ser entregue por vós» (Lc 22,
19). O amor do
Pai por Vós, e o vosso por nós. O amor: aqui está a mola que Vos faz levantar
e prosseguir. Porque, quem ama, não fica por terra, recomeça; quem ama, não
se cansa, corre; quem ama, voa. Jesus, peço-Vos sempre muitas coisas, mas só
preciso duma: saber amar. Cairei na vida, mas, com o amor, poderei
levantar-me e continuar para diante, como fizestes Vós, que sois perito em
quedas. De facto a vossa vida foi um cair contínuo ao nosso encontro: de Deus
para homem, de homem para servo, de servo para crucificado, até ao túmulo;
caístes na terra como semente que morre; caístes para nos reerguer da terra e
levar para o Céu. Vós que levantais do pó e fazeis renascer a esperança,
dai-me forças para amar e recomeçar. Rezemos dizendo: Jesus,
dai-me a força de amar e recomeçar Quando prevalece a desilusão | | Jesus, dai-me a força de amar e recomeçar | Quando caiem sobre mim os juízos dos outros | | Jesus, dai-me a força de amar e recomeçar | Quando nada funciona e me torno impaciente | | Jesus, dai-me a força de amar e recomeçar | Quando sinto que não aguento mais | | Jesus, dai-me a força de amar e recomeçar | Quando me oprime o pensamento de que nada mudará | | Jesus, dai-me a força de amar e recomeçar |
4. Jesus encontra sua mãe Então Jesus, ao ver ali ao pé a
sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse (...) ao discípulo: «Eis a tua
mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua (Jo 19, 26-27). Jesus, os vossos abandonaram-Vos,
Judas traiu-Vos, Pedro renegou-Vos: ficastes sozinho com a cruz. Mas está lá
a vossa mãe. Não são necessárias palavras, bastam os seus olhos, que sabem
enfrentar o sofrimento e ocupar-se dele. Jesus, no olhar de Maria cheio de
lágrimas e de luz, encontrais a memória da ternura, das carícias, dos braços
amorosos que sempre Vos acolheram e sustentaram. O olhar materno é o olhar da
memória, que nos fundamenta no bem. Não se pode prescindir duma mãe que nos
traz ao mundo, mas também não podemos prescindir duma mãe que nos ponha
direitos, no mundo. Vós o sabeis e, da cruz, dais-nos a vossa própria
mãe. Eis a tua mãe – dizeis ao discípulo, a cada um de nós:
depois da Eucaristia, dais-nos Maria, a dádiva extrema antes de morrer.
Jesus, no vosso caminho, serviu-Vos conforto a recordação do seu amor; também
o meu caminho precisa de se fundar na memória do bem. Dou-me conta, porém,
que a minha oração é pobre de memória: rápida, apressada, uma lista de
necessidades para hoje e amanhã. Maria, detende a minha corrida! Ajudai-me a
fazer memória: a guardar a graça, a lembrar o perdão e os prodígios de Deus,
a reavivar o primeiro amor, a saborear as maravilhas da providência, a chorar
de gratidão. Rezemos dizendo: Senhor,
reavivai em mim a recordação do vosso amor Quando reaparecem as feridas do passado | | Senhor, reavivai em mim a recordação do vosso amor | Quando extravio o sentido e o fio das coisas | | Senhor, reavivai em mim a recordação do vosso amor | Quando perco de vista os dons que recebi | | Senhor, reavivai em mim a recordação do vosso amor | Quando perco de vista o dom que sou | | Senhor, reavivai em mim a recordação do vosso amor | Quando me esqueço de Vos agradecer | | Senhor, reavivai em mim a recordação do vosso amor |
5. Jesus é ajudado pelo Cireneu Quando [os soldados] O iam
conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e
carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus (Lc 23, 26). Jesus, quantas vezes, diante dos
desafios da vida, presumimos de os superar sozinhos! Como é difícil pedir uma
mão, com medo de dar a impressão de não estarmos à altura, temos sempre a
preocupação de bem parecer e nos exibir! Não é fácil fiar-se, e menos ainda
entregar-se. Mas quem reza sabe que é um necessitado e Vós, Jesus, estais
habituado a entregar-Vos na oração. Assim não desprezais a ajuda do Cireneu.
Expondes as vossas fragilidades a ele, um homem simples, um agricultor que
volta do campo. Obrigado porque, fazendo-Vos amparar na necessidade, apagais
a imagem dum deus invulnerável e distante. Não sois imóvel no poder, mas
invencível no amor, e ensinais-nos que amar significa socorrer os outros
precisamente nisto: nas fragilidades de que se envergonham. Então as
fragilidades transformam-se em oportunidades. Assim aconteceu ao Cireneu: a
vossa fragilidade mudou a sua vida; e um dia dar-se-á conta de ter socorrido
o seu Salvador, ter sido redimido através daquela cruz que levou. Para que a
minha vida também mude, peço-Vos, Jesus: ajudai-me a baixar as defesas e
deixar-me amar por Vós, precisamente no ponto onde tenho mais vergonha de mim
mesmo. Rezemos dizendo: Curai-me,
Jesus! De toda a presunção de autossuficiência | | Curai-me, Jesus! | De pensar que consigo sem Vós e sem os outros | | Curai-me, Jesus! | Da mania do perfeccionismo | | Curai-me, Jesus! | Da relutância em entregar-Vos as minhas misérias | | Curai-me, Jesus! | Da pressa frente aos necessitados que encontro no
caminho | | Curai-me, Jesus! |
6. Jesus é confortado pela Verónica que Lhe enxuga o
rosto Bendito seja Deus (…) o Pai das
misericórdias e o Deus de toda a consolação! Ele nos consola em toda a nossa
tribulação, para que também nós possamos consolar aqueles que estão em
qualquer tribulação (…). Na verdade, assim como abundam em nós os sofrimentos
de Cristo, também, por meio de Cristo, é abundante a nossa consolação (2 Cor 1, 3-5). Jesus, muitos acompanham o
espetáculo bárbaro da vossa execução e, sem Vos conhecer nem conhecer a
verdade, proferem sentenças e condenações, lançando sobre Vós infâmia e
desprezo. O mesmo acontece hoje, Senhor, e nem sequer é preciso um cortejo
macabro: basta um teclado para insultar e publicar sentenças. Mas, enquanto
muitos gritam e condenam, abre caminho no meio da multidão uma mulher. Não
fala; age. Não insulta; compadece-se. Vai contracorrente: sozinha, com a
coragem da compaixão, arrisca por amor, encontra forma de passar por entre os
soldados apenas para Vos dar o conforto duma carícia no rosto. O seu gesto
passará à história, e é um gesto de consolação. Quantas vezes invoco a vossa
consolação, Jesus! Mas a Verónica lembra-me que também Vós precisais da
consolação: Vós, um Deus próximo, pedis a minha proximidade; Vós, meu
consolador, quereis ser consolado por mim. Amor não amado, também hoje
procurais no meio da multidão corações sensíveis ao vosso sofrimento, à vossa
amargura. Procurais verdadeiros adoradores que, em espírito
e verdade (cf. Jo 4, 23), permaneçam
convosco (cf. Jo 15), Amor
abandonado. Jesus, acendei em mim o desejo de estar convosco, de Vos adorar e
consolar. E fazei que eu seja, em vosso nome, consolação para os outros. Rezemos dizendo: Tornai-me
testemunha da vossa consolação Deus de misericórdia, próximo de quem tem o
coração ferido | | Tornai-me testemunha da vossa consolação | Deus de ternura, que Vos comoveis por nós | | Tornai-me testemunha da vossa consolação | Deus de compaixão, que detestais a indiferença | | Tornai-me testemunha da vossa consolação | Vós que ficais triste quando aponto o dedo contra
os outros | | Tornai-me testemunha da vossa consolação | Vós que não viestes para condenar, mas para salvar | | Tornai-me testemunha da vossa consolação |
7. Jesus cai de novo sob o peso da cruz [O filho mais novo], caindo em
si, disse: (…) Levantar-me-ei, irei ter com o meu pai e vou dizer-lhe: «Pai,
pequei (…)». E, levantando-se, foi ter com o pai. Quando ainda estava longe,
o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e
cobriu-o de beijos. O filho disse-lhe: «Pai, pequei (…); já não mereço ser
chamado teu filho». Mas o pai disse (...): «Este meu filho estava morto e
reviveu, estava perdido e foi encontrado» (Lc 15, 17-18.20-22.24). Jesus, a cruz pesa! Carrega o
peso da derrota, do fracasso, da humilhação. Compreendo-o quando me sinto
esmagado pelas coisas, metralhado pela vida e incompreendido pelos outros;
quando sinto o peso excessivo e enervante da responsabilidade e do trabalho,
quando estou comprimido pelas garras da ansiedade, assaltado pela melancolia,
enquanto um pensamento sufocante me vai repetindo: não vais sair desta, desta
vez não te erguerás. Mas há pior. Dou-me conta de tocar o fundo, quando volto
a cair no mesmo: quando caio de novo nos meus erros, nos meus pecados, quando
me escandalizo dos outros e depois apercebo-me de que não sou diferente. Não
há nada pior do que ficar desiludido consigo mesmo, esmagado pelo sentimento
de culpa. Mas Vós, Jesus, caístes várias vezes sob o peso da cruz, para estar
perto de mim quando volto a cair. Convosco a esperança nunca acaba e, depois
de cada queda, levanto-me outra vez, porque, quando erro, não Vos cansais de
mim, mas ainda mais Vos aproximais. Obrigado por esperardes por mim; obrigado
porque volto a cair tantas vezes e me perdoais infinitas vezes: sempre.
Recordai-me que as quedas podem tornar-se momentos cruciais no caminho,
porque me levam a compreender a única coisa que importa: que preciso de Vós.
Jesus, gravai no meu coração a certeza mais importante: que só me levanto
verdadeiramente quando Vós me levantais, quando me libertais dos pecados.
Porque a vida não recomeça das minhas palavras, mas do vosso perdão. Rezemos dizendo: Levantai-me,
Jesus! Quando, paralisado pela difidência, sinto tristeza
e desânimo | | Levantai-me, Jesus! | Quando vejo a minha inadequação e me sinto inútil | | Levantai-me, Jesus! | Quando prevalecem a vergonha e o medo de não
conseguir | | Levantai-me, Jesus! | Quando me sinto tentado a perder a esperança | | Levantai-me, Jesus! | Quando esqueço que a minha força está no vosso
perdão | | Levantai-me, Jesus! |
8. Jesus encontra as mulheres de Jerusalém Seguiam Jesus uma grande multidão
de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele (Lc 23, 27). Jesus, quem é que Vos segue até
ao fim pelo caminho da cruz? Não os poderosos, que Vos esperam no Calvário,
nem os espetadores que estão longe, mas as pessoas simples, grandes aos
vossos olhos e pequenas aos do mundo. São as mulheres a quem destes esperança:
não têm voz, mas fazem-se ouvir. Ajudai-nos a reconhecer a grandeza das
mulheres, daquelas que foram fiéis e estiveram perto de Vós na Páscoa, mas
também daquelas que ainda hoje são descartadas, sofrendo ultrajes e
violências. Jesus, as mulheres que encontrais batem no peito e choram por
Vós. Não choram por si mesmas, mas por Vós; choram pelo mal e o pecado do
mundo. A sua oração feita de lágrimas chega ao vosso coração. E a minha
oração sabe chorar? Comovo-me diante de Vós, crucificado por mim, diante do
vosso amor manso e ferido? Choro as minhas falsidades e a minha inconstância?
À vista das tragédias do mundo, o meu coração permanece gelado ou
enternece-se? Como reajo à loucura da guerra, a rostos de crianças que já não
sabem sorrir, a mães que as veem desnutridas e famintas e não têm mais
lágrimas para derramar? Vós, Jesus, chorastes por Jerusalém, chorastes pela
dureza do nosso coração. Sacudi-me no meu íntimo, dai-me a graça de chorar
rezando e de rezar chorando. Rezemos
dizendo: Jesus, enternecei o meu coração endurecido Vós que conheceis os segredos do coração | | Jesus, enternecei o meu coração endurecido | Vós que Vos entristeceis face à dureza dos ânimos | | Jesus, enternecei o meu coração endurecido | Vós que amais os corações humildes e contritos | | Jesus, enternecei o meu coração endurecido | Vós que enxugastes com o perdão as lágrimas de
Pedro | | Jesus, enternecei o meu coração endurecido | Vós que transformais o choro em canto | | Jesus, enternecei o meu coração endurecido |
9. Jesus é despojado das suas vestes «Senhor, quando foi que Te vimos
com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando Te
vimos peregrino e Te recolhemos, ou nu e Te vestimos? E quando Te vimos
doente ou na prisão, e fomos visitar-Te?» E o Rei vai dizer-lhes, em resposta:
«Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt
25, 37-40). Jesus, estas palavras
disseste-las antes da Paixão. Agora compreendo a vossa insistência em
identificar-Vos com os necessitados: Vós estivestes encarcerado; Vós sois
tratado como estrangeiro, levado até fora da cidade para ser crucificado; Vós
estais nu, despojado das vestes; Vós, doente e ferido; Vós, sedento na cruz e
faminto de amor. Fazei que Vos veja nos atribulados e veja os atribulados em
Vós, porque Vós estais neles, em quem é despojado de dignidade, nos cristos
humilhados pela prepotência e a injustiça, por lucros iníquos obtidos à custa
dos outros na indiferença geral. Olho para Vós, Jesus, despojado das vestes,
e compreendo que me convidais a despojar-me de tantas exterioridades. Porque
Vós não olhais para as aparências, mas para o coração. E não quereis uma
oração estéril, mas caritativamente fecunda. Deus despido, desnudai-me também
a mim. Porque é fácil falar, mas será que Vos amo de verdade nos pobres, a
vossa carne ferida? Rezo por quem está despojado de dignidade? Ou rezo apenas
para acudir às minhas necessidades e rodear-me de segurança? Jesus, a vossa
verdade desnuda-me e leva-me a centrar no que importa: Vós crucificado e os
irmãos crucificados. Dai-me a graça de o compreender agora, para não ser
encontrado despojado de amor quando me apresentar diante de Vós. Rezemos dizendo: Despojai-me,
Senhor Jesus! Do apego às aparências | | Despojai-me, Senhor Jesus! | Da couraça da indiferença | | Despojai-me, Senhor Jesus! | De julgar que não toca a mim socorrer os outros | | Despojai-me, Senhor Jesus! | Dum culto feito de respeitabilidade e
exterioridade | | Despojai-me, Senhor Jesus! | Da convicção de que a vida corre bem, se eu
estiver bem | | Despojai-me, Senhor Jesus! |
10. Jesus é pregado na cruz Quando chegaram ao lugar chamado
Calvário, crucificaram-No a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à
esquerda. Jesus dizia: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 33-34). Jesus, trespassam-Vos braços e
pés com cravos, dilacerando-Vos as carnes; mas é agora, quando o sofrimento
físico é mais atroz, que brota dos vossos lábios a oração impossível:
perdoais a quem Vos está cravando os pregos nos pulsos. E não apenas uma vez mas
muitas, como recorda o Evangelho com esta forma verbal que indica uma ação
repetida: dizíeis «Perdoa-lhes, Pai…». Convosco, Jesus,
também eu posso encontrar a coragem de escolher o perdão, que liberta o
coração e relança a vida. E, Senhor, não Vos basta perdoar-nos, quereis
também desculpar-nos diante do Pai: não sabem o que fazem.
Assumis a nossa defesa, fazeis-Vos nosso advogado, intercedeis por nós. Agora
que as vossas mãos, com que abençoáveis e curáveis, estão pregadas, e que os
vossos pés, com que leváveis a boa nova, já não podem caminhar, agora, na
impotência, revelais-nos a omnipotência da oração. No cimo do Gólgota,
manifestais-nos a sublimidade da oração de intercessão, que salva o mundo.
Jesus, que eu reze não só por mim e pelos meus entes queridos, mas também por
quem não me quer bem e me faz mal; que eu reze, segundo os desejos do vosso
coração, por quem vive longe de Vós; que eu reze para reparar e interceder em
favor de quantos, ignorando-Vos, não conhecem a alegria de Vos amar e ser
perdoados por Vós. Rezemos dizendo: Pai,
tende misericórdia de nós e do mundo inteiro Pela dolorosa paixão de Jesus | | Pai, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro | Pelo poder das suas chagas | | Pai, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro | Pelo seu perdão na cruz | | Pai, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro | Por quantos perdoam por vosso amor | | Pai, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro | Por intercessão de quantos creem, adoram, esperam
e Vos amam | | Pai, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro |
11. Jesus grita o seu abandono Desde o meio-dia até às três da
tarde, as trevas envolveram toda a terra. Cerca das três horas da tarde,
Jesus clamou com voz forte: «Eli, Eli, lemà sabactàni?»,
isto é, «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Mt 27, 45-46). Jesus, eis a oração inaudita!
Gritais ao Pai o vosso abandono. Vós, Deus do céu, não trovejais respostas,
mas perguntais porquê? No auge da Paixão, sentis a distância do
Pai; e já nem O chamais Pai – como sempre –, mas Deus, como se já não
conseguísseis identificar o seu rosto. Por que é que sucede isto? Para
mergulhardes até ao fundo no abismo do nosso sofrimento. Fizeste-lo por mim,
para que, quando vir apenas escuridão, quando experimentar o colapso das
certezas e o naufrágio da vida, já não me sinta só, mas acredite que Vós
estais lá comigo: Vós, Deus da comunhão, que experimentais o abandono para
não mais me deixar refém da solidão. Quando gritastes o vosso porquê,
fizeste-lo com um Salmo: assim trouxestes à oração a desolação mais extrema.
Eis o que se deve fazer nas tempestades da vida: em vez de calar e guardar
dentro, gritar por Vós. Glória a Vós, Senhor Jesus, porque não fugistes da
minha confusão, mas viveste-la profundamente; louvor e glória a Vós que,
assumindo todas as distâncias, fizestes-Vos próximo de quem está mais longe
de Vós. E, na escuridão dos meus porquês, encontro-Vos a Vós, Jesus, luz na
noite. E, no grito de tantas pessoas sozinhas e excluídas, oprimidas e
abandonadas, revejo-Vos a Vós, meu Deus: fazei que Vos reconheça e Vos ame. Rezemos dizendo: Jesus,
fazei que Vos reconheça e vos ame Nas crianças não nascidas e nas abandonadas | | Jesus, fazei que Vos reconheça e vos ame | Em tantos jovens à espera de alguém que ouça o seu
grito de dor | | Jesus, fazei que Vos reconheça e vos ame | Nos inúmeros idosos descartados | | Jesus, fazei que Vos reconheça e vos ame | Nos presos e em quem vive sozinho | | Jesus, fazei que Vos reconheça e vos ame | Nos povos mais explorados e esquecidos | | Jesus, fazei que Vos reconheça e vos ame |
12. Jesus morre entregando-Se ao
Pai e dando ao bom ladrão o Paraíso [Um dos malfeitores crucificado]
disse: «Jesus, lembra-Te de mim quando estiveres no teu Reino». Ele
respondeu-lhe: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso». (…)
Dando um forte grito, Jesus exclamou: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu
espírito». Dito isto, expirou (Lc 23,
42-43.46). Jesus, um malfeitor no Paraíso!!!
Ele confia-Se a Vós, e Vós O confiais juntamente convosco ao Pai. Deus do
impossível, dum ladrão fazeis um santo. Mais: no Calvário, mudais o curso da
história. Fazeis da cruz, emblema do suplício, o ícone do amor; do muro da
morte, uma ponte para a vida. Transformais as trevas em luz, a separação em
comunhão, o sofrimento em dança, e o próprio túmulo – última estação da vida
– no ponto de partida da esperança. Mas estas inversões, realizai-las
connosco, nunca sem nós. Jesus, lembrai-Vos de mim: esta oração
sincera permitiu-Vos fazer maravilhas na vida daquele malfeitor. Força
inaudita da oração. Às vezes penso que a minha oração não seja ouvida, mas o
essencial é perseverar, ter constância, recordar-se de Vos dizer: «Jesus,
lembrai-Vos de mim». Lembrai-Vos de mim e o meu mal já não será última
paragem, mas um recomeço. Lembrai-Vos, isto é, colocai-me de novo no vosso
coração, mesmo quando me afastar, quando me perder na roda da vida que gira
loucamente. Lembrai-Vos de mim, Jesus, porque ser recordado por Vós – assim
no-lo mostra o bom ladrão – é entrar no Paraíso. Sobretudo lembrai-me, Jesus,
que a minha oração pode mudar a história. Rezemos dizendo: Jesus,
lembrai-Vos de mim Quando a esperança se desvanece e reina a
desilusão | | Jesus, lembrai-Vos de mim | Quando sou incapaz de tomar uma decisão | | Jesus, lembrai-Vos de mim | Quando perco a fé em mim e nos outros | | Jesus, lembrai-Vos de mim | Quando perco de vista a grandeza do vosso amor | | Jesus, lembrai-Vos de mim | Quando penso que minha oração seja inútil | | Jesus, lembrai-Vos de mim |
13. Jesus é descido da cruz e posto nos braços de
Maria Simeão (...) disse a Maria, sua mãe: «Este menino
está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de
contradição; uma espada trespassará a tua alma» (Lc 2, 34-35). Maria, depois do vosso «sim», o
Verbo fez-Se carne no vosso ventre; agora, reclinada sobre o vosso ventre,
está a sua carne torturada: aquele menino que trazíeis nos braços é um
cadáver dilacerado. E todavia, agora no momento mais doloroso, resplandece a
vossa oferta: uma espada trespassa-Vos a alma e a vossa oração continua a ser
um «sim» a Deus. Maria, nós somos pobres de «sins e ricos de «ses»: se
tivesse tido pais melhores, se tivesse sido mais compreendido e amado, se a
minha carreira tivesse corrido melhor, se não tivesse havido aquele problema,
se eu ao menos deixasse de sofrer, se Deus me ouvisse... Ao perguntar-nos
perpetuamente pelo porquê das coisas, sentimos dificuldade em viver o
presente com amor. Vós teríeis muitos «ses» para dizer a Deus, mas ainda
dizeis «sim». Forte na fé, acreditais que o sofrimento, permeado pelo amor,
produz frutos de salvação; que o sofrimento com Deus não tem a última
palavra. E, enquanto segurais nos braços Jesus inanimado, ressoam em Vós as
últimas palavras que Ele Vos dirigiu: Eis o teu filho. Mãe, sou
eu aquele filho! Acolhei-me nos vossos braços e debruçai-Vos sobre as minhas
feridas. Ajudai-me a dizer «sim» a Deus, «sim» ao amor. Mãe de piedade,
vivemos num tempo cruel e precisamos de compaixão: Vós, terna e forte,
ungi-nos de mansidão: dissolvei as resistências do coração e os nós da alma. Rezemos
dizendo: Tomai-me pela mão, Maria Quando cedo a recriminações e a fazer a vítima | | Tomai-me pela mão, Maria | Quando deixo de lutar aceitando conviver com as
minhas falsidades | | Tomai-me pela mão, Maria | Quando vou adiando e não encontro a coragem de
dizer «sim» a Deus | | Tomai-me pela mão, Maria | Quando sou indulgente comigo mesmo e inflexível
com os outros | | Tomai-me pela mão, Maria | Quando quero que a Igreja e o mundo mudem, mas eu
não mudo | | Tomai-me pela mão, Maria |
14. Jesus é colocado no túmulo de
José de Arimateia Ao cair da tarde, veio um homem
rico de Arimateia, chamado José; que também se tornara discípulo de Jesus.
Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. (...) José tomou o corpo,
envolveu-o num lençol limpo e depositou-o num túmulo novo, que tinha mandado
talhar na rocha (Mt 27,
57-60). José: o nome que juntamente com o
de Maria está no alvorecer do Natal, marca também a aurora da Páscoa. José de
Nazaré sonhou e corajosamente levou Jesus para O salvar de Herodes; tu, José
de Arimateia, tomas o corpo d’Ele, sem saber que um sonho impossível e
maravilhoso se vai realizar lá mesmo, no túmulo que deste a Cristo quando
pensavas que Ele não poderia fazer mais nada por ti. Ao contrário, é mesmo
verdade que toda a dádiva feita a Deus recebe uma recompensa maior. José de
Arimateia, és o profeta da coragem ousada. Para dar o teu dom a um morto,
vais ter com o temido Pilatos e fazes-lhe um pedido, para poderes oferecer a
Jesus o túmulo que fizeras construir para ti. O teu pedido é tenaz, e às
palavras seguem-se as obras. Tu, José, recordas-nos que a oração insistente
dá fruto e atravessa até a escuridão da morte; que o amor não fica sem
resposta, mas oferece novos começos. O teu túmulo – único na história – será
fonte de vida: era novo, há pouco escavado na rocha. E eu, o que dou de novo
a Jesus nesta Páscoa? Um pouco de tempo para estar com Ele? Um pouco de amor
para os outros? Os meus medos e as minhas misérias sepultadas, que Cristo
espera lhe sejam oferecidos como fizeste tu com o túmulo? Será
verdadeiramente Páscoa se der algo de meu Àquele que por mim deu a sua vida:
pois é dando que se recebe; a vida é encontrada quando se perde, e é possuída
quando se dá. Rezemos
dizendo: Tende piedade, Senhor De mim, preguiçoso para me converter | | Tende piedade, Senhor | De mim, que gosto muito de receber e pouco de dar | | Tende piedade, Senhor | De mim, incapaz de me render ao vosso amor | | Tende piedade, Senhor | De nós, prontos a servir-nos das coisas, mas
lentos em servir os outros | | Tende piedade, Senhor | Do nosso mundo, infestado pelos túmulos do egoísmo | | Tende piedade, Senhor |
Invocação final (do nome de
Jesus, 14 vezes) Senhor, nós Vos suplicamos como
aqueles necessitados, frágeis e doentes do Evangelho que Vos invocavam com a
palavra mais simples e familiar, isto é, com o vosso nome. Jesus, o vosso nome salva, porque
Vós sois a nossa salvação. Jesus, sois a minha vida e, para
não perder o rumo no caminho, preciso de Vós, que perdoais e ergueis, que
curais o meu coração e dais sentido ao meu sofrimento. Jesus, tomastes sobre Vós o meu
mal e, da cruz, não me acusais, mas abraçais-me; Vós, manso e humilde de
coração, curai-me do rancor e do ressentimento, libertai-me da suspeita e da
desconfiança. Jesus, olho para Vós na cruz e
vejo escancarar-se diante dos meus olhos o amor, sentido do meu ser e meta do
meu caminho: ajudai-me a amar e a perdoar, a superar a impaciência e a
indiferença, a não me lamentar. Jesus, na cruz tivestes sede, e é
sede do meu amor e da minha oração; precisais disso para realizar plenamente
os vossos projetos de bem e de paz. Jesus, agradeço-Vos por todos
aqueles que respondem ao vosso convite e são perseverantes na oração, têm a
coragem de acreditar e a constância para avançar nas dificuldades. Jesus, apresento-Vos os pastores
do vosso povo santo: a sua oração sustenta o rebanho; que eles encontrem
tempo para estar diante de Vós, conformem o seu coração ao vosso. Jesus, bendigo-Vos pelas
contemplativas e os contemplativos, cuja oração, escondida do mundo e
agradável a vossos olhos, guarde a Igreja e a humanidade. Jesus, trago à vossa presença as
famílias e as pessoas que rezaram esta noite nas suas casas, os idosos,
especialmente os que estão sozinhos, os doentes, joias da Igreja que unem os
seus sofrimentos ao vosso. Jesus, que esta oração de
intercessão alcance as irmãs e os irmãos que, em muitas partes do mundo,
sofrem perseguições por causa do vosso nome; aqueles que sofrem o drama da
guerra e quantos, com a força que lhes vem de Vós, carregam cruzes pesadas. Jesus, com a vossa cruz fizestes
de todos nós um só: uni os crentes em comunhão, infundi sentimentos fraternos
e pacientes, ajudai-nos a colaborar e a caminhar juntos; guardai a Igreja e o
mundo na paz. Jesus, juiz santo que me
chamareis pelo nome, livrai-me dos juízos temerários, da crítica e das
palavras violentas e ofensivas. Jesus, antes de morrer dissestes
«tudo está consumado» (Jo 19,
30). Incompleto
como estou, não poderei dizer o mesmo; mas confio em Vós, porque sois a minha
esperança, a esperança da Igreja e do mundo. Jesus, quero dizer-Vos ainda uma
palavra e ficar repetindo-a: obrigado! Obrigado, meu Senhor e meu Deus. |