sábado, 26 de agosto de 2023

Tempo Comum - 2023 

As leituras de hoje centram-nos em duas realidades fundamentais da nossa fé: Jesus Cristo e a Igreja. Somos convidados a viver numa Igreja, centrada em Jesus Cristo, em que cada um tem a sua missão, estando sempre ao serviço da transmissão do Amor de Deus numa perspetiva de entrega e ajuda concreta a todo o que o Senhor coloca nos nossos caminhos.

Na 1ªleitura (Is 22, 19-23) as chaves “do poder” são entregues a Eliacim, que personifica Pedro, que vamos encontrar no evangelho. Ajuda-nos a percecionar que o poder é serviço de Amor, de comunhão e de relação total com Deus. Só assim valerá a pena servir, “ter o poder”, pois só o Amor de Deus preenche o coração de cada ser por Ele criado, tudo o mais é falível e efémero. 

“Eis o que diz o Senhor a Chebna, administrador do palácio: «Vou expulsar-te do teu cargo, remover-te do teu posto. E nesse mesmo dia chamarei o meu servo Eliacim, filho de Elcias. Hei de revesti-lo com a tua túnica, hei de pôr-lhe à cintura a tua faixa, entregar-lhe nas mãos os teus poderes. E ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá. Porei aos seus ombros a chave da casa de David: há de abrir, sem que ninguém possa fechar; há de fechar, sem que ninguém possa abrir. Fixá-lo-ei como uma estaca em lugar firme e ele será um trono de glória para a casa de seu pai».”

Na 2ª leitura (Rom 11, 33-36) S.Paulo, mais uma vez, leva-nos a contemplar Deus através de um hino lindíssimo.  Acompanhemos S.Paulo neste poema-oração. 

“Como é profunda a riqueza, a sabedoria e a ciência de Deus! Como são insondáveis os seus desígnios e incompreensíveis os seus caminhos! Quem conheceu o pensamento do Senhor? Quem foi o seu conselheiro? Quem Lhe deu primeiro, para que tenha de receber retribuição? D’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas. Glória a Deus para sempre. Ámen.”

O Evangelho (Mt 16, 13-20) convida-nos a escutar Jesus, a olhar bem para o mais íntimo do nosso ser e a responder, em verdade, às questões que nos põe: quem dizes tu que Eu sou?; o que represento Eu na tua vida?; que testemunho dás tu de Mim, no concreto do teu dia a dia?

“Naquele tempo, Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe e perguntou aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?». Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas». Jesus perguntou: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Jesus respondeu-lhe: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus. Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus». Então, Jesus ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que Ele era o Messias.”

Eu creio Senhor que é Jesus, o Filho de Deus Vivo, que ressuscitou dos mortos e vives em cada um de nós!

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste Domingo (cf. Mt 16, 13-20) apresenta o momento em que Pedro professa a sua fé em Jesus como Messias e Filho de Deus. Esta confissão do Apóstolo é provocada pelo próprio Jesus, que quer levar os seus discípulos a darem o passo decisivo na sua relação com ele. De facto, todo o caminho de Jesus com aqueles que o seguem, especialmente com os Doze, é um percurso de educação da sua fé. Antes de tudo Ele pergunta: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» (v. 13). Os apóstolos gostavam de falar sobre o povo, como todos nós fazemos. A bisbilhotice agrada-lhes. Falar dos outros não é muito exigente, é por isso que gostamos; também “esfolamos” os outros. Neste caso é exigida a perspetiva da fé e não o mexerico, ou seja, a pergunta: “Quem dizem os homens que eu sou?”. E os discípulos parecem competir no relato das diferentes opiniões, que talvez em grande medida eles próprios tenham partilhado. Eles próprios partilharam. Em síntese, Jesus de Nazaré foi considerado um profeta (v. 14).

Com a segunda pergunta, Jesus interpela-os diretamente: «Mas vós, quem dizeis que eu sou?» (v. 15). Neste ponto, parece que percebemos alguns momentos de silêncio, porque cada um dos presentes é chamado a pôr-se em questão, dizendo a razão porque segue Jesus; é por isso que uma certa hesitação é mais do que legítima. Se eu vos perguntasse agora: «Para vós, quem é Jesus?», haveria alguma hesitação. Simão salva a situação, declarando com ímpeto, «Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo» (v. 16). Esta resposta, tão plena e luminosa, não vem do seu impulso, por muito generoso que fosse - Pedro era generoso - mas é o fruto de uma graça especial do Pai celeste. De facto, o próprio Jesus diz-lhe: «Não foram a carne nem o sangue quem to revelaram - isto é, a cultura, o que estudaste – não, isto não te revelou. Quem to revelou foi o meu Pai que está nos céus» (cf. v. 17). Confessar Jesus é uma graça do Pai. Dizer que Jesus é o Filho de Deus vivo, que é o Redentor, é uma graça que devemos pedir: “Pai, dá-me a graça de confessar Jesus”. Ao mesmo tempo, o Senhor reconhece a reação imediata de Simão à inspiração da graça e depois acrescenta, num tom solene: «Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno nada poderão contra ela» (v. 18). Com esta declaração, Jesus faz Simão compreender o significado do novo nome que lhe deu, “Pedro”: a fé que acaba de manifestar é a “pedra” inabalável sobre a qual o Filho de Deus quer construir a sua Igreja, ou seja, a Comunidade. E a Igreja vai sempre em frente na fé de Pedro, nessa fé que Jesus reconhece [em Pedro] e faz dele cabeça da Igreja.

Hoje, ouvimos a pergunta de Jesus dirigida a cada um de nós: «E vós, quem dizeis que eu sou?». A cada um de nós. E cada um deve dar uma resposta que não seja teórica, mas que envolva fé, isto é, vida, porque fé é vida! “Para mim és...”, e dizer a confissão de Jesus. Uma resposta que também exige que nós, como os primeiros discípulos, ouçamos interiormente a voz do Pai e estejamos em harmonia com o que a Igreja, reunida à volta de Pedro, continua a proclamar. Trata-se de compreender quem  é  para nós Cristo: se Ele é o centro da nossa vida, se Ele  é o fim de todos os nossos compromissos na Igreja, do nosso compromisso na sociedade. Quem é Jesus Cristo para mim? Quem é Jesus Cristo para cada um de vós... Uma resposta que deveríamos dar todos os dias.

Mas cuidado: é indispensável e louvável que a pastoral das nossas comunidades esteja aberta às muitas pobrezas e emergências que existem por toda a parte. A caridade é sempre a via mestra do caminho de fé, da perfeição da fé. Mas é necessário que as obras de solidariedade, as obras de caridade que fazemos, não distraiam do contacto com o Senhor Jesus. A caridade cristã não é uma simples filantropia mas, por um lado, consiste em olhar para o outro com os próprios olhos de Jesus e, por outro, em ver Jesus no rosto do pobre. Este é o verdadeiro caminho da caridade cristã, com Jesus no centro, sempre. Maria Santíssima, bem-aventurada porque acreditou, seja a nossa guia e modelo no caminho da fé em Cristo, e nos torne conscientes de que a confiança n'Ele dá pleno significado à nossa caridade e a toda a nossa existência

 Papa Francisco

(Angelus, 23 de janeiro de 2020)

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

 Tempo Comum - 2023

As leituras de hoje conduzem-nos pelos caminhos da universalidade do amor de Deus. Ainda que tenha começado no povo eleito, o destino final, do Seu Amor infinito, são todos os que O acolhem de coração sincero, independentemente da sua raça, país, ou época histórica.

Na 1ªleitura (I 56, 1.6-7) , Isaías vem em nosso socorro, os gentios, e traz-nos a garantia de que, se tivermos fé, Deus também veio para nós, aliás, veio para todos os povos:

«Quanto aos estrangeiros que desejam unir-se ao Senhor para O servirem, para amarem o seu nome e serem seus servos, se guardarem o sábado, sem o profanarem, se forem fiéis à minha aliança, hei de conduzi-los ao meu santo monte, hei de enchê-los de alegria na minha casa de oração. Os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceites no meu altar, porque a minha casa será chamada 'casa de oração para todos os povos'»

Na 2ªleitura (Rom 11, 13-15.29-32) S.Paulo, por graça de Deus, apóstolo dos gentios, abre-nos uma perspetiva muito interessante, pois se foi pela recusa do povo eleito que todos beneficiámos do anúncio privilegiado da Ressureição de Jesus, quem sabe se não será, através dos gentios, que os judeus chegarão a acreditar que Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus, que veio ao mundo para salvar toda a humanidade.

“Irmãos: É a vós, os gentios, que eu falo: Enquanto eu for Apóstolo dos gentios, procurarei prestigiar o meu ministério a ver se provoco o ciúme dos homens da minha raça e salvo alguns deles. Porque, se da sua rejeição resultou a reconciliação do mundo, o que será a sua reintegração senão uma ressurreição de entre os mortos? Porque os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis. Vós fostes outrora desobedientes a Deus e agora alcançastes misericórdia, devido à desobediência dos judeus. Assim também eles desobedecem agora, de modo que, devido à misericórdia obtida por vós, também eles agora alcancem misericórdia. Efetivamente, Deus encerrou a todos na desobediência, para usar de misericórdia para com todos.”

No Evangelho de hoje (Mt 15, 21-28 ), primeiro estranhamos a forma como Jesus responde ao pedido da mulher cananeia, mas depois percebemos que foi a forma mais bonita e, ao mesmo tempo, pedagógica de realçar a força da fé daquela mãe. Que testemunho de fé impressionante!


“Naquele tempo, Jesus retirou-Se para os lados de Tiro e Sidónia. Então, uma mulher cananeia, vinda daqueles arredores, começou a gritar: «Senhor, Filho de David, tem compaixão de mim. Minha filha está cruelmente atormentada por um demónio». Mas Jesus não lhe respondeu uma palavra. Os discípulos aproximaram-se e pediram-Lhe: «Atende-a, porque ela vem a gritar atrás de nós». Jesus respondeu: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel». Mas a mulher veio prostrar-se diante d’Ele, dizendo: «Socorre-me, Senhor». Ele respondeu: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos». Mas ela insistiu: «É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos». Então Jesus respondeu-lhe: «Mulher, é grande a tua fé. Faça-se como desejas». E, a partir daquele momento, a sua filha ficou curada.” 

Eu creio em ti Senhor, mas aumenta a minha pouca fé.

Diz-nos o Papa Francisco: "O Senhor coloca nossa fé ‘à prova’. Aquela humilde mulher é indicada por Jesus como um exemplo de fé inquebrantável. A sua insistência em invocar a ação de Cristo é para nós um estímulo a não nos desencorajarmos, a não nos desesperarmos quando formos oprimidos pelas duras provas da vida. O Senhor não vira para o outro lado quando vê as nossas necessidades e, se por vezes pode parecer insensível aos nossos pedidos de ajuda, é para nos colocar à prova e fortalecer a nossa fé”.

O Papa acrescentou que este episódio evangélico “nos ajuda a entender que todos precisamos de crescer na fé e de fortalecer a nossa confiança em Jesus”.

“Ele pode ajudar-nos a encontrar a direção quando perdemos a bússola de nosso caminho; quando a estrada diante de nós não é mais tão plana, mas áspera e árdua; quando é cansativo ser fiel aos nossos compromissos. É importante alimentar todos os dias a nossa fé, com a escuta atenta da Palavra de Deus, com a celebração dos Sacramentos, com a oração pessoal como um ‘grito’ para Ele, e com atos concretos de caridade com o próximo”.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

 SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA

Hoje, a Igreja canta o amor imenso de Deus por Nossa Senhora, escolhida, por Deus, como verdadeira «arca da aliança», como Aquela que continua a gerar e a oferecer Cristo Salvador à humanidade. Ao mesmo tempo, convida-nos a sermos também, cada um de nós, «arca» em que está presente a Palavra de Deus, que deve chegar a todos os que, de uma forma, ou de outra, privam, convivem  connosco.

Na partilha relativa à 1ª leitura (Ap 11, 19a; 12, 1-6a.10ab) vou recorrer a S.João Damasceno, que afirma, numa das suas famosas homilias, o seguinte: «Hoje, a santa e única Virgem é conduzida para o templo celeste… Hoje, a arca sagrada e animada do Deus Vivo, [a arca] que trouxe no seu seio o próprio Artífice, descansa no templo do Senhor, não construído por mãos humanas» (Homilia ii sobre a Dormição, 2, PG 96, 723), e continua: «Era necessário que Aquela que tinha hospedado no seu ventre o Logos divino, se transferisse para os tabernáculos do seu Filho... Era preciso que a Esposa escolhida pelo Pai, habitasse no quarto nupcial do Céu» (Ibid., 14, PG 96, 742). Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós.

“O templo de Deus abriu-se no Céu e a arca da aliança foi vista no seu templo. Apareceu no Céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça. Estava para ser mãe e gritava com as dores e ânsias da maternidade. E apareceu no Céu outro sinal: um enorme dragão cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e nas cabeças sete diademas. A cauda arrastava um terço das estrelas do céu e lançou-as sobre a terra. O dragão colocou-se diante da mulher que estava para ser mãe, para lhe devorar o filho, logo que nascesse. Ela teve um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. O filho foi levado para junto de Deus e do seu trono e a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar. E ouvi uma voz poderosa que clamava no Céu: «Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e o domínio do seu Ungido». 

Na 2ª leitura (1 Cor 15, 20-27) S.Paulo centra-nos no fundamento da fé que professamos: Jesus venceu a morte, está vivo no meio de nós, ressuscitou. Depois de nos relembrar que Jesus foi o primeiro a ressuscitar dos mortos, assegura que n'Ele todos ressuscitaremos, um dia. A Assunção também pré-anuncia a ressurreição de cada um de nós.

“Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. Depois será o fim, quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai depois de ter aniquilado toda a soberania, autoridade e poder. É necessário que Ele reine, até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. E o último inimigo a ser aniquilado é a morte, porque Deus tudo colocou debaixo dos seus pés. Mas quando se diz que tudo Lhe está submetido é claro que se excetua Aquele que Lhe submeteu todas as coisas.”


No evangelho (Lc 1, 39-56) S. Lucas ressalta a disponibilidade de Maria. Depois de dar o SIM a Deus, Nossa Senhora, apesar de grávida, põe-se a caminho, sujeita às vicissitudes de uma viagem longa e difícil, para ajudar a sua prima Isabel. Esta é a solicitude dos que vivem de Deus e Nossa Senhora, escolhida e preservada do pecado, é o verdadeiro exemplo a seguir. Outra maravilha deste evangelho é o Magnificat que ouvimos Nossa Senhora a entoar. É, sem dúvida, um dos mais belos cânticos, de louvor a Deus, que há na Igreja. 

“Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor». Maria disse então: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre». Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses e depois regressou a sua casa.”

sábado, 12 de agosto de 2023

 Tempo Comum - 2023

As leituras de hoje são um apelo a percebermos a presença, as manifestações de Deus na nossa vida e, ao mesmo tempo, colocam-nos o desafio de confiarmos totalmente em Jesus, de humildemente pedirmos ajuda e de aceitarmos “a mão” que nos estende sempre, mesmo antes de gritarmos por socorro, mas tendo já o desejo d’Ele no coração.

A 1ªleitura (1 Reis 19, 9a.11-13a)  é um convite, muito belo, que Deus nos faz, para estarmos atentos às diferentes formas de Ele se nos revelar, nas várias circunstâncias da vida, boas, e más, através do e dos que põe no nosso caminho. Aprendamos com Elias e permaneçamos à espera do Senhor, na certeza, porém, de que Ele já veio e está vivo no meio de nós. Escutemo-Lo com os olhos do coração. 

“Diante d’Ele, uma forte rajada de vento fendia as montanhas e quebrava os rochedos; mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento, sentiu-se um terramoto; mas o Senhor não estava no terramoto. Depois do terramoto, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo, ouviu-se uma ligeira brisa. Quando a ouviu, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e ficou à entrada da gruta.”

S.Paulo, na 2ª leitura de hoje (Rom 9, 1-5), mostra, mais uma vez, como o seu zelo é anunciar Jesus Cristo, o Filho de Deus, a todos os homens. Começando pelo seu próprio povo, o povo escolhido, que rejeita o anúncio, sai da sua terra e nada o detém. Percorre montes e vales, distâncias curtas e longas, atravessa mares e rios, é ameaçado, perseguido, mas continua sempre com a sua missão: Anunciar Jesus Ressuscitado a todos os povos. Impressionante a força apostólica do Apóstolo dos gentios. 

“Irmãos: Em Cristo digo a verdade, não minto, e disso me dá testemunho a consciência no Espírito Santo. Sinto uma grande tristeza e uma dor contínua no meu coração. Quisera eu próprio ser anátema, separado de Cristo para bem dos meus irmãos, que são do mesmo sangue que eu, que são israelitas, a quem pertencem a adoção filial, a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas, a quem pertencem os Patriarcas e de quem procede Cristo segundo a carne, Ele que está acima de todas as coisas, Deus bendito por todos os séculos. Ámen.”

 
No Evangelho (Mt 14, 22-33) Mateus  coloca, perante os nossos olhos, Jesus a descer do monte, depois de estar, mais intimamente, em comunhão com o Pai, para se encontrar com os discípulos, que sozinhos, na barca, com o mar revolto, se sentem um pouco perdidos. É aí, no meio da tempestade, que Jesus se lhes revela como Aquele que ama sempre e está atento ao ritmo do caminhar de cada um, abrindo janelas de oportunidade a todo o coração que se lhe entrega, mas segurando, amparando, amando, talvez mais ainda, quando a dúvida gera a desconfiança e nos sentimos a afundar. Também é aí, no meio das dificuldades e das tristezas da vida, dos medos, das angústias, mas também das alegrias, que Jesus se encontra connosco. Ele nunca nos abandona. Tenhamos a coragem de S.Pedro e deixemos que o Senhor Jesus nos liberte dos “medos” e nos conduza à verdadeira Vida. 

"Depois de ter saciado a fome à multidão, Jesus obrigou os discípulos a subir para o barco e a esperá-l’O na outra margem, enquanto Ele despedia a multidão. Logo que a despediu, subiu a um monte, para orar a sós. Ao cair da tarde, estava ali sozinho. O barco ia já no meio do mar, açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. Os discípulos, vendo-O a caminhar sobre o mar, assustaram-se, pensando que fosse um fantasma. E gritaram cheios de medo. Mas logo Jesus lhes dirigiu a palavra, dizendo: «Tende confiança. Sou Eu. Não temais». Respondeu-Lhe Pedro: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas». «Vem!» – disse Jesus. Então, Pedro desceu do barco e caminhou sobre as águas, para ir ter com Jesus. Mas, sentindo a violência do vento e começando a afundar-se, gritou: «Salva-me, Senhor!». Jesus estendeu-lhe logo a mão e segurou-o. Depois disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?». Logo que subiram para o barco, o vento amainou. Então, os que estavam no barco prostraram-se diante de Jesus, e disseram-Lhe: «Tu és verdadeiramente o Filho de Deus»."

Senhor, estende a Tua mão e segura-me, como fizeste com S.Pedro. Salva-me, Senhor.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje a página do Evangelho (Mt 14, 22-33) descreve o episódio de Jesus que, depois de ter rezado a noite inteira à margem do lago da Galileia, se dirige à barca dos seus discípulos, caminhando sobre as águas. A barca encontra-se no meio do lago, bloqueada por um forte vento contrário. Quando veem Jesus a caminhar sobre as águas, os discípulos confundem-no com um fantasma e sentem medo. Mas ele tranquiliza-os: «Tranquilizai-vos, sou eu; não temais!» (v. 27). Pedro, com o seu ímpeto caraterístico, diz-lhe: «Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas»; e Jesus chama-o «Vem» (vv. 28-29). Descendo da barca Pedro caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus; mas sentindo a violência do vento teve medo, começou a afundar e gritou: «Salva-me, Senhor!». Jesus estendeu-lhe a mão e segurou-o (vv. 30-31).

Esta narração do Evangelho contém um simbolismo rico e faz-nos refletir sobre a nossa fé, quer como indivíduos quer como comunidade eclesial, também a fé de todos nós que estamos aqui hoje na Praça. A comunidade, esta comunidade eclesial, tem fé? Como é a fé em cada um de nós e a fé da nossa comunidade? A barca é a vida de cada um de nós mas é também a vida da Igreja; o vento contrário representa as dificuldades e as provações. A invocação de Pedro: «Senhor, manda-me ir ter contigo!» e o seu grito: «Salva-me, Senhor!» assemelham-se ao nosso desejo de sentir a proximidade do Senhor, mas também o medo e a angústia que acompanham os momentos mais difíceis da nossa vida e das nossas comunidades, marcadas por fragilidades internas e dificuldades externas.

Naquele momento a Pedro não foi suficiente a palavra segura de Jesus, que era como uma corda estendida na qual segurar-se para enfrentar as águas hostis e turbulentas. Isto pode-nos acontecer também a nós. Quando não nos agarramos à palavra do Senhor, para ter mais segurança consultamos horóscopos e cartomantes, começamos a afundar. Significa que a fé não é tão firme. O Evangelho de hoje recorda-nos que a fé no Senhor e na sua palavra não nos abre um caminho onde tudo é fácil e tranquilo; não nos livra das tempestades da vida. A fé oferece-nos a segurança de uma Presença, a presença de Jesus, que nos impele a superar os temporais existenciais, a certeza de uma mão que nos segura a fim de nos ajudar a enfrentar as dificuldades, indicando-nos a estrada inclusive quando está escuro. A fé não é um subterfúgio para os problemas da vida mas apoia no caminho, dando-lhe sentido.

Este episódio é uma imagem maravilhosa da realidade da Igreja de todos os tempos: uma barca que, ao longo da travessia, deve enfrentar até ventos contrários e tempestades, que ameaçam virá-la. O que a salva não são a coragem nem as qualidades dos seus homens: a garantia contra o naufrágio é a fé em Cristo e na sua palavra. Esta é a garantia: a fé em Jesus e na sua palavra. Dentro desta barca estamos em segurança, não obstante as nossas misérias e fragilidades, sobretudo quando nos pomos de joelhos e adoramos o Senhor, como os discípulos que, no final, «se prostaram diante dele, dizendo: “És realmente o Filho de Deus!”» (v. 33). Que bonito dizer a Jesus esta frase: «És realmente o Filho de Deus!». Digamos todos juntos? «És realmente o Filho de Deus!».

A Virgem Maria nos ajude a permanecer firmes na fé para resistir às tempestades da vida, a persistir na barca da Igreja refutando a tentação de subir nos barcos encantadores mas inseguros das ideologias, das modas e dos slogans.

Papa Francisco

(Angelus, 13 de agosto de 2017)

Papa Francisco na JMJ Lisboa 2023


sábado, 5 de agosto de 2023

  Tempo Comum - 2023

FESTA DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

Hoje, Jesus sobe ao monte Tabor e, perante os nossos olhos, entra em tal intimidade e comunhão com o Pai, que deixa transparecer o reino de Deus que O habita e manifesta todo o esplendor da Sua divindade, o que nos permite entender Deus a dizer-nos para escutarmos Jesus, o Seu Filho muito amado. É esta a proposta de salvação que Deus nos traz, na liturgia de hoje. Abramos o nosso coração, deixemo-nos fazer pela Palavra de Deus, Jesus Cristo ressuscitado, vivo no meio de nós, para que o Amor infinito de Deus possa ser “conhecido” por todos as suas criaturas. 

Na 1ª leitura (Dn 7, 9-10.13-14), escutamos o profeta  Daniel numa passagem em que nos fala sobre a sua visão do “filho do homem”, o que nos remete automaticamente para Jesus. Este Jesus que se transfigura no cimo do monte é aquele que recebeu o poder a honra e a realeza. É aquele que se fez homem, mas está ao nível de Deus que tem na mão o fogo para julgar os poderes da terra que se opõem ao seu poder.

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"Estava eu a olhar, quando foram colocados tronos e um Ancião sentou-se. As suas vestes eram brancas como a neve e os cabelos como a lã pura. O seu trono eram chamas de fogo, com rodas de lume vivo. Um rio de fogo corria, irrompendo diante dele. Milhares de milhares o serviam e miríades de miríades o assistiam. O tribunal abriu a sessão e os livros foram abertos. Contemplava eu as visões da noite, quando, sobre as nuvens do céu, veio alguém semelhante a um filho do homem. Dirigiu-Se para o Ancião venerável e conduziram-no à sua presença. Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos e nações O serviram. O seu poder é eterno, que nunca passará, e o seu reino jamais será destruído."

Na 2ªleitura (2Pd 1, 16-19)  recebemos o testemunho daqueles que viram, ouviram e conviverem diretamente com Jesus Cristo. O seu testemunho revela que esse Jesus em quem acreditamos está acreditado junto de Deus e a sua palavra é confirmada pelos profetas, Moisés e Elias. “Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro”, diz S. João no seu Evangelho (19, 35), ele que esteve com Pedro no cimo do monte.  Fica mesmo muito claro que recebemos a verdade e não fantasias. É nesta verdade que encontramos a luz que nos ilumina até que chegue o dia do Senhor.

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"Caríssimos: Não foi seguindo fábulas ilusórias que vos fizemos conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. Porque Ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da sublime glória de Deus veio esta voz: «Este é o meu Filho muito amado, em quem pus toda a minha complacência». Nós ouvimos esta voz vinda do céu, quando estávamos com Ele no monte santo. Assim temos bem confirmada a palavra dos Profetas, à qual fazeis bem em prestar atenção, como a uma lâmpada que brilha em lugar escuro, até que desponte o dia e nasça em vossos corações a estrela da manhã."

No evangelho (Mt 17, 1-9) S. Mateus insere-nos neste mistério de Cristo que, sendo homem é também Filho de Deus. Aquele que afirma «O Filho do Homem tem que ser entregue nas mãos dos homens, que o matarão; mas, ao terceiro dia, ressuscitará» é o mesmo que agora se mostra aos nossos olhos em todo o esplendor da sua divindade, como se mostrará de novo, mais tarde, já vencedor da morte. O Filho do Homem é o Filho de Deus, o que morre na cruz é o que já existia em Deus desde sempre e o que ressuscita é o que suspirou na cruz por aqueles que o mataram. A força deste acontecimento presenciado pelos três discípulos é reveladora do poder de Deus que desde sempre se interessou pelos homens, os chamou, reuniu na grande assembleia do Sinai, deu-lhes uma lei, edificou-os na esperança, através das promessas anunciadas pelos profetas, e agora realiza tudo por meio de seu Filho Jesus Cristo. É neste mistério de Cristo que nós acreditamos e este mistério manifesta-se a cada um de nós numa experiência única, semelhante à dos discípulos, porque como eles também nós somos envolvidos na mesma luz de Cristo ressuscitado.

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"Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João seu irmão e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e assustaram-se muito. Então Jesus aproximou-se e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos»."

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Neste domingo, a liturgia celebra a festa da Transfiguração do Senhor. A página evangélica de hoje narra que os apóstolos Pedro, Tiago e João foram testemunhas deste acontecimento extraordinário. Jesus levou-os consigo «e conduziu-os em particular a um alto monte» (Mt 17, 1) e, enquanto rezava, o seu rosto mudou de aspeto, brilhando como o sol, e as suas vestes tornaram-se cândidas como a luz. Apareceram então Moisés e Elias, e entraram em diálogo com Ele. A este ponto, Pedro disse a Jesus: «Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias» (v. 4). Ainda não tinha acabado de falar, quando uma nuvem luminosa os cobriu.

O evento da Transfiguração do Senhor oferece-nos uma mensagem de esperança — assim seremos nós, com Ele — convida-nos a encontrar Jesus, para estar ao serviço dos irmãos.

A subida dos discípulos ao monte Tabor leva-nos a refletir acerca da importância de nos desapegarmos das coisas mundanas, a fim de fazer um caminho rumo ao alto e contemplar Jesus. Trata-se de nos pormos à escuta atenta e orante de Cristo, o Filho amado do Pai, procurando momentos de oração que permitem o acolhimento dócil e jubiloso da Palavra de Deus. Nesta ascensão espiritual, neste afastamento das coisas mundanas, somos chamados a redescobrir o silêncio pacificador e regenerante da meditação do Evangelho, da leitura da Bíblia, que leva rumo a uma meta rica de beleza, de esplendor e de alegria. E quando nos pomos assim, com a Bíblia na mão, em silêncio, começamos a sentir esta beleza interior, esta alegria que a palavra de Deus gera em nós. Nesta perspetiva, o tempo de verão é um momento providencial para aumentar o nosso compromisso de busca e de encontro com o Senhor. Neste período, os estudantes estão livres dos compromissos escolares e muitas famílias fazem as suas férias; é importante que no período do repouso e da pausa das ocupações diárias, se possam retemperar as forças do corpo e do espírito, aprofundando o caminho espiritual.

No final da admirável experiência da Transfiguração, os discípulos desceram do monte (cf. v. 9) com os olhos e o coração transfigurados pelo encontro com o Senhor. É o percurso que podemos realizar também nós. A redescoberta cada vez mais viva de Jesus não constitui um fim em si, mas induz-nos a «descer do monte», restaurados pela força do Espírito divino, para decidir novos passos de conversão e para testemunhar constantemente a caridade, como lei de vida diária. Transformados pela presença de Cristo e pelo fervor da sua palavra, seremos sinal concreto do amor vivificador de Deus por todos os nossos irmãos, sobretudo por quem sofre, por quantos se encontram na solidão e no abandono, pelos doentes e pela multidão de homens e mulheres que, em diversas partes do mundo, são humilhados pela injustiça, pela prepotência e pela violência.

Na Transfiguração ouve-se a voz do Pai que diz: «Este é o meu Filho muito amado. Ouvi-o!» (v. 5)Olhemos para Maria, a Virgem da escuta, sempre pronta para acolher e guardar no coração cada palavra do Filho divino (cf. Lc 1, 51). Queira a nossa Mãe e Mãe de Deus ajudar-nos a entrar em sintonia com a Palavra de Deus, de modo que Cristo se torne luz e guia de toda a nossa vida. A Ela confiemos as férias de todos, para que sejam serenas e proveitosas, mas sobretudo o verão de quantos não podem ir de férias porque a idade não permite, por motivos de saúde ou de trabalho, por dificuldades económicas ou por outros problemas, a fim de que seja contudo um tempo de distensão, alegrado por presenças amigas e por momentos felizes.

Papa Francisco

(Angelus,6 de agosto de 2017)