QUARESMA PASSO A PASSO - 2023
Segunda-feira V – dia 29 –27/03/2023
Evangelho Jo 8, 1-11
«Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra»;
«Também Eu não te condeno. Vai e não tornes a pecar».
Jesus vive uma situação instável. Não pode
andar abertamente entre o povo. Ele aparece e desaparece. Foi para o Monte das
Oliveiras, mas de manhã apareceu de novo no Templo. Estava a ensinar. O seu
ensinamento nem sempre coincide com as ideias dos fariseus e dos chefes do
povo. Por isso é confrontado com situações reais às quais há que aplicar a lei.
Hoje é uma mulher apanhada em adultério que serve de pretexto para interrogar
Jesus. A Lei deve ser aplicada? É a questão. Como entende Jesus? Como vê ele a
situação da mulher perante a Lei? “Tu que dizes?” A resposta de Jesus é
decisiva “Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra”. Mas
esta resposta fere o coração, a alma e o orgulho dos acusadores. Perderam, mas
não ficaram vencidos e Jesus sabe disso. Vai ter que se confrontar com eles noutro momento, quando o condenarem a Ele por não ter condenado a mulher
adúltera.
"Naquele tempo, Jesus foi para o Monte das
Oliveiras. Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo e todo o povo se
aproximou d’Ele. Então sentou-Se e começou a ensinar. Os escribas e os fariseus
apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na no meio
dos presentes e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em
flagrante adultério. Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que
dizes?». Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O
acusar. Mas Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão. Como
persistiam em interrogá-l’O, Ele ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós
estiver sem pecado atire a primeira pedra». Inclinou-Se novamente e continuou a
escrever no chão. Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um
após outro, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que
estava no meio. Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém
te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Jesus acrescentou: «Também Eu
não te condeno. Vai e não tornes a pecar»."
Diante do mundo é fácil ficar do lado dos mais fortes, dos que falam mais alto e levantam os braços com mais força. Mas defender os humildes e os humilhados deste mundo é atitude reservada a homens especiais de elevada estatura. Jesus é o verdadeiro homem. Ele não fica do lado da força pela força, mas do lado da verdade pelo amor. Percebo, hoje, de modo especial que a sua condenação devia ter sido a minha condenação, a sua morte devia ter sido a minha morte. Ele entregou-se em meu lugar, para que vencesse o amor e não a lei.
Ninguém me condenou, Senhor. Muitos
olharam para mim de lado, alguns levantaram o dedo, outros quiseram erguer a
voz, mas ninguém teve força para me condenar porque me amaste e perdoaste antes
mesmo de eu ter pecado. Antes que todos vissem o meu pecado tu me amaste até ao
extremo de dares a vida em meu lugar. O teu amor venceu em mim e em todos. O
teu amor venceu no mundo e eu estou agradecido por isso.
«Deus não perdoa com um decreto mas com uma carícia». E com a misericórdia
«Jesus vai também além da lei e perdoa acariciando as feridas dos nossos
pecados». «As leituras de hoje — explicou o Pontífice — falam-nos do
adultério», que juntamente com a blasfémia e a idolatria era considerado «um
pecado gravíssimo na lei de Moisés», punido «com a pena de morte» por
lapidação. Com efeito, o adultério «vai contra a imagem de Deus, a fidelidade
de Deus», porque «o matrimónio é o símbolo, e também uma realidade humana, da
relação fiel de Deus com o seu povo». Assim, «quando se arruína o matrimónio
com um adultério, esta relação entre Deus e o seu povo é manchada». Naquela
época era considerado «um pecado grave» porque «se manchava precisamente o
símbolo da relação entre Deus e o povo, da fidelidade de Deus».
No trecho evangélico proposto na liturgia (Jo 8, 1-11), que
narra a história da mulher adúltera, «encontramos Jesus sentado ali, entre
tanta gente, e catequizava, ensinava». Depois, «aproximaram-se os escribas e os
fariseus com uma mulher que traziam à sua frente, talvez com as mãos amarradas,
podemos imaginar». E assim «colocaram-na no meio e acusaram-na: esta é uma
adúltera!». É uma «acusação pública». E narra o Evangelho, fizeram a pergunta a
Jesus: «Que devemos fazer com esta mulher?». O único objetivo deles era
«precisamente pôr à prova e armar uma cilada» a Jesus. Aliás, «talvez alguns
deles até fossem adúlteros».
Por seu lado, não obstante estivesse ali tanta gente, «Jesus queria
permanecer sozinho com a mulher, desejava falar ao seu coração: é o mais
importante para Jesus». E «o povo tinha ido embora lentamente» depois de ter
ouvido as suas palavras: “Se algum de vós estiver sem pecado, lance a primeira
pedra”. A mulher não se proclama vítima de «uma acusação falsa», não se defende
afirmando: «Eu não cometi adultério». Não, «ela reconhece o seu pecado» e
responde a Jesus: «Ninguém, Senhor, me condenou». Por sua vez, Jesus diz-lhe:
«Nem Eu te condeno...».
Assim «Jesus para usar misericórdia» vai além «da lei que prescrevia a
lapidação». A ponto que diz à mulher que vá em paz. «A misericórdia — explicou
o Papa — é algo que dificilmente se compreende: não anula os pecados», porque
quem o faz «é o perdão de Deus». Mas «a misericórdia é o modo como Deus
perdoa». Porque «Jesus podia dizer: mas Eu perdoo-te, vai! Como disse àquele
paralítico: os teus pecados estão perdoados!». Nesta situação «Jesus vai além»
e aconselha a mulher a «não voltar a pecar». E «aqui vê-se a atitude
misericordiosa de Jesus: defende o pecador dos inimigos, defende o pecador de
uma condenação justa». Isto, acrescentou Francisco, «é válido também para nós».
Com este estilo, concluiu o Papa, «Jesus é confessor». Não humilha a mulher
adúltera, «não lhe pergunta: que fizeste, quando o fizeste, como o fizeste e
com quem o fizeste?». Ao contrário, diz-lhe que «vá embora e que não volte e
pecar: é grande a misericórdia de Deus, é grande a misericórdia de Jesus:
perdoar-nos, acariciando-nos».
Papa Francisco
(Capela de Santa Marta, 7 de abril de 2014)
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