QUARESMA PASSO A PASSO - 2023
Quarta-feira III – dia 19 –15/03/2023
Evangelho Mt 5, 17-19
«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar.
Jesus apresenta-se diante dos homens como
uma novidade tão absoluta que muitos dos seus ouvintes e dos seus discípulos
julgam que ele vem alterar o que está na Lei e o que tinha sido anunciado pelos
profetas. Perante isto, Jesus tem a preocupação de lhes dizer que não é assim.
Ele é a última palavra de Deus aos homens. Ele é a Palavra do Pai que vem
esclarecer toda a palavra da Lei e dos profetas, mas não vem abolir nada do que
Deus tinha dito anteriormente.
"Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar,
mas completar. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra, não
passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se
cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos
que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas
aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus»."
Hoje sou convidado a desejar que se cumpra em mim toda a palavra de Deus. Nada se pode perder desta palavra que salva o meu coração atribulado com as preocupações da vida. Acolher a Palavra e pô-la em prática é acolher Jesus e ensiná-la aos outros é a garantia para entrar no Reino dos céus.
A tua palavra, Senhor, é o alimento para a
minha vida. Que se cumpra em mim toda a palavra que sai da tua boca. Que a
minha vida seja lugar onde a tua palavra germina e cresce, manifestando o poder
da salvação que ofereces a todos os homens. Ilumina o meu coração para que
deseje cada vez mais este alimento de vida eterna.
No Evangelho da liturgia de hoje Jesus
diz: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas: não vim revogá-la, mas
completá-la» (Mt 5, 17). Completar: esta é uma
palavra-chave para compreender Jesus e a sua mensagem. Mas o que significa
“completar”? Para o explicar, o Senhor começa por dizer o que não é completar.
A Escritura diz “não matarás”, mas para Jesus isto não é suficiente se depois
alguém ferir os irmãos com palavras; a Escritura diz “não cometerás adultério”,
mas isto não é suficiente se alguém viver um amor manchado pela duplicidade e
falsidade; a Escritura diz “não darás falso testemunho”, mas não é suficiente
fazer um juramento solene se alguém agir com hipocrisia (cf. Mt 5,
21-37). Assim, não é completar.
Para nos dar um exemplo concreto, Jesus
concentra-se no “rito do ofertório”. Ao fazer uma oferenda a Deus, retribui-se
a gratuidade dos seus dons. Era um rito muito importante - fazer uma oferta
para retribuir simbolicamente, digamos, a gratuidade dos seus dons - tão
importante que era proibido interrompê-lo exceto por motivos graves. Mas Jesus
afirma que é preciso interrompê-lo se um irmão tiver algo contra nós, para ir
primeiro reconciliar-se com ele (cf. vv. 23-24): só então se completa o
rito. A mensagem é clara: Deus ama-nos primeiro, gratuitamente, dando o
primeiro passo na nossa direção sem que o mereçamos; e depois não podemos
celebrar o seu amor sem, por nossa vez, dar o primeiro passo para nos
reconciliarmos com aqueles que nos feriram. Assim, há o completamento aos olhos
de Deus, caso contrário a observância externa, puramente ritual, é inútil,
torna-se uma farsa. Por outras palavras, Jesus faz-nos compreender que as
normas religiosas são úteis, são boas, mas são apenas o início: para as
completar, é necessário ir além da letra e viver o seu significado. Os
mandamentos que Deus nos deu não devem ser encerrados nos cofres asfixiados da
observância formal, caso contrário, permanecemos numa religiosidade externa e
desapegada, servos de um “deus-patrão” e não filhos de Deus Pai. Jesus quer
isto: não ter a ideia de servir um Deus patrão, mas o Pai; e para isso é
necessário ir além da letra.
Irmãos e irmãs, este problema não
existia apenas no tempo de Jesus, existe também hoje. Às vezes, por exemplo,
ouvimos: “Padre, eu não matei, não roubei, não fiz mal a ninguém...”, como se
dissesse: “Estou bem”. Eis a observância formal, que se contenta com o mínimo
indispensável, enquanto Jesus nos convida ao máximo possível.
Isto é, Deus não raciocina por cálculos nem tabelas; Ele ama-nos como um apaixonado:
não ao mínimo, mas ao máximo! Não nos diz: “Amo-te até a um certo ponto”. Não,
o amor verdadeiro nunca chega a um certo ponto e nunca se sente perfeito; o
amor vai sempre mais além, não pode fazer diferentemente. O Senhor mostrou-nos
isto ao dar a vida na cruz e perdoando os seus assassinos (cf. Lc 23,
34). E confiou-nos o mandamento que lhe é mais querido: que nos amemos uns aos
outros como Ele nos amou (cf. Jo 15, 12).
Este é o amor que completa a Lei, a fé, a vida verdadeira!
Então, irmãos e irmãs, podemos
perguntar-nos: como vivo a fé? É uma questão de cálculos, de formalismos, ou é
uma história de amor com Deus? Contento-me apenas em não fazer mal, em manter
“a fachada”, ou procuro crescer no amor a Deus e ao próximo? E, de vez em
quando, verifico-me sobre o grande mandamento de Jesus, pergunto a mim mesmo se
amo o meu próximo como Ele me ama? Pois talvez sejamos inflexíveis no
julgamento dos outros e nos esqueçamos de ser misericordiosos, como é Deus para
connosco.
Que Maria, a qual observou perfeitamente a Palavra de Deus, nos ajude a cumprir a nossa fé e a nossa caridade.
PAPA FRANCISCO
(ANGELUS- 12 de fevereiro de 2023)
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