DOMINGO VII DA PÁSCOA
ASCENSÃO DO
SENHOR
As leituras do Domingo da Ascensão centram-nos, ao
mesmo tempo, em duas realidades diferentes: por um lado somos convidados a
contemplar a subida de Jesus aos céus, é o momento da partida, da separação;
mas, por outro lado, porque Jesus foi preparando a Sua subida para o Pai,
damo-nos conta de um movimento, de um impulso, para sairmos de nós próprios e,
conscientes de que Ele continua connosco, “partirmos”, em conjunto com os
apóstolos, a anunciar o amor de Deus a todos aqueles que, nos nossos caminhos,
O procuram de coração sincero.
Na 1ªleitura (Atos 1, 1-11) também
nós escutamos a pergunta feita pelos dois homens vestidos de
branco: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus,
que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir
para o Céu». E, porque os Apóstolos continuaram a missão que Jesus lhes confiou
e, assim, a Boa Nova de Jesus Ressuscitado, por nosso amor, chegou até nós,
homens e mulheres do séc.XXI, recebemos, naquela refeição, mas também em
cada eucaristia em que participamos, as palavras de Jesus como
missão também dirigida a cada um de nós, hoje e sempre: «mas recebereis a força
do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em
Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Que na
nossa vida quotidiana sejamos testemunhas do Amor de Deus!
“No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus. Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, «da qual – disse Ele – Me ouvistes falar. Na verdade, João batizou com água; vós, porém, sereis batizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?». Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a Sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».”
Na 2ªleitura (Ef 1, 17-23) S.Paulo relembra-nos
a imensa graça que temos pelo facto de sermos crentes, de termos fé e o
Espírito Santo nos habitar. E, quando nos reconhecemos assim amados por Deus,
todo o nosso ser exclama e agradece, desejando que as outras pessoas, principalmente
aquelas que conhecemos, na família, no trabalho, na nossa rua, ou que,
ocasionalmente, se cruzam connosco, se sintam também assim, verdadeira e
infinitamente amadas por Deus, tal qual são.
“Irmãos: O Deus de Nosso Senhor
Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de
revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração,
para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da
sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós
os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo,
que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo
o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é
pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há de vir. Tudo
submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a
Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.”
No Evangelho (Mc 16, 15-20) recebemos
de Jesus a missão de levar o Evangelho a todo o lugar onde estivermos e/ou por onde andarmos. Não
podemos deixar de o fazer, pois todos têm o direito a ser felizes, a conhecerem
o quanto Deus os ama. Façamos a nossa parte.
“Naquele tempo, Jesus apareceu
aos Onze e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a
criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será
condenado. Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os
demónios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem
veneno, não sofrerão nenhum mal; e quando impuserem as mãos sobre os doentes,
eles ficarão curados». E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles,
foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles partiram a pregar por
toda a parte e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os
milagres que a acompanhavam.”
Envia Senhor sobre mim o Teu Santo
Espírito, para que, sob a Sua ação, eu seja Tua testemunha, por onde quer que
ande.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, em
Itália e em muitos outros países, celebra-se a solenidade da Ascensão do
Senhor. Esta festa inclui dois elementos. Por um lado, orienta o nosso olhar
para o céu, onde Jesus glorificado está sentado à direita de Deus (cf. Mc 16,
19). Por outro, recorda-nos o início da missão da
Igreja: porquê? Porque Jesus ressuscitado e elevado ao céu envia os seus
discípulos a difundir o Evangelho por todo o mundo. Portanto, a Ascensão
exorta-nos a elevar o olhar para o céu, para o dirigir logo a seguir para a
terra, cumprindo as tarefas que o Senhor ressuscitado nos confia.
Eis quanto nos
convida a fazer a página evangélica hodierna, na qual o evento da Ascensão vem
imediatamente depois da missão que Jesus confia aos discípulos. Trata-se de uma
missão incomensurável — ou seja, literalmente sem confins — que supera as
forças humanas. Com efeito, Jesus diz: «Ide por todo o mundo e pregai o
Evangelho a toda criatura» (Mc 16, 15). Parece
deveras demasiado audaz a missão que Jesus confia a um pequeno grupo de homens
simples e sem grandes capacidades intelectuais! Contudo, esta restrita
companhia, irrelevante diante das grandes potências do mundo, é enviada para
levar a mensagem de amor e de misericórdia de Jesus a todos os recantos da
terra.
Mas este
projeto de Deus só pode ser realizado com a força que o próprio Deus concede
aos Apóstolo. Neste sentido, Jesus garante-lhes que a sua missão será apoiada
pelo Espírito Santo. Diz: «descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força;
e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até aos
confins do mundo» (At 1, 8). Por
conseguinte, foi possível realizar esta missão, e os Apóstolos deram início a
esta obra, que depois foi continuada pelos seus sucessores. A missão confiada
por Jesus aos Apóstolos prosseguiu através dos séculos, e prossegue ainda hoje:
ela exige a colaboração de todos nós. Com efeito, cada um de nós, em virtude do
Batismo que recebeu, está habilitado por sua vez a anunciar o Evangelho. É
precisamente o batismo que habilita e também nos impele a ser missionários, que
anuncia o Evangelho.
A Ascensão do
Senhor ao céu, enquanto inaugura uma nova forma de presença de Jesus no meio de
nós, pede-nos para ter olhos e coração para o encontrar, para o servir e para o
testemunhar aos outros. Trata-se de ser homens e mulheres da Ascensão, ou seja,
buscadores de Cristo pelas sendas do nosso tempo, levando a sua palavra de
salvação até aos confins da terra. Neste itinerário, encontramos o próprio
Jesus nos irmãos, sobretudo nos mais pobres, em quantos sofrem na própria carne
a dura e mortificadora experiência de antigas e novas pobrezas. Assim como
inicialmente Cristo Ressuscitado enviou os seus apóstolos com a força do
Espírito Santo, também hoje Ele nos envia, com a mesma força para dar sinais
concretos e visíveis de esperança. Porque Jesus que nos dá a esperança, foi
elevado ao céu, abriu as portas do céu e a esperança que nós para lá iremos.
A Virgem Maria que, como Mãe do Senhor morto e ressuscitado, animou a fé da primeira comunidade dos discípulos, nos ajude também a manter «elevados os nossos corações», como a Liturgia nos exorta a fazer. E, ao mesmo tempo, nos ajude a ter “os pés no chão”, e a semear com coragem o Evangelho nas situações concretas da vida e da história.
Papa Francisco
( Regina Caeli, 13 de maio de 2018)