SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS - 2022
"A hodierna solenidade de Todos os Santos recorda-nos que todos somos
chamados à santidade. Os Santos e as Santas de todos os tempos, que hoje todos
nós celebramos juntos, não são simplesmente símbolos, seres humanos distantes,
inalcançáveis. Pelo contrário, são pessoas que viveram com os pés no chão;
experimentaram a fadiga diária da existência com os seus sucessos e fracassos,
encontrando no Senhor a força para se levantar sempre e continuar o caminho.
Daqui podemos compreender que a santidade é uma meta que não pode ser alcançada
apenas com as próprias forças, mas é o fruto da graça de Deus e da nossa
resposta livre. Portanto, a santidade é dom e chamamento.
Como graça de Deus, isto é, o seu dom, é algo que não podemos
comprar nem trocar, mas acolher, participando assim na mesma vida divina
através do Espírito Santo que habita em nós desde o dia do nosso Batismo. A
semente da santidade é precisamente o Batismo. Trata-se de amadurecer cada vez
mais a consciência de que estamos enxertados em Cristo, porque o ramo está
unido à videira, e por isso podemos e devemos viver com Ele e n'Ele como filhos
de Deus. Assim, a santidade é viver em plena comunhão com Deus, desde agora,
durante esta peregrinação terrena.
Mas a santidade, além de ser dom, é também chamamento, é
vocação comum de todos nós cristãos, dos discípulos de Cristo; é o caminho de
plenitude que cada cristão é chamado a percorrer na fé, caminhando para a meta
final: a comunhão definitiva com Deus na vida eterna. A santidade torna-se
assim uma resposta ao dom de Deus, porque se manifesta como uma assunção de
responsabilidade. Nesta perspetiva, é importante assumir um compromisso
quotidiano de santificação nas condições, deveres e circunstâncias da nossa
vida, procurando viver tudo com amor e caridade.
Os Santos que celebramos hoje na liturgia são irmãos e irmãs que admitiram
na sua vida que precisavam desta luz divina, abandonando-se a ela com
confiança. E agora, diante do trono de Deus (cf. Ap 7, 15),
cantam a sua glória para sempre. Eles constituem a “Cidade Santa”, para a qual
olhamos com esperança, como a nossa meta definitiva, enquanto somos peregrinos
nesta “cidade terrestre”. Caminhamos para aquela “cidade santa” onde estes
santos irmãos e irmãs nos esperam. É verdade, estamos cansados pela aspereza do
caminho, mas a esperança dá-nos a força para avançar. Olhando para a vida
deles, somos estimulados a imitá-los. Entre eles há muitas testemunhas de uma
santidade da porta ao lado, «daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo
da presença de Deus» (Exortação Apostólica Gaudete et exsultate,
7)."
Na 1ªleitura (Ap7,2-4.9-14), através da visão de fé de João, também a nós nos é dado encontrar Deus como Aquele que se consome de amor e ternura por cada um de nós. Ele caminha connosco no dia a dia desta vida atribulada sem nunca nos largar da Sua mão e, por Seu Filho Único, branqueia-nos e conduz-nos à salvação.
"Eu, João, vi um Anjo que
subia do Nascente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele clamou em alta voz aos
quatro Anjos a quem foi dado o poder de causar dano à terra e ao mar: «Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às
árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus». E ouvi o
número dos que foram marcados:cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. Depois
disto, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações,
tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do
Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. E clamavam em alta
voz: «A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro». Todos
os Anjos formavam círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres
Vivos. Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra, e adoraram a Deus,
dizendo: «Ámen! A bênção e a glória, a sabedoria e a ação de graças, a honra, o
poder e a força ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Ámen!». Um dos
Anciãos tomou a palavra e disse-me: «Esses que estão vestidos de túnicas
brancas, quem são e de onde vieram?». Eu respondi-lhe: «Meu Senhor, vós é que o
sabeis». Ele disse-me: «São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as
branquearam no sangue do Cordeiro»."
Na 2ªleitura (1Jo 3, 1-3) João convida-nos a ver muito para além da realidade humana, isto é, a vivermos na esperança, enquanto caminhamos no mundo, de que virá o dia em que Ele se vai manifestar e nós, purificados, seremos absorvidos pelo amor com que sempre nos amou.
"Caríssimos:Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de
Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a
Ele. Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que
havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos
semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é. Todo aquele que tem n’Ele
esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser puro, como Ele é puro."
No evangelho (Mt 5, 1-12a) Jesus, do alto do monte, apresenta-nos o Reino, como uma realidade feliz, uma boa notícia. É verdade que Jesus faz o contraponto entre o presente e o futuro, anuncia-nos um reino de gente feliz, com lágrimas, mas para todo aquele que alterar o seu comportamento e for construtor da justiça, da verdade e da paz a alegria brilhará, será chamado filho de Deus.
"Naquele tempo, ao ver as multidões,
Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a
ensiná-los, dizendo: «Bem- aventurados os pobres em espírito, porque deles é o
reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes,porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão
consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque
verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados
filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque
deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos
insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é
grande nos Céus a vossa recompensa»."
"Irmãos e irmãs, a memória dos Santos leva-nos a erguer os olhos para o Céu:
não para esquecer as realidades da terra, mas para as enfrentar com mais
coragem e mais esperança. Que Maria, nossa Mãe Santíssima, nos acompanhe com a
sua intercessão materna, sinal de consolação e de esperança segura."