QUARESMA PASSO A PASSO - 2023
Segunda-feira II – dia 11 –06/03/2023
Evangelho Lc 6, 36-38
«Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados.»
Jesus adverte os seus discípulos para uma
disciplina de vida. Quem quiser identificar-se com o coração do Pai tem que ser
misericordioso como Ele. O hábito da crítica condenatória não destrói apenas o
outro, mas volta-se contra nós, porque receberemos na medida do que dermos aos
outros. Por isso, Jesus aconselha a ser misericordioso, a perdoar e a repartir,
se queremos ser tratados com benevolência.
"Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: «Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não
julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai
e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á: deitar-vos-ão no regaço uma boa medida,
calcada, sacudida, a transbordar. A medida que usardes com os outros será usada
também convosco»."
“A mesma medida”, diz Jesus aos seus discípulos. A consciência de que recebo na medida em que dou e a partir daquilo que dou. Gasto a minha vida com críticas, julgamentos, condenações, receberei críticas, julgamentos e condenações. Gasto a minha vida a perdoar e a repartir, receberei perdão e verei as minhas mãos encherem-se de dádivas. Cem vezes mais promete Jesus e cem vezes mais posso eu experimentar na realidade.
Não me julgues, Senhor, pelos meus pecados. Não recordes as minhas faltas. Na minha miséria vem em meu auxílio com a Tua misericórdia e salva-me perdoando os meus pecados. Que eu possa estar na Tua presença com tranquilidade de coração, encontrar em Ti acolhimento e aprender de Ti que és manso e humilde de coração, sempre pronto a compadecer-Te de mim.
Avé-Maria cheia de
graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o
fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores
agora e na hora da nossa morte. Ámen.
(...)
Um bom educador vai ao essencial. Não se perde nos
pormenores, mas quer transmitir o que deveras conta para que o filho ou o aluno
encontre o sentido e a alegria de viver. É a verdade. E o essencial, segundo o
Evangelho, é a misericórdia. O essencial do Evangelho é a
misericórdia. Deus enviou o seu Filho, Deus fez-se homem para nos salvar, ou
seja, para nos dar a sua misericórdia. Jesus diz isto claramente, resumindo o
seu ensinamento para os discípulos: «Sede misericordiosos, como o vosso Pai é
misericordioso» (Lc 6, 36). Pode existir um cristão que não seja
misericordioso? Não. O cristão deve ser necessariamente misericordioso, porque
este é o centro do Evangelho. E fiel a este ensinamento, a Igreja não pode
deixar de repetir a mesma coisa aos seus filhos: «Sede misericordiosos», como o
vosso Pai, e como o foi Jesus. Misericórdia.
E então a Igreja comporta-se como Jesus. Não dá lições teóricas sobre o
amor, sobre a misericórdia. Não difunde no mundo uma filosofia, um caminho de
sabedoria... Certamente, o Cristianismo é também tudo isto, mas por
consequência, de reflexo. A mãe Igreja, como Jesus, ensina com o exemplo, e as
palavras servem para iluminar o significado dos seus gestos.
A mãe Igreja ensina-nos a dar de comer e de beber a quem tem fome e sede, a
vestir quem está nu. E como o faz? Com o exemplo de tantos santos e santas que
fizeram isto de modo exemplar; e também com o exemplo de tantíssimos pais e
mães, que ensinam aos seus filhos que o que nos sobeja a nós é para quem não tem o
necessário. É importante saber isto. Nas famílias cristãs mais simples sempre
foi sagrada a regra da hospitalidade: nunca falta um prato e um leito para quem
precisa. Certa vez uma mãe contou-me — na outra diocese — que queria ensinar
isto aos seus filhos e dizia-lhes que ajudassem e dessem de comer a quem tinha
fome; ela tinha três. E um dia ao almoço — o pai estava fora por trabalho,
estava ela com os três filhos, pequeninos, 7, 5, 4 anos mais ou menos — e batem
à porta: era um senhor que pedia de comer. E a mãe disse-lhes: «Espera um
momento». Entrou e disse aos filhos: «Está ali um senhor que pede de comer, que
fazemos?», «Damos-lhe, mãe, damos-lhe!». Cada um tinha no prato um bife com
batatas fritas. «Muito bem — disse a mãe — damos-lhe metade de cada um de vós».
«Ah, não, mãe, assim não está bem!». «É assim, tu deves dar do teu». E deste
modo, esta mãe ensinou aos seus filhos a dar de comer do próprio.
Este é um bonito exemplo que me ajudou muito. «Mas não me sobeja nada...». «Dá
do teu!». É assim que nos ensina a mãe Igreja. E vós, numerosas mães que estais
aqui, sabeis o que deveis fazer para ensinar aos vossos filhos para que
partilhem as suas coisas com quem tem necessidade.
A mãe Igreja ensina a estar próximos de quem é doente. Quantos santos e
santas serviram Jesus deste modo! E quantos homens e mulheres simples, todos os
dias, põem em prática esta obra de misericórdia num quarto de hospital, ou de
uma casa de repouso, ou na própria casa, assistindo uma pessoa doente.
A mãe Igreja ensina a estar próximo de quem está na prisão. «Mas, Padre,
não, este é perigoso, é gente má». Mas cada um de nós é capaz... Ouvi bem isto:
cada um de nós é capaz de fazer o mesmo que fez aquele homem ou aquela mulher
que está na prisão. Todos temos a capacidade de pecar e de fazer o mesmo, de
errar na vida. Não é mais maldoso do que tu e do que eu! A misericórdia supera
qualquer muro, qualquer barreira, e leva-te a procurar sempre o rosto do homem,
da pessoa. E é a misericórdia que muda o coração e a vida, que pode regenerar
uma pessoa e permitir que ela se insira de maneira nova na sociedade.
A mãe Igreja ensina a sermos próximos de quem está abandonado e morre
sozinho. Foi quanto fez a beata Teresa pelas estradas de Calcutá; e foi o que
fizeram tantos cristãos que não têm medo de apertar a mão a quem está para
deixar este mundo. E também aqui, a misericórdia doa a paz a quem parte e a
quem fica, fazendo-nos sentir que Deus é maior do que a morte, e que
permanecendo n’Ele também a última separação é um «adeus»... Tinha compreendido
bem isto a beata Teresa! Diziam-lhe: «Madre, isto é perder tempo!». Encontrava
pessoas moribundas pela estrada, pessoas às quais os ratos de rua começavam a
comer o corpo, e ela levava-as para casa para que morressem limpos, tranquilos,
acariciados, em paz. Ela dava-lhes o «adeus», a todas elas... E tantos homens e
mulheres como ela fizeram isto. E eles esperam-no, lá [indica o céu], à porta,
para lhes abrir a porta do Céu. Ajudar as pessoas a morrer bem, em paz.
Amados irmãos e irmãs, assim a Igreja é mãe, ensinando aos seus filhos as
obras de misericórdia. Ela aprendeu de Jesus este caminho, aprendeu que isto é
essencial para a salvação. Não basta amar quem nos ama. Jesus diz que os pagãos
o fazem. Não é suficiente fazer o bem a quem pratica connosco o bem. Para mudar
o mundo para melhor é preciso fazer bem a quem não é capaz de retribuir, como
fez o Pai connosco, dando-nos Jesus. Quanto pagámos pela nossa redenção? Nada,
tudo de graça! Fazer o bem sem esperar algo em troca. Assim fez o Pai connosco
e nós devemos fazer o mesmo. Pratica o bem e vai em frente!
Como é bonito viver na Igreja, na nossa mãe Igreja que nos ensina estas
coisas que Jesus nos ensinou. Agradeçamos ao Senhor, que nos concede a graça de
ter a Igreja como mãe, ela que nos ensina o caminho da misericórdia, que é o
caminho da vida. Agradeçamos ao Senhor.
PAPA FRANCISCO
(Audiência Geral - 10 de Setembro de 2014)
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