QUARESMA PASSO A PASSO - 2023
Semana V da Quaresma
Domingo V – 26/03/2023
EVANGELHO – Forma longa – Jo 11, 1-45
«Eu sou a ressurreição e a vida.»;
«Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá»;
«Todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá.»;
Acreditas nisto?»;
Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo».
Hoje, quinto Domingo da Quaresma, as leituras desafiam-nos a perscrutar até onde vai a nossa fé: Acredito mesmo que Jesus é a ressurreição e a vida? Acredito na ressurreição dos mortos? Acredito que a fé faz viver? Acredito que Jesus me pode ressuscitar a mim? É o próprio Jesus que nos interroga, como o fez com as irmãs de Lázaro, Marta e Maria. Deixemos que o Espírito Santo nos preencha por inteiro, a fim de também cada um de nós, ao seu jeito, dar a sua resposta a Jesus.
Na 1ª leitura, (Ez 37, 12-14) o profeta Ezequiel projeta-nos para a ressurreição, que vence a morte e nos dá a vida. Também nós, nos tempos que vivemos, pela ação do Espírito Santo, havemos de reconhecer o Senhor, que infunde em nós o Seu Espírito de Vida. Ele está connosco, sempre presente nas nossas vidas, esta é a certeza que a fé nos dá.
“Assim fala o Senhor Deus: «Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei
ressuscitar, ó meu povo, para vos reconduzir à terra de Israel. Haveis de
reconhecer que Eu sou o Senhor, quando abrir os vossos túmulos e deles vos
fizer ressuscitar, ó meu povo. Infundirei em vós o meu espírito e revivereis.
Hei de fixar-vos na vossa terra e reconhecereis que Eu, o Senhor, digo e faço».
Na 2ª leitura (Rom 8, 8-11) S.Paulo desafia-nos a deixarmo-nos habitar pelo Espírito Santo, a deixarmo-nos repassar pelo Amor sem fim, a deixarmo-nos amar por Deus, a entregarmo-nos de corpo e alma a Jesus Cristo ressuscitado.
“Irmãos: Os que vivem segundo a carne não podem agradar a
Deus. Vós não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito, se é que o
Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo,
não Lhe pertence. Se Cristo está em vós, embora o vosso corpo seja mortal por
causa do pecado, o espírito permanece vivo por causa da justiça. E se o
Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele,
que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos
corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós.”
O Evangelho (Jo 11, 1-45) é uma revelação profunda de Jesus homem e simultaneamente Deus. Não conseguimos separar estas duas naturezas de Jesus. É impossível! Mas, contemplando o homem, como o sentimos perto de nós, nestes dias. Ele tem amigos, emociona-se, chora porque sente como seu, o sofrimento deles. Mas, continuando a nossa contemplação, Jesus eleva-nos até Deus, levanta os olhos ao Céu e reza ao Pai. Dessa comunhão íntima vemos Deus a agir, a dar a vida e a libertar. Jesus, eu creio que és o Filho de Deus, que estás vivo e ressuscitado e que continuas a dar-nos a Vida e a libertar-nos da morte.
“Naquele tempo, estava doente certo
homem, Lázaro de Betânia, aldeia de Marta e de Maria, sua irmã. Maria era
aquela que tinha ungido o Senhor com perfume e Lhe tinha enxugado os pés com os
cabelos. Era seu irmão Lázaro que estava doente. As irmãs mandaram então dizer
a Jesus: «Senhor, o teu amigo está doente». Ouvindo isto, Jesus disse: «Essa
doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por ela seja
glorificado o Filho do homem». Jesus era amigo de Marta, de sua irmã e de
Lázaro. Entretanto, depois de ouvir dizer que ele estava doente, ficou ainda
dois dias no local onde Se encontrava. Depois disse aos discípulos: «Vamos de
novo para a Judeia». Os discípulos disseram-Lhe: «Mestre, ainda há pouco os
judeus procuravam apedrejar-Te e voltas para lá?». Jesus respondeu: «Não são
doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz
deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque não tem luz consigo». Dito
isto, acrescentou: «O nosso amigo Lázaro dorme, mas Eu vou despertá-lo».
Disseram então os discípulos: «Senhor, se dorme, estará salvo». Jesus
referia-se à morte de Lázaro, mas eles entenderam que falava do sono natural.
Disse-lhes então Jesus abertamente: «Lázaro morreu; por vossa causa, alegro-Me
de não ter estado lá, para que acrediteis. Mas, vamos ter com ele». Tomé,
chamado Dídimo, disse aos companheiros: «Vamos nós também, para morrermos com
Ele». Ao chegar, Jesus encontrou o amigo sepultado havia quatro dias. Betânia
distava de Jerusalém cerca de três quilómetros. Muitos judeus tinham ido
visitar Marta e Maria, para lhes apresentar condolências pela morte do irmão.
Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar, Marta saiu ao seu encontro,
enquanto Maria ficou sentada em casa. Marta disse a Jesus: «Senhor, se tivesses
estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, tudo o que
pedires a Deus, Deus To concederá». Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará».
Marta respondeu: «Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia».
Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda
que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca
morrerá. Acreditas nisto?». Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o
Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo». Dito isto, retirou-se e
foi chamar Maria, a quem disse em segredo: «O Mestre está ali e manda-te
chamar». Logo que ouviu isto, Maria levantou-se e foi ter com Jesus. Jesus
ainda não tinha chegado à aldeia, mas estava no lugar em que Marta viera ao seu
encontro. Então os judeus que estavam com Maria em casa para lhe apresentar
condolências, ao verem-na levantar-se e sair rapidamente, seguiram-na, pensando
que se dirigia ao túmulo para chorar. Quando chegou aonde estava Jesus, Maria,
logo que O viu, caiu-Lhe aos pés e disse-Lhe: «Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmão não teria morrido». Jesus, ao vê-la chorar, e vendo chorar também os
judeus que vinham com ela, comoveu-Se profundamente e perturbou-Se. Depois
perguntou: «Onde o pusestes?». Responderam-Lhe: «Vem ver, Senhor». E Jesus
chorou. Diziam então os judeus: «Vede como era seu amigo». Mas alguns deles
observaram: «Então Ele, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito
que este homem não morresse?». Entretanto, Jesus, intimamente comovido, chegou
ao túmulo. Era uma gruta, com uma pedra posta à entrada. Disse Jesus: «Tirai a
pedra». Respondeu Marta, irmã do morto: «Já cheira mal, Senhor, pois morreu há
quatro dias». Disse Jesus: «Eu não te disse que, se acreditasses, verias a
glória de Deus?». Tiraram então a pedra. Jesus, levantando os olhos ao Céu,
disse: «Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido. Eu bem sei que sempre Me ouves,
mas falei assim por causa da multidão que nos cerca, para acreditarem que Tu Me
enviaste». Dito isto, bradou com voz forte: «Lázaro, sai para fora». O morto
saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário.
Disse-lhes Jesus: «Desligai-o e deixai-o ir». Então muitos judeus, que tinham
ido visitar Maria, ao verem o que Jesus fizera, acreditaram n’Ele.”
Jesus, fonte da Vida, dá-nos a Vida, liberta-nos de todo o mal.
O Evangelho deste quinto Domingo da Quaresma é o da Ressurreição de
Lázaro (cf. Jo 11, 1-45). Lázaro era irmão de Marta e de
Maria; eram muito amigos de Jesus. Quando Ele chegou a Betânia, Lázaro já
estava morto há quatro dias; Marta correu ao encontro do Mestre e disse-lhe:
«Se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido!» (v. 21). Jesus
respondeu-lhe: «Teu irmão há de ressuscitar» (v. 23); e acrescenta: «Eu sou a
Ressurreição e a Vida; aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá»
(v. 25). Jesus mostra-se como o Senhor da vida, Aquele que é capaz de dar vida
até mesmo aos mortos. Depois chega Maria e outras pessoas, todas em lágrimas, e
então Jesus - diz o Evangelho - «comoveu-Se profundamente [...] e chorou» (vv.
33-35). Com esta perturbação no coração, foi ao túmulo, agradece ao Pai que
sempre o escuta, manda abrir o túmulo bradou em voz alta: «Lázaro, sai para
fora» (v. 43). E Lázaro saiu tendo «os pés e as mãos ligados com faixas e o
rosto envolto num sudário» (v. 44).
Aqui constatamos diretamente que Deus é vida e dá vida, mas Ele assume o
drama da morte. Jesus poderia ter evitado a morte do seu amigo Lázaro, mas ele
quis fazer sua a nossa dor pela morte de entes queridos, e acima de tudo ele
quis mostrar o domínio de Deus sobre a morte. Neste trecho do Evangelho, vemos
que a fé do homem e a omnipotência de Deus, do amor de Deus procuram-se e, por
fim, encontram-se. É como um caminho duplo: a fé do homem e a omnipotência do
amor de Deus que se procuram, no final encontram-se. Vemo-lo no grito de
Marta e de Maria e de todos nós com elas: «Se Tu estivesses aqui!...». E a
resposta de Deus não é um discurso, não, a resposta de Deus ao problema da
morte é Jesus: «Eu sou a Ressurreição e a Vida... Tende fé! No meio do choro
continuai a ter fé, mesmo que a morte pareça ter vencido. Tirai a pedra do
vosso coração! Que a Palavra de Deus restitua a vida onde há a morte».
Ainda hoje Jesus nos repete: «Tirai a pedra». Deus não nos criou para o
túmulo, Ele criou-nos para a vida, bela, boa, alegre. Mas «a morte entrou no
mundo por inveja do diabo» (Sb 2, 24), diz o Livro da Sabedoria, e
Jesus Cristo veio para nos libertar dos seus laços.
Por isso, somos chamados a remover as pedras de tudo o que cheira a morte:
por exemplo, a hipocrisia com que se vive a fé é morte; a crítica destrutiva
dos outros é morte; a ofensa, a calúnia, é morte; a marginalização dos
pobres é morte. O Senhor pede-nos para remover estas pedras do coração, e a
vida então florescerá novamente ao nosso redor. Cristo vive, e aquele que o
acolhe e adere a ele entra em contacto com a vida. Sem Cristo, ou fora de
Cristo, não só a vida não está presente, mas cai-se de novo na morte.
A ressurreição de Lázaro é também um sinal da regeneração que se dá no
crente através do Batismo, com plena inserção no Mistério Pascal de Cristo.
Pela ação e poder do Espírito Santo, o cristão é uma pessoa que caminha na vida
como uma nova criatura: uma criatura para a vida e que vai em direção à vida.
Que a Virgem Maria nos ajude a ser tão compassivos quanto o seu Filho
Jesus, que fez sua a nossa dor. Que cada um de nós esteja próximo daqueles que
estão na prova, tornando-se para eles um reflexo do amor e ternura de Deus, que
liberta da morte e faz vencer a vida.
Papa Francisco
(Angelus, 29 de março de 2020)
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