Tempo Comum - 2023
Nas leituras de hoje somos desafiados a questionarmo-nos sobre o que é fundamental, essencial na nossa vida, isto é, em quê, ou em quem, depositamos toda a nossa confiança, em função de quê, ou de quem, estamos dispostos a dar tudo o que temos e somos.
Na 1ªleitura (1Reis 3,5.7-12) recebemos do Senhor, tal como
Salomão, a oportunidade de Lhe apresentarmos os nossos pedidos. O que é que Lhe
pedimos? Aprendamos de Salomão a fazer uma oração agradável ao Senhor, pois
Jesus ensinou-nos que Deus conhece todas as nossas necessidades, mesmo aquelas
de quem nem nós nos apercebemos, pelo que, se Lhe abrirmos o nosso coração na
oração, tudo colocaremos nas Suas mãos.
“Naqueles dias, o Senhor apareceu em sonhos a Salomão durante a noite e
disse-lhe: «Pede o que quiseres». Salomão respondeu: «Senhor, meu Deus, Vós
fizestes reinar o vosso servo em lugar do meu pai David e eu sou muito novo e
não sei como proceder. Este vosso servo está no meio do povo escolhido, um povo
imenso, inumerável, que não se pode contar nem calcular. Dai, portanto, ao
vosso servo um coração inteligente, para governar o vosso povo, para saber
distinguir o bem do mal; pois, quem poderia governar este vosso povo tão
numeroso?». Agradou ao Senhor esta súplica de Salomão e disse-lhe: «Porque foi
este o teu pedido, e já que não pediste longa vida, nem riqueza, nem a morte
dos teus inimigos, mas sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu
desejo. Dou-te um coração sábio e esclarecido, como nunca houve antes de ti nem
haverá depois de ti».”
Na 2ªleitura (Rom 8, 28-30) S.Paulo diz-nos que Deus nos dá
sempre o que é melhor para nós. É verdade que, muitas vezes, duvidamos, mas
Deus conhece-nos desde sempre (ainda não existíamos no seio da nossa mãe e já
Deus nos conhecia no mais íntimo do nosso ser) e, continua Paulo, desde sempre,
tudo predispôs para que, em Jesus, fossemos portadores do maior tesouro que há
no mundo, para o transmitirmos aos nossos irmãos: o amor infinito de Deus por
cada um em particular e pela humanidade em geral.
“Irmãos: Nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O
amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio. Porque os que Ele de
antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos. E àqueles que
predestinou, também os chamou; àqueles que chamou, também os justificou; e
àqueles que justificou, também os glorificou.”
No evangelho, tal como no domingo passado, Jesus continua a revelar-nos o
Amor infinito de Deus, através de mais três parábolas. Hoje apresenta-nos o
Reino de Deus como um tesouro escondido, uma pérola que se procura e uma rede
que pesca indistintamente peixe bom e peixe para deitar fora. Todo aquele que
descobre este Tesouro, que é o Amor infinito de Deus, não pode deixar de o testemunhar
na vida, junto dos que o Senhor coloca na sua vida.
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola. O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isto?» Eles responderam-Lhe: «Entendemos». Disse-lhes então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas».”
Senhor, peço-te a sabedoria de coração. Ilumina-me e converte-me, para que,
na vida, dê testemunho do Teu Amor infinito por cada um de nós.
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste Domingo (cf. Mt 13, 44-52)
corresponde aos últimos versículos do capítulo que Mateus dedica às parábolas
do Reino dos Céus. O trecho inclui três parábolas mencionadas superficialmente
e muito breves: a do tesouro escondido, a da pérola preciosa e a da rede
lançada ao mar.
Comento as duas primeiras, nas quais o Reino dos Céus é assimilado a duas
realidades «preciosas» diferentes, nomeadamente o tesouro escondido no campo e
a pérola de grande valor. A reação de quem encontra a pérola ou o tesouro é
praticamente a mesma: o homem e o comerciante vendem tudo para comprar o que
agora mais lhes agrada. Com estas duas semelhanças, Jesus propõe-se
envolver-nos na construção do Reino dos Céus, apresentando uma caraterística
essencial da vida cristã, da vida do Reino dos Céus: aderem plenamente ao Reino
aqueles que estão dispostos a apostar tudo, que são corajosos. Na verdade,
tanto o homem como o comerciante das duas parábolas vendem tudo o que têm,
abandonando assim as suas seguranças materiais. A partir disto compreendemos
que a construção do Reino exige não só a graça de Deus, mas também a
disponibilidade ativa do homem. A graça faz tudo, tudo! Da nossa parte, apenas
a disponibilidade de a receber, a não resistência à graça: a graça faz tudo,
mas é necessária a “minha” responsabilidade, a “minha” disponibilidade.
Os gestos daquele homem e do comerciante que procuram, privando-se dos seus
bens, para comprar realidades mais preciosas, são gestos decisivos, são gestos
radicais, diria apenas de ida, não de ida e volta: são gestos de ida. E, além
disso, feitos com alegria, porque ambos encontraram o tesouro. Somos chamados a
assumir a atitude destas duas personagens evangélicas, tornando-nos também nós
saudáveis buscadores inquietos do Reino dos Céus. Trata-se de abandonar o
pesado fardo das nossas certezas mundanas que nos impedem de procurar e
construir o Reino: a luxúria da posse, a sede de lucro e de poder, pensando
apenas em nós próprios.
Nos nossos dias, todos sabemos, a vida de algumas pessoas pode ser medíocre
e monótona porque provavelmente não foram em busca de um verdadeiro tesouro:
contentavam-se com coisas atraentes mas efémeras, com brilho cintilante mas
ilusório porque depois deixam na escuridão. Ao contrário, a luz do Reino não é
um fogo de artifício, é luz: o fogo de artifício dura apenas um instante, a luz
do Reino acompanha-nos toda a vida.
O Reino dos Céus é o oposto das coisas supérfluas que o mundo oferece, é o
oposto de uma vida trivial: é um tesouro que renova a vida todos os dias e a
expande para horizontes mais amplos. De facto, aqueles que encontraram este
tesouro têm um coração criativo e investigador, que não repete, mas inventa,
traça e segue novos caminhos, que nos levam a amar a Deus, a amar os outros, a
amar verdadeiramente a nós próprios. O sinal daqueles que caminham por esta
vereda do Reino é a criatividade, procurando sempre mais. E criatividade é
aquela que ganha a vida e dá vida, dá, dá, dá e dá... Sempre à procura de
tantas formas diferentes de dar a vida.
Jesus, que é o tesouro escondido e a pérola de grande valor, só pode
suscitar alegria, toda a alegria do mundo: a alegria de descobrir um sentido
para a própria vida, a alegria de se sentir comprometido com a aventura da
santidade.
Que a Santíssima Virgem nos ajude a procurar todos os dias o tesouro do Reino dos Céus, para que nas nossas palavras e gestos se manifeste o amor que Deus nos deu, através de Jesus.