sábado, 29 de julho de 2023

  Tempo Comum - 2023

Nas leituras de hoje somos desafiados a questionarmo-nos sobre o que é fundamental, essencial na nossa vida, isto é, em quê, ou em quem, depositamos toda a nossa confiança, em função de quê, ou de quem, estamos dispostos a dar tudo o que temos e somos.

Na 1ªleitura (1Reis 3,5.7-12) recebemos do Senhor, tal como Salomão, a oportunidade de Lhe apresentarmos os nossos pedidos. O que é que Lhe pedimos? Aprendamos de Salomão a fazer uma oração agradável ao Senhor, pois Jesus ensinou-nos que Deus conhece todas as nossas necessidades, mesmo aquelas de quem nem nós nos apercebemos, pelo que, se Lhe abrirmos o nosso coração na oração, tudo colocaremos nas Suas mãos.

“Naqueles dias, o Senhor apareceu em sonhos a Salomão durante a noite e disse-lhe: «Pede o que quiseres». Salomão respondeu: «Senhor, meu Deus, Vós fizestes reinar o vosso servo em lugar do meu pai David e eu sou muito novo e não sei como proceder. Este vosso servo está no meio do povo escolhido, um povo imenso, inumerável, que não se pode contar nem calcular. Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente, para governar o vosso povo, para saber distinguir o bem do mal; pois, quem poderia governar este vosso povo tão numeroso?». Agradou ao Senhor esta súplica de Salomão e disse-lhe: «Porque foi este o teu pedido, e já que não pediste longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo. Dou-te um coração sábio e esclarecido, como nunca houve antes de ti nem haverá depois de ti».”

Na 2ªleitura (Rom 8, 28-30) S.Paulo diz-nos que Deus nos dá sempre o que é melhor para nós. É verdade que, muitas vezes, duvidamos, mas Deus conhece-nos desde sempre (ainda não existíamos no seio da nossa mãe e já Deus nos conhecia no mais íntimo do nosso ser) e, continua Paulo, desde sempre, tudo predispôs para que, em Jesus, fossemos portadores do maior tesouro que há no mundo, para o transmitirmos aos nossos irmãos: o amor infinito de Deus por cada um em particular e pela humanidade em geral.

“Irmãos: Nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio. Porque os que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos. E àqueles que predestinou, também os chamou; àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou.”

 

No evangelho, tal como no domingo passado, Jesus continua a revelar-nos o Amor infinito de Deus, através de mais três parábolas. Hoje apresenta-nos o Reino de Deus como um tesouro escondido, uma pérola que se procura e uma rede que pesca indistintamente peixe bom e peixe para deitar fora. Todo aquele que descobre este Tesouro, que é o Amor infinito de Deus, não pode deixar de o testemunhar na vida, junto dos que o Senhor coloca na sua vida.

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola. O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isto?» Eles responderam-Lhe: «Entendemos». Disse-lhes então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas».”

Senhor, peço-te a sabedoria de coração. Ilumina-me e converte-me, para que, na vida, dê testemunho do Teu Amor infinito por cada um de nós.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste Domingo (cf. Mt 13, 44-52) corresponde aos últimos versículos do capítulo que Mateus dedica às parábolas do Reino dos Céus. O trecho inclui três parábolas mencionadas superficialmente e muito breves: a do tesouro escondido, a da pérola preciosa e a da rede lançada ao mar.

Comento as duas primeiras, nas quais o Reino dos Céus é assimilado a duas realidades «preciosas» diferentes, nomeadamente o tesouro escondido no campo e a pérola de grande valor. A reação de quem encontra a pérola ou o tesouro é praticamente a mesma: o homem e o comerciante vendem tudo para comprar o que agora mais lhes agrada. Com estas duas semelhanças, Jesus propõe-se envolver-nos na construção do Reino dos Céus, apresentando uma caraterística essencial da vida cristã, da vida do Reino dos Céus: aderem plenamente ao Reino aqueles que estão dispostos a apostar tudo, que são corajosos. Na verdade, tanto o homem como o comerciante das duas parábolas vendem tudo o que têm, abandonando assim as suas seguranças materiais. A partir disto compreendemos que a construção do Reino exige não só a graça de Deus, mas também a disponibilidade ativa do homem. A graça faz tudo, tudo! Da nossa parte, apenas a disponibilidade de a receber, a não  resistência à graça: a graça faz tudo, mas é necessária a “minha” responsabilidade, a “minha” disponibilidade.

Os gestos daquele homem e do comerciante que procuram, privando-se dos seus bens, para comprar realidades mais preciosas, são gestos decisivos, são gestos radicais, diria apenas de ida, não de ida e volta: são gestos de ida. E, além disso, feitos com alegria, porque ambos encontraram o tesouro. Somos chamados a assumir a atitude destas duas personagens evangélicas, tornando-nos também nós saudáveis buscadores inquietos do Reino dos Céus. Trata-se de abandonar o pesado fardo das nossas certezas mundanas que nos impedem de procurar e construir o Reino: a luxúria da posse, a sede de lucro e de poder, pensando apenas em nós próprios.

Nos nossos dias, todos sabemos, a vida de algumas pessoas pode ser medíocre e monótona porque provavelmente não foram em busca de um verdadeiro tesouro: contentavam-se com coisas atraentes mas efémeras, com brilho cintilante mas ilusório porque depois deixam na escuridão. Ao contrário, a luz do Reino não é um fogo de artifício, é luz: o fogo de artifício dura apenas um instante, a luz do Reino acompanha-nos toda a vida.

O Reino dos Céus é o oposto das coisas supérfluas que o mundo oferece, é o oposto de uma vida trivial: é um tesouro que renova a vida todos os dias e a expande para horizontes mais amplos. De facto, aqueles que encontraram este tesouro têm um coração criativo e investigador, que não repete, mas inventa, traça e segue novos caminhos, que nos levam a amar a Deus, a amar os outros, a amar verdadeiramente a nós próprios. O sinal daqueles que caminham por esta vereda do Reino é a criatividade, procurando sempre mais. E criatividade é aquela que ganha a vida e dá vida,  dá, dá, dá e dá... Sempre à procura de tantas formas diferentes de dar a vida.

Jesus, que é o tesouro escondido e a pérola de grande valor, só pode suscitar alegria, toda a alegria do mundo: a alegria de descobrir um sentido para a própria vida, a alegria de se sentir comprometido com a aventura da santidade.

Que a Santíssima Virgem nos ajude a procurar todos os dias o tesouro do Reino dos Céus, para que nas nossas palavras e gestos se manifeste o amor que Deus nos deu, através de Jesus.

JMJ Lisboa 2023 - Dias na Diocese (Porto, Coimbra, Leiria) - Ecclesia









Programa da visita do Papa - JMJ Jisboa 2023

sábado, 22 de julho de 2023

 Tempo Comum - 2023

Os textos litúrgicos deste domingo vão contra a corrente dos nossos dias, pois situam-nos na paciência de Deus, que é infinita. Na verdade o “é para hoje”, se não for para ontem, a que a corrida frenética do nosso viver obriga, não tem nada a ver com o tempo de reflexão, de interiorização, ou de espera confiante que as leituras nos propõem. Aprendamos de Deus a saber esperar o tempo de reação de cada um, pois todos somos diferentes e na variedade de cada um é que está a maravilha do sermos um povo, em igreja.

 

Na 1ªleitura (Sab 12, 13.16-19) o autor sagrado revela-nos Deus como um ser indulgente e misericordioso, com um Amor sem fim por cada um de nós, de tal forma que nos dá a esperança feliz de que O Senhor está sempre pronto, de braços abertos, para receber o coração arrependido que se Lhe entrega.   

“Não há Deus, além de Vós, que tenha cuidado de todas as coisas; a ninguém tendes de mostrar que não julgais injustamente. O vosso poder é o princípio da justiça e o vosso domínio soberano torna-Vos indulgente para com todos. Mostrais a vossa força aos que não acreditam na vossa omni­potência e confundis a audácia daqueles que a conhecem. Mas Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais lugar ao arrependimento.”


Na 2ªleitura (Rom 8, 26-27) S. Paulo desafia-nos a vivermos do Espírito Santo, a deixarmos que nos habite, por inteiro, e assim, em nós reze ao Senhor. Que o Espírito Santo nos inunde com a Sua luz e n’Ele oremos a Deus. 

“Irmãos: O Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que vê no íntimo dos corações conhece as aspirações do Espírito, pois é em conformidade com Deus que o Espírito intercede pelos cristãos.”

 
No evangelho (Mt 13, 24-43) Jesus conta-nos três parábolas, em que nos revela a paciência infinita de Deus, o Seu Amor sem fim por cada um de nós, dando a todos a oportunidade de com Ele se encontrar. Vai esperando, não exige a todos que se convertam, que se entreguem da mesma forma e ao mesmo tempo. Respeita o tempo de reação de cada um, deixa cada  um crescer a seu tempo e espera até à época da colheita.

“Naquele tempo, Jesus disse às multidões mais esta parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a espigar, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio?’. Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’. ‘Não! – disse ele – não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’». Jesus disse-lhes outra parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as plantas da horta e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos». Disse-lhes outra parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado». Tudo isto disse Jesus em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, a fim de se cumprir o que fora anunciado pelo profeta, que disse: «Abrirei a minha boca em parábolas, proclamarei verdades ocultas desde a criação do mundo». Jesus deixou então as multidões e foi para casa. Os discípulos aproximaram-se d’Ele e disseram-Lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo». Jesus respondeu: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno e o inimigo que o semeou é o Diabo. A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os Anjos. Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do homem enviará os seus Anjos, que tirarão do seu reino todos os escandalosos e todos os que praticam a iniquidade, e hão de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes. E os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, oiça».”

Vem Espírito Santo ao meu coração e reza em mim a Deus, Nosso Senhor.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho de hoje (cf. Mt 13, 24-43) voltamos a encontrar Jesus, que fala à multidão sobre o Reino dos Céus com parábolas. Comento apenas a primeira, a do joio, através da qual Jesus nos dá a conhecer a paciência de Deus, abrindo o nosso coração à esperança.

Jesus narra que no campo onde foi semeado o bom trigo, brota inclusive o joio, termo que resume todas as ervas daninhas que infestam o solo. Entre nós, podemos dizer também que ainda hoje o solo é devastado por muitos herbicidas e pesticidas, que afinal também fazem mal para a erva, o solo e a saúde. Mas isto, entre parênteses. Então, os servos vão ter com o senhor para saber de onde vem o joio, e ele responde: «Um inimigo fez isto!» (v. 28). Pois semeamos trigo bom! Um inimigo, um concorrente, veio e fez isto. Eles gostariam de arrancar imediatamente as ervas daninhas que cresciam; mas o senhor impede-os, pois com as ervas daninhas - o joio - se correria o risco de arrancar também o trigo. É necessário esperar até ao momento da colheita: só então haverá a separação e as ervas daninhas serão queimadas. É também uma história de bom senso.

Pode-se ler nesta parábola uma visão da história. Ao lado de Deus - o dono do campo - que semeia sempre e apenas boas sementes, há um adversário, que semeia o joio para dificultar o crescimento do trigo. O dono age abertamente, à luz do sol, e o seu objetivo é uma boa colheita; o adversário, ao contrário, aproveita-se da escuridão da noite e trabalha por inveja, por hostilidade, para arruinar tudo. O adversário a quem Jesus se refere tem um nome: é o diabo, o opositor por excelência de Deus. A sua intenção é dificultar o trabalho de salvação, fazer com que o Reino de Deus seja impedido por trabalhadores injustos, semeadores de escândalos. Com efeito, a boa semente e o joio não representam o bem e o mal abstrato, mas nós, seres humanos, que podemos seguir Deus ou o diabo. Muitas vezes, ouvimos dizer que uma família estava em paz, depois começaram as guerras, a inveja... um bairro estava em paz, depois houve situações negativas... E estamos habituados a dizer: “Alguém foi lá para semear contendas”, ou “esta pessoa da família, com bisbilhotices, semeia joio”. Semear o mal destrói sempre. E isto é feito pelo diabo ou pela nossa tentação: quando caímos na tentação de tagarelar para destruir os outros.

A intenção dos servos é eliminar imediatamente o mal, ou seja, as pessoas más, mas o dono é mais sábio, vê além: devem saber esperar, pois suportar a perseguição e a hostilidade faz parte da vocação cristã. Certamente, o mal há de ser rejeitado, mas os ímpios são pessoas com as quais é preciso ter paciência. Não se trata da tolerância hipócrita que esconde ambiguidades, mas da justiça temperada pela misericórdia. Se Jesus veio em busca mais de pecadores do que de justos, para curar os doentes antes ainda que os saudáveis (cf. Mt 9, 12-13), também a ação dos seus discípulos deve ter em vista não suprimir os ímpios, mas salvá-los. Eis no que consiste a paciência!

O Evangelho de hoje apresenta duas formas de agir e de habitar a história: por um lado, o olhar do dono, que vê além; por outro, o olhar dos servos, que veem o problema. Os servos preocupam-se com um campo sem ervas daninhas, o dono preocupa-se com o trigo bom. O Senhor convida-nos a ter o seu olhar, que se fixa no trigo bom, que sabe conservá-lo até no meio das ervas daninhas. Não coopera com Deus quem procura os limites e defeitos dos outros mas, ao contrário, quem sabe reconhecer o bem que cresce silenciosamente no campo da Igreja e da história, cultivando-o até ao amadurecimento. E então será Deus, e só Ele, que recompensará os bons e castigará os ímpios. Que a Virgem Maria nos ajude a compreender e a imitar a paciência de Deus, o qual não quer que se perca nenhum dos seus filhos, aos quais Ele ama com amor de Pai.

Papa Francisco

(Angelus,19 de julho de 2020)

sábado, 15 de julho de 2023

A história das JMJ - Vatican News

 

 Tempo Comum - 2023

A liturgia deste domingo desperta-nos para a importância da escuta da Palavra de Deus. Em cada liturgia, em que participamos, o Senhor vem ao nosso encontro e fala-nos, chega ao nosso coração, ao mais profundo da nossa alma, também através da Palavra proclamada. Que o Senhor nos conceda a graça de estarmos sempre prontos para responder a cada desafio que nos coloca,no dia a dia da vida e quando O escutamos na Eucaristia, quando Ele lança a semente nos nossos corações e nos deixamos “fazer” pela Sua Palavra.

 

Na 1ªleitura (Is 55, 10-11) o profeta Isaías, ao usar a linguagem da natureza para nos explicar a força da Palavra de Deus, transpõe-nos para a fidelidade, para a infinitude do Amor de Deus, em tudo o que diz e faz. Só nos é pedido que O escutemos, de coração disponível e sincero. 

”Eis o que diz o Senhor: «Assim como a chuva e a neve que descem do céu não voltam para lá sem terem regado a terra, sem a terem fecundado e feito produzir, para que dê a semente ao semeador e o pão para comer, assim a palavra que sai da minha boca não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter cumprido a minha vontade, sem ter realizado a sua missão».”

Na 2ªleitura (Rom 8, 18-23) S.Paulo fala, não só para os homens do seu tempo, mas também para nós hoje, homens e mulheres do séc.XXI. Até parece que está aqui connosco a viver os condicionalismos e dificuldades da vida, com todas as agruras, medos e angústias porque passamos! S.Paulo, no entanto, para além de nos situar no concreto da nossa existência, nas labutas da vida, projeta-nos para a esperança da nova vida, a da libertação em Deus, Nosso Senhor. Só n’Ele seremos verdadeiramente livres! 

“Irmãos: Eu penso que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há de manifestar em nós. Na verdade, as criaturas esperam ansiosamente a revelação dos filhos de Deus. Elas estão sujeitas à vã situação do mundo, não por sua vontade, mas por vontade d’Aquele que as submeteu, com a esperança de que as mesmas criaturas sejam também libertadas da corrupção que escraviza, para receberem a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adoção filial e a libertação do nosso corpo.”


No evangelho (Mt 13, 1-23), que nos é explicado por Jesus, ficamos com a certeza de que é Deus quem lança sempre a semente. A Sua Palavra é proclamada e nunca falha, mas a forma como é recebida vai depender da nossa disponibilidade e abertura do coração. Aliás, a mesma Palavra, proclamada em alturas diferentes, é recebida de forma completamente distinta, pela mesma pessoa, consoante a situação de vida concreta em que se encontra no momento da escuta. É sempre uma Palavra viva e atuante. O fruto depende de sermos, ou não, “uma boa terra”.

“Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava na margem. Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos: «Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra, e logo nasceram, porque a terra era pouco profunda; mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um. Quem tem ouvidos, oiça». Os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Porque lhes falas em parábolas?». Jesus respondeu: «Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas a eles não. Pois àquele que tem dar-se-á e terá em abundância; mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas, porque veem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender. Neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: ‘Ouvindo ouvireis, mas sem compreender; olhando olhareis, mas sem ver. Porque o coração deste povo tornou-se duro: endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para não acontecer que, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos e compreendendo com o coração, se convertam e Eu os cure’. Quanto a vós, felizes os vossos olhos porque veem e os vossos ouvidos porque ouvem! Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram. Escutai, então, o que significa a parábola do semeador: Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um».

Senhor abre o meu coração à escuta da Tua Palavra.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho deste domingo (cf. Mt 13, 1-23) Jesus narra a uma grande multidão a parábola do semeador - todos nós a conhecemos bem - que lança a semente em quatro tipos diferentes de solo. A Palavra de Deus, simbolizada pelas sementes, não é uma Palavra abstrata, mas o próprio Cristo, o Verbo do Pai que se encarnou no seio de Maria. Portanto, aceitar a Palavra de Deus significa aceitar a pessoa de Cristo, o próprio Cristo.

Existem diferentes formas de receber a Palavra de Deus. Podemos fazê-lo como um caminho, onde as aves vêm imediatamente e comem as sementes. Esta seria a distração, um grande perigo do nosso tempo. Oprimidos por tantas intrigas, tantas ideologias, contínuas possibilidades de distração dentro e fora de casa, pode-se perder o gosto do silêncio, do recolhimento, do diálogo com o Senhor, de tal forma que corremos o risco de perder a fé, de não acolher a Palavra de Deus. Vemos  tudo, somos distraídos por tudo, pelas realidades mundanas.

Outra possibilidade: podemos acolher a Palavra de Deus como um solo pedregoso com pouca terra. Nele a semente brota depressa, mas também seca rapidamente, porque não consegue criar raízes profundas. É a imagem daqueles que acolhem a Palavra de Deus com entusiasmo momentâneo, que no entanto permanece superficial, não assimila a Palavra de Deus. E assim, perante a primeira dificuldade, pensamos num sofrimento, numa perturbação da vida, aquela a fé que ainda é débil dissolve-se, tal como seca a semente que cai no meio do pedregulho.

Podemos ainda - uma terceira possibilidade sobre a qual Jesus fala na parábola - acolher a Palavra de Deus como um solo onde crescem arbustos espinhosos. E os espinhos são o engano da riqueza, do sucesso, das preocupações mundanas... Aí a Palavra cresce um pouco, mas permanece sufocada, não é forte, morre ou não dá fruto.

Por fim - a quarta possibilidade - podemos acolhê-la como um bom terreno. Aqui, e só aqui  a semente ganha raízes e dá fruto. A semente que caiu neste solo fértil representa aqueles que ouvem a Palavra, a acolhem, a guardam no coração e a põem em prática na vida quotidiana.

A parábola do semeador é um pouco a “mãe” de todas as parábolas, porque fala da escuta da Palavra. Lembra-nos que ela é uma semente fecunda e eficaz; e Deus espalha-a por toda a parte com generosidade, sem se preocupar com o desperdício. Assim é o coração de Deus! Cada um de nós é um solo onde cai a semente da Palavra, sem excluir ninguém! A Palavra é dada a cada um de nós. Podemos perguntar-nos: que tipo de terreno sou eu? Pareço-me com o caminho, com o solo pedregoso, com os arbustos? Mas, se quisermos, com a graça de Deus, podemos tornar-nos terreno fértil, lavrado e cultivado com cuidado, para que a semente da Palavra amadureça. Já está presente nos nosso coração, mas fazê-la frutificar depende de nós, depende do acolhimento que reservarmos a esta semente. Muitas vezes somos distraídos por demasiados interesses, por inúmeras solicitações, e é difícil distinguir entre tantas vozes e tantas palavras, a do Senhor, a única que nos torna livres. Por isso, é importante habituar-nos a ouvir a Palavra de Deus, a lê-la. E volto, uma vez mais, a este conselho: tende sempre convosco um pequeno Evangelho, uma edição de bolso do Evangelho, no bolso, na bolsa... E assim, lede um pequeno trecho todos os dias, para vos habituardes a ler a Palavra de Deus e a compreender bem que semente Deus vos oferece e a pensar com que solo a recebeis.

Que a Virgem Maria, modelo perfeito de solo bom e fértil, nos ajude, com a sua oração, a tornar-nos solo disponível sem espinhos nem pedregulho, para podermos dar bons frutos para nós e para os nossos irmãos.

Papa Francisco

(Angelus, 12 de julho de 2020)

sábado, 8 de julho de 2023

Lisboa 2023: Vaticano apresenta nova emissão filatélica dedicada à JMJ - Ecclesia

O Papa em Fátima para implorar a paz na Ucrânia e no mundo - Ecclesia

 

  Tempo Comum - 2023

Nos dias que vivemos, nos tempos que atravessamos, as leituras deste domingo são um “refrigério dulcíssimo”, pois precisamos de descansar no Único que nos pode dar a Paz, o Amor, porque só Ele o é: Jesus Cristo. Os textos desta liturgia são um desafio a deixarmo-nos encontrar por Jesus, no mais profundo nosso ser, aí onde só Ele, que nos conhece na totalidade do nosso ser, que sabe tão bem do que somos capazes, para o bem e para o mal e, mesmo assim, nos acolhe e, de braços abertos, nos recebe e nos deixa reclinar e descansar no Seu peito, para recarregar baterias e n’Ele partir para a labuta diária. Pecadores, pobres, fracos, desprotegidos, sem certezas de nada, sem seguranças, despojados de tudo, estaremos totalmente entregues n’Ele e com Ele, ao Pai, para O testemunhar e assim todos poderem conhecer e amar a Deus.

Na primeira leitura (Zac 9, 9-10) o autor sagrado anuncia e proclama ao povo de outros tempos e paragens, mas também aos homens de hoje, que Deus vem ter connosco, que é Ele quem toma a iniciativa de Se fazer encontro com cada um de nós, e que n’Ele tudo é possível. Como não exultar de alegria e cantar e louvar o nosso Deus, que nos ama assim, desta forma total e infinita. Bendito e louvado seja Senhor, hoje e sempre, pelos séculos sem fim!

Eis o que diz o Senhor: «Exulta de alegria, filha de Sião, solta brados de júbilo, filha de Jerusalém. Eis o teu Rei, justo e salvador, que vem ao teu encontro, humildemente montado num jumentinho, filho duma jumenta. Destruirá os carros de combate de Efraim e os cavalos de guerra de Jerusalém; e será quebrado o arco de guerra. Anunciará a paz às nações: o seu domínio irá de um mar ao outro mar e do Rio até aos confins da terra».

Na 2ªleitura (Rom 8, 9.11-13) S.Paulo projeta-nos para a vivência do nosso batismo no dia a dia da vida. Se nos deixarmos repassar pelo Espírito Santo que recebemos no Batismo, o Espírito “ d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos “ habitará em nós e n’Ele teremos a verdadeira vida. Só em Jesus ressuscitado tal será possível.

“Irmãos: Vós não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas se alguém não tem o Espírito de Cristo, não Lhe pertence. Se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Assim, irmãos, não somos devedores à carne, para vivermos segundo a carne. Se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras da carne, vivereis.”


No evangelho (Mt 11, 25-30) Jesus, Filho, vai-Se dando a conhecer, vai-Se-nos revelando mais um pouco, na Sua relação filial com o Pai. A forma como Jesus nos vai revelando a Sua identidade é única, pois Ele envolve-nos e, ao mesmo tempo, estende sobre nós a Sua bênção divina. O convite que nos faz a descansar n’Ele, a deixar cair tudo o que nos afasta de Deus, a entregarmo-nos na totalidade do que somos e temos, a colocar nas Suas mãos os nossos medos e angústias, tudo o que nos preocupa e aflige, desperta-nos para o que é essencial para o cristão: o Amor que Deus tem por cada um de nós. Em Jesus este Amor é visível. Por Jesus também cada um de nós é chamado a viver de e para Deus. Deixemo-nos amar por Deus!

“Naquele tempo, Jesus exclamou: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Tudo Me foi dado por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».

Senhor Jesus, que eu aprenda de Ti, a descansar em Deus, a entregar-Lhe tudo, mas mesmo tudo, seja o que for, de bom, ou de mau. 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho de hoje Jesus diz: «Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei» (Mt 11, 28). O Senhor não reserva esta frase a alguns dos seus amigos, não, dirige-a a “todos” aqueles que estão cansados e oprimidos pela vida. E então quem pode sentir-se excluído deste convite? O Senhor sabe quanto a vida pode ser difícil. Sabe que muitas coisas cansam o coração: desilusões e feridas do passado, pesos a serem carregados e injustiças a suportar no presente, incertezas e preocupações para com o futuro.

Perante tudo isto, a primeira palavra de Jesus é um convite, um convite a mover-se e a reagir: «Vinde». O erro que cometemos, quando as coisas não correm bem, é permanecer ali onde estamos, deitados ali. Parece evidente, mas quanto é difícil reagir e abrir-se! Não é fácil. Nos momentos obscuros é natural querer estar sozinho consigo mesmo, remoer sobre quanto é injusta a vida, sobre quão ingratos são os outros e como é maldoso o mundo, e assim por diante. Todos sabemos isto. Por vezes, sofremos esta experiência negativa. Mas assim, fechados dentro de nós mesmos, vemos tudo escuro. Então chegamos até a familiarizar-nos com a tristeza, que encontra demora em nós: aquela tristeza desmoraliza-nos, esta tristeza é algo ruim. Ao contrário, Jesus quer tirar-nos destas “areias movediças” e, portanto, diz a cada um: «Vinde!” — “Quem?” — “Tu, tu, tu...”. A via de saída encontra-se na relação, em estender a mão e em levantar o olhar para quem nos ama verdadeiramente.

Com efeito, sair de si mesmo não é suficiente, é necessário saber para onde ir. Porque muitas metas são ilusórias: prometem alívio e distraem só um pouco, garantem paz e proporcionam divertimento, deixando depois na solidão anterior, são “fogos de artifício”. Por esta razão, Jesus indica para onde ir: “Vinde a mim”. E muitas vezes, diante de um peso da vida ou de uma situação que nos faz sofrer, tentemos falar com alguém que nos escute, com um amigo, com um perito na matéria... É muito bom fazer isto, mas não esqueçamos Jesus! Não esqueçamos de nos abrirmos a Ele e de lhe contar a nossa vida, de lhe confiar as pessoas e as situações. Talvez haja algumas “áreas” da nossa vida que nunca lhe abrimos e que permaneceram obscuras, porque nunca viram a luz do Senhor. Cada um de nós tem a própria história. E se alguém tiver esta zona obscura, procurai Jesus, ide ter com um sacerdote, ide... Mas ide ter com Jesus, e contai isto a Jesus. Hoje Ele diz a cada um de nós: “Coragem, não sucumbas sob os pesos da vida, não te feches diante dos medos e dos pecados, mas vem a mim!”.

Ele espera por nós, espera-nos sempre, não para resolver magicamente os nossos problemas, mas para nos tornar mais fortes em relação aos nossos problemas. Jesus não nos tira os pesos da vida, mas sim a angústia do coração; não nos suprime a cruz, mas carrega-a juntamente connosco. E com Ele, todo o peso se torna leve (cf. v. 30), porque Ele é o repouso que nós buscamos. Quando Jesus entra na vida, chega a paz, a que permanece também nas provações, nos sofrimentos. Vamos ter com Jesus, demos-lhe o nosso tempo, encontremo-lo todos os dias na oração, num diálogo confiante, pessoal; familiarizando-nos com a sua Palavra redescubramos sem temor o seu perdão, saciemo-nos com o seu Pão de vida: sentir-nos-emos amados, sentir-nos-emos consolados por Ele.

É Ele mesmo que no-lo pede, quase com uma certa insistência. Reitera-o ainda no final do Evangelho de hoje: “Tomai o meu jugo sobre vós […] achareis o repouso para as vossas almas” (v. 29). E deste modo, aprendamos a ir ter com Jesus e, quando nos meses de verão procurarmos um pouco de repouso de tudo aquilo que cansa o nosso corpo, não esqueçamos de encontrar o repouso verdadeiro no Senhor. Nos ajude nisto a Virgem Maria nossa Mãe, que sempre cuida de nós quando estamos cansados e oprimidos e nos acompanha ao encontro com Jesus.

Papa Francisco

(Angelus, 9 de julho de 2017)

sábado, 1 de julho de 2023

 Tempo Comum - 2023

As leituras de hoje projetam-nos para o Amor maior, isto é, para Aquele em quem o Amor é de tal maneira infinito e total, que se transmite apenas porque Ele é. Dito de outra forma, se permanecermos em Deus, se nos deixarmos habitar por Ele, e só por Ele, entraremos na dinâmica do Amor, pois é Ele quem ama em nós. Este é, para mim, o maior desafio da nossa vida, enquanto cristãos, deixarmo-nos amar totalmente por Deus. Quando Deus, e só Ele, for a razão de ser da nossa vida, o nosso amor primeiro, Aquele por quem vale a pena viver e existir, então n’Ele será possível amar, viver no amor, no concreto da vida, junto do nosso próximo, seja ele (a) quem for, mesmo quando humanamente não gostamos deste(a) ou daquele(a). Ó Amor Eterno, faz de cada um de nós, teus filhos no Filho, transmissores do Amor, de Ti, junto do nosso próximo, junto de cada um(a) que colocas nos nossos caminhos de cada dia.

 

Na 1ªleitura (2 Reis 4, 8-11.14-16a) é Eliseu que nos demonstra, através do testemunho de vida de “uma distinta senhora” que todo o que acolhe o próximo, seja ele quem for, mas mais ainda, se for um homem de Deus, entra na dinâmica da comunicação da vida, do Amor de Deus, pois a verdade é que é Deus quem, em cada um(a), se comunica e Deus é a Vida, o Amor.

“Certo dia, o profeta Eliseu passou por Sunam. Vivia lá uma distinta senhora, que o convidou com insistência a comer em sua casa. A partir de então, sempre que por ali passava, era em sua casa que ia tomar a refeição. A senhora disse ao marido: «Estou convencida de que este homem, que passa frequentemente pela nossa casa, é um santo homem de Deus. Mandemos-lhe fazer no terraço um pequeno quarto com paredes de tijolo, com uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lâmpada. Quando ele vier a nossa casa, poderá lá ficar». Um dia, chegou Eliseu e recolheu-se ao quarto para descansar. Depois perguntou ao seu servo Giezi: «Que podemos fazer por esta senhora?». Giezi respondeu: «Na verdade, ela não tem filhos e o seu marido é de idade avançada». «Chama-a» – disse Eliseu. O servo foi chamá-la e ela apareceu à porta. Disse-lhe o profeta: «No próximo ano, por esta época, terás um filho nos braços».”

Na 2ªleitura (Rom 6, 3-4.8-11) S.Paulo centra-nos no Amor, na verdadeira Vida, pois, diz-nos ele, fomos batizados em Cristo Jesus, que ressuscitou dos mortos e nos resgatou para a vida em Deus, para o Amor. Que, em Jesus ressuscitado, também cada um de nós viva uma vida nova, pela glória do Pai.

“Irmãos: Todos nós que fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele pelo Batismo na sua morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova. Se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos; sabendo que, uma vez ressuscitado dos mortos, Cristo já não pode morrer; a morte já não tem domínio sobre Ele. Porque na morte que sofreu, Cristo morreu para o pecado de uma vez para sempre; mas a sua vida, é uma vida para Deus. Assim, vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus.”


No evangelho (Mt 10, 37-42) Jesus aponta a fasquia para a dimensão maior da nossa vida: amar  primeiro a Deus e só depois, n’Ele, amar o pai, a mãe, os filhos, o próximo, seja ele(a) quem for. Só Deus é Amor e n’Ele podemos amar todos os que o Senhor colocar na nossa vida, porque o Seu Amor é sempre total e infinito por cada ser criado, nunca se esgota e está sempre disponível, assim o queiramos receber e testemunhar junto de todos, mas principalmente com os mais fracos e desprotegidos. 

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: «Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim. Quem encontrar a sua vida há de perdê-la; e quem perder a sua vida por minha causa, há de encontrá-la. Quem vos recebe, a Mim recebe; e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou. Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo por ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em verdade vos digo: Não perderá a sua recompensa».”

Senhor, que Tu sejas o meu único amor, o centro, a razão de ser da minha vida

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho deste domingo (cf. Mt 10, 37-42) ressoa fortemente o convite a viver plenamente e sem hesitação a nossa adesão ao Senhor. Jesus pede aos seus discípulos que levem a sério as exigências do Evangelho, mesmo quando isto requer sacrifício e esforço.

O primeiro pedido exigente que Ele faz àqueles que O seguem é que coloquem o amor a Ele acima dos afetos familiares. Ele diz: «Quem amar o pai ou a mãe, [...] o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim» (v. 37). Jesus não pretende certamente subestimar o amor pelos pais e filhos, mas sabe que os laços de parentesco, se forem postos em primeiro lugar, podem desviar do verdadeiro bem. Vemo-lo: acontecem algumas corrupções nos governos precisamente porque o amor à parentela é maior do que o amor à pátria, e dão cargos aos parentes. O mesmo acontece com Jesus: não é bom quando o amor [aos familiares] é maior do que [o amor a] Ele. Todos nós poderíamos dar muitos exemplos a este respeito. Sem mencionar as situações em que os afetos familiares se misturam com escolhas opostas ao Evangelho. Quando, por outro lado, o amor aos pais e filhos é animado e purificado pelo amor ao Senhor, então torna-se plenamente fecundo e produz frutos de bem na própria família e muito para além dela. Neste sentido Jesus diz esta frase. Recordemos também como Jesus admoesta os doutores da lei que fazem faltar o necessário aos pais com a pretensão de o oferecer ao altar, de o dar à Igreja (cf. Mc 7, 8-13). Repreende-os! O verdadeiro amor a Jesus exige um amor autêntico aos pais e aos filhos, mas se procurarmos primeiro o interesse familiar isto leva sempre pelo caminho errado.

Então Jesus diz aos seus discípulos: «Quem não tomar a sua cruz para Me seguir, não é digno de mim» (v. 38). É uma questão de O seguir no caminho que Ele próprio percorreu, sem procurar atalhos. Não há amor verdadeiro sem cruz, ou seja, sem um preço a pagar pessoalmente. E dizem-no muitas mães, muitos pais, que tanto se sacrificam pelos filhos e suportam verdadeiras dificuldades e cruzes, porque amam. E carregada com Jesus, a cruz não é assustadora, porque Ele está sempre ao nosso lado para nos apoiar na hora da prova mais dura, para nos dar força e coragem. Também não é necessário preocupar-se por preservar a própria vida, com uma atitude temerosa e egoísta. Jesus admoesta: «Aquele que tenta conservar para si a vida, perdê-la-á, e quem tiver perdido a própria vida por Minha causa – isto é, por amor, por amor a Jesus, por amor ao próximo, pelo serviço aos outros - encontrá-la-á» (cf. v. 39). Este é o paradoxo do Evangelho. Mas temos, graças a Deus, também muitos exemplos como este!  Vemo-lo nestes dias. Quantas pessoas, quantas pessoas estão a carregar cruzes para ajudar os outros! Sacrificam-se para ajudar o próximo em necessidade nesta pandemia. Mas com Jesus é sempre possível. Encontramos a plenitude da vida e da alegria  através da doação de nós mesmos pelo Evangelho e pelos irmãos, com abertura, aceitação e benevolência.

Ao fazê-lo, podemos experimentar a generosidade e a gratidão de Deus. Jesus lembra-nos: «Quem vos recebe, a Mim recebe [...]. Quem der de beber a um destes pequeninos [...] não perderá a recompensa» (vv. 40; 42). A generosa gratidão de Deus Pai tem em conta até o mais pequeno gesto de amor e serviço aos seus irmãos. Nestes dias ouvi um sacerdote dizer que estava comovido porque na paróquia uma criança se aproximou dele e disse-lhe: “Padre, estas são as minhas poupanças, são poucas, são para os teus pobres, para aqueles que hoje estão em necessidade por causa da pandemia”. É pouco mas é muito! É uma generosidade contagiosa, que ajuda cada um de nós a sentir gratidão para com aqueles que se preocupam com as nossas necessidades. Quando alguém nos oferece um serviço, não devemos pensar que tudo nos é devido. Não, muitos serviços fazem-se por gratuidade. Pensai no voluntariado, que é uma das maiores realidades que existem na sociedade italiana. Os voluntários... e quantos deles perderam a vida nesta pandemia! Faz-se por amor, simplesmente por serviço. A gratidão, o reconhecimento, é antes de mais um sinal de boas maneiras, mas é também um distintivo do cristão. É um sinal simples mas genuíno do reino de Deus, que é reino de amor gratuito e reconhecido.

Maria Santíssima, que amou Jesus mais do que a sua própria vida e o seguiu até à cruz, nos ajude a colocarmo-nos sempre diante de Deus com coração disponível, deixando que a sua Palavra julgue o nossos comportamentos e as nossas escolhas.

Papa Francisco

(Angelus, 28 de junho de 2020)