sábado, 27 de abril de 2024

DOMINGO V DA PÁSCOA

As leituras de hoje desafiam-nos fundamentalmente a permanecer sempre no Senhor. Mas, não ficam por aqui, pois projetam-nos também para a vida da comunidade a que pertencemos. É na vivência paroquial que, muitas vezes, nos apercebemos da verdade da nossa relação com Deus, pois a forma como lidamos com os irmãos é sinal do amor de Deus que nos habita, ou, se não damos esse testemunho, recebemos um alerta para nos redirecionarmos e recentrarmos. Afinal somos todos ramos da mesma videira, que é Jesus, e é o fruto do Amor, que nos corre nas veias, que somos chamados a dar, a testemunhar, no dia a dia da vida.

A 1ª leitura (Atos 9, 26-31) é uma ajuda na nossa vivência comunitária, pois devemos estar atentos à forma como acolhemos aqueles que de nós se aproximam. Paulo, que, primeiramente, não foi bem aceite, dada a fama de perseguidor que o acompanhava, depois de Barnabé ter desfeito as dúvidas existentes, foi acolhido na comunidade e entregou-se totalmente à ação do Espírito Santo. Bendito seja Deus, por todos os que acolhem os que procuram Deus, de coração sincero.

“Naqueles dias, Saulo chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos. Mas todos o temiam, por não acreditarem que fosse discípulo. Então, Barnabé tomou-o consigo, levou-o aos Apóstolos e contou-lhes como Saulo, no caminho, tinha visto o Senhor, que lhe tinha falado, e como em Damasco tinha pregado com firmeza em nome de Jesus. A partir desse dia, Saulo ficou com eles em Jerusalém e falava com firmeza no nome do Senhor. Conversava e discutia também com os helenistas, mas estes procuravam dar-lhe a morte. Ao saberem disto, os irmãos levaram-no para Cesareia e fizeram-no seguir para Tarso. Entretanto, a Igreja gozava de paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e vivendo no temor do Senhor e ia crescendo com a assistência do Espírito Santo.”

Na 2ªleitura (Jo 3, 18-24) S.João dá-nos um processo prático para avaliarmos se efetivamente andamos nos caminhos do Senhor: olhar para os nossos atos e ver se estes refletem que amamos os que connosco convivem mais frequentemente. Por isso a comunidade é tão importante, pois a forma como interagimos com os irmãos é o barómetro que nos indica como vai a nossa relação com Deus.

“Meus filhos, não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade. Deste modo saberemos que somos da verdade e tranquilizaremos o nosso coração diante de Deus; porque, se o nosso coração nos acusar, Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas. Caríssimos, se o coração não nos acusa, tenhamos confiança diante de Deus e receberemos d’Ele tudo o que Lhe pedirmos, porque cumprimos os seus mandamentos e fazemos o que Lhe é agradável. É este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou. Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele. E sabemos que permanece em nós pelo Espírito que nos concedeu. E assim, n’Ele e em comunidade daremos testemunho de como Deus ama infinitamente todos os seres viventes.

No evangelho de hoje (Jo 15, 1-8) recebemos de Jesus a garantia de que Ele é a verdadeira videira, da qual recebemos a seiva que nos alimenta no caminho para Deus. N’Ele, sob a ação do Espírito Santo estamos enraizados e tudo o que, em nós, não presta o Senhor poda, para que possamos continuar a caminhar e a dar fruto.

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê ainda mais fruto. Vós já estais limpos, por causa da palavra que vos anunciei. Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não permanece em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará. Esses ramos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem. Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido. A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos».”

Senhor, ensina-me a amar todos os que pões no meu caminho. Que eu seja verdadeiramente ramo da videira, que és Tu.

Estimados irmãos e irmãs bom dia!

No Evangelho deste 5º Domingo de Páscoa (Jo 15, 1-8), o Senhor apresenta-se como a verdadeira videira e fala de nós como os ramos que não podem viver sem permanecerem unidos a Ele. Diz assim: «Eu sou a videira; vós, os ramos» (v. 5). Não há videira sem ramos, nem vice-versa. Os ramos não são autossuficientes, mas dependem totalmente da videira, que é a fonte da sua existência.

Jesus insiste no verbo “permanecer”. Repete-o sete vezes no trecho do Evangelho de hoje. Antes de deixar este mundo e ir para o Pai, Jesus quer assegurar aos seus discípulos que podem continuar a estar unidos a Ele. Diz: «Permanecei em mim e Eu em vós». (v. 4). Este permanecer não é um permanecer passivo , um “adormecer” no Senhor, deixando-se embalar pela vida. Não, não é isto! O permanecer n’Ele, o permanecer em Jesus que Ele nos propõe, é um permanecer ativo, e também recíproco. Porquê? Porque sem a videira os ramos não podem fazer nada, precisam da seiva para crescer e dar fruto; mas a videira também precisa dos ramos, porque o fruto não brota do tronco da árvore. Trata-se de uma necessidade recíproca, de um permanecer mútuo para dar fruto. Nós permanecemos em Jesus e Jesus permanece em nós.

Antes de mais, precisamos d’Ele. O Senhor quer dizer-nos que antes de observarmos os seus mandamentos, antes das bem-aventuranças, antes das obras de misericórdia, é necessário estarmos unidos a Ele, permanecer n’Ele. Não podemos ser bons cristãos se não permanecermos em Jesus. Ao contrário, com Ele podemos tudo (cf. Fl 4, 13). Com Ele, podemos tudo.

Mas também Jesus, como a videira dos ramos, precisa de nós. Talvez pareça ousado dizer isto, e então perguntemo-nos: em que sentido Jesus precisa de nós? Ele precisa do nosso testemunho. O fruto que, como ramos, devemos dar é o testemunho da nossa vida cristã. Depois de Jesus ter subido ao Pai, é tarefa dos discípulos — é a nossa tarefa — continuar a anunciar o Evangelho, com palavras e obras. E os discípulos — nós, discípulos de Jesus — fazemo-lo, dando testemunho do seu amor: o fruto a dar é o amor. Unidos a Cristo, recebemos os dons do Espírito Santo, e assim podemos fazer o bem ao próximo, fazer o bem à sociedade, à Igreja. A partir do fruto, reconhecemos a árvore. Uma vida verdadeiramente cristã dá testemunho de Cristo.

como podemos conseguir isto? Jesus diz-nos: «Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á feito» (v. 7). Também isto é ousado: a garantia de que o que pedirmos nos será dado. A fecundidade da nossa vida depende da oração. Podemos pedir para pensar como Ele, agir como Ele, ver o mundo e as coisas com o olhar de Jesus. E assim, amarmos os nossos irmãos e irmãs, começando pelos mais pobres e sofredores, como Ele fez, amando-os com o seu coração e trazendo ao mundo frutos de bondade, frutos de caridade, frutos de paz.

Confiemo-nos à intercessão da Virgem Maria. Ela permaneceu sempre totalmente unida a Jesus e deu muito fruto. Que Ela nos ajude a permanecer em Cristo, no seu amor, na sua palavra, para testemunhar no mundo o Senhor Ressuscitado.

Papa Francisco

( Regina Caeli, 2 de maio de 2021)

sábado, 20 de abril de 2024

 DOMINGO IV DA PÁSCOA - DOMINGO DO BOM PASTOR

Nas leituras deste domingo somos desafiados a confiar plenamente em Jesus, Nosso Senhor, o nosso Bom Pastor. Hoje, todas as leituras nos falam de Deus Amor, de uma forma tanto bela e pueril, como desconcertante, mas sempre desinquietante.

Na 1ªleitura (Atos 4, 8-12) acompanhamos Pedro, que é interrogado, pelos anciãos do povo, sobre a cura que tinha feito a um enfermo, em nome de Jesus. Em resposta, S.Pedro, que negou Jesus, durante a Paixão, agora, cheio do Espírito Santo, anuncia-lhes, com uma coragem imensa e um desassombro espantoso, Jesus Ressuscitado como a pedra angular que eles rejeitaram. Que transformação! Façamos como S.Pedro e abramos o nosso coração à ação do Espírito Santo.

“Naqueles dias, Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes: «Chefes do povo e anciãos, já que hoje somos interrogados sobre um benefício feito a um enfermo e o modo como ele foi curado, ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: É em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, que vós crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos, é por Ele que este homem se encontra perfeitamente curado na vossa presença. Jesus é a pedra que vós, os construtores, desprezastes e que veio a tornar-se pedra angular. E em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos».”  

 

Na 2ªleitura (1 Jo 3, 1-2) é muito bom escutar o que S.João nos diz sobre a nossa filiação divina. E, porque somos filhos no Filho, sabemos que n’Ele tudo é possível, até amar os que nos fazem mal, os nossos inimigos. Entreguemo-nos a Jesus ressuscitado e deixemos que Ele nos habite, por inteiro, para que o Seu Amor alcance aqueles a quem quer chegar através de nós.

“Caríssimos: Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamarmos filhos de Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a Ele. Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos como Ele é.”

  

No Evangelho (Jo 10, 11-18) escutamos o próprio Jesus, que nos explica, através do exemplo do pastor , o quanto nos ama, até onde vai o Seu Amor pela ovelha tresmalhada. E como Ele nos ama! Bendito seja Deus.

“Naquele tempo, disse Jesus: «Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas, logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge, enquanto o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário não se preocupa com as ovelhas. Eu sou o Bom Pastor: conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai; Eu dou a vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor. Por isso o Pai Me ama: porque dou a minha vida, para poder retomá-la. Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente. Tenho o poder de a dar e de a retomar: foi este o mandamento que recebi de meu Pai».” 

Meu Senhor e meu Deus, que eu nunca duvide do Teu Amor, por mim, por cada ser criado, crente, ou não crente.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Neste IV domingo de Páscoa, chamado Domingo do Bom Pastor, o Evangelho (Jo 10, 11-18) apresenta Jesus como o verdadeiro pastor, que defende, conhece e ama as suas ovelhas.

A Ele, Bom Pastor,  contrapõe-se o “mercenário”, que não se preocupa com as ovelhas, porque elas não lhe pertencem. Faz este trabalho apenas pelo salário, e não se preocupa em defendê-las: quando o lobo vem, foge e abandona-as (cf. vv. 12-13). Jesus, ao contrário, verdadeiro pastor, defende-nos sempre, e salva-nos em muitas situações difíceis, situações perigosas, através da luz da sua palavra e da força da sua presença, que sempre experimentamos, se quisermos ouvir, todos os dias.

O segundo aspeto é que Jesus, bom pastor, conhece – o primeiro aspeto: defende, o segundo: conhece –  as suas ovelhas e as ovelhas conhecem-no (v. 14). Como é bom e consolador saber que Jesus nos conhece um por um, que não somos anónimos para Ele, que o nosso nome é conhecido por Ele! Para Ele, não somos “massa”, “multidão”, não. Somos pessoas únicas, cada uma com a própria história, [e Ele] conhece-nos a cada um com a nossa história, cada um com o próprio valor, tanto como criatura como redimidos por Cristo. Cada um de nós pode dizer: Jesus conhece-me! É verdade, é assim: Ele conhece-nos como mais ninguém. Só Ele sabe o que está nos nossos corações, as intenções, os sentimentos mais escondidos. Jesus conhece os nossos méritos e os nossos defeitos, e está sempre pronto para cuidar de nós, para curar as feridas dos nossos erros com a abundância da sua misericórdia. Nele a imagem do pastor do povo de Deus, que os profetas delinearam, realiza-se plenamente: Jesus preocupa-se com as suas ovelhas, reúne-as, enfaixa a que está ferida ferida, cura a doente. Assim podemos ler no Livro do Profeta Ezequiel (cf. 34, 11-16).

Portanto, Jesus Bom Pastor, defende, conhece e acima de tudo ama as suas ovelhas. E por esta razão dá a vida por elas (cf. Jo 10, 15). O amor pelas ovelhas, ou seja, por cada um de nós, leva-o a morrer na Cruz, porque a vontade do Pai é que ninguém se perca. O amor de Cristo não é seletivo; abraça todos. Ele próprio nos lembra isto no Evangelho de hoje, quando diz: «Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor» (Jo 10, 16). Estas palavras atestam o seu anseio universal: Ele é pastor de todos. Jesus quer que todos possam receber o amor do Pai e encontrar Deus.

E a Igreja é chamada a levar a cabo esta missão de Cristo. Para além daqueles que frequentam as nossas comunidades, há muitas pessoas, a maioria, que o fazem apenas em casos particulares ou nunca. Mas isto não significa que não são filhos de Deus: o Pai confia todos a Jesus Bom Pastor, que deu a vida por todos.

Irmãos e irmãs, Jesus defende, conhece e ama todos nós. Maria Santíssima nos ajude a sermos os primeiros a acolher e a seguir o Bom Pastor, a fim de cooperar com alegria na sua missão.

Papa Francisco

( Regina Caeli, 25 de abril de 2021)

LXI DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES . Ecclesia

sábado, 13 de abril de 2024

DOMINGO III DA PÁSCOA

As leituras de hoje desafiam-nos a sermos testemunhas do Amor de Deus no nosso quotidiano, onde estivermos, vivermos, ou nos deslocarmos. Este desafio é feito numa dupla perspetiva, pois, por um lado, é baseado no testemunho de vida dos que conviveram com Jesus antes da Sua morte, mas também nos que O viram e com Ele estiveram, comeram, falarem e se encontraram depois da Sua Ressurreição. É o Espírito Santo em nós, que nos transforma em testemunhas do Ressuscitado, como fez com os primeiros discípulos. Abramos o nosso coração, de par em par, à ação do Espírito do Senhor e deixemo-nos moldar por Ele.

Na 1ªleitura (At 3, 13-15.17-19) Pedro, que também teve as suas dificuldades no crescimento da fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, ao anunciar Jesus Ressuscitado, analisa o que se passou na crucifixão e morte de Jesus, mas não condena, antes pelo contrário, apela à conversão. Pedro testemunha na sua vida, através de palavras e gestos, que Jesus está vivo, ressuscitado, habita em nós e n’Ele é sempre possível a conversão e o perdão dos pecados. O Amor de Deus ultrapassa sempre o nosso pecado. Deus ama-nos na nossa totalidade! Deixemo-nos amar por Ele.

“Naqueles dias, Pedro disse ao povo: «O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, o Deus de nossos pais, glorificou o seu Servo Jesus, que vós entregastes e negastes na presença de Pilatos, estando ele resolvido a soltá-l’O. Negastes o Santo e o Justo e pedistes a libertação dum assassino; matastes o autor da vida, mas Deus ressuscitou-O dos mortos, e nós somos testemunhas disso. Agora, irmãos, eu sei que agistes por ignorância, como também os vossos chefes. Foi assim que Deus cumpriu o que de antemão tinha anunciado pela boca de todos os Profetas: que o seu Messias havia de padecer. Portanto, arrependei-vos e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam perdoados».” 


Na 2ªleitura  (1 Jo 2, 1-5a)  o testemunho de S.João vai na mesma linha do de S.Pedro, que escutámos na 1ªleitura, pois somos chamados a dar testemunho do Amor de Deus na nossa vida, na certeza de que Deus nos perdoa os nossos pecados e de que ultrapassa em misericórdia, em amor infinito, todas as nossas misérias e limitações. E é desse Amor total, sem limites, que vai para além de tudo o que possamos imaginar, que somos chamados a dar testemunho, na nossa vida, onde quer que estejamos. Como nos amas Senhor! Muito, muito obrigada. Louvemos e demos graças a Deus, pelo Seu Amor por todos e por cada um de nós.

“Meus filhos, escrevo-vos isto, para que não pequeis. Mas se alguém pecar, nós temos Jesus Cristo, o Justo, como advogado junto do Pai. Ele é a vítima de propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro. E nós sabemos que O conhecemos, se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz conhecê-l’O e não guarda os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele. Mas se alguém guardar a sua palavra, nesse o amor de Deus é perfeito.” 


No Evangelho (Lc 24, 35-48) de hoje misturam-se, em nós, que nos projetamos também naquela sala, sentimentos diferentes: primeiro surpreendemo-nos com a dificuldade dos primeiros discípulos em acreditarem que Jesus estava ali, no meio deles, que tinha ressuscitado; depois, alegramo-nos com todos, quando O reconhecem e se entregam de coração; a seguir, no Espírito Santo, entendemos o que Jesus nos explica; por fim, sentimo-nos impelidos a testemunhar, com a nossa vida, o Amor Infinito de Deus, por cada ser por Ele criado.

"Naquele tempo, os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão. Enquanto diziam isto, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Espantados e cheios de medo, julgavam ver um espírito. Disse-lhes Jesus: «Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar, perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?». Deram-Lhe uma posta de peixe assado, que Ele tomou e começou a comer diante deles. Depois disse-lhes: «Foram estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: ‘Tem de se cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’». Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de todas estas coisas»." 

Senhor, envia sobre mim o Teu Santo Espírito, para que dê testemunho do Teu Amor, todos os dias da minha vida.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Neste terceiro domingo de Páscoa, voltamos a Jerusalém, ao Cenáculo, como que guiados pelos dois discípulos de Emaús, que tinham ouvido com grande emoção as palavras de Jesus ao longo do caminho e depois o reconheceram «ao partir o pão» (Lc 24, 35). Agora, no Cenáculo, Cristo ressuscitado apresenta-se no meio do grupo de discípulos, saudando-os: «A paz esteja convosco!» (v. 36). Mas eles, assustados e perturbados, pensaram que «viam um espírito», assim diz o Evangelho (v. 37). Então Jesus mostra-lhes as feridas do seu corpo e diz: «Vede as minhas mãos e os meus pés – as chagas – sou eu mesmo; palpai-Me e vede» (v. 39). E para os convencer, pede comida e come-a sob os seus olhares atónitos (cf. vv. 41-42).

Há aqui um detalhe nesta descrição. O Evangelho diz que os Apóstolos, «vacilando eles ainda e estando transportados de alegria», não acreditavam. Tal era a alegria que sentiam, que não podiam acreditar que o que viam era verdadeiro. E um segundo detalhe: ficaram estupefactos, surpreendidos; admirados pois o encontro com Deus leva sempre à admiração: vai além do entusiasmo, além da alegria, é outra experiência. E eles rejubilaram, mas um júbilo que os fez pensar: não, isto não pode ser verdade!... É o espanto da presença de Deus. Não vos esqueçais deste estado de espírito, que é tão bom.

Esta página do Evangelho é caraterizada por três verbos muito concretos, que num certo sentido refletem a nossa vida pessoal e comunitária: ver, tocar e comer. Três ações que podem proporcionar a alegria de um verdadeiro encontro com Jesus vivo.

Ver. «Vede as minhas mãos e os meus pés» – diz Jesus. Ver não é apenas olhar, é mais, requer também a intenção, a vontade. É por isso que é um dos verbos do amor. A mãe e o pai veem o filho, os amantes veem-se um ao outro; o bom médico vê o paciente com atenção... Ver é um primeiro passo contra a indiferença, contra a tentação de virar o rosto para o outro lado face às dificuldades e sofrimentos dos outros. Ver. Vejo ou olho para Jesus?

O segundo verbo é palpar. Convidando os discípulos a palpá-lo, a ver que ele não é um fantasma – palpai-me!  –  Jesus indica-lhes, a eles e a nós, que a relação com Ele e com os nossos irmãos não pode permanecer “à distância”, não existe um cristianismo à distância, não existe um cristianismo apenas ao nível do ver. O amor pede que se veja mas também a proximidade, pede contacto, a partilha da vida. O Bom Samaritano não se limitou a olhar para o homem que encontrou meio morto ao longo do caminho: parou, inclinou-se, ligou as suas feridas, tocou-o, carregou-o no seu cavalo e levou-o para a estalagem. O mesmo seja feito com o próprio Jesus: amá-lo significa entrar numa comunhão de vida, uma comunhão com Ele.

E chegamos ao terceiro verbo, comer, que exprime bem a nossa humanidade na sua natural indigência, ou seja, a necessidade de nos alimentarmos para viver. Mas comer, quando o fazemos juntos, em família ou entre amigos, torna-se também uma expressão de amor, uma expressão de comunhão, de festa... Quantas vezes os Evangelhos nos mostram Jesus a viver esta dimensão de convívio! Também como Ressuscitado, com os seus discípulos. Ao ponto que o Banquete eucarístico se tornou o sinal emblemático da comunidade cristã. Comer juntos o Corpo de Cristo: este é o centro da vida cristã.

Irmãos e irmãs, esta página do Evangelho diz-nos que Jesus não é um “fantasma”, mas uma Pessoa viva; que quando Jesus se aproxima de nós enche-nos de alegria, a ponto de não acreditarmos, e deixa-nos estupefactos, com aquele espanto que só a presença de Deus dá, porque Jesus é uma Pessoa viva. Antes de tudo, ser cristão não é uma doutrina ou um ideal moral, é a relação viva com Ele, com o Senhor Ressuscitado: vemo-Lo, palmamo-Lo, alimentamo-nos d’Ele e, transformados pelo seu Amor, vemos, palpamos e alimentamos os outros como irmãos e irmãs. A Virgem Maria nos ajude a viver esta experiência de graça.

Papa Francisco

( Regina Caeli, 18 de abril de 2021)

sábado, 6 de abril de 2024

 DOMINGO II DA PÁSCOA ou da DIVINA MISERICÓRDIA

 

Nas leituras deste segundo Domingo da Páscoa somos desafiados a ser testemunhas do Senhor Ressuscitado nos nossos dias, onde quer que vivamos, nos encontremos, ou trabalhemos. Em todo e qualquer local, tempo, ou situação da nossa vida, Jesus Ressuscitado está connosco e, enraizados n’Ele, somos impulsionados a demonstrar, na nossa vida do dia a dia, o quanto Deus ama todos os homens. É o Amor de Deus, a Sua misericórdia infinita, por todos e por cada ser vivente, que somos chamados a celebrar, com mais intensidade, neste Domingo da Divina Misericórdia.

Na 1ªleitura (Atos 4, 32-35) somos introduzidos na vivência das primeiras comunidades cristãs que, unidas numa só fé, num só coração e numa só alma, agiam conforme os ensinamentos de Jesus, de forma a que todos partilhassem tudo o que tinham e ninguém passasse necessidades. Que o Senhor nos converta, de coração, para, pela Sua Divina Misericórdia, aprendermos a viver em verdadeiro espírito de comunidade, tal como faziam os primeiros cristãos.

“A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.”

Na 2ªleitura (1 Jo 5, 1-6) S. João convida-nos a deixarmo-nos: mergulhar no Amor infinito de Deus; inundar pelo Espírito Santo ;ser transmissores, no quotidiano da vida da “loucura” do Amor de Deus por cada ser por Ele criado; dar testemunho, pela ação do Espírito Santo em nós, de que acreditamos em Jesus Ressuscitado.

“Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.”

No evangelho (Jo 20, 19-31) se por um lado há uma mistura de sentimentos contraditórios que se digladiam no nosso coração, por outro lado há a certeza da ressurreição de Jesus, que nos enche de esperança e de vida. E são aqueles, que vivenciaram estes momentos, que nos transmitem a evidência dos acontecimentos. Contra factos não há argumentos, Jesus está vivo, Ressuscitou, habita-nos por inteiro: Meu Senhor e meu Deus! Aleluia! Aleluia! Aleluia!

“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.” 

 

«Deus de eterna misericórdia, que reanimais a fé do vosso povo na celebração anual das festas pascais, aumentai em nós os dons da vossa graça, para compreendermos melhor as riquezas inesgotáveis do Batismo com que fomos purificados, do Espírito em que fomos renovados e do Sangue com que fomos redimidos».