Quarta-feira I – dia 7 –01/03/2023
Evangelho: Lc 11, 29-32
«(...) e aqui está quem é maior do que Salomão»
«(...) e aqui está quem é maior do que Jonas»
Jesus olha as pessoas que se juntam à sua
volta e percebe que as suas motivações não são as mais genuínas. São muitas as
intenções, mas nem todas são válidas para O procurar. Por isso Jesus
recorda-lhes que os ninivitas fizeram uma mudança radical nas suas vidas ao
ouvir Jonas e a rainha do Sul fez grandes sacrifícios e percorreu grandes
distâncias para ouvir Salomão. Mas Ele, Jesus, é mais do que Jonas e maior do
que Salomão e as suas palavras não estão a ser levadas tão a sério que
provoquem a mudança da vida.
"Naquele tempo, aglomerava-se uma grande multidão à volta de Jesus e Ele começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa: pede um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal de Jonas. Assim como Jonas foi um sinal para os habitantes de Nínive, assim o será também o Filho do homem para esta geração. No juízo final, a rainha do Sul levantar-se-á com os homens desta geração e há de condená-los, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; e aqui está quem é maior do que Salomão. No juízo final, os homens de Nínive levantar-se-ão com esta geração e hão de condená-la, porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de Jonas; e aqui está quem é maior do que Jonas»."
Sinto que Jesus fala para mim nesta
passagem do evangelho. Sinto que me chama a atenção para o facto de nem sempre
levar a sério a sua palavra e nem sempre usar as minhas capacidades para
converter a minha vida. Fico na superfície da minha relação com Ele porque vivo
na periferia da sua palavra.
Tu és mais do que todos os reis e profetas que têm lugar na minha vida, Senhor. Todos eles podem ser importantes e vale a pena ouvi-los, mas nenhum deles tem palavras de vida eterna. Nenhum deles merece que empenhe toda a minha vida. Posso encontrar muitos modelos mas nenhum será o verdadeiro caminho da minha vida. Desperta em mim, Senhor, a consciência da força libertadora da tua palavra para que a deseje como o verdadeiro alimento que me sustenta.
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
Jonas o teimoso
Terça-feira, 10 de outubro de 2017
O homem sente dificuldade para entrar
na lógica de Deus e com frequência aplica um conceito de «justiça» que ressente
da sua «rigidez» e «teimosia». Limitado como é ao pequeno horizonte do seu
coração, não consegue compreender o modo como «o Senhor age», a sua
misericórdia infinita e a sua vontade de perdão. Esclarece-o a história do
profeta Jonas que o Papa Francisco indicou para a reflexão durante a missa.
(...) O Pontífice repercorreu o Livro de Jonas, observando preliminarmente que parece
«um diálogo entre a misericórdia, a penitência, a profecia e a teimosia».
Antes de tudo, Jonas, «um teimoso que
quer ensinar a Deus o modo como as coisas devem ser feitas». De facto, «quando
o Senhor o enviou a pregar a conversão à cidade de Nínive», ele partiu «de
navio na direção oposta». Isto é: «Fugia da missão que Deus lhe confiara e
entregara». Contudo, os eventos ultrapassam a sua vontade: com efeito, aconteceu
que devido a uma tempestade o «navio ficou em perigo» e aos marinheiros que
«rezavam cada um ao próprio deus», Jonas confessa a sua culpa e pede:
«Lançai-me ao mar, eu sou o culpado». Assim acontece mas, recordou Francisco,
«o Senhor, que é tão bom fez surgir um peixe que engoliu Jonas e depois de três
dias deixou-o na praia».
A segunda parte da história é narrada
precisamente na primeira leitura (Jonas 3, 1-10): «A palavra do
Senhor foi dirigida pela segunda vez a Jonas nestes termos: “Vai a Nínive, a grande
cidade, e faz-lhe conhecer a mensagem que te ordenei”». Desta vez o profeta
«obedeceu». E, observou o Papa, «vê-se que pregava bem porque os moradores de
Nínive sentiram medo, muito medo e converteram-se». Graças ao seu
pronunciamento, explicou, «a força da palavra de Deus chegou ao coração deles»
e não obstante fosse uma «cidade muito pecadora», os seus habitantes mudaram de
vida, «rezaram, jejuaram». Então «Deus viu as suas obras, isto é, que se tinham
convertido da sua conduta malvada, e reconsiderou o castigo que tinha ameaçado infligir-lhes e não o fez».
Poderíamos perguntar, disse o
Pontífice, «mas então, Deus mudou?». Na realidade, esclareceu o Pontífice,
«mudaram eles». De facto, antes «Deus não podia entrar na vida deles porque
estava fechada nos próprios vícios e pecados», depois eles «através da
penitência abriram o coração, abriram a vida e o Senhor pôde entrar».
Prosseguindo a narração, o Papa
antecipou também o seguimento da primeira leitura, na qual «a Igreja nos faz
contemplar a terceira parte», isto é, o facto de que «Jonas sentiu grande desgosto
e ficou indignado. Jonas enraiveceu-se, porque o Senhor perdoou a cidade: “Não,
tu mandaste-me, preguei. Agora deves fazer o que disseste”». Sobressai então o
facto de que Jonas «era um teimoso, mas mais que teimoso, era rígido; estava
doente» de «rigidez da alma». Acrescentou Francisco: «Tinha a alma “engomada”,
fechada, não a podia alargar: as coisas são assim e devem permanecer assim».
Por conseguinte, explicou, depois «da conversão de Nínive», ao Senhor coube
«outra obra»: «a conversão de Jonas».
O Pontífice neste ponto analisou o
método pedagógico utilizado pelo Senhor com Jonas. O profeta «enraivecido, sai
da cidade, retira-se numa cabana». E dado que «lá o sol era forte, o Senhor faz
crescer uma planta de rícino, para que tivesse sombra». Jonas — que «foi ali
para observar o que acontecia à cidade, se era verdade que o Senhor a tinha
perdoado» e que «talvez tivesse a esperança, ou pior, a vontade que descesse
fogo do céu! Estava ali, esperava o espetáculo — na realidade «estava feliz»
com esta árvore que lhe dava conforto. Contudo, «o Senhor fez de modo que
aquele rícino secasse» e então Jonas «enraiveceu-se ainda mais» e, usando a
mesma expressão que usara com os marinheiros, disse: «Melhor para mim morrer
que viver».
Este é, explicou o Papa, o momento em
que «o Senhor entra no coração de Jonas» e lhe diz: «“Parece-te correto ficar
tão indignado por esta planta de rícino?”. Ele respondeu: “Sim, é justo” —
estava muito irado — “sinto-me muito indignado”. Mas o Senhor respondeu-lhe “Tu
tens piedade daquela planta de rícino pela qual não fizeste nada nem sequer
brotar, que numa noite cresceu e numa noite morreu. E eu não deveria ter
piedade de Nínive, aquela grande cidade na qual vivem mais de cento e vinte mil
pessoas que não sabem distinguir a mão direita da esquerda e uma grande
quantidade de animais?”». Isto é, o Senhor «manifesta a Jonas a sua
misericórdia».
Eis então que a Escritura fala também
ao homem de hoje. Explicou Francisco: «Os teimosos de alma, os rígidos, não
compreendem o que é a misericórdia de Deus. São como Jonas: “Devemos pregar
isto, que sejam punidos porque praticaram o mal e devem ir para o inferno”». Ou
seja, os rígidos «não sabem alargar o coração como o Senhor. Eles são
pusilânimes, com o pequeno coração fechado, apegados unicamente à justiça».
Sobretudo, acrescentou, os rígidos «esquecem-se que a justiça de Deus se fez
carne no seu Filho, se fez misericórdia, se fez perdão; que o coração de Deus
está sempre aberto ao perdão. E mais, (...) esquecem-se que Deus, a sua omnipotência, se
manifesta sobretudo na misericórdia e no perdão».
Para o homem, explicou o Papa, «não é
fácil entender a misericórdia de Deus, não é fácil». «É preciso muita oração
para a compreender porque é uma graça». Com efeito, os homens estão acostumados
à lógica do «fizeste-me, far-te-ei também», à justiça do «fizeste, pagas». Mas
«Jesus pagou por nós e continua a pagar».
A Jonas — «teimoso, pusilânime,
rígido», que «não compreendeu a misericórdia de Deus» — o Senhor «poderia ter
dito: “Desenrasca-te com a tua rigidez e com a tua teimosia”». Mas ao contrário
«o próprio Deus que quis salvar aquelas cento e vinte mil pessoas, foi ter com
ele para lhe falar, para o convencer». Porque é «o Deus da paciência, é o Deus
que sabe acariciar, que sabe alargar os corações».
Eis, portanto, «a mensagem deste livro profético»: com o seu «diálogo entre a profecia, a penitência, a misericórdia e a pusilanimidade ou a teimosia», diz-nos que «sempre vence a misericórdia de Deus», porque «a sua omnipotência se manifesta precisamente na misericórdia». E o Pontífice concluiu a homilia aconselhando «a pegar na Bíblia e ler este livro de Jonas — é pequenino, são três páginas — e ver como o Senhor age, como é a misericórdia do Senhor, como Ele transforma os nossos corações. E demos graças ao Senhor porque Ele é tão misericordioso».
Papa Francisco
Glória ao Pai e ao Filho e ao espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.