sábado, 30 de setembro de 2023

 XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM 

O Senhor continua na Sua vinha. Hoje, vem até nós e dirige-nos um pedido especial “Filho, vai hoje trabalhar na vinha”. Cabe a cada um dar-Lhe a sua resposta: sim, sim; não, não. Mais do que as palavras, o que interessa verdadeiramente é fazer a Sua vontade, nada mais é necessário.

Na 1ªleitura (Ez 18, 25-28)   Ezequiel continua, na linha das leituras dos últimos domingos, a revelar-nos Deus como o único justo, como Aquele que vai sempre mais além, quando se trata de nos amar. A medida da justiça de Deus é o Seu Amor infinito por todo e cada ser, hoje e sempre, para além do tempo. 

Eis o que diz o Senhor: «Vós dizeis: ‘A maneira de proceder do Senhor não é justa’. Escutai, casa de Israel: Será a minha maneira de proceder que não é justa? Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto? Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida. Se abrir os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há de viver e não morrerá».

S.Paulo, na 2ªleitura (Filip 2, 1-11)  exorta-nos a amar os nossos irmãos, tendo como expoente o Amor de Jesus Cristo por cada um de nós. Deixemo-nos amar totalmente por Jesus, entreguemo-nos de coração e seremos elos na cadeia de transmissão do Seu Amor, por este mundo além. 

“Irmãos: Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma comunhão no Espírito, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração. Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus.”

No Evangelho (Mt 21, 28-32) o Senhor Jesus conta-nos uma parábola em que nos desafia a colocarmo-nos totalmente nas mãos de Deus. Se Lhe dissermos sim, que a nossa palavra corresponda aos nossos atos, caso contrário, mais vale fazermos como o primeiro filho. 

Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?». Eles responderam-Lhe: «O primeiro». Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus. João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram. E vós, que bem o vistes, não vos arrependestes, acreditando nele».” 

Senhor, que aprenda de Ti a dizer sim, por palavras, mas também de coração. Que, ainda que te diga não, mesmo nessas alturas, me coloque nas Tuas mãos e faça o que Tu queres de mim. 

Amados irmãos e irmãs!

Na minha terra dizem: “Com mau tempo, boa cara”. Com esta “boa cara” digo-vos: bom dia!

Com a sua pregação sobre o Reino de Deus, Jesus opõe-se a uma religiosidade que não envolve a vida humana, que não questiona a consciência nem a sua responsabilidade perante o bem e o mal. Isto também é demonstrado pela parábola dos dois filhos, proposta no Evangelho de Mateus (cf. 21, 28-32). Ao convite do pai para ir trabalhar na vinha, o primeiro filho responde impulsivamente “não, eu não vou”, mas depois arrepende-se e vai; ao contrario, o segundo filho, que responde imediatamente “sim, sim pai”, na realidade não o faz, não vai. A obediência não consiste em dizer “sim” ou “não”, mas sempre em agir, em cultivar a vinha, em realizar o Reino de Deus, em praticar o bem. Com este simples exemplo, Jesus quer superar uma religião entendida apenas como prática exterior e habitual, que não incide na vida e nas atitudes das pessoas, uma religiosidade superficial, apenas “ritual”, no mau sentido da palavra.

Os representantes desta religiosidade de “fachada”, que Jesus desaprova, eram na altura «os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo» (Mt 21, 23) que, segundo a admoestação do Senhor, no Reino de Deus serão precedidos por publicanos e meretrizes (cf. v. 31). Jesus diz-lhes: «os publicanos e as meretrizes preceder-vos-ão no reino de Deus». Esta afirmação não deve levar a pensar que fazem bem aqueles que não seguem os mandamentos de Deus, quantos não seguem a moral, e dizem: “Aqueles que vão à Igreja são piores do que nós!”. Não, este não é o ensinamento de Jesus. Jesus não aponta os publicanos e as meretrizes como modelos de vida, mas como “privilegiados da Graça”. E eu gostaria de sublinhar esta palavra “graça”, a graça, porque a conversão é sempre uma graça. Uma graça que Deus concede a quem se abre e se converte a Ele. De facto, aquelas pessoas, ouvindo a sua pregação, arrependeram-se e mudaram de vida. Pensemos em Mateus, por exemplo, São Mateus, que era um publicano, um traidor da sua pátria.

No Evangelho de hoje, aquele que causa melhor impressão é o primeiro irmão, não por ter dito “não” ao seu pai, mas porque depois do “não” se converteu ao “sim”, arrependeu-se. Deus é paciente com cada um de nós: não se cansa, não desiste depois do nosso “não”; também nos deixa livres de nos distanciarmos d'Ele e cometer erros. Pensar na paciência de Deus é maravilhoso! Como o Senhor nos espera sempre; sempre ao nosso lado para nos ajudar; mas Ele respeita a nossa liberdade. Ele aguarda trepidante o nosso “sim”, para nos acolher novamente  nos seus braços paternos e nos colmar com a sua misericórdia sem limites. A fé em Deus pede que renovemos todos os dias a escolha do bem em vez do mal, a escolha da verdade em vez da mentira, a escolha do amor ao próximo em vez do egoísmo. Aqueles que se converterem a esta escolha, depois de terem experimentado o pecado, encontrarão os primeiros lugares no Reino do Céu, onde há mais alegria por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos (cf. Lc 15, 7).

Mas a conversão, mudar o coração, é um processo, um processo que nos purifica das incrustações morais. E por vezes é um processo doloroso, porque não há caminho para a santidade sem alguma renúncia e sem combate espiritual. Lutar pelo bem, lutar para não cair em tentação, fazer  o que podemos, para chegar a viver na paz e na alegria das Bem-aventuranças. O Evangelho de hoje põe em questão a forma de viver a vida cristã, que não é feita de sonhos e belas aspirações, mas de compromissos concretos, a fim de nos abrirmos cada vez mais à vontade de Deus e ao amor pelos irmãos. Mas isto, mesmo o menor compromisso concreto, não pode ser feito sem a graça. A conversão é uma graça que devemos pedir sempre: “Senhor, concedei-me a graça de melhorar. Dai-me a graça de ser um bom cristão”.

Maria Santíssima nos ajude a ser dóceis à ação do Espírito Santo. Ele  desfaz a dureza dos corações e os predispõe ao arrependimento, para obter a vida e a salvação prometidas por Jesus.

Papa Francisco
(Angelus, 27 de setembro de 2020)

sábado, 23 de setembro de 2023

 XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM 

As leituras de hoje, sendo uma contradição aos olhos do homem justiceiro (de ontem, de hoje, de amanhã, no fundo, de sempre) são uma maravilha da revelação de Nosso Senhor: afinal, Deus é sempre Amor em plenitude, que Se nos dá sempre todo, sempre por inteiro. Por isso, não importa quando foi o nosso primeiro encontro: no berço; na juventude; na idade adulta; na velhice; à hora da morte…. O que interessa é deixarmo-nos encontrar e aceitarmos entrar na lógica de Deus Amor, que só sabe dar-Se e sempre na totalidade, numa entrega infinita, sem seleções, barreiras, contabilidades, ou cálculos de qualquer espécie. Esta é a maravilha do nosso Deus!

 

Na 1ªleitura (Is 55, 6-9) Isaías projeta-nos para a dimensão do perdão, da conversão, da procura de Deus, inserindo tudo na lógica de Deus, na infinitude do Seu Amor por cada um de nós. Se nos deixarmos habitar por Ele, como será diferente a nossa vida. Afinal nem corremos qualquer risco, pois Ele é o Senhor e todo Se dá a cada um, que O queira acolher no seu coração, na sua vida. Vale a pena confiar n’Ele!

“Procurai o Senhor, enquanto se pode encontrar, invocai-O, enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho e o homem perverso os seus pensamentos. Converta-se ao Senhor, que terá compaixão dele, ao nosso Deus, que é generoso em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus – oráculo do Senhor –. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos vossos e acima dos vossos estão os meus pensamentos.”

Na 2ªleitura (Filip 1, 20c-24.27a) recebemos o testemunho de S.Paulo, como o de alguém que todo se deixou cativar, possuir, habitar, por Deus. Ele demonstra-nos que é possível viver de Deus e só de Deus. Impressionante! Quão profunda é a fé deste homem! Bendito seja Deus nos Seus anjos e nos Seus santos !

“Irmãos: Cristo será glorificado no meu corpo, quer eu viva quer eu morra. Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se viver neste corpo mortal me permite um trabalho útil, não sei o que escolher. Sinto-me constrangido por este dilema: desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal. Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo.

 

No evangelho (Mt 20, 1-16a) a parábola, que Jesus nos conta, situa-nos na lógica do Amor de Deus. É aí, em Deus e só n’Ele, que  se entende, pois, como nos revela Jesus, Deus dá-Se todo, e sempre todo, a cada um. Assim, seja ao trabalhador da primeira hora, seja ao da última hora, seja ao que O procura, ou ao que aceita o Seu convite a viver d’ “O Amor” e para “O Amor” no concreto da vida, na relação com os irmãos, Ele ama infinitamente. Não se trata de pagamento por serviços prestados, ou por quantidade de trabalho produzido e número de horas despendidas, mas de comunhão de Amor e no Amor. Deixemo-nos entrar nesta dinâmica do Amor de Deus, para que um dia, na plenitude dos tempos, Deus seja tudo em todos.

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um pro­prie­tário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Saiu a meia-manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’. Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz: «Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros’. Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um. Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizen­do: ‘Estes últimos trabalharam só uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o peso do dia e o calor’. Mas o proprietário respondeu a um deles: ‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’. Assim, os últimos serão os primei­ros e os primeiros serão os últimos».


Senhor, que eu nunca duvide do Teu Amor infinito, por todo e cada ser humano. 

Bom dia, estimados irmãos e irmãs!

Na página evangélica de hoje  (cf. Mt 20, 1-16) encontramos a parábola dos operários chamados a trabalhar ao dia, que Jesus narra para comunicar dois aspetos do Reino de Deus: o primeiro, que Deus quer chamar todos a trabalhar para o seu Reino; o segundo, que no final deseja oferecer a todos a mesma recompensa, ou seja, a salvação, a vida eterna.

O senhor da vinha, que representa Deus, sai ao romper da manhã e contrata um grupo de operários, concordando com eles o salário de um denário por dia: era um salário justo. Depois, sai também nas horas seguintes — ele sai cinco vezes naquele dia — até ao cair da tarde, para contratar outros operários que estão desempregados. No final do dia, o senhor ordena que seja dado um denário a todos, até àqueles que tinham trabalhado poucas horas. Naturalmente, os trabalhadores contratados primeiro queixam-se, porque veem que são pagos como aqueles que trabalharam menos. No entanto, o senhor recorda-lhes que receberam quanto tinham concordado; mas, se Ele quiser ser generoso com os demais, não devem sentir inveja.

Na realidade, esta “injustiça” do senhor serve para provocar, em quantos ouvem a parábola, um salto de nível, porque aqui Jesus não quer falar do problema do trabalho, nem do salário justo, mas do Reino de Deus! E a mensagem é esta: no Reino de Deus não existem desempregados, todos são chamados a desempenhar a sua parte; e no final haverá para todos a recompensa que deriva da justiça divina — não humana, por sorte! — ou seja, a salvação que Jesus Cristo nos conquistou com a sua morte e ressurreição. Uma salvação que não é merecida, mas concedida — a salvação é gratuita — e por isso, «os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos» (Mt 20, 16).

Com esta parábola, Jesus quer abrir o nosso coração à lógica do amor do Pai, que é gratuito e generoso. Trata-se de nos deixarmos surpreender e fascinar pelos «pensamentos» e pelos «caminhos» de Deus que, como recorda o profeta Isaías, não são os nossos pensamentos, não são os nossos caminhos (cf. Is 55, 8). Os pensamentos humanos são muitas vezes marcados por egoísmos e interesses pessoais, e as nossas veredas estreitas e tortuosas não são comparáveis com os caminhos largos e retos do Senhor. Ele é misericordioso — não nos esqueçamos disto: Ele é misericordioso — perdoa amplamente, está cheio de generosidade e de bondade, que derrama sobre cada um de nós, abrindo a todos os territórios ilimitados do seu amor e da sua graça, os únicos que podem conferir ao coração humano a plenitude da alegria.

Jesus quer levar-nos a contemplar o olhar daquele senhor: o olhar com que vê cada um dos operários à espera de um trabalho, chamando-os para a sua vinha. Trata-se de um olhar cheio de atenção e de benevolência; é um olhar que chama, que convida a erguer-se, a pôr-se a caminho, porque deseja a vida para cada um de nós, quer uma vida plena, comprometida, resgatada do vazio e da inércia. Deus não exclui ninguém e quer que cada um alcance a sua plenitude. Este é o amor do nosso Deus, do nosso Deus que é Pai.

Maria Santíssima nos ajude a acolher na nossa vida a lógica do amor, que nos liberta da presunção de merecer a recompensa de Deus e do juízo negativo sobre os outros.

Papa Francisco

(Angelus, 14 de setembro de 2017)

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sábado, 16 de setembro de 2023

 XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM

As leituras deste domingo, a meu ver, estão na mesma linha (amor infinito de Deus por cada um de nós) dos textos da semana passada. mas numa sequência crescente. Se, então, éramos exortados a “corrigir os que erram”, hoje somos desafiados a ir muito mais longe, no caminho que nos leva a Jesus, perdoando totalmente (no amor divino) sempre, sempre, sempre e cada vez mais, os que connosco convivem, ou se cruzam nos caminhos da vida, tendo como meta o encontro, de cada um, com o amor infinito de Deus.

A 1ªleitura (Sir 27, 33 – 28, 9)  traz-nos um confronto, ou melhor, uma correlação entre o perdão de Deus e o perdão dos homens. Acredito sinceramente que só perdoamos verdadeiramente quem nos ofende, quando Deus, no nosso coração, ama a outra pessoa. Então, sim o perdão é verdadeiro e total, passa a ato de amor.

O rancor e a ira são coisas detestáveis, e o pecador é mestre nelas. Quem se vinga sofrerá a vingança do Senhor, que pedirá minuciosa conta de seus pecados. Perdoa a ofensa do teu próximo e, quando o pedires, as tuas ofensas serão perdoadas. Um homem guarda rancor contra outro e pede a Deus que o cure? Não tem compaixão do seu semelhante e pede perdão para os seus próprios pecados? Se ele, que é um ser de carne, guarda rancor, quem lhe alcançará o perdão das suas faltas? Lembra-te do teu fim e deixa de ter ódio; pensa na corrupção e na morte, e guarda os mandamentos. Recorda os mandamentos e não tenhas rancor ao próximo; pensa na aliança do Altíssimo e não repares nas ofensas que te fazem.” 

Na 2ª leitura (Rom 14, 7-9) S. Paulo diz-nos que somos de Cristo e que só n’Ele seremos completamente felizes, porque a Ele pertencemos, uma vez que nos reconquistou para Deus.

“Irmãos: Nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum de nós morre para si mesmo. Se vivemos, vivemos para o Senhor, e se morremos, morremos para o Senhor. Portanto, quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. Na verdade, Cristo morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos vivos e dos mortos.”

No evangelho (Mt 18, 21-35) Jesus, através de uma parábola, leva-nos a reconhecer o quanto Deus é misericordioso para connosco. Como Deus é diferente de nós. Deus só sabe amar! Nós, precisamos de aprender d’Ele a perdoar, a amar.

“Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou-Lhe:«Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?». Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Na verdade, o reino de Deus pode comparar-se a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo de começo, apresentaram-lhe um homem que devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido, com a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, para assim pagar a dívida. Então o servo prostrou-se a seus pés, dizendo: ‘Senhor, concede-me um prazo e tudo te pagarei’. Cheio de compaixão, o senhor daquele servo deu-lhe a liberdade e perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço, dizendo: ‘Paga o que me deves’. Então o companheiro caiu a seus pés e suplicou-lhe, dizendo: ‘Concede-me um prazo e pagar-te-ei’. Ele, porém, não consentiu e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto devia. Testemunhas desta cena, os seus companheiros ficaram muito tristes e foram contar ao senhor tudo o que havia sucedido. Então, o senhor mandou-o chamar e disse: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque mo pediste. Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’. E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração».

Ensina-me Senhor a amar aqueles com quem convivo diariamente, mas também os que ocasionalmente pões no meu caminho.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O trecho evangélico deste domingo (cf. Mt 18, 21-35) oferece-nos um ensinamento sobre o perdão, que não nega a ofensa sofrida mas reconhece que o ser humano, criado à imagem de Deus, é sempre maior que o mal que ele comete. São Pedro pergunta a Jesus: «Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? (v. 21). Para Pedro parece ser já o máximo perdoar sete vezes a uma mesma pessoa; e talvez a nós nos pareça ser já muito perdoar duas vezes. Mas Jesus responde: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (v. 22), isto é, sempre: deves perdoar sempre. E confirma isto narrando a parábola do rei misericordioso e do servo impiedoso, na qual mostra a incoerência daquele que antes foi perdoado e depois se recusa a perdoar.

O rei da parábola é um homem generoso que, movido pela compaixão, perdoou-lhe uma dívida enorme — “dez mil talentos”: enorme — a um servo que o suplica. Mas aquele mesmo servo, ao encontrar logo a seguir outro servo como ele que lhe deve cem denários — ou seja, muito menos —, comporta-se de forma impiedosa, fazendo-o fechar na prisão. A atitude incoerente deste servo é também a nossa quando recusamos o perdão aos nossos irmãos. Enquanto o rei da parábola é a imagem de Deus que nos ama de um amor tão rico de misericórdia a ponto de nos acolher, amar e perdoar constantemente.

Desde o nosso Batismo Deus perdoou-nos, condenando-nos a uma dívida insolúvel: o pecado original. Mas, isto acontece a primeira vez. Depois, com uma misericórdia sem limites, Ele perdoa-nos todas as culpas quando mostramos só um pequeno sinal de arrependimento. Deus é assim: misericordioso.

Quando somos tentados a fechar o nosso coração a quem nos ofendeu e nos pede desculpa, lembremo-nos das palavras do Pai celeste ao servo impiedoso: «Eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste. Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti?» (vv. 32-33). Qualquer pessoa que tenha experimentado a alegria, a paz e a liberdade interior que vem do ser perdoado pode abrir-se por sua vez à possibilidade de perdoar.

Na oração do Pai-Nosso, Jesus quis inserir o mesmo ensinamento desta parábola. Pôs em relação direta o perdão que pedimos a Deus com o perdão que devemos conceder aos nossos irmãos: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam» (Mt 6, 12). O perdão de Deus é o sinal do seu amor transbordante para cada um de nós: é o amor que nos deixa livres de nos afastar, como o filho pródigo, mas que espera todos os dias o nosso regresso; é o amor audaz do pastor pela ovelha perdida; é a ternura que acolhe cada pecador que bate à sua porta. O Pai celeste — nosso Pai — está cheio, cheio de amor e quer oferecê-lo a nós, mas não o pode fazer se fecharmos o nosso coração ao amor pelos outros.

A Virgem Maria nos ajude a estar cada vez mais cientes da gratuitidade e da grandiosidade do perdão recebido de Deus, para nos tornarmos misericordiosos como Ele, Pai bom, lento para a ira e grande no amor.

Papa Francisco


(Angelus  17 de setembro de 2017)

sábado, 9 de setembro de 2023

XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

As leituras de hoje lançam-nos o desafio de nos amarmos uns aos outros sempre, sempre mais e mais, perdidamente (em Deus), em todas as circunstâncias, mas, sobretudo, quando necessitamos de ajuda para modificar comportamentos e atitudes. Todos erramos, errar é humano, por isso também todos precisamos de ser ajudados a corrigir, no que fazemos de mal, todos precisamos de ser perdoados no amor, isso é divino.

Pela 1ªleitura (Ez 33, 7-9)  percebemos que a prática da correção fraterna já vem de longe. Hoje continua a ser assim, como já no tempo dos profetas se fazia: 

Eis o que diz o Senhor: «Filho do homem, coloquei-te como sentinela na casa de Israel. Quando ouvires a palavra da minha boca, deves avisá-los da minha parte. Sempre que Eu disser ao ímpio: ‘Ímpio, hás de morrer’, e tu não falares ao ímpio para o afastar do seu caminho, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas Eu pedir-te-ei contas da sua morte. Se tu, porém, avisares o ímpio, para que se converta do seu caminho, e ele não se converter, morrerá nos seus pecados, mas tu salvarás a tua vida»”

Na 2ª leitura (Rom 13, 8-10) S.Paulo centra-nos no essencial da nossa fé: o Amor de Deus. Só em Deus tudo tem sentido, quanto mais a correção aos irmãos. Sem Deus nada somos, só Ele nos ama infinitamente.

“Irmãos: Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros, pois, quem ama o próximo, cumpre a lei. De facto, os mandamentos que dizem: «Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás», e todos os outros mandamentos, resumem-se nestas palavras: «Amarás ao próximo como a ti mesmo». A caridade não faz mal ao próximo. A caridade é o pleno cumprimento da lei.”


Sempre aprendi que não há cristãos sozinhos, que o cristão caminha em Igreja, em comunidade, pois é, convivendo com os outros, que percebemos o quanto precisamos deles, para avançarmos no caminho do amor. Não é fácil, acho mesmo que as relações humanas, no nosso quotidiano, são muito complicadas, mas quando a correção é feita em Deus, o Pai vem em nosso auxílio e, mesmo que demore tempo, tudo se resolverá pelo melhor. Façamos como Jesus nos diz no Evangelho de hoje (Mt 18, 15-20), peçamos ajuda a Deus, oremos ao Senhor.

"Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão. Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou um publicano. Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu. Digo-vos ainda: Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos Céus. Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles»." 

Senhor, habita o meu coração, por inteiro, para que eu Te ame nos irmãos.


Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste Domingo (cf. Mt 18, 15-20) é tirado do quarto discurso de Jesus na narração de Mateus, conhecido como sermão “comunitário” ou “eclesial”. O trecho de hoje fala de correção fraterna, e convida-nos a refletir sobre a dupla dimensão da existência cristã: a dimensão comunitária, que exige a tutela da comunhão, ou seja, da unidade da Igreja, e a dimensão pessoal, que requer atenção e respeito por cada consciência individual.

Para corrigir o irmão que cometeu um erro, Jesus sugere uma pedagogia de recuperação. E a pedagogia de Jesus é sempre uma pedagogia de recuperação; Ele procura sempre recuperar, salvar. E esta pedagogia da recuperação articula-se em três etapas. Primeiro diz: «repreende-o a sós» (v. 15), ou seja, não ponhas o seu pecado na praça. É uma questão de se dirigir ao irmão com discrição, não para o julgar, mas para o ajudar a dar-se conta do que fez. Quantas vezes já fizemos esta experiência: alguém vem e diz-nos: “Mas, ouve, erraste nisto. Devias mudar um pouco naquilo”. Talvez no início nos zanguemos, mas depois agradecemos, porque é um gesto de fraternidade, de comunhão, de ajuda, de recuperação.

E não é fácil pôr em prática este ensinamento de Jesus, por várias razões. Há o receio de que o irmão ou irmã reaja mal; por vezes não se tem muita confidência com ele ou com ela... E outros motivos. Mas todas as vezes que o fizemos, sentimos que era precisamente o caminho do Senhor.

No entanto, pode acontecer que, apesar das minhas boas intenções, a primeira intervenção falhe. Neste caso, é bom não desistir e dizer: “Mas que se desenrasque, eu lavo as mãos”. Não, isso não é cristão. Não desistas, mas recorre ao apoio de algum outro irmão ou irmã. Jesus diz: «Se não der ouvidos, toma contigo ainda uma ou duas pessoas, para que toda a questão  fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas» (v. 16). Este é um preceito da Lei Moisaica (cf. Dt 19, 15). Embora possa parecer contra o acusado, na realidade serviu para o proteger de falsos acusadores. Mas Jesus vai mais longe: as duas testemunhas são obrigadas a não acusar nem julgar, mas a ajudar. “Mas vamos concordar, tu e eu, vamos falar com este, com este que está a cometer um erro, que está a fazer má figura. Vamos como irmãos e falemos com ele”. Esta é a atitude de recuperação que Jesus quer de nós. Jesus, de facto, calcula que esta abordagem - a segunda abordagem - com testemunhas também possa falhar, ao contrário da Lei Moisaica, para a qual o testemunho de dois ou três é suficiente para a condenação.

Na verdade, mesmo o amor de dois ou três irmãos pode ser insuficiente, porque este ou esta são teimosos. Neste caso - acrescenta Jesus -, «comunica-o à Igreja» (v. 17), ou seja, à comunidade. Em algumas situações, toda a comunidade está envolvida. Há coisas que não podem deixar os outros irmãos indiferentes: é necessário um amor maior para recuperar o irmão. Mas por vezes até isto pode não ser suficiente. Jesus diz: «E se ele se recusar a atender à própria Igreja seja para ti como um pagão ou um publicano» (ibidem). Esta expressão, aparentemente tão desdenhosa, convida-nos de facto a reconduzir o irmão para as mãos de Deus: só o Pai poderá demonstrar um amor maior do que o de todos os irmãos juntos. Este ensinamento de Jesus ajuda-nos muito, porque - pensemos num exemplo - quando vemos um erro, um defeito, um deslize, naquele irmão ou irmã, geralmente a primeira coisa que fazemos é ir e dizer aos outros, para coscuvilhar. E a tagarelice fecha o coração à comunidade, fecha a unidade da Igreja. O grande bisbilhoteiro é o diabo, que está sempre a dizer coisas negativas dos outros, porque é o mentiroso que procura desunir a Igreja, para afastar os irmãos e não fazer comunidade. Por favor, irmãos e irmãs, façamos um esforço para não bisbilhotar. Tagarelar é uma peste pior que a Covid! Vamos fazer um esforço: nenhuma conversa fiada. É o amor de Jesus, que acolheu publicanos e pagãos, escandalizando as pessoas bem-pensantes da época. Não se trata portanto de uma condenação sem apelo, mas do reconhecimento de que por vezes as nossas tentativas humanas podem falhar, e que só estando diante de Deus é possível pôr o irmão perante a sua consciência e a responsabilidade pelas suas ações. Se isto não correr bem, silêncio e oração pelo irmão e irmã que estão errados, mas nunca a tagarelice.

Que a Virgem Maria nos ajude a fazer da correção fraterna um hábito saudável, para que nas nossas comunidades possam sempre ser estabelecidas novas relações fraternas, baseadas no perdão mútuo e sobretudo no poder invencível da misericórdia de Deus.

Papa Francisco

(Angelus, 6 de setembro de 2020)