quinta-feira, 23 de março de 2023

  QUARESMA PASSO A PASSO - 2023 

Sexta-feira IV – dia 27 –24/03/2023

Evangelho    Jo 7, 1-2.10.25-30

«Vós Me conheceis e sabeis de onde Eu sou! No entanto, Eu não vim por minha própria vontade e é verdadeiro Aquele que Me enviou e que vós não conheceis. Mas Eu conheço-O, porque d’Ele venho e foi Ele que Me enviou».

Saltámos o capítulo 6 de S. João. Agora Jesus vê-se num terreno de instabilidade. Já não está seguro em lado nenhum. Na Galileia também o recusaram e os discípulos reduziram-se ao grupo dos doze. O ambiente respira morte. Querem dar-lhe a morte, procuram prendê-lo, mas ainda não chegou a sua hora. No meio desta instabilidade Jesus continua a afirmar a sua origem divina e a missão recebida do Pai. Continua a confundir os ouvintes que julgam conhecê-lo, mas desconhecem o essencial. Enquanto todos preparam o desfecho, a paixão, Jesus vai escapando das suas mãos com habilidade.

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"Naquele tempo, Jesus percorria a Galileia, evitando andar pela Judeia, porque os judeus procuravam dar-Lhe a morte. Estava próxima a festa dos Tabernáculos. Quando os seus parentes subiram a Jerusalém, para irem à festa, Ele subiu também, não às claras, mas em segredo. Diziam então algumas pessoas de Jerusalém: «Não é este homem que procuram matar? Vede como fala abertamente e não Lhe dizem nada. Teriam os chefes reconhecido que Ele é o Messias? Mas nós sabemos de onde é este homem, e, quando o Messias vier, ninguém sabe de onde Ele é». Então, em alta voz, Jesus ensinava no templo, dizendo: «Vós Me conheceis e sabeis de onde Eu sou! No entanto, Eu não vim por minha própria vontade e é verdadeiro Aquele que Me enviou e que vós não conheceis. Mas Eu conheço-O, porque d’Ele venho e foi Ele que Me enviou». Procuravam então prender Jesus, mas ninguém Lhe deitou a mão, porque ainda não chegara a Sua hora." 

O texto de hoje deixou-me preso a algumas expressões: “Jesus percorria a Galileia”. Senti desejo de ser essa Galileia por onde passam os pés de Jesus e onde se firmam os seus passos como um caminho a seguir. Ele sabe por onde passar e à sua passagem, em mim, tudo se revela. “Em segredo”. Esta passagem de Jesus acontece no segredo, no íntimo, sem ruído, mas com verdade e de modo eficaz. Desejei estar atento para o perceber chegar em segredo. “Vós Me conheceis e sabeis de onde Eu sou”; “Mas Eu conheço-O”. Creio que Jesus me está a dizer para não ficar apenas no seu conhecimento como alguém que pertence a um lugar, mas para chegar a conhecê-lo como aquele que pertence a Alguém, ao Pai e desejar entrar na mesma intimidade. “Não chegara a sua hora”, também eu preciso de aguardar a hora em que conhecerei como sou conhecido.

Em segredo, Senhor. No segredo do meu coração, da minha vida, do meu quarto. Aí chegas tu para me visitar, para percorreres os recônditos do meu ser e revelares as intenções mais escondidas. À tua chegada, conheço-te conhecendo-me a mim, na minha pequenez. Vem a mim e faz que a tua hora chegue e seja a minha hora, para que não tenha de esperar mais para estar em ti como tu estás em mim.

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Hoje os cristãos mártires e perseguidos são mais numerosos do que nos primórdios da Igreja e em certos países é até proibido rezar em comunidade. O trecho do livro da Sabedoria (2, 1.12-22) proclamado na liturgia revela «como é o coração dos ímpios, de quantos se afastaram de Deus e se apoderaram da religião», e como é a sua «atitude em relação aos profetas», até à perseguição. São pessoas conscientes de estar diante de um justo, como diz a Escritura: «Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas obras».

Cercar, explicou o Papa, significa «difundir falatórios e calúnias». Assim, «preparam-se para destruir o justo». Não podem aceitar que haja um justo «contrário às nossas obras; ele censura-nos por violar a lei e acusa-nos de contrariar a nossa educação». Palavras que delineiam o perfil dos profetas perseguidos «em toda a história da salvação». Foi Jesus quem «o disse aos fariseus», como narra «o célebre capítulo 23 de são Mateus, cuja leitura nos fará bem». Ele é explícito: «Os vossos pais mataram os profetas mas vós, para eliminar a sua culpa, mandais construir um bonito sepulcro para os profetas!».

Estamos diante de «uma hipocrisia histórica». Na Igreja há «perseguidos fora e dentro». Os santos «foram perseguidos»: quando lemos as suas vidas, vemos tantas «incompreensões e perseguições», pois dado que eram profetas diziam coisas «muito duras». E «tantos pensadores na Igreja foram perseguidos»: «Neste momento penso num deles, não muito distante de nós: um homem de boa vontade, um profeta autêntico que, com os seus livros, admoestava a Igreja a não se afastar do caminho do Senhor. Foi imediatamente chamado; os seus livros foram proibidos e tiraram-lhe a cátedra, e foi assim que este homem acabou a sua vida, há pouco tempo. Hoje ele é beato». Mas como, ontem era herege e hoje é beato?». Sim, «ontem quantos tinham o poder queriam silenciá-lo, porque não gostavam do que ele dizia. Hoje a Igreja, que graças a Deus sabe arrepender-se, diz: não, este homem é bom!». Os cristãos são perseguidos «porque a esta sociedade mundana e tranquila que não quer problemas dizem a verdade e anunciam Jesus Cristo». Hoje nalguns países existe «até há a pena de morte, a prisão por conservar o Evangelho em casa, por ensinar o catecismo!». «Um católico dessas regiões disse-me que é proibido rezar juntos! Só é possível rezar sozinho e escondido». Para celebrar a Eucaristia organizam «uma festa de aniversário!» para eludir a polícia!». O Papa concluiu pedindo ao Senhor «a graça de ir pelo seu caminho, até com a cruz da perseguição».

Papa Francisco

(Santa Marta, 4 de abril de 2014)

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