segunda-feira, 30 de novembro de 2020

3º passo do advento - Pastoral da Cultura

D.R.
Dia 3: Cada cuidado seja entregue a Deus

«Filho, deixa-me fazer de ti aquilo que quero, pois Eu sei o que te convém. Tu pensas como homem e sentes muitas coisas segundo o afeto humano.»
«Senhor, é verdade o que dizes. É maior o teu cuidado do que toda a preocupação que eu possa ter por mim próprio. Bem pouco firme está, pois, aquele que a ti não entrega todo o seu cuidado. Senhor, contanto que a minha vontade se mantenha reta e firme em ti, faz de mim o que mais te agradar. Porque não pode existir qualquer bem, além do que me fizeres. Se queres que eu esteja nas trevas, sê bendito; e se me queres na luz, bendito sejas, Senhor. Se te dignares consolar-me, sê bendito; mas se me queres a sofrer, bendito sejas para sempre.»

Resolução: Recolocar cada cuidado em Deus, e aceitar de boa vontade o que quer que Ele disponha de ti; ou seja, tudo aquilo que te acontece, porque tudo o que te acontece, fora do pecado, tem a mão de Deus.

domingo, 29 de novembro de 2020

2º Passo do Advento - Pastoral da Cultura

D.R.

Dia 2: Não procurar o conforto das pessoas, mas de Jesus

«Mesmo, se possuísses todos os bens criados, não poderias ser feliz e bem-aventurada; mas toda a tua bem-aventurança e felicidade consiste em Deus, que tudo criou, não como a veem e louvam os loucos que amam o mundo, mas como a esperam os bons fiéis de Cristo e a antegozam por vezes as almas espirituais e puras, cuja vida está nos Céus. Toda a consolação humana é vã e breve. Feliz e certa é a que a Verdade faz sentir interiormente. O homem piedoso, para onde quer que vá, leva consigo o seu consolador, Jesus, e diz-lhe: «Sê comigo, Senhor Jesus, em todos os lugares e tempos. Isto me seja consolação: livremente, não querer qualquer consolação humana. E, se até a tua consolação me faltar, que a tua vontade e essa justa prova sejam a minha suprema consolação. Porque não estarás irado para sempre, nem ameaçarás eternamente.»

Resolução: Procurar antes o conforto de Jesus

sábado, 28 de novembro de 2020

1º passo do Advento - Pastoral da Cultura

Vinte e seis passos do Advento ao Natal

D.R.

Dia 1: Aprender a cumprir a vontade de Deus

«Concede-me, ó bom Jesus, a tua graça, que ela esteja comigo e me trabalhe, e que comigo se mantenha até ao fim. Faz com que sempre deseje e queira o que for da tua vontade e mais te agrade. Que a tua vontade seja a minha, e que a minha sempre siga e se conforme à tua. Que o meu querer e não querer sejam os teus, e que não possa querer ou não querer alguma coisa, senão o que Tu queres ou não queres. Concede-me que morra para tudo o que é do mundo e que, por teu amor, seja desprezado e desconhecido na Terra. Faz com que o meu maior desejo seja descansar em ti e em ti pacificar o meu coração. Só Tu és a paz do coração; só Tu és o descanso: fora de ti tudo é duro e inquieto. Nesta paz – ou seja, em ti, único Bem, supremo, eterno – dormirei e terei o meu descanso. Ámen.»

Resolução: Pedir muitas vezes a Deus a graça de só nele repousar, mediante o perfeito cumprimento da sua santíssima vontade.

 I DOMINGO DO ADVENTO 

Mais uma novo ano litúrgico que se inicia – o Ano B. É o início de uma nova etapa do caminho da fé, que o Senhor hoje nos propõe. Ainda que estejamos mais velhos, Deus concede-nos a Graça de rejuvenescermos, de novo, no Seu nascimento. Para isso desafia-nos a, neste tempos de pandemia, estarmos vigilantes e a prepararmos o nosso coração, todo o nosso ser, para O recebermos numa disponibilidade total. Aproveitemos este tempo favorável do Advento, para vivermos o tempo de preparação até ao Natal, num clima de conversão e de confiança no Seu infinito Amor, por cada um de nós.  

Na 1ªleitura (Is 63, 16b-17.19b; 64, 2b-7) o profeta usa uma imagem muito feliz e apropriada, para nos ajudar a perceber que só se nos deixarmos moldar por Jesus, como o barro se deixa trabalhar nas mãos do oleiro é que estaremos prontos para O receber, quando o Senhor vier. No meio de confinamentos, medos, angústias e sofrimento, temos a certeza, na fé, na esperança e na caridade, de que Deus virá. Deixemo-nos moldar pelo nosso Deus de forma a sermos, também nós, obra das Suas mãos.

“Vós, Senhor, sois nosso Pai e nosso Redentor, desde sempre, é o vosso nome. Porque nos deixais, Senhor, desviar dos vossos caminhos e endurecer o nosso coração, para que não Vos tema? Voltai, por amor dos vossos servos e das tribos da vossa herança. Oh se rasgásseis os céus e descêsseis! Ante a vossa face estremeceriam os montes! Mas vós descestes e perante a vossa face estremeceram os montes. Nunca os ouvidos escutaram, nem os olhos viram que um Deus, além de Vós, fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam. Vós saís ao encontro dos que praticam a justiça e recordam os vossos caminhos. Estais indignado contra nós, porque pecámos e há muito que somos rebeldes, mas seremos salvos. Éramos todos como um ser impuro, as nossas ações justas eram todas como veste imunda. Todos nós caímos como folhas secas, as nossas faltas nos levavam como o vento. Ninguém invocava o vosso nome, ninguém se levantava para se apoiar em Vós, porque nos tínheis escondido o vosso rosto e nos deixáveis à mercê das nossas faltas. Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai e nós o barro de que sois o Oleiro; somos todos obra das vossas mãos.


Na 2ªleitura (1 Cor 1, 3-9) S.  Paulo desafia-nos a confiar em Jesus, na certeza de que só Deus é fiel, só n’Ele encontraremos a felicidade que buscamos, pois só Ele nos ama infinitamente, tal qual somos. Deixemo-nos habitar pela Graça Divina que nos foi dada em Jesus e assim seremos suas testemunhas no dia a dia da vida.

“Irmãos: A graça e a paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças a Deus, em todo o tempo, a vosso respeito, pela graça divina que vos foi dada em Cristo Jesus. Porque fostes enriquecidos em tudo: em toda a palavra e em todo o conhecimento; e deste modo, tornou-se firme em vós o testemunho de Cristo. De facto, já não vos falta nenhum dom da graça, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele vos tornará firmes até ao fim, para que sejais irrepreensíveis no dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor.”

No evangelho (Mc 13, 33-37) Jesus desafia-nos a estarmos vigilantes, a convertermos o nosso coração e a preparamo-nos para a vinda do Senhor, cuja hora desconhecemos. O segredo é fazermos a nossa parte e estarmos sempre prontos a recebê-l’O e a abrir-Lhe a porta do nosso coração. "Vem, vem Senhor Jesus, vem, vem que Te esperamos. Vem, vem Senhor Jesus, depressa vem Senhor."

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento. Será como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a sua tarefa, e mandou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, portanto, visto que não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se de manhãzinha; não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!».

Senhor que eu me deixe moldar por Ti, hoje sempre. Concede-me Senhor a graça da conversão.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

"Vamos Sonhar Juntos" - Ecclesia


Covid-19: Novo livro  apresenta propostas do Papa para o pós pandemia

Nov 24, 2020 - 9:59

Francisco critica negacionistas e apela a mudanças profundas na sociedade, falando na «hora da verdade» 

Lisboa, 24 nov 2020 (Ecclesia) – O Papa defende no novo livro intitulado ‘Vamos sonhar juntos’, escrito com o jornalista Austen Ivereigh, seu biógrafo, que a pandemia representa a “hora da verdade” para que a humanidade promova mudanças de fundo contra a injustiça e a desigualdade.

“A crise da Covid-19 parece única porque atinge a maior parte da humanidade. Mas é especial apenas pela sua visibilidade: existem mil outras crises igualmente terríveis, mas dado que para alguns de nós parecem distantes, comportamo-nos como se não tivéssemos nada a ver com isso”, refere Francisco, numa das passagens da obra, divulgadas pelo Vaticano e pela imprensa.

O Papa aborda questões como as guerras, tráfico de armas, migrações e refugiados, pobreza e fome ou as alterações climáticas.

A obra, que vai chegar às bancas a 1 de dezembro, deixa críticas aos “negacionistas” da pandemia, lamentando que estes manifestantes não protestem também diante de situações de violência ou racismo, dando como exemplo a morte do afro-americano George Floyd (25 de maio).

“Alguns grupos têm protestado, recusando-se a manter a distância, manifestando-se contra as restrições às viagens – como se as medidas que os governos devem impor para o bem do seu povo constituíssem uma espécie de ataque político à liberdade individual”, indica o Papa.

Francisco fala em pessoas “incapazes de sair do seu pequeno mundo de interesses”, alertando para situações de crise social, como “as favelas, onde as crianças carecem de água e educação”.

Em conversa com Ivereigh, o Papa explica que a sua preocupação com a ecologia está ligada à defesa da vida humana, ao contrário do que referem alguns dos seus críticos.

“Se pensas que o aborto, a eutanásia e a pena de morte são aceitáveis, será difícil que o teu coração se preocupe com o envenenamento dos rios e a destruição das florestas. E o mesmo se diga do contrário”, precisa.

Francisco critica uma ideologia da “sobrevivência do mais forte, sustentada por um mercado sem travão, obcecado pelo lucro e pela soberania individual”.

“Se a Igreja tem uma tarefa particular a realizar, nos momentos de crise, é precisamente o de recordar ao povo a sua alma, a necessidade de respeitar o bem comum”, sustenta.

O livro apresenta uma reflexão sobre o rendimento mínimo universal, à imagem do que o Papa tinha feito em abril, quando enviou uma carta aos movimentos populares mostrando a sua solidariedade com o trabalhadores, perante a pandemia.

“Temos de ultrapassar a ideia de que o trabalho de quem cuida de um familiar, ou de uma mãe a tempo inteiro, ou de um voluntário num projeto social que assiste centenas de crianças, não é um trabalho porque não recebe um salário”, indica.

Francisco elogia, em ‘Vamos sonhar juntos’, o trabalho de economistas como Mariana Mazzucato Kate Raworth, para sublinhar a importância do contributo das mulheres na definição da sociedade pós-pandemia.

“Promover o Evangelho e não acolher o estrangeiro necessitado, nem afirmar a sua humanidade como filho de Deus, é querer fomentar uma cultura cristã apenas de nome, vazia de toda a sua novidade”, adverte.

A obra aborda também as polémicas ligadas aos Sínodos sobre a família (2014 e 2015) e sobre a Amazónia (2019), apontando o dedo a pessoas e meios de comunicação social que procuraram “reduzir todo o processo sinodal a um só tema”, seja a possibilidade de Comunhão para divorciados que voltaram a casar, seja a ordenação sacerdotal de homens casados.

“Mais do que procurar o confronto, declarando uma guerra em que cada uma das partes espera derrotar a outra, são precisos processos que permitam exprimir, escutar e amadurecer as diferenças, de maneira a caminhar juntos sem necessidade de aniquilar ninguém”, observa o Papa.

Francisco refere-se às perseguições religiosas, apresentando os uighures como um povo “perseguido” a par dos yazidi e dos rohingya, numa crítica indireta ao regime da China.

OC 

Mensagem da Conferência Episcopal Portuguesa para o Advento


Mensagem da Conferência Episcopal Portuguesa para o Advento

Deus vem e enche o nosso tempo de “Bom-Dia”!

1.Advento. Deus vem. Deus vem, Deus saúda, Deus fala, Deus ama, Deus chama, Deus ordena, Deus escuta, Deus responde, Deus envia. Advento. Sujeito Deus. Primeiro Deus. O Deus do Advento, o Deus que Vem traz consigo uma grande carga verbal, que convém que se torne “viral” na nossa vida. Imitação de Deus. Deus que vem para nos dizer “Bom-Dia!”, que é o modo de fazer do Senhor Ressuscitado quando se apresenta no meio de nós, e diz: “Shalôm!”, “A Paz convosco!”.

2.Esta Saudação, este Shalôm, esta Paz, este “Bom-Dia”, que ressoa desde a Criação, entra em nós, enche-nos de Bondade e de Alegria, e faz-nos encontrar um modo novo de encarar a vida. Esta Saudação, este Shalôm, esta Paz, este “Bom-Dia”, estabelece connosco uma relação nova e boa, não nos transmite uma informação, não tem em vista um negócio, não solicita a nossa reflexão ou decisão. Não nos deixa a pensar, a escolher, a decidir. Apenas a responder. Apeia-nos, portanto, do pedestal do nosso “eu” patronal: eu penso, eu quero, eu decido, eu, eu, eu…, e deixa-nos apenas a responder. Apenas. Como se responder fosse coisa pouca. Responder ao Senhor da nossa vida. Ao “Bom-Dia” responde-se “Bom-Dia”. É a Bondade sete vezes dita na Criação, o Sentido da Criação e da Vida a passar de mão em mão, rosto a rosto, coração a coração. Do coração de Deus para o nosso coração. Dos nossos corações uns para os outros. Avenida ou torrente de Bondade e de Fraternidade. Advento. Deus vem e enche o nosso tempo de “Bom-Dia”!

3.Quando alguém te diz: “Bom-Dia!”, já sabes então o que isso significa, implica, replica, multiplica. Imagina agora que à beira da estrada encontras um pobre homem caído, abandonado, a esvair-se em sangue. Ao ver-te passar, balbucia para ti, ou apenas acende uma voz dentro de ti, que te diz, mesmo sem o dizer: “Olha para mim”, “olha por mim”, “cuida de mim”. Repara bem que o pobre não te diz: “Se quiseres, podes cuidar de mim”. Se assim fosse, podias pensar e decidir, sem precisares de descer do trono da tua sacrossanta liberdade de escolha. Mas o “cuida de mim” que o pobre balbucia para ti não é opcional: é uma súplica que é um mandamento; não tens opção de escolha; tu é que foste escolhido; tens de responder que sim, debruçando-te sobre o pobre desvalido que ordena e implora o teu auxílio. Repara bem: o pobre que jaz à beira da estrada elege-te e obriga-te, sem te obrigar, a debruçares-te sobre ele. Movimento inaudito: agora que te debruçaste sobre ele, que ordenou e implorou o teu auxílio, podes entender melhor a sua condição de soberano. Ele é, na verdade, o único verdadeiro soberano, pois sem te apontar nenhuma espingarda ou maço de dinheiro, fez com que tu te debruçasses sobre ele, libertando-te dos teus projetos e negócios, horários, agendas, calendários. Os poderosos e tiranos podem e sabem apenas escravizar-te. Mas não podem nem sabem libertar-te!

4.Por isso, o Deus que vem agora visitar-nos confunde-se com os pequeninos (cf. Mateus 25,40.45), e neles vem amorosamente ao nosso encontro, para conversar connosco, para nos dizer “Bom-Dia”, e ordenar suplicando: “Cuida de mim”. Estava atento Isaías, o profeta do Advento, que ouve Deus a dizer assim: «em lugar alto e santo Eu habito, mas estou também com os oprimidos e humilhados, para dar vida e alento aos que não têm espaço nem sequer para respirar, aos que têm o coração despedaçado» (Isaías 57,15). Bem podia o profeta dizer que Deus desceu à nossa pandemia. E nós, os habitantes da pandemia, bem podemos rever-nos no Salmista que reza: «Do “confinamento” invoquei o Senhor» (Salmo 118,5), chegando-nos a resposta outra vez através de Isaías: «No tempo favorável te respondi; no dia da salvação te socorri» (Isaías 49,8), resposta que Paulo também regista, atualiza e pontualiza: «É agora o tempo favorável! É agora o dia da salvação!» (2 Coríntios 6,2).

5.O andamento do Advento traz-nos um Deus que vem para o meio de nós e da nossa anemia e pandemia, e diz: “Bom-Dia”, e suplicando ordena: “Cuida de mim”. É terrível termos de assumir que, se não cuidamos bem dos pobres e necessitados, também não cuidamos bem de Deus! Mas é agora o tempo favorável! É agora o dia da salvação! É agora o tempo da enchente da Palavra de Deus, de que não devemos fugir, mas a que nos devemos expor. O nosso “eu” patronal e autorreferencial entrará em crise, e teremos de mudar comportamentos. Acolher e responder deve ser o nosso alimento. O Deus que vem não vem mudar as situações. Vem mudar os corações. E são os nossos corações mudados que podem mudar as situações. O Advento é tempo de mudança e de esperança. Celebrar o Advento é deixar entrar em nós esta torrente de Bondade, esta Saudação, este Shalôm, esta Paz, este “Bom-Dia”, este “Cuida de mim”. E responder “Bom-Dia!”, e responder que “Sim”.

6.Sim, porque a resposta de Deus hoje somos nós. «Desci a fim de libertar o meu povo da mão dos egípcios…», diz Deus a Moisés, mas pega logo em Moisés pela mão, e diz-lhe: «E agora vai; Eu te envio ao Faraó, e faz sair do Egito o meu povo» (Êxodo 3,8.10). Texto grandioso e emblemático. O Deus do Advento vem para o meio desta pandemia, pega na nossa mão, muda o nosso coração e envia-nos a mudar a situação. Está aberta a oficina do Advento: enquanto uns se afadigam na vacina, outros nos hospitais, outros nos lares, nas farmácias, na padaria, empenhemo-nos todos em encher este mundo de Paz, de Esperança e de “Bom-Dia”, à imagem e sob a proteção maternal de Maria!

sábado, 21 de novembro de 2020

 XXXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM - SOLENIDADE DE CRISTO REI

Com a solenidade de Jesus Cristo - Rei do Universo, a Igreja fecha o ciclo litúrgico do Ano A. É o coroar de uma caminhada, que prepara o início de um novo ano litúrgico no próximo domingo. A coroação de Jesus Rei faz a ponte com o início da preparação do nascimento do Menino Jesus, de forma a ligar a celebração de todo o Mistério Salvífico, que, pedagogicamente, a Igreja vai apresentando ao longo de cada ano.

As leituras centram-nos na realeza divina de Jesus, que tem como fundamento a Sua vida, morte e ressurreição. Jesus, o Filho de Deus encarnado, na Sua vida terrena, fez escolhas. Em tudo e sempre optou por dar-Se, gastar-Se totalmente até à morte de Cruz (Seu trono de glória), em nosso favor, por Amor.

Na 1ªleitura ( Ez 34, 11-12.15-17) o profeta, ao consolar o povo de Israel, projeta-nos para Deus, o Bom Pastor, que vamos encontrar no evangelho. Jesus veio cumprir a profecia de Ezequiel, Ele é o nosso Bom Pastor! Deixemos que nos guie, abramos-Lhe a porta do nosso coração.

“Eis o que diz o Senhor Deus: «Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas e hei de encontrá-las. Como o pastor vigia o seu rebanho, quando estiver no meio das ovelhas que andavam tresmalhadas, assim Eu guardarei as minhas ovelhas, para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram num dia de nevoeiro e de trevas. Eu apascentarei as minhas ovelhas, Eu as levarei a repousar, diz o Senhor Deus. Hei de procurar a que anda perdida e reconduzir a que anda tresmalhada. Tratarei a que estiver ferida, darei vigor à que andar enfraquecida e velarei pela gorda e vigorosa. Hei de apascentá-las com justiça. Quanto a vós, meu rebanho, assim fala o Senhor Deus: Hei de fazer justiça entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e cabritos».

Na 2ªleitura (1 Cor 15, 20-26.28) S.Paulo apresenta-nos a soberania de Jesus, como primícia de todos os que viveram, antes, durante e depois d’Ele. A realeza divina de  Jesus a todos integrará e com todos contará, assim saiba, cada um de nós, deixar-se habitar totalmente por Ele e d’Ele viver, no concreto de cada dia, junto dos que o Senhor coloca nos nossos caminhos.

“Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. Depois será o fim, quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai, depois de ter aniquilado toda a soberania, autoridade e poder. É necessário que Ele reine, até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. E o último inimigo a ser aniquilado é a morte. Quando todas as coisas Lhe forem submetidas, então também o próprio Filho Se há de submeter Àquele que Lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos.”

No evangelho (Mt 25, 31-46) Jesus dá-nos uma catequese sobre Deus, justo Juíz, misericordioso, Amor infinito, que nos julgará em função dos nossos atos, tendo sempre como critério o amor com que servimos o nosso próximo. Ele, que é só Amor, pelo amor nos julgará. Deixemos que o Senhor Jesus, o Bom Pastor, que deu a Sua Vida por todos, em geral, e por cada um, reine , habite no nosso coração e nos preencha por inteiro e, então, n’Ele, amaremos os que o Senhor colocar nas nossas vidas.

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’. E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’. Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão de perguntar: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’. E Ele lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna».

Senhor habita-me por inteiro, ama em mim cada um dos que faz parte do meu viver de cada dia. 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

" A Economia de Francisco" - Ecclesia

«Economia de Francisco»: Vaticano une-se às novas gerações para defender passagem da centralidade do lucro ao investimento nas pessoas

Nov 19, 2020 - 14:57

Conferência digital junta economistas, empresários, gestores e estudantes de 120 países, incluindo Portugal

Lisboa, 19nov 2020 (Ecclesia) – Jovens de 120 países, incluindo Portugal, uniram-se hoje à abertura da conferência global ‘A Economia de Francisco’, convocada pelo Papa, para um debate de três dias com economistas, empresários, gestores e estudantes. 

O prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé), cardeal Peter Turkson, saudou esta “rede global de jovens líderes e promotores de mudança”, que desafiou a dar “uma alma à Economia do futuro”, para que esta seja “inclusiva, sustentável”, fraterna e ecológica.

O cardeal ganês citou o Papa para pedir trabalho mais digno, especialmente para as novas gerações, e modelos económicos mais equitativos. 

O colaborador de Francisco destacou a necessidade de passar de um modelo centrado no lucro e especulação para uma “economia social que investe nas pessoas” e empresas capazes de “reconhecer a dignidade de cada indivíduo, independentemente do seu papel”.

A iniciativa, inicialmente marcada para março – e adiada por causa da pandemia – criou nos últimos meses uma plataforma mundial de reflexão e ação por uma economia “mais humana” e um futuro sustentável.

Stefano Zamagni, presidente da Academia Pontifícia das Ciências Sociais (Santa Sé), dirigiu-se aos participantes para pedir uma “aliança” capaz de mudar a economia e combater a “mentalidade do descarte e a globalização da indiferença” que o Papa tem denunciado. 

O responsável realçou a importância de se trabalhar por um mundo mais “inclusivo”, mais humano, e um novo sistema financeiro, que inclua critérios sociais e ambientais, questionando uma visão reducionista do “valor”, entendido apenas como “preço de mercado”. 

Na abertura dos trabalhos foi apresentada uma mensagem em vídeo preparada pelos jovens integrantes do movimento ‘ATD Quarto Mundo’ sobre “ouvir o grito dos mais pobres para transformar a terra”.

A intervenção apresentou projetos de valorização dos desempregados de longa duração e as pessoas excluídas do mundo laboral, para não deixar ninguém “à beira da estrada”. 

Um dos testemunhos abordou a opção de viver com menos, falando num “feliz decrescimento”, que permite libertar recursos para as pessoas mais necessitadas. 

A programação passou depois para o Santuário do Despojamento, em Assis, com momentos musicais e de espiritualidade, seguindo-se conferências dos jovens economistas e empresários, em diálogo com oradores internacionais.

Carlos Lemos, médico português, participou na conferência ‘Inteligência Artificial: como enfrentar a desigualdade socioeconómica?’, abordando o papel da tecnologia no campo da saúde, para sublinhar que “deve haver sempre um humano” presente na tomada de decisão. O convidado admitiu que o recurso à inteligência artificial possa libertar os médicos para centrar a atenção em tarefas que “só os humanos podem fazer”, com maior atenção aos pacientes, apelando à criação de um “quadro ético” específico.

A Santa Sé destaca que, entre hoje e sábado, “jovens, economistas, empresários e ativistas de todo o mundo são convidados a refletir juntos para assinar um pacto intergeracional que visa mudar a economia atual e dar uma alma à economia do amanhã, para que esta seja mais justa, inclusiva e sustentável”.

O Papa assinalou o início dos trabalhos com uma mensagem publicada através da sua conta noTwitter: “A terra e os seus pobres têm urgente necessidade de uma economia saudável e de um desenvolvimento sustentável. Por isso, somos chamados a rever os nossos esquemas mentais e morais, para que estejam em conformidade com os mandamentos de Deus e com as exigências do bem comum”.

O programa prevê uma série de intervenções, “que vão da alegria de viver melhor às finanças e à Inteligência Artificial”, com transmissão através do site francescoeconomy.org.

Entre os palestrantes estão Muhammad Yunus, economista e Prémio Nobel da Paz 2006; Vabdana Shiva, membro do Fórum Internacional sobre Globalização; e Stefano Zamagni, presidente da Academia Pontifícia das Ciências Sociais. 

A preparação do encontro promovido pelo Papa e a participação de Portugal envolveu as escolas e associações de negócios portuguesas, nomeadamente a ACEGE-Associação Cristã de Empregados e Gestores; as faculdades de economia e gestão da Nova e da Universidade Católica Portuguesa e a AESE Business School; o projeto “Economia de Comunhão”, do Movimento dos Focolares; e a Comissão Nacional Justiça e Paz. 

OC

sábado, 14 de novembro de 2020

 XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

As leituras de hoje continuam o apelo à vigilância na fé, que se iniciou no passado domingo. Desta vez, o caminho proposto para pormos em prática essa vigilância, é através da rentabilização, por colocação, dos “talentos” que Deus nos deu, sempre ao serviço da transmissão do Seu amor a todos os que fazem parte da nossa vida.

Na 1ªleitura (Prov31,10-13.19-20.30-31) o autor valoriza a mulher virtuosa e o seu papel fundamental na família, na transmissão de Deus Amor. Quando a mulher deixa Deus entrar na sua vida e ser o seu tudo, torna-se reflexo do amor de Deus e então, ontem, hoje e amanhã, será como diz o texto sagrado: “ O seu valor é maior que o das pérolas”.

“Quem poderá encontrar uma mulher virtuosa? O seu valor é maior que o das pérolas. Nela confia o coração do marido e jamais lhe falta coisa alguma. Ela dá-lhe bem-estar e não desventura, em todos os dias da sua vida. Procura obter lã e linho e põe mãos ao trabalho alegremente. Toma a roca em suas mãos, seus dedos manejam o fuso. Abre as mãos ao pobre e estende os braços ao indigente. A graça é enganadora e vã a beleza; a mulher que teme o Senhor é que será louvada. Dai-lhe o fruto das suas mãos e suas obras a louvem às portas da cidade.” 

Na 2ª leitura (1 Tes 5, 1-6)  S.Paulo apela vivamente à  vigilância e à preparação para o dia da vinda do Senhor, porque não sabemos, nem o dia, nem a hora. A nossa atitude deve ser a de uma espera ativa, uma espécie de “stand by” pró-ativo: 

“Irmãos: Sobre o tempo e a ocasião, não precisais que vos escreva, pois vós próprios sabeis perfeitamente que o dia do Senhor vem como um ladrão noturno. E quando disserem: «Paz e segurança», é então que subitamente cairá sobre eles a ruína, como as dores da mulher que está para ser mãe, e não poderão escapar. Mas vós, irmãos, não andais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão, porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia: nós não somos da noite nem das trevas. Por isso, não durmamos como os outros, mas permaneçamos vigilantes e sóbrios.” 

No Evangelho (Mt 25, 14-30)  é o Senhor Jesus que nos desafia a estarmos vigilantes e a prepararmos a Sua segunda vinda. Todas as pessoas têm dons dados por Deus, que, como já a minha mãe dizia, se não forem postos ao serviço dos outros se estragam por falta de uso. Cabe-nos também a nós, hoje, responder ao desafio de colocar os nossos talentos a render, nas diferentes situações da nossa vida: família, profissão, amigos, comunidade,…Que possamos também nós, um dia, ouvir o Senhor dizer-nos: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’.

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um, conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu. O que tinha recebido cinco talentos fê-los render e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Mas o que recebera um só talento foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servos e foi ajustar contas com eles. O que recebera cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos: aqui estão outros cinco que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse: ‘Senhor, confiaste-me dois talentos: aqui estão outros dois que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste. Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra. Aqui tens o que te pertence’. O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei; devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu. Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, dar-se-á mais e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes’».”

Senhor, ensina-me a estar vigilante no serviço aos outros. 

IV Dia Mundial dos Pobres - Ecclesia


Dia Mundial dos Pobres: Francisco convida a «estender a mão» como «condição de autenticidade da fé»


Papa afirma que a Igreja «não tem soluções globais a propor», mas oferece «o seu testemunho e gestos de partilha»

Cidade do Vaticano, 13 jun 2020 (Ecclesia) – O Papa Francisco publicou hoje a mensagem escrita para o IV Dia Mundial dos Pobres, afirmando que o imperativo ‘Estende a tua mão ao pobre’ é “condição da autenticidade da fé”.

“Manter o olhar voltado para o pobre é difícil, mas tão necessário para imprimir a justa direção à nossa vida pessoal e social. Não se trata de gastar muitas palavras, mas antes de comprometer concretamente a vida, impelidos pela caridade divina. Todos os anos, com o Dia Mundial dos Pobres, volto a esta realidade fundamental para a vida da Igreja, porque os pobres estão e sempre estarão connosco para nos ajudar a acolher a companhia de Cristo na existência do dia a dia”, escreveu Francisco, numa mensagem divulgada hoje pela Sala de Imprensa da Santa Sé.

O Papa indica que o encontro com uma pessoa em condições de pobreza não pode parar de “provocar e questionar”: “Como podemos contribuir para eliminar ou pelo menos aliviar a sua marginalização e o seu sofrimento? Como podemos ajudá-la na sua pobreza espiritual?”.

Desde 2017, a celebração promovida por Francisco quer colocar a pessoa em situação de pobreza no centro do agir da Igreja; este ano a mensagem para a celebração, no dia 15 de novembro, está envolva no contexto da pandemia de Covid-19.

O período da pandemia constrangeu-nos a um isolamento forçado, impedindo-nos até de poder consolar e estar junto de amigos e conhecidos atribulados com a perda dos seus entes queridos. Experimentamos a impossibilidade de estar junto de quem sofre e, ao mesmo tempo, tomamos consciência da fragilidade da nossa existência”.

Além da dificuldade, evidencia Francisco, estes meses mostram que “estender a mão é um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor” e que, apesar da “malvadez e a violência, a prepotência e a corrupção”, a vida está “tecida por atos de respeito e generosidade que não só compensam o mal, mas impelem a ultrapassá-lo permanecendo cheios de esperança”.

“Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, desconforto e perplexidade, pudemos ver tantas mãos estendidas! A mão estendida do médico que se preocupa de cada paciente, procurando encontrar o remédio certo”, pode ler-se.

O Papa presta homenagem a todas as mãos que “desafiaram o contágio e o medo, a fim de dar apoio e consolação”.

A mão estendida da enfermeira e do enfermeiro que permanece, muito para além dos seus horários de trabalho, a cuidar dos doentes. A mão estendida de quem trabalha na administração e providencia os meios para salvar o maior número possível de vidas. A mão estendida do farmacêutico exposto a inúmeros pedidos num arriscado contacto com as pessoas. A mão estendida do sacerdote que, com o coração partido, continua a abençoar. A mão estendida do voluntário que socorre quem mora na rua e a quantos, embora possuindo um teto, não têm nada para comer. A mão estendida de homens e mulheres que trabalham para prestar serviços essenciais e segurança”.

O Papa Francisco afirma que a Igreja “não tem soluções globais a propor”, mas procura oferecer “o seu testemunho e gestos de partilha”, sentindo-se “obrigada” a evidenciar os pedidos de “quantos não têm o necessário para viver”, lembrando, assim, que “o grande valor do bem comum é, para o povo cristão, um compromisso vital, que se concretiza na tentativa de não esquecer nenhum daqueles cuja humanidade é violada nas suas necessidades fundamentais”.

O texto alerta que as “graves crises económicas, financeiras e políticas não cessarão” enquanto cada um não “assumir os pesos dos mais vulneráveis”.

A generosidade de apoiar “o vulnerável”, consolar o aflito, “mitigar sofrimentos”, refere Francisco, “devolve dignidade a quem dela está privado, é condição para uma vida plenamente humana”, que “não pode estar condicionada pelo tempo disponível ou por interesses privados, nem por projetos pastorais ou sociais desencarnados”.

“Não se pode sufocar a força da graça de Deus pela tendência narcisista de se colocar sempre a si mesmo no primeiro lugar”, sublinha.

O Papa Francisco critica, em contraste com o “estender a mão ao pobre”, quem “conserva as mãos nos bolsos e não se deixa comover pela pobreza, da qual frequentemente é cúmplice”.

“Existem mãos estendidas para premir rapidamente o teclado de um computador e deslocar somas de dinheiro duma parte do mundo para outra, decretando a riqueza de restritas oligarquias e a miséria de multidões ou a falência de nações inteiras”, acrescenta.

Há mãos estendidas a acumular dinheiro com a venda de armas que outras mãos, incluindo mãos de crianças, utilizarão para semear morte e pobreza. Existem mãos estendidas que, na sombra, trocam doses de morte para se enriquecer e viver no luxo e num efémero desregramento. Existem mãos estendidas que às escondidas trocam favores ilegais para um lucro fácil e corrupto. E há também mãos estendidas que, numa hipócrita respeitabilidade, estabelecem leis que eles mesmos não observam”.

O Papa defende que a comunidade cristã tem de ser chamada a “coenvolver-se na experiência de partilha, ciente de que não é lícito delegá-la a outros”.

“O clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda parte, para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles face a tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas, e para os convidar a participar na vida da comunidade”, indica.

O Papa afirma que oração e solidariedade com os “pobres e enfermos” são “inseparáveis” e que para celebrar “um culto agradável a Deus”, “é preciso reconhecer que toda a pessoa, mesmo a mais indigente e desprezada, traz gravada em si mesma a imagem de Deus”.

“O objetivo de cada ação nossa só pode ser o amor: tal é o objetivo para onde caminhamos, e nada deve distrair-nos dele. Este amor é partilha, dedicação e serviço, mas começa pela descoberta de que primeiro fomos nós amados e despertados para o amor”, escreve.

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA O IV DIA MUNDIAL DOS POBRES

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
(15 DE NOVEMBRO DE 2020)

«Estende a tua mão ao pobre» (Sir 7, 32) 

«Estende a tua mão ao pobre» (Sir 7, 32): a sabedoria antiga dispôs estas palavras como um código sacro que se deve seguir na vida. Hoje ressoam com toda a densidade do seu significado para nos ajudar, também a nós, a concentrar o olhar no essencial e superar as barreiras da indiferença. A pobreza assume sempre rostos diferentes, que exigem atenção a cada condição particular: em cada uma destas, podemos encontrar o Senhor Jesus, que revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis (cf. Mt 25, 40).

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

"Todos Irmãos "


“Todos irmãos”: Entre urgência e desejo

Uma narrativa bíblica crucial para a construção de uma teologia da fraternidade é a que nos é narrada no capítulo 37 do livro do Génesis. Jacob envia o seu filho José para os campos, para saber como estão os irmãos, ocupados a pastorear o rebanho. E um elemento interessante, entre tantos outros deste famoso passo, é que José não encontra de imediato os irmãos. Com efeito, a fraternidade não é um mero automatismo do sangue ou da geografia da família em que se nasce. Da história de Caim e Abel (Génesis 4,1-16), a Bíblia faz-nos saber que a fraternidade é, antes de tudo, uma opção ética na qual nos devemos comprometer, uma decisão existencial e espiritual que, de maneira muito concreta, ou aceitamos ou recusamos. Enquanto José erra pelos campos, um homem vê-o e pergunta-lhe: «Que procuras?». Ele dá uma resposta que, no fundo, serve também para explicar as nossas buscas e as do mundo atual. José responde: «Procuro os meus irmãos». É precisamente desta busca que fala a encíclica “Fratelli tutti”.

 A urgência da fraternidade

Em primeiro lugar, “Todos irmãos” é um texto marcado pela urgência. A urgência pode ser colhida, por exemplo, logo no primeiro capítulo, intitulado “As sombras dum mundo fechado”. O papa Francisco ajuda-nos a olhar o mundo à nossa volta, propondo um diagnóstico essencial do momento histórico que estamos a viver. E não é um momento fácil. Vem-me à ideia o título de uma obra teatral do escritor Peter Handke, prémio Nobel da Literatura 2019: “A hora em que não sabíamos nada um do outro”.

Contra este estado das coisas, o papa eleva a sua voz de maneira profética: «A história dá sinais de regressão» (n. 11). De facto, não só assistimos ao reacender-se de uma conflitualidade que pensávamos superada, quer no plano internacional quer no interior das comunidades nacionais, como vemos também espalhar-se «uma perda do sentido da história» (n. 13) que abre novamente o caminho a lógicas de desagregação, descarte e domínio.

O primeiro a ser ignorado é o bem comum, visto que na experiência da globalização atual aquilo que se constata é o triunfo das ambições dos mais fortes e a crescente precariedade das regiões e dos grupos humanos vulneráveis. Como nos é recordado, «a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos» (n. 12). Ao contrário, «encontramo-nos mais sozinhos do que nunca neste mundo massificado, que privilegia os interesses individuais e debilita a dimensão comunitária da existência» (idem).

Basta ver como os direitos humanos ainda não são suficientemente universais; como continuamos a habitar a casa comum como consumistas desenfreados, em vez de nos empenharmos a gerir equilíbrios no ecossistema; como não nos preocupamos suficientemente a definir eticamente o progresso tecnológico, fazendo dele um instrumento ao serviço da pessoa humana, em vez de uma forma de manipulação e de assimetria social; ou como, perante o flagelo da pandemia que está a atingir o mundo, recusamo-nos a reconhecer que estamos todos na mesma barca e que ninguém se salva sozinho.

Qual é o resultado desta cegueira? O papa Francisco di-lo claramente: «No mundo atual, esmorecem os sentimentos de pertença à mesma humanidade; e o sonho de construirmos juntos a justiça e a paz parece uma utopia doutros tempos» (n. 30). Em síntese: falta um projeto comunitário capaz de nos unir a todos.

A fraternidade: um projeto para todos

O que o papa Francisco propõe é que este projeto possa ser a fraternidade e a amizade social. É fá-lo de modo muito explícito: «Entrego esta encíclica social como humilde contribuição para a reflexão, a fim de que, perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras» (n. 6).

De facto, da tríade liberdade, igualdade e fraternidade, que representa o ideal da modernidade, as nossas sociedades incluíram as primeiras duas, mas deixaram de fora a fraternidade, como se fosse uma questão estritamente privada, sobre a qual não é possível construir um consenso social.

No entanto, como afirma o papa Francisco, sem a fraternidade, a liberdade e a igualdade correm o risco de se tornarem tragicamente inconclusivas e abstratas, facto que podemos facilmente apurar. O reconhecimento da fraternidade é, portanto, uma das tarefas atuais mais prementes, que deve envolver todos os atores, da política à economia, da cultura às religiões.

Ao comentar a parábola evangélica do bom samaritano, o papa diz: «Cada dia é-nos oferecida uma nova oportunidade, uma etapa nova. Não devemos esperar tudo daqueles que nos governam; seria infantil. Gozamos dum espaço de corresponsabilidade capaz de iniciar e gerar novos processos e transformações. Sejamos parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas» (n. 77). As palavras-chave são começar e recomeçar. A fraternidade é colocada nas nossas mãos como um desafio inderrogável.

                                                                                                                  Card. José Tolentino Mendonça
                                                                                                                             In L'Osservatore Romano
                                                                                                                               Trad.: Rui Jorge Martins
                                                                                                                     Imagem: Bignai/Bigstock.com
                                                                                                                              Publicado em 06.11.2020
                                                                                  in Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura