sábado, 31 de outubro de 2020

FESTA DE TODOS OS SANTOS

Transpondo o que escrevi o ano passado, no mesmo dia...
Hoje é dia de todos os santos e, por isso, sentimo-nos mais em comunhão com os que já se encontram a contemplar Deus, face a face, fazemos festa com eles, pois como nos diz o Papa Francisco na Exortação Apostólica “Gaudete et Exsultate” no nº4: “Os santos, que já chegaram à presença de Deus, mantêm connosco laços de amor e de comunhão”.
Segundo o Papa Francisco, mas agora no nº3, da “Gaudete et Exsultate”, são os santos que nos encorajam e acompanham na resposta que vamos dando ao chamamento que o Senhor continua a fazer-nos no dia a dia da nossa vida: “Podemos dizer que «estamos circundados, conduzidos e guiados pelos amigos de Deus. (...) Não devo carregar sozinho o que, na realidade, nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me».” E continua no nº5 do mesmo documento: “Não pensemos apenas em quantos já estão beatificados ou canonizados. O Espírito Santo derrama a santidade, por toda a parte, no santo povo fiel de Deus, porque «aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente». O Senhor, na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo.”


Passando ao nº6 da“Gaudete et Exsultate”  diz-nos o Papa: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da «classe média da santidade»."

Primeira leitura (Ap 7, 2-4.9-14)
Eu, João, vi um Anjo que subia do Nascente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele clamou em alta voz aos quatro Anjos a quem foi dado o poderde causar dano à terra e ao mar: «Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus». E ouvi o número dos que foram marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. Depois disto, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. E clamavam em alta voz: «A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro». Todos os Anjos formavam círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos. Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra, e adoraram a Deus, dizendo: «Ámen! A bênção e a glória, a sabedoria e a ação de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Ámen!». Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: «Esses que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e de onde vieram?». Eu respondi-lhe: «Meu Senhor, vós é que o sabeis». Ele disse-me:«São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro».

No nº7 da “Gaudete et Exsultate” o Papa Francisco diz o seguinte: "Deixemo-nos estimular pelos sinais de santidade que o Senhor nos apresenta através dos membros mais humildes deste povo que «participam também da função profética de Cristo, difundindo o seu testemunho vivo, sobretudo pela vida de fé e de caridade». Como nos sugere Santa Teresa Benedita da Cruz, pensemos que é através de muitos deles que se constrói a verdadeira história: «Na noite mais escura, surgem os maiores profetas e os santos. Todavia a corrente vivificante da vida mística permanece invisível. Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal, é algo que só conheceremos no dia em que tudo o que está oculto for revelado»"


Segunda leitura (1 Jo 3, 1-3) 

Caríssimos:Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a Ele. Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é. Todo aquele que tem n’Ele esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser puro, como Ele é puro.

Diz o Papa no nº 25 da “Gaudete et Exsultate”: "Dado que não se pode conceber Cristo sem o Reino que Ele veio trazer, também a tua missão é inseparável da construção do Reino: «procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça» (Mt 6, 33). A tua identificação com Cristo e os seus desígnios requer o compromisso de construíres, com Ele, este Reino de amor, justiça e paz para todos. O próprio Cristo quer vivê-lo contigo em todos os esforços ou renúncias que isso implique e também nas alegrias e na fecundidade que te proporcione. Por isso, não te santificarás sem te entregares de corpo e alma, dando o melhor de ti neste compromisso."


Evangelho (Mt 5, 1-12a)

"Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem- aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa»."


Passando ao nº14 da “Gaudete et Exsultate”, diz-nos o Papa Francisco: "Deixa que a graça do teu Batismo frutifique num caminho de santidade. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e, para isso, opta por Ele, escolhe Deus sem cessar. Não desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para tornar possível a santidade e, no fundo, esta é o fruto do Espírito Santo na tua vida (cf. Gal 5, 22-23). Quando sentires a tentação de te enredares na tua fragilidade, levanta os olhos para o Crucificado e diz-Lhe: «Senhor, sou um miserável! Mas Vós podeis realizar o milagre de me tornar um pouco melhor». Na Igreja, santa e formada por pecadores, encontrarás tudo o que precisas para crescer rumo à santidade. «Como uma noiva que se adorna com as suas joias» (Is 61, 10), o Senhor cumulou-a de dons como a Palavra, os Sacramentos, os santuários, a vida das comunidades, o testemunho dos santos e uma beleza multiforme que deriva do amor do Senhor."

sábado, 24 de outubro de 2020

 XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM


Nas leituras de hoje somos chamados a acolher a Lei de Deus e a dar-lhe cumprimento. Quando nos situamos apenas na letra da lei, tudo se torna muito complicado, pois só com as nossas forças há situações que nos ultrapassam e de que maneira… Mas, Jesus veio tornar claro que, em Deus Amor, até é possível amar os nossos inimigos. Jesus veio dar pleno cumprimento à Lei e n’Ele os mandamentos passam a fazer parte da nossa vida, como degraus da escada que nos leva a descobrir e a encontrar Deus Amor e a n’Ele amar o próximo.

Na 1ªleitura (Ex 22, 20-26) percebemos que se os mandamentos já eram, no Antigo Testamento, uma ajuda a viver na caridade e na justiça com o próximo, quanto mais não o serão agora, isto é, depois de Jesus lhes dar pleno cumprimento e sentido no Amor. São também para nós hoje muito mais do que normas jurídicas, ou de conduta, mas uma ajuda a caminhar e a crescer na Lei de Deus, a deixar-se conduzir pelo Seu Amor.

“Eis o que diz o Senhor: «Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios fostes estrangeiros na terra do Egipto. Não maltratarás a viúva nem o órfão. Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor; inflamar-se-á a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas mulheres ficarão viúvas, e órfãos os vossos filhos. Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que vive junto de ti, não procederás com ele como um usurário, sobrecarregando-o com juros. Se receberes como penhor a capa do teu próximo, terás de lha devolver até ao pôr do sol, pois é tudo o que ele tem para se cobrir, é o vestuário com que cobre o seu corpo. Com que dormiria ele? Se ele Me invocar, escutá-lo-ei, porque sou misericordioso».”

Na 2ªleitura (1 Tes 1, 5c-10) S.Paulo continua a dar glória a Deus pelo testemunho de fé da comunidade dos Tessalonicenses, que, pela ação do Espírito Santo, se converteram dos ídolos para Deus e se tornaram exemplo para os crentes do seu tempo. Como temos tanto a aprender com S.Paulo e com as primeiras comunidades cristãs!

“Irmãos: Vós sabeis como procedemos no meio de vós, para vosso bem. Tornastes-vos imitadores nossos e do Senhor, recebendo a palavra no meio de muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo; e assim vos tornastes exemplo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia. Porque, partindo de vós, a palavra de Deus ressoou não só na Macedónia e na Acaia, mas em toda a parte se divulgou a vossa fé em Deus, de modo que não precisamos de falar sobre ela. De facto, são eles próprios que relatam o acolhimento que tivemos junto de vós e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos Céus o seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livrará da ira que há de vir.”

No evangelho (Mt 22, 34-40) Jesus continua a ser questionado pelos fariseus e assim vai-se servindo das “armadilhas”, que lhe lançam, para explicar, não só a eles, mas a todos, incluindo nós, hoje, o sentido da Lei de Deus: só em Deus Amor se olha para o outro, de quem gostamos ou de quem nem sequer queremos ouvir falar, como alguém que é infinitamente amado por Deus. Sim, não há ninguém fora do Amor de Deus e assim, em Deus Amor, por Jesus Cristo e como resultado da ação do Espírito Santo será possível amar mesmo os que achamos que nos fizeram e fazem mal, isto é, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Que o Senhor nos ajude, conforte e ilumine com a Sua luz.  

"Naquele tempo, os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas»."

Senhor, ama em mim, todos os que colocas nos caminhos da minha vida. Que eu aprenda de Ti, a subir, degrau a degrau, a escada do Amor.

domingo, 18 de outubro de 2020

 XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM


As leituras deste domingo levam-nos a questionarmo-nos sobre quem pomos em primeiro lugar na vida: Deus; os senhores deste mundo político, económico, social, religioso, ecológico,…; as nossas coisas (pequeninas, médias, ou enormes); a ânsia de queremos ter mais e melhor;… Afinal, quem, ou o que é que, nos faz mover e existir? Simultaneamente, somos alertados, nesta liturgia, para a necessidade de cumprimos também as nossas obrigações para com o poder justo e as instituições políticas e sociais que nos governam, sejam elas fiscais, ou de outra natureza. Digo eu, se todos queremos ter direito à saúde, educação, paz, pão e liberdade (como diz a canção) devemos contribuir com a nossa parte, que passa por pagar impostos, entre outras obrigações. E, digo eu, mais ainda, são todos os cidadãos e não são só os que não podem “fugir”, por qualquer artimanha contabilístico-financeiro, política, etc, que devem suportar o erário público! Assim, também estaremos (todos) ao serviço uns dos outros. Se todos pagássemos, o que devemos, talvez sentíssemos mais a chamada “coisa pública” também como nossa e consequentemente agíssemos de uma forma mais responsável, comprometida e solidária.

Na 1a leitura (Is 45, 1.4-6) o profeta mostra como Deus, o único Senhor, se serve de alguém que não pertence ao povo escolhido, para chegar ao coração de Israel. É assim, estejamos atentos aos sinais, pois nunca sabemos de quem Deus se serve para chegar ao nosso coração.

“Assim fala o Senhor a Ciro, seu ungido, a quem tomou pela mão direita, para subjugar diante dele as nações e fazer cair as armas da cintura dos reis, para abrir as portas à sua frente, sem que nenhuma lhe seja fechada: «Por causa de Jacob, meu servo, e de Israel, meu eleito, Eu te chamei pelo teu nome e te dei um título glorioso, quando ainda não Me conhecias. Eu sou o Senhor e não há outro; fora de Mim não há Deus. Eu te cingi, quando ainda não Me conhecias, para que se saiba, do Oriente ao Ocidente, que fora de Mim não há outro. Eu sou o Senhor e mais ninguém».”


Na 2ªleitura (1 Tes 1, 1-5b) S.Paulo dá graças e louvores a Deus, porque a comunidade dos Tessalonicenses dá testemunho de Jesus vivo e ressuscitado demonstrando, no seu tempo, a atividade da sua fé, o esforço da caridade e a firmeza na esperança. Que este seja um desafio para também nós, neste séc.XXI,  deixarmos que o Espírito Santo nos habite de forma a vivermos de Jesus em todos os momentos da nossa vida.

“Paulo, Silvano e Timóteo à Igreja dos Tessalonicenses, que está em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo: A graça e a paz estejam convosco. Damos continuamente graças a Deus por todos vós, ao fazermos menção de vós nas nossas orações. Recordamos a atividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo, na presença de Deus, nosso Pai. Nós sabemos, irmãos amados por Deus, como fostes escolhidos. O nosso Evangelho não vos foi pregado somente com palavras, mas também com obras poderosas, com a ação do Espírito Santo.”


No Evangelho (Mt 22, 15-21) Jesus não se deixa enganar pelos falsos elogios, através dos quais os fariseus achavam que iam O “apanhar”. Nunca quiseram perceber quem era Aquele que lia o que lhes ia na alma e, mesmo assim, lhes dava todas as oportunidades de O reconhecerem. É linda a forma como Jesus desmonta sempre os seus “mafiosos” esquemas! Às vezes somos mesmo duros de coração e não nos abrimos à ação de Deus em nós. É uma pena! Ainda assim, Deus continua a amar-nos infinitamente e a escolher-nos para darmos testemunho do Amor junto de todos os que coloca nos nossos caminhos. Deixemos que Ele seja o nosso único Senhor, o nosso Amor, a Luz que nos conduz. Demos a Deus o que é de Deus e a César o que é de César.

“Naquele tempo, os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes aceção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: «De César». Disse-Lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus».


Senhor, que sejas para mim sempre e só o meu único Deus. Que eu aprenda a viver de Ti e só de Ti.

sábado, 17 de outubro de 2020

Dia Mundial das Missões

A celebração do Dia Mundial das Missões acontece anualmente no terceiro domingo de outubro (18 de outubro, em 2020); os donativos recolhidos nas Missas destinam-se a apoiar o trabalho das Obras Missionárias Pontifícias.

Na sua mensagem para o 94.º Dia Mundial das Missões, o Papa assume que a pandemia de Covid-19 deve ser um “desafio também para a missão da Igreja”.

“Desafia-nos a doença, a tribulação, o medo, o isolamento. Interpela-nos a pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida”, escreve Francisco, num texto com o título ‘Eis-me aqui, envia-me’.


MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
O PAPA FRANCISCO
PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2020

[18 de outubro de 2020]

 

«Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8)

 

Queridos irmãos e irmãs!

Desejo manifestar a minha gratidão a Deus pelo empenho com que, em outubro passado, foi vivido o Mês Missionário Extraordinário em toda a Igreja. Estou convencido de que isso contribuiu para estimular a conversão missionária em muitas comunidades pela senda indicada no tema «Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo».

Neste ano, marcado pelas tribulações e desafios causados pela pandemia do covid-19, este caminho missionário de toda a Igreja continua à luz da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta Isaías: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?» (Ibid.). Esta chamada provém do coração de Deus, da sua misericórdia, que interpela quer a Igreja quer a humanidade na crise mundial atual. «À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer” (cf. Mc 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos» (Francisco, Meditação na Praça de São Pedro, 27/III/2020). Estamos verdadeiramente assustados, desorientados e temerosos. O sofrimento e a morte fazem-nos experimentar a nossa fragilidade humana; mas, ao mesmo tempo, todos nos reconhecemos participantes dum forte desejo de vida e de libertação do mal. Neste contexto, a chamada à missão, o convite a sair de si mesmo por amor de Deus e do próximo aparece como oportunidade de partilha, serviço, intercessão. A missão que Deus confia a cada um faz passar do «eu» medroso e fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si.

No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus (cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um (cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser enviados, porque Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de Si mesmo para dar vida. Por amor dos homens, Deus Pai enviou o Filho Jesus (cf. Jo 3, 16). Jesus é o Missionário do Pai: a sua Pessoa e a sua obra são, inteiramente, obediência à vontade do Pai (cf. Jo 4, 34; 6, 38; 8, 12-30; Heb 10, 5-10). Por sua vez, Jesus – crucificado e ressuscitado por nós –, no seu movimento de amor atrai-nos com o seu próprio Espírito, que anima a Igreja, torna-nos discípulos de Cristo e envia-nos em missão ao mundo e às nações.

«A missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te impele e conduz (Francisco, Sem Ele nada podemos fazer, 2019, 16-17). Deus é sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso encontro e chama-nos. A nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos testemunhou. Mas, todos têm uma dignidade humana fundada na vocação divina a ser filhos de Deus, a tornar-se, no sacramento do Batismo e na liberdade da fé, aquilo que são desde sempre no coração de Deus.

Já o facto de ter recebido gratuitamente a vida constitui um convite implícito para entrar na dinâmica do dom de si mesmo: uma semente que, nos batizados, ganhará forma madura como resposta de amor no matrimónio e na virgindade pelo Reino de Deus. A vida humana nasce do amor de Deus, cresce no amor e tende para o amor. Ninguém está excluído do amor de Deus e, no santo sacrifício de seu Filho Jesus na cruz, Deus venceu o pecado e a morte (cf. Rom 8, 31-39). Para Deus, o mal – incluindo o próprio pecado – torna-se um desafio para amar, e amar cada vez mais (cf. Mt 5, 38-48; Lc 23, 33-34). Por isso, no Mistério Pascal, a misericórdia divina cura a ferida primordial da humanidade e derrama-se sobre o universo inteiro. A Igreja, sacramento universal do amor de Deus pelo mundo, prolonga na história a missão de Jesus e envia-nos por toda a parte para que, através do nosso testemunho da fé e do anúncio do Evangelho, Deus continue a manifestar o seu amor e possa tocar e transformar corações, mentes, corpos, sociedades e culturas em todo o tempo e lugar.

A missão é resposta, livre e consciente, à chamada de Deus. Mas esta chamada só a podemos sentir, quando vivemos numa relação pessoal de amor com Jesus vivo na sua Igreja. Perguntemo-nos: estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado e, em todo o caso, na vida comum de todos os dias? Estamos dispostos a ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja? Como Maria, a Mãe de Jesus, estamos prontos a permanecer sem reservas ao serviço da vontade de Deus (cf. Lc 1, 38)? Esta disponibilidade interior é muito importante para se conseguir responder a Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me (cf. Is 6, 8). E isto respondido não em abstrato, mas no hoje da Igreja e da história.

A compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes tempos de pandemia torna-se um desafio também para a missão da Igreja. Desafia-nos a doença, a tribulação, o medo, o isolamento. Interpela-nos a pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida. Obrigados à distância física e a permanecer em casa, somos convidados a redescobrir que precisamos das relações sociais e também da relação comunitária com Deus. Longe de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade e liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. A impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a Eucaristia fez-nos partilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a Missa todos os domingos. Neste contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de Deus – «quem enviarei?» – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). Deus continua a procurar pessoas para enviar ao mundo e às nações, a fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do pecado e da morte, a sua libertação do mal (cf. Mt 9, 35-38; Lc 10, 1-11).

Celebrar o Dia Mundial das Missões significa também reiterar que a oração, a reflexão e a ajuda material das vossas ofertas são oportunidades para participar ativamente na missão de Jesus na sua Igreja. A caridade manifestada nas coletas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo de outubro tem por objetivo sustentar o trabalho missionário, realizado em meu nome pelas Obras Missionárias Pontifícias, que acodem às necessidades espirituais e materiais dos povos e das Igrejas de todo o mundo para a salvação de todos.

A Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização e Consoladora dos Aflitos, discípula missionária do seu Filho Jesus, continue a amparar-nos e a interceder por nós.

Roma, em São João de Latrão, na Solenidade de Pentecostes, 31 de maio de 2020.

Francisco

sábado, 10 de outubro de 2020

XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Na liturgia de hoje as leituras convidam-nos para o banquete do Senhor, para participamos na Ceia Pascal e, a este propósito, relembro um excerto do que escreveu o Bispo de Leiria Fátima na sua carta pastoral deste ano:

“Felizes os convidados para a ceia do Senhor!” Somos, antes de mais, convidados, hóspedes e comensais da ceia do Senhor. É a mesma ceia que Ele viveu com os apóstolos no cenáculo quando – surpresa inaudita e maravilhosa – lhes deu o “Seu Corpo e Sangue”, antecipando assim o dom total de si mesmo na cruz, que agora é dado a nós em comunhão. Quem toma parte neste banquete é feliz! É-lhe oferecida uma bem-aventurança, uma experiência de extraordinária felicidade, de uma alegria original e indizível que nasce do acolhimento do dom de Cristo, do seu Corpo (pessoa) glorioso e de todo o seu mistério de amor. A comunhão eucarística é a porta que faz entrar Cristo em nós e nós em Cristo. Eis a maravilha das maravilhas do Deus connosco em que o coração de Cristo se une ao nosso e o nosso ao Seu para viver em comunhão e para fazer de nós um povo de comunhão! O Filho de Deus tornou-se carne humana para se tornar pão vivo, pão de vida eterna.”

Na 1ª leitura (Is 25, 6-10a)  é numa linguagem festiva, de ânimo e esperança para o povo de Israel, mas também para nós, hoje, que o profeta Isaías, nos fala da promessa de Deus de preparar um banquete para todos os povos, com suculentos manjares e com vinhos deliciosos, fazendo-nos presente o milagre do Amor Vivo no meio de nós, que é a cada Eucaristia.

“Sobre este monte, o Senhor do Universo há de preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos: comida de boa gordura, vinhos puríssimos. Sobre este monte, há de tirar o véu que cobria todos os povos, o pano que envolvia todas as nações; destruirá a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e fará desaparecer da terra inteira o opróbrio que pesa sobre o seu povo. Porque o Senhor falou. Dir-se-á naquele dia: «Eis o nosso Deus, de quem esperávamos a salvação; é o Senhor, em quem pusemos a nossa confiança. Alegremo-nos e rejubilemos, porque nos salvou. A mão do Senhor pousará sobre este monte».”

Na 2ªleitura (Filip 4, 12-14.19-20) S.Paulo, numa linguagem muito bela e, ao mesmo tempo, pessoal, vivencial, forte e profunda, dá-nos testemunho de que é possível viver em Jesus a tempo inteiro. Por outro lado, agradece aos Filipenses a ajuda que recebeu deles. Apoiado em Deus e atento aos irmãos, eis como vive Paulo. 

Irmãos: Sei viver na pobreza e sei viver na abundância. Em todo o tempo e em todas as circunstâncias, tenho aprendido a ter fartura e a passar fome, a viver desafogadamente e a padecer necessidade. Tudo posso n’Aquele que me conforta. No entanto, fizestes bem em tomar parte na minha aflição. O meu Deus proverá com abundância a todas as vossas necessidades, segundo a sua riqueza e magnificência, em Cristo Jesus. Glória a Deus, nosso Pai, pelos séculos dos séculos. Ámen.”

No Evangelho (Mt 22, 1-14) é o próprio Jesus quem nos convida, por meio da parábola que nos conta, a participar no banquete que o pai nos prepara em cada Eucaristia. Festejamos Jesus ressuscitado, vivo no meio de nós. E, sempre que o nosso coração se abre, sob a ação do Espírito Santo, e se deixa inundar do Amor de Deus, participamos em cheio neste banquete de manjares suculentos e vinho puríssimo, preparado para nós desde toda a eternidade. Deixemo-nos cativar pelo Seu convite de amor infinito.

“Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, falando em parábolas, disse-lhes: «O reino dos Céus pode comparar-se a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram vir. Mandou ainda outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: Preparei o meu banquete, os bois e os cevados foram abatidos, tudo está pronto. Vinde às bodas’. Mas eles, sem fazerem caso, foram um para o seu campo e outro para o seu negócio; os outros apoderaram-se dos servos, trataram-nos mal e mataram-nos. O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos, que acabaram com aqueles assassinos e incendiaram a cidade. Disse então aos servos: ‘O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes’. Então os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala do banquete encheu-se de convidados. O rei, quando entrou para ver os convidados, viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’. Mas ele ficou calado. O rei disse então aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o às trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes’. Na ver­dade, muitos são os chamados, mas poucos os esco­lhidos».” 

Senhor, Pai Santo eu te louvo e bendigo pelo dom da Eucaristia. Que o meu coração se deixe repassar de Ti e assim eu responda ao Teu convite de Amor.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Papa pede oração do Rosário em tempos de pandemia - Ecclesia


Cidade do Vaticano, 07 out 2020 (Ecclesia) – O Papa evocou hoje no Vaticano as aparições de Fátima para pedir aos católicos que rezem o Rosário, nestes tempos de pandemia, e que a sua vida seja “serviço de amor” ao próximo, especialmente os mais desprotegidos.

“Nossa Senhora, nas suas aparições, exortou muitas vezes à recitação do Rosário, especialmente perante as ameaças que pairavam sobre o mundo. Também hoje, neste momento de pandemia, é necessário ter o Rosário nas mãos, rezando por nós, pelos nossos entes queridos e por todas as pessoas”, disse Francisco, nas saudações aos peregrinos que se reuniram, pela primeira vez desde o confinamento, no Auditório Paulo VI.

O regresso à sala das audiências, com milhares de pessoas, aconteceu depois de cinco encontros, em setembro, no Pátio de São Dâmaso, ao ar livre.

As saudações do Papa, para os peregrinos de vários países reunidos no Vaticano, recordaram a celebração, neste dia 7 de outubro, da festa de Nossa Senhora do Rosário.

“Convido todos a redescobrir, especialmente durante este mês de outubro, a beleza da oração do Rosário, que alimentou a fé do povo cristão ao longo dos séculos”, declarou.

Convido-vos a rezar o rosário e a levá-lo nas mãos ou no bolso. A recitação do rosário é a oração mais bela que podemos oferecer à Virgem Maria; é uma contemplação das etapas da vida de Jesus Salvador com a sua Mãe Maria e é uma arma que nos protege dos males e das tentações”.

Francisco dirigiu-se, em particular, aos peregrinos e ouvintes de língua portuguesa.

“Convido-vos a tomar o rosário nas mãos todos os dias e erguer o vosso olhar para Nossa Senhora, sinal de consolação e esperança segura. Que a Virgem Santa ilumine e proteja toda a peregrinação da vossa vida até à Casa do Pai”, disse.

O Santuário de Fátima vai assinalar, a 13 de outubro, o aniversário da sexta aparição de Nossa Senhora aos Videntes, na Cova da Iria, em 1917, onde estiveram entre 50 a 70 mil peregrinos.

“Nesta aparição, Nossa Senhora anunciou aos videntes o fim da guerra, deixou apelos à conversão, à reparação e à oração do Rosário, segundo se lê no relato que Lúcia de Jesus deixou no seu livro de memórias”, informa a instituição.

Foi nesta data que também aconteceu o “milagre do sol”.

OC


O Papa retomou, nesta audiência, o ciclo de catequeses sobre a oração, centrando-se na figura do profeta Elias, que considerou “uma das personagens mais fascinantes de toda a Sagrada Escritura”.

“Ele é o exemplo de todas as pessoas de fé que conhecem tentações e sofrimentos, mas não deixam de viver à altura do ideal para o qual nasceram. A oração é a seiva que alimenta constantemente a sua existência”, observou.Francisco pediu cristãos “zelosos”, capazes de agir diante dos responsáveis políticos, como fez Elias, para dizer: “Isto não pode ser feito, isto é um assassínio”.

“A prova da oração é o amor concreto pelo próximo. E vice-versa: os crentes agem no mundo depois de, primeiro, se terem calado e rezado; caso contrário, a sua ação é impulsiva, desprovida de discernimento, é um correr ofegante, sem meta”, acrescentou.

O Papa destacou que, na oração, se recuperam, “como que por milagre, a serenidade e a paz”.


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Uma primeira leitura sobre a encíclica "todos Irmãos" - Pastoral da Cultura - Rui Jorge Martins

 Encíclica “Todos irmãos”: Duas orações e oito frases marcantes de cada um dos oito capítulos

1 - “As sombras dum mundo fechado”

«Em vários países, uma certa noção de unidade do povo e da nação, penetrada por diferentes ideologias, cria novas formas de egoísmo e de perda do sentido social mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais.»

«Os conflitos locais e o desinteresse pelo bem comum são instrumentalizados pela economia global para impor um modelo cultural único. Esta cultura unifica o mundo, mas divide as pessoas e as nações.»

«Nota-se a penetração cultural de uma espécie de “desconstrucionismo”, em que a liberdade humana pretende construir tudo a partir do zero. De pé, deixa apenas a necessidade de consumir sem limites e a acentuação de muitas formas de individualismo sem conteúdo.»

«Uma maneira eficaz de dissolver a consciência histórica, o pensamento crítico, o empenho pela justiça e os percursos de integração é esvaziar de sentido ou manipular as “grandes” palavras. Que significado têm hoje palavras como democracia, liberdade, justiça, unidade? Foram manipuladas e desfiguradas para utilizá-las como instrumento de domínio, como títulos vazios de conteúdo que podem servir para justificar qualquer ação.»

«Nega-se a outros o direito de existir e pensar e, para isso, recorre-se à estratégia de ridicularizá-los, insinuar suspeitas sobre eles e reprimi-los. Não se acolhe a sua parte da verdade, os seus valores, e assim a sociedade empobrece-se e acaba reduzida à prepotência do mais forte.»

«Tanto na propaganda de alguns regimes políticos populistas como na leitura de abordagens económico-liberais, defende-se que é preciso evitar a todo o custo a chegada de pessoas migrantes. Simultaneamente, argumenta-se que convém limitar a ajuda aos países pobres, para que toquem o fundo e decidam adotar medidas de austeridade. Não se dão conta que, atrás destas afirmações abstratas e difíceis de sustentar, há muitas vidas dilaceradas.»

«A sabedoria não se fabrica com buscas impacientes na internet, nem é um somatório de informações cuja veracidade não está garantida. Desta forma, não se amadurece no encontro com a verdade.»

«As conversas giram, em última análise, ao redor das notícias mais recentes; são meramente horizontais e cumulativas. Mas não se presta uma atenção prolongada e penetrante ao coração da vida, nem se reconhece o que é essencial para dar um sentido à existência.»

2 – “Um estranho no caminho”[sobre a parábola do bom samaritano]


«Crescemos em muitos aspetos, mas somos analfabetos no acompanhar, cuidar e sustentar os mais frágeis e vulneráveis das nossas sociedades desenvolvidas. Habituamo-nos a olhar para o outro lado, a passar à margem, a ignorar as situações até elas nos caírem diretamente em cima.»

«[A parábola do bom samaritano] é um apelo sempre novo: que a sociedade se oriente para a prossecução do bem comum e, a partir deste objetivo, reconstrua incessantemente a sua ordem política e social, o tecido das suas relações, o seu projeto humano.»

«Viver indiferentes à dor não é uma opção possível; não podemos deixar ninguém caído “nas margens da vida”.»

«Deixemos que outros continuem a pensar na política ou na economia para os seus jogos de poder. Alimentemos o que é bom e coloquemo-nos ao serviço do bem.»

«A proposta é fazer-se presente a quem precisa de ajuda, independentemente de fazer parte ou não do próprio círculo de pertença. (…) Assim, já não digo que tenho “próximos” a quem devo ajudar, mas que me sinto chamado a tornar-me eu um próximo dos outros.»

«Este encontro misericordioso entre um samaritano e um judeu é uma forte provocação, que desmente toda a manipulação ideológica, desafiando-nos a ampliar o nosso círculo, a dar à  nossa capacidade de amar uma dimensão universal capaz de ultrapassar todos os preconceitos, todas as barreiras históricas ou culturais, todos os interesses mesquinhos.»

«Às vezes deixa-me triste o facto de, apesar de estar dotada de tais motivações, a Igreja ter demorado tanto tempo a condenar energicamente a escravatura e várias formas de violência.»

«A fé, com o humanismo que inspira, deve manter vivo um sentido crítico perante estas tendências e ajudar a reagir rapidamente quando começam a insinuar-se. Para isso, é importante que a catequese e a pregação incluam, de forma mais direta e clara, o sentido social da existência, a dimensão fraterna da espiritualidade, a convicção sobre a dignidade inalienável de cada pessoa e as motivações para amar e acolher a todos.»

3 – “Pensar e gerar um mundo aberto”

© Raymond Depardon/Magnum Photo

«Há um aspeto da abertura universal do amor que não é geográfico, mas existencial: a capacidade diária de alargar o meu círculo, chegar àqueles que espontaneamente não sinto como parte do meu mundo de interesses, embora se encontrem perto de mim. Por outro lado, cada irmã ou cada irmão que sofre, abandonado ou ignorado pela minha sociedade, é um estrangeiro existencial, embora tenha nascido no mesmo país.»

«O individualismo radical é o vírus mais difícil de vencer. Ilude. Faz-nos crer que tudo se reduz a deixar à rédea solta as próprias ambições, como se, acumulando ambições e seguranças individuais, pudéssemos construir o bem comum.»

«Se a sociedade se reger primariamente pelos critérios da liberdade de mercado e da eficiência, não há lugar para tais pessoas [pessoa com deficiência, alguém que nasceu num lar extremamente pobre, alguém que cresceu com uma educação de baixa qualidade e com reduzidas possibilidades para cuidar adequadamente das suas enfermidades], e a fraternidade não passará de uma palavra romântica.»

«O direito à propriedade privada só pode ser considerado como um direito natural secundário e derivado do princípio do destino universal dos bens criados, e isto tem consequências muito concretas que se devem refletir no funcionamento da sociedade. Mas acontece, muitas vezes, que os direitos secundários se sobrepõem aos prioritários e primordiais, deixando-os sem relevância prática.»

«Como é inaceitável que uma pessoa tenha menos direitos pelo simples facto de ser mulher, de igual modo é inaceitável que o local de nascimento ou de residência determine, por si só, menores oportunidades de vida digna e de desenvolvimento.»

«O direito de alguns à liberdade de empresa ou de mercado não pode estar acima dos direitos dos povos e da dignidade dos pobres; nem acima do respeito pelo ambiente.»

«Em muitos casos, o pagamento da dívida não só não favorece o desenvolvimento, mas limita-o e condiciona-o intensamente.»

Trata-se, sem dúvida, doutra lógica. Se não se fizer esforço para entrar nesta lógica, as minhas palavras parecerão um devaneio. Mas, se se aceita o grande princípio dos direitos que brotam do simples facto de possuir a inalienável dignidade humana, é possível aceitar o desafio de sonhar e pensar numa humanidade diferente. É possível desejar um planeta que garanta terra, teto e trabalho para todos. Este é o verdadeiro caminho da paz, e não a estratégia insensata e míope de semear medo e desconfiança perante ameaças externas.»

4 – “Um coração aberto ao mundo inteiro”

© digitalista/Bigstock.com

«As várias culturas, cuja riqueza se foi criando ao longo dos séculos, devem ser salvaguardadas para que o mundo não fique mais pobre. Isso, porém, sem deixar de as estimular a que permitam surgir de si mesmas algo de novo no encontro com outras realidades. Não se pode ignorar o risco de acabarem vítimas duma esclerose cultural.»

Existe a gratuitidade: é a capacidade de fazer algumas coisas, pelo simples facto de serem boas, sem olhar a êxitos nem esperar receber imediatamente algo em troca. Isto permite acolher o estrangeiro, mesmo que não traga de imediato benefícios palpáveis. Mas há países que pretendem receber apenas cientistas ou investidores.»

«O universal não deve ser o domínio homogéneo, uniforme e padronizado de uma única forma cultural imperante, que perderá as cores do poliedro e ficará enfadonha.»

«Há narcisismos bairristas que não expressam um amor sadio pelo próprio povo e a sua cultura. Escondem um espírito fechado que, devido a uma certa insegurança e medo do outro, prefere criar muralhas defensivas para sua salvaguarda. Mas não é possível ser saudavelmente local sem uma sincera e cordial abertura ao universal, sem se deixar interpelar pelo que acontece noutras partes, sem se deixar enriquecer por outras culturas, nem se solidarizar com os dramas dos outros povos. Este «localismo» encerra-se obsessivamente numas poucas ideias, costumes e seguranças, revelando-se incapaz de admirar as múltiplas possibilidades e belezas que oferece o mundo inteiro, e carecendo de uma solidariedade autêntica e generosa.»

«Temos de reconhecer que, quanto menor for a amplitude da mente e do coração de uma pessoa, tanto menos poderá interpretar a realidade circundante em que está imersa. Sem o relacionamento e o confronto com quem é diferente, torna-se difícil ter um conhecimento claro e completo de si mesmo e da sua terra, uma vez que as outras culturas não constituem inimigos de quem seja preciso defender-se, mas reflexos distintos da riqueza inexaurível da vida humana. Ao olhar para si mesmo, do ponto de vista do outro, de quem é diferente, cada um pode reconhecer melhor as peculiaridades da sua própria pessoa e cultura: as suas riquezas, possibilidades e limites.»

«Na realidade, uma sã abertura nunca ameaça a identidade, porque, ao enriquecer-se com elementos de outros lugares, uma cultura viva não faz uma cópia nem mera repetição, mas integra as novidades segundo modalidades próprias. Isto provoca o nascimento de uma nova síntese que, em última análise, beneficia a todos, já que a cultura donde provêm estas contribuições acaba mais devolvida.»

«O mundo cresce e enche-se de nova beleza, graças a sucessivas sínteses que se produzem entre culturas abertas, fora de qualquer imposição cultural.»

«A integração cultural, económica e política com os povos vizinhos deve ser acompanhada por um processo educativo que promova o valor do amor ao vizinho, primeiro exercício indispensável para se conseguir uma sadia integração universal.»

5 – “A política melhor”

D.R.

«[Nos populismos e liberalismos] é palpável a dificuldade de pensar num mundo aberto onde haja lugar para todos, que inclua os mais frágeis e respeite as diferentes culturas.»

«O mercado, por si só, não resolve tudo, embora às vezes nos queiram fazer crer neste dogma de fé neoliberal. Trata-se de um pensamento pobre, repetitivo, que propõe sempre as mesmas receitas perante qualquer desafio que surja. (…) A fragilidade dos sistemas mundiais perante a pandemia evidenciou que nem tudo se resolve com a liberdade de mercado.»

«Pensar nos que hão de vir não tem utilidade para fins eleitorais, mas é o que exige uma justiça autêntica, porque, como ensinaram os bispos de Portugal, a terra “é um empréstimo que cada geração recebe e deve transmitir à geração seguinte”.»

«É caridade acompanhar uma pessoa que sofre, mas é caridade também tudo o que se realiza – mesmo sem ter contacto direto com essa pessoa – para modificar as condições sociais que provocam o seu sofrimento. Alguém ajuda um idoso a atravessar um rio, e isto é caridade primorosa; mas o político constrói-lhe uma ponte, e isto também é caridade. É caridade se alguém ajuda outra pessoa fornecendo-lhe comida, mas o político cria-lhe um emprego, exercendo uma forma sublime de caridade que enobrece a sua ação política.»

«Só com um olhar cujo horizonte esteja transformado pela caridade, levando-nos a perceber a dignidade do outro, é que os pobres são reconhecidos e apreciados na sua dignidade imensa, respeitados no seu estilo próprio e cultura e, por conseguinte, verdadeiramente integrados na sociedade. Um tal olhar é o núcleo do autêntico espírito da política. Os caminhos que se abrem a partir dele são diferentes dos caminhos de um pragmatismo sem alma.»

«As maiores preocupações de um político não deveriam ser as causadas por uma descida nas sondagens, mas por não encontrar uma solução eficaz para o fenómeno da exclusão social e económica.»

«Muitas vezes, hoje, enquanto nos enredamos em discussões semânticas ou ideológicas, deixamos que irmãos e irmãs morram ainda de fome ou de sede, sem um teto ou sem acesso a serviços de saúde. Juntamente com estas necessidades elementares por satisfazer, outra vergonha para a humanidade que a política internacional não deveria continuar a tolerar – não se ficando por discursos e boas intenções – é o tráfico de pessoas. Trata-se daquele mínimo que não se pode adiar mais.»

«Ao pensar no futuro, alguns dias as perguntas devem ser: “Para quê? Para onde estou realmente a apontar?” Passados alguns anos, ao refletir sobre o próprio passado, a pergunta não será: “Quantos me aprovaram, quantos votaram em mim, quantos tiveram uma imagem positiva de mim?” As perguntas, talvez dolorosas, serão: “Quanto amor coloquei no meu trabalho? Em que fiz progredir o povo? Que marcas deixei na vida da sociedade? Que laços reais construí? Que forças positivas desencadeei? Quanta paz social semeei? Que produzi no lugar que me foi confiado?”»

6 – “Diálogo e amizade social”

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«Aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contacto: tudo isto se resume no verbo “dialogar”. Para nos encontrar e ajudar mutuamente, precisamos de dialogar. Não é necessário dizer para que serve o diálogo; é suficiente pensar como seria o mundo sem o diálogo paciente de tantas pessoas generosas, que mantiveram unidas famílias e comunidades. O diálogo perseverante e corajoso não tem a força de notícia como as desavenças e os conflitos; e contudo, de forma discreta mas muito mais do que possamos perceber, ajuda o mundo a viver melhor.»

«Não se deve ocultar o risco de um progresso científico ser considerado a única abordagem possível para se entender um aspeto da vida, da sociedade e do mundo.»

«Temos de nos exercitar em desmascarar as várias modalidades de manipulação, deformação e ocultamento da verdade nas esferas pública e privada. O que chamamos “verdade” não é só a comunicação de factos operada pelo jornalismo. É, antes de mais nada, a busca dos fundamentos mais sólidos que estão na base das nossas opções e também das nossas leis.»

«O poliedro representa uma sociedade onde as diferenças convivem integrando-se, enriquecendo-se e iluminando-se reciprocamente, embora isso envolva discussões e desconfianças. Na realidade, de todos se pode aprender alguma coisa, ninguém é inútil, ninguém é supérfluo. Isto implica incluir as periferias. Quem vive nelas tem outro ponto de vista, vê aspetos da realidade que não se descobrem a partir dos centros de poder onde se tomam as decisões mais determinantes.»

«A palavra “cultura” indica algo que penetrou no povo, nas suas convicções mais profundas e no seu estilo de vida. Quando falamos de uma «cultura» no povo, trata-se de algo mais que uma ideia ou uma abstração; inclui as aspirações, o entusiasmo e, em última análise, um modo de viver que caracteriza aquele grupo humano. Assim, falar de “cultura do encontro” significa que nos apaixona, como povo, querermos encontrar, procurar, pontos de contacto, lançar pontes, projetar algo que envolva a todos. Isto tornou-se uma aspiração e um estilo de vida. O sujeito desta cultura é o povo, não um setor da sociedade que tenta manter tranquilo o resto com recursos profissionais e mediáticos.»

«Isto implica o hábito de reconhecer ao outro o direito de ser ele próprio e de ser diferente. A partir deste reconhecimento feito cultura, torna-se possível a criação de um pacto social. Sem este reconhecimento, surgem maneiras subtis de fazer com que o outro perca todo o seu significado, se torne irrelevante, fazer com que na sociedade não lhe seja reconhecido qualquer valor. Por trás da repulsa de certas formas visíveis de violência, muitas vezes, esconde-se outra violência mais dissimulada: a daqueles que desprezam o diferente, sobretudo quando as suas reivindicações prejudicam de alguma maneira os próprios interesses.»

«Um pacto social realista e inclusivo deve ser também um “pacto cultural”, que respeite e assuma as diversas visões do mundo, as culturas e os estilos de vida que coexistem na sociedade. (…) Um pacto cultural pressupõe que se renuncie a compreender de maneira monolítica a identidade de um lugar, e exige que se respeite a diversidade, oferecendo-lhe caminhos de promoção e integração social.»

«Ainda é possível optar pelo cultivo da amabilidade; há pessoas que o conseguem, tornando-se estrelas no meio da escuridão. (…) A amabilidade é uma libertação da crueldade que às vezes penetra nas relações humanas, da ansiedade que não nos deixa pensar nos outros, da urgência distraída que ignora que os outros também têm direito de ser felizes.»

7 – “Percursos de um novo encontro” 

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«Se se trata de recomeçar, há de ser sempre a partir dos últimos.»

«A Shoah não deve ser esquecida. (…) Não se devem esquecer os bombardeamentos atómicos de Hiroxima e Nagasáqui.»

«Também não devemos esquecer as perseguições, o comércio dos escravos e os massacres étnicos que se verificaram e verificam em vários países, e tantos outros factos históricos que nos fazem envergonhar de sermos humanos. Devem ser recordados sempre, repetidamente, sem nos cansarmos nem anestesiarmos.»

«Hoje, é fácil cair na tentação de voltar a página, dizendo que já passou muito tempo e é preciso olhar para diante. Isso não, por amor de Deus! Sem memória, nunca se avança; não se evolui sem uma memória íntegra e luminosa.»

«É muito salutar fazer memória do bem.»

«O perdão é precisamente o que permite buscar a justiça sem cair no círculo vicioso da vingança nem na injustiça do esquecimento.»

«Há duas situações extremas que podem chegar a apresentar-se como soluções em circunstâncias particularmente dramáticas, sem se dar conta que são respostas falsas, não resolvem os problemas que pretendem superar e, em última análise, nada mais fazem que acrescentar novos fatores de destruição no tecido da sociedade nacional e mundial. Trata-se da guerra e da pena de morte.»

«Os medos e os rancores levam facilmente a entender as penas de maneira vingativa, se não cruel, em vez de as considerar como parte de um processo de cura e reinserção na sociedade.»

8 – “As religiões ao serviço da fraternidade no mundo”

D.R.

«Como crentes das diversas religiões sabemos que tornar Deus presente é um bem para as nossas sociedades. Buscar a Deus com coração sincero, desde que não o ofusquemos com os nossos interesses ideológicos ou instrumentais, ajuda a reconhecermo-nos como companheiros de estrada, verdadeiramente irmãos.»

«Não se pode admitir que, no debate público, só tenham voz os poderosos e os cientistas. Deve haver um lugar para a reflexão que provém de um fundo religioso que recolhe séculos de experiência e sabedoria.»

Embora a Igreja respeite a autonomia da política, não relega a sua própria missão para a esfera do privado. Pelo contrário, não pode nem deve ficar à margem na construção de um mundo melhor nem deixar de despertar as forças espirituais que possam fecundar toda a vida social. É verdade que os ministros da religião não devem fazer política partidária, própria dos leigos, mas mesmo eles não podem renunciar à dimensão política da existência que implica uma atenção constante ao bem comum e a preocupação pelo desenvolvimento humano integral.»

«Existe um direito humano fundamental que não deve ser esquecido no caminho da fraternidade e da paz: é a liberdade religiosa para os crentes de todas as religiões.»

«Pedimos a Deus que fortaleça a unidade dentro da Igreja, unidade que se enriquece com diferenças que se reconciliam pela ação do Espírito Santo.»

«Como crentes, somos desafiados a retornar às nossas fontes para nos concentrarmos no essencial: a adoração de Deus e o amor ao próximo, para que alguns aspetos da nossa doutrina, fora do seu contexto, não acabem por alimentar formas de desprezo, ódio, xenofobia, negação do outro. A verdade é que a violência não encontra fundamento algum nas convicções religiosas fundamentais, mas nas suas deformações.»

«Neste espaço de reflexão sobre a fraternidade universal, senti-me motivado especialmente por São Francisco de Assis e também por outros irmãos que não são católicos: Martin Luther King, Desmond Tutu, Mahatma Mohandas Gandhi e muitos outros. Mas quero terminar lembrando uma outra pessoa de profunda fé, que, a partir da sua intensa experiência de Deus, realizou um caminho de transformação até se sentir irmão de todos. Refiro-me ao Beato Carlos de Foucauld.»

«O seu ideal [Carlos de Foucauld] de uma entrega total a Deus encaminhou-o para uma identificação com os últimos, os mais abandonados no interior do deserto africano. Naquele contexto, afloravam os seus desejos de sentir todo o ser humano como um irmão, e pedia a um amigo: “Peça a Deus que eu seja realmente o irmão de todos”. Enfim, queria ser “o irmão universal”. Mas somente identificando-se com os últimos é que chegou a ser irmão de todos. Que Deus inspire este ideal a cada um de nós. Ámen.»

Papa Francisco | Assis, 3.10.2010 | © Sala de Imprensa da Santa Sé

Oração ao Criador

«Senhor e Pai da Humanidade,
que criastes todos os seres humanos com a mesma dignidade,
infundi nos nossos corações um espírito de irmãos.
Inspirai-nos o sonho de um novo encontro,
de diálogo, de justiça e de paz.
Estimulai-nos a criar sociedades mais sadias
e um mundo mais digno,
sem fome, sem pobreza, sem violência, sem guerras.

Que o nosso coração se abra
a todos os povos e nações da Terra,
para reconhecer o bem e a beleza
que semeastes em cada um deles,
para estabelecer laços de unidade, de projetos comuns,
de esperanças compartilhadas. Ámen.»

 

Oração cristã ecuménica

«Deus nosso, Trindade de amor,
a partir da poderosa comunhão da vossa intimidade divina
infundi no meio de nós o rio do amor fraterno.
Dai-nos o amor que transparecia nos gestos de Jesus,
na sua família de Nazaré e na primeira comunidade cristã.
Concedei-nos, a nós cristãos, que vivamos o Evangelho
e reconheçamos Cristo em cada ser humano,
para o vermos crucificado nas angústias dos abandonados
e dos esquecidos deste mundo
e ressuscitado em cada irmão que se levanta.

Vinde, Espírito Santo!
Mostrai-nos a vossa beleza
refletida em todos os povos da Terra,
para descobrirmos que todos são importantes,
que todos são necessários, que são rostos diferentes
da mesma Humanidade amada por Deus. Ámen.»

Rui Jorge Martins
Publicado em 04.10.2020