segunda-feira, 13 de março de 2023

  QUARESMA PASSO A PASSO - 2023 

Terça-feira III – dia 18 –14/03/2023

Evangelho Mt 18, 21-35

«Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.» 

«Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque me pediste. Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?»

A força das palavras de Jesus, arrasam a pergunta com que Pedro ilustra a sua opinião face ao perdão. “Setenta vezes sete” diz Jesus e acrescenta uma parábola onde a força das palavras é igualmente poderosa: “ajustar contas” “apresentaram-lhe um homem”, “mandou que fosse vendido, com a mulher, os filhos e tudo…”, “Prostrou-se”, “concede-me um prazo”, “deu-lhe a liberdade e perdoou-lhe a dívida”, “Paga o que me deves”, “servo mau”, “não devias, também tu…?”. Estas expressões mostram a violência da situação quando falta a capacidade de perdoar. O contraste entre o perdão do Senhor e a nossa incapacidade de perdoar aos “companheiros”.

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"Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou-Lhe: «Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Na verdade, o reino de Deus pode comparar-se a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo de começo, apresentaram-lhe um homem que devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido, com a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, para assim pagar a dívida. Então o servo prostrou-se a seus pés, dizendo: ‘Senhor, concede-me um prazo e tudo te pagarei’. Cheio de compaixão, o senhor daquele servo deu-lhe a liberdade e perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço, dizendo: ‘Paga o que me deves’. Então o companheiro caiu a seus pés e suplicou-lhe, dizendo: ‘Concede-me um prazo e pagar-te-ei’. Ele, porém, não consentiu e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto devia. Testemunhas desta cena, os seus companheiros ficaram muito tristes e foram contar ao senhor tudo o que havia sucedido. Então, o senhor mandou-o chamar e disse: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque me pediste. Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’ E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração».

Ao escutar esta passagem do evangelho fixei-me neste pormenor: “apresentaram-lhe um homem”. Para Deus eu sou um homem, interlocutor, responsável, com capacidade de assumir e responder perante Ele. Por isso me pede contas. Por outro lado, sempre que não estou em condições de responder, isso arrasta comigo outros, “mandou que fosse vendido, com a mulher, os filhos e tudo…”. Não sou só eu, mas todos à minha volta sofrem com a minha irresponsabilidade. Posso ainda viver a mentira do arrependimento e julgar que todos são como eu quando se prostram para implorar o perdão, e tornar-me desumano para com os outros. Nem sempre sou “homem”. Repetem-se em mim as palavras “não devias, também tu…?”


Devia Senhor. Devia eu também compadecer-me dos meus irmãos. Receber o teu perdão é para mim fonte de alegria. O teu perdão renova a minha vida e restaura em mim a tua alegria. Mas é tão difícil aceitar o outro, dar-lhe tempo, esperar que ele chegue a ser o homem que eu espero. Ensina-me, Senhor, a tua compaixão, para que também eu liberte os meus irmãos.

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Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação,mas livrai-nos do mal. Ámen.

A misericórdia foi a «palavra mais repetida» durante a missa celebrada em Santa Marta. Em toda a liturgia da palavra ressoou este conceito. No salmo responsorial repete-se: «Recorda-te, Senhor, da tua misericórdia». É, explicou o Pontífice, como dizer: «Recorda-te do teu nome, Senhor: o teu nome é misericórdia».

Também na primeira leitura, tirada do livro do profeta Daniel (3, 25.34.43), o pedido de misericórdia está no centro da narração. Com efeito, lê-se acerca da «oração de Azarias, um dos jovens que estavam perto do forno porque não queriam adorar o ídolo de ouro»: «pede misericórdia para si e para o povo; pede o perdão a Deus». Não «um perdão superficial», não um simples tirar a mancha «como faz o dono da tinturaria quando lhe levamos a roupa». O pedido, frisou o Papa Francisco, foi de um «perdão do coração» que, quando vem de Deus, «é sempre misericórdia».

Azarias «pede humildemente: “Pelo amor de vosso nome, em consideração a Abraão, vosso amigo, Isaac, vosso servo, Israel”». Isto é o jovem «faz memória a Deus de todas as suas promessas», mas reconhece a necessidade de perdão: «fomos reduzidos a nada diante das nações, fomos humilhados diante de toda a terra: tudo, devido a nossos pecados».

Insere-se aqui, disse Francisco, a segunda palavra-chave da meditação hodierna: «perdão». A dinâmica é a seguinte: «dirijo-me a Deus, recordando-lhe a sua misericórdia e peço-lhe perdão», mas «o perdão como Deus o concede».

O Pontífice aprofundou uma característica deste perdão de Deus, cuja perfeição é incompreensível a nós homens, pois Ele chega a “esquecer-se” dos nossos pecados. «Quando Deus perdoa — disse o Papa — o seu perdão é tão grande que é como se “se esquecesse”». Assim «uma vez que estamos em paz com Deus pela sua misericórdia», se perguntássemos ao Senhor: «Mas te recordas daquela má ação que pratiquei?», a resposta poderia ser: «Qual? Não recordo...».

Acontece, explicou Francisco, «o oposto daquilo que nós fazemos» e que emerge com frequências das nossas «conversas: “Mas este fez isto e aquilo...”». Nós «não nos esquecemos» e de muitas pessoas conservamos «a história antiga, média, medieval e moderna». E isto porque «não temos um coração misericordioso».

Dirigindo-se ao senhor, ao contrário, Azarias pôde fazer «um apelo» à sua misericórdia «a fim de que nos dê o perdão e a salvação e esqueça os nossos pecados». Porque pediu: «tratai-nos com a vossa habitual doçura» e ainda «com todas as riquezas da vossa misericórdia». É a mesma oração que retorna no salmo responsorial: «Recorda-te, Senhor, da tua misericórdia».

Também no trecho litúrgico do Evangelho de Mateus (18, 21-25) se trata o mesmo tema. Aqui o protagonista é Pedro, o qual «tinha ouvido o Senhor falar muitas vezes sobre perdão e misericórdia». O apóstolo, evidentemente, na sua simplicidade — «não tinha estudado, não era formado, era um pescador» — não tinha compreendido plenamente o significado daquelas palavras. Portanto «aproximou-se de Jesus e disse-lhe: “Senhor, se meu irmão comete culpas contra mim, quantas vezes devo perdoar-lhe? Até sete vezes?”». Sete vezes: talvez lhe parecesse até «generoso». Mas «Jesus responde-lhe: “Não te digo até sete, mas setenta vezes sete”». (...)

«Compaixão», explicou o Pontífice, é outra palavra que se aproxima facilmente do conceito de misericórdia. Com efeito, quando nos Evangelhos se fala de Jesus e se descreve o seu encontro com um doente lê-se que ele «teve “compaixão” por ele». (...)

Para obter um ensinamento válido para todos, Francisco evocou a frase do Pai-Nosso na qual dizemos: «Perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido». E afirmou que se trata de «uma equação», ou seja: «Se tu não fores capaz de perdoar, como te poderá perdoar Deus?» O Senhor, acrescentou o Papa, «quer perdoar-te, mas não poderá se tu tens o coração fechado, e a misericórdia não pode entrar». Alguém poderia objetar: «Padre, eu perdoo mas não posso esquecer o que me fizeram...». A resposta é: «Pede ao Senhor que te ajude a esquecer». Contudo, acrescentou o Pontífice, se é verdade que «se pode perdoar, mas esquecer nem sempre se consegue», certamente não se pode aceitar a atitude do «”perdoar” e “vais pagar”». É preciso «perdoar como Deus perdoa», o qual «perdoa ao máximo».

Concluindo a meditação o Papa falou sobre as nossas dificuldades diárias: «Não é fácil perdoar, não é fácil» reconheceu, recordando que em muitas famílias há «irmãos que discutem pela herança dos pais e não se falam; muitos casais que discutem e cresce o ódio e a família acaba destruída». Estas pessoas «não são capazes de perdoar. Este é o mal».

Que a Quaresma, desejou Francisco, «nos prepare o coração para receber o perdão de Deus. Mas recebê-lo e depois fazer o mesmo com os outros: perdoar de coração». Isto é, ter uma atitude que nos leve a dizer «talvez nunca me cumprimentes mas no meu coração perdoei-te».

Esta é a melhor maneira, concluiu, para nos aproximarmos «deste aspeto tão grande de Deus que é a misericórdia». Com efeito «perdoando abrimos o nosso coração para que a misericórdia de Deus entre e nos perdoe». E todos temos motivos para pedir o perdão de Deus: «Perdoemos e seremos perdoados».

PAPA FRANCISCO

(MEDITAÇÕES MATUTINAS -CASA SANTA MARTA-1 de março de 2016)

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