sábado, 28 de janeiro de 2023

 Domingo IV do Tempo Comum - 2023

As leituras deste domingo apresentam-nos uma proposta de felicidade que vai totalmente contra a corrente. De facto, a pobreza não é boa para ninguém se a restringirmos à falta de dinheiro, ou das condições essenciais para se poder viver com dignidade. Mas a pobreza, de que nos falam as leituras de hoje, vai muito para além de qualquer critério meramente economicista ou hedonista, projeta-nos para o amor sem limites, para a entrega de nós próprios, a cem por cento, ao outro, para o encontro de comunhão total com Deus e o(s) outro(s). Só quem é verdadeiramente pobre de si mesmo se deixa amar, na totalidade do seu ser, pelo Amor, que é Deus. É esta a proposta de felicidade que a liturgia hoje nos oferece.

Na 1ªleitura (Sof 2, 3; 3, 12-13) Sofonias embora fale no reino de Judá, em Jerusalém, durante o reinado de Josias, século VII a.C.,  ao anunciar o “dia do Senhor” fá-lo para todos povos de todos e de cada tempo. Diz-nos, também a nós, cidadãos do séc. XXI, que esse há de ser um dia de salvação universal para os humildes da terra e para todo o que permanecer fiel ao Senhor.

“Procurai o Senhor, vós todos os humildes da terra, que obedeceis aos seus mandamentos. Procurai a justiça, procurai a humildade; talvez encontreis proteção no dia da ira do Senhor. Só deixarei ficar no meio de ti um povo pobre e humilde, que buscará refúgio no nome do Senhor. O resto de Israel não voltará a cometer injustiças, não tornará a dizer mentiras, nem mais se encontrará na sua boca uma língua enganadora. Por isso, terão pastagem e repouso, sem ninguém que os perturbe.”

Na 2ªleitura (1 Cor 1, 26-31)  S. Paulo é muito claro na forma como nos apresenta o critério que Deus tem para escolher os seus ungidos. Esta leitura ajuda-nos imenso a centrar em Deus tudo o que somos e temos, só n’Ele a verdadeira felicidade é possível.

“Irmãos: Vede quem sois vós, os que Deus chamou: não há muitos sábios, naturalmente falando, nem muitos influentes, nem muitos bem-nascidos. Mas Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo para confundir os sábios; escolheu o que é fraco, para confundir o forte; escolheu o que é vil e desprezível, o que nada vale aos olhos do mundo, para reduzir a nada aquilo que vale, a fim de que nenhuma criatura se possa gloriar diante de Deus. É por Ele que vós estais em Cristo Jesus, o qual Se tornou para nós sabedoria de Deus, justiça, santidade e redenção. Deste modo, conforme está escrito, «quem se gloria deve gloriar-se no Senhor».”

No evangelho (Mt 5, 1-12a) Jesus apresenta aos homens do seu tempo, mas também aos de hoje, a única proposta de felicidade realmente verdadeira. Num tempo, como este em que vivemos, quem ousa propor este projeto de felicidade? Penso que toda a Igreja de inspiração cristã o faz, mas será que a nossa vida de cristãos reflete que o seguimos de facto?! E, no entanto, são imensas e das mais variadas, as outras propostas de que ouvimos falar e que têm seguidores, algumas muitos até… Afinal, o homem de hoje, tal como o de ontem continua à procura da felicidade… Senhor, que nos deixemos iluminar e repassar por Ti de forma a darmos testemunho do Amor infinito que és Tu, hoje e sempre.

“Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».”

Senhor, que eu nunca duvide do Teu Amor. Que Tu sejas o único amor da minha vida.

sábado, 21 de janeiro de 2023

 Domingo III do Tempo Comum - 2023

DOMINGO DA PALAVRA DE DEUS

No dia 30 setembro de 2019, o papa Francisco convidou-nos a refletir mais profundamente, no III Domingo do Tempo Comum, na graça imensa que nos é dada, como alimento, em cada Eucaristia, que é a escuta da Palavra de Deus. Em boa hora o fez! Depois do Concílio Vaticano II passámos a poder ouvir Deus falar-nos no nosso próprio idioma e assim, a partir daí, as escrituras tornaram-se palavra viva, escutada e partilhada por todos os que Lhe abram o coração. Sim, ninguém mais pode dizer que só os que dominam o grego, ou o latim, ou o aramaico (…) é que podem escutar as cartas de Amor de Deus, que Jesus nos vai revelando. E assim, a Palavra proclamada, em cada Eucaristia, é um momento único de comunhão de Deus com cada um que O escuta e faz, desse encontro íntimo, caminho, estrada, para em e com Jesus, ir comunicando, transmitindo o Amor que Ele é. Mais ainda, mesmo no local mais recôndito, sós, ou acompanhados, podemos sempre meditar e gravar no mais profundo do nosso ser, a Tua Palavra. Obrigada Senhor pelas Tuas maravilhas.

 

Na 1ªleitura (Is 8, 23b – 9, 3 (9, 1-4)) Isaías situa-nos, não na cidade mais importante de Israel, mas na Galileia dos gentios. É aí, numa terra humilhada e esquecida do Norte, que a Luz brilha, resplandece e traz a alegria e a esperança aos oprimidos, aos desiludidos e aos desencantados da vida. Seja qual for a situação em que nos encontremos, Isaías transmite-nos, na leitura de hoje, que o Senhor está sempre connosco, que a Sua Luz nos ilumina e o Seu Amor nos alimenta, transforma e liberta a nós e a todos aqueles a quem quer chegar através do nosso testemunho de vida.

“Assim como no tempo passado foi humilhada a terra de Zabulão e de Neftali, também no futuro será coberto de glória o caminho do mar, o Além do Jordão, a Galileia dos gentios. O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz se levantou. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos. Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor.”

Na 2ªleitura (1 Cor 1, 10-13.17) S.Paulo exorta-nos a viver em unidade com todos os cristãos, num único e mesmo Senhor - Jesus Cristo. Pelos vistos, desde o início houve divisões, mas a verdade é que só Cristo, o Filho de Deus, é que deu a Sua vida por cada um de nós e nos reconquistou para Deus Pai. Se, só um é o Nosso Senhor, o nosso Deus, porquê tanta divisão e contenda? Que Deus tenha compaixão de nós e nos santifique.

 “Irmãos: Rogo-vos, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma linguagem e que não haja divisões entre vós, permanecendo bem unidos, no mesmo pensar e no mesmo agir. Eu soube, meus irmãos, pela gente de Cloé, que há divisões entre vós, que há entre vós quem diga: «Eu sou de Paulo», «eu de Apolo», «eu de Pedro», «eu de Cristo». Estará Cristo dividido? Porventura Paulo foi crucificado por vós? Foi em nome de Paulo que recebestes o Batismo? Na verdade, Cristo não me enviou para batizar, mas para anunciar o Evangelho; não, porém, com sabedoria de palavras, a fim de não desvirtuar a cruz de Cristo.”

No evangelho de hoje (Mt 4, 12-23) Jesus inicia a Sua vida pública, na Galileia, ao saber que João Batista tinha sido preso. E fá-lo dando continuidade ao que o precursor tinha iniciado, apelando a uma conversão de coração e ao arrependimento. É nesta fase inicial da Sua vida  pública, que Jesus chama os seus colaboradores diretos. O que mais me impressiona é a forma como o Senhor Jesus olha para cada um dos apóstolos e os chama. Jesus vê para além do homem, reconhece quem tem na frente, estabelece uma comunhão com o indivíduo e chama cada um. Ele sabe quem é cada um dos que chama a colaborar na nova evangelização. E eles aderem à proposta que lhes é feita. Deus continua a chamar…Peçamos ao Senhor por todos aqueles a quem Ele já chamou, mas também por aqueles a quem ainda vai convidar. Que Jesus seja a única força de todos.

Quando Jesus ouviu dizer que João Baptista fora preso, retirou-Se para a Galileia. Deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum, terra à beira-mar, no território de Zabulão e Neftali. Assim se cumpria o que o profeta Isaías anunciara, ao dizer: «Terra de Zabulão e terra de Neftali, estrada do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios: o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam na sombria região da morte, uma luz se levantou». Desde então, Jesus começou a pregar: «Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus». Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde e segui-Me e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco, na companhia de seu pai Zebedeu, a consertar as redes. Jesus chamou-os e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O. Depois começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo.”

Senhor, que sejas sempre o único Amor da minha vida.

sábado, 14 de janeiro de 2023

 Domingo II do Tempo Comum - 2023

Ainda no domingo passado, pudemos contemplar e adorar o Deus Menino, o Rei, e hoje, a liturgia, continuando o caminho iniciado há oito dias, transpõe-nos para outro dos momentos da vida de Jesus: o Batismo. Desafia-nos a assumir a nossa condição de batizados e a fazer como João Batista, ou seja, a deixar que o Espírito  Santo, que, desde esse dia, nos habita, nos preencha por inteiro, de tal forma que possamos ir crescendo em Jesus, que é a raiz que nos sustenta e nos vai revelando Deus Amor.

Na 1ªleitura (Is 49, 3.5-6) o profeta Isaías antecipa a vinda do “Servo de Javé”, da “luz das nações”, cuja presença no meio de nós, nos é anunciada, no Evangelho, por João Batista. Jesus é o cumprimento da promessa, por Ele e n’Ele a salvação chega a todos os cantos do mundo. É Ele que nos dá a conhecer Deus Amor. É Ele, pelo que diz e faz, que nos permite vislumbrar quem é Deus e o quanto ama infinitamente cada um de nós, Seus filhos no Filho. É Ele quem nos faz sentir verdadeiramente amados por Deus. É n’Ele que passamos, também cada um de nós, a anunciar Deus, eternamente enamorado de cada um dos Seus filhos.

“Disse-me o Senhor: «Tu és o meu servo, Israel, por quem manifestarei a minha glória». E agora o Senhor falou-me, Ele que me formou desde o seio materno, para fazer de mim o seu servo, a fim de Lhe reconduzir Jacob e reunir Israel junto d’Ele. Eu tenho merecimento aos olhos do Senhor e Deus é a minha força. Ele disse-me então: «Não basta que sejas meu servo, para restaurares as tribos de Jacob e reconduzires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti a luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra».”

Na 2ªleitura (1 Cor l, 1-3) iniciamos neste domingo a escuta da primeira carta de Paulo aos Coríntios. No contexto da saudação inicial Paulo faz referência à sua vocação universal. Relembra-nos que, pelo batismo fomos gratuitamente chamados por Deus à fé e santificados em Jesus Cristo. Que o Senhor Jesus nos torne portadores da Sua paz.

“Irmãos: Paulo, por vontade de Deus escolhido para Apóstolo de Cristo Jesus e o irmão Sóstenes, à Igreja de Deus que está em Corinto, aos que foram santificados em Cristo Jesus, chamados à santidade, com todos os que invocam, em qualquer lugar, o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: A graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco.”

No evangelho (Jo 1, 29-34) João Batista dá testemunho de que Jesus é o Filho de Deus. Dá a impressão de que João só no momento do batismo de Jesus é que reconheceu em Jesus, seu primo, o Filho de Deus. E, a partir daí, João, que já falava d’Ele, mesmo sem O conhecer, passou a anunciar a Sua vinda, a proclamar a Sua presença no meio dos homens, com todo o desassombro e ainda com mais autoridade.

“Naquele tempo, João Baptista viu Jesus, que vinha ao seu encontro, e exclamou: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. É d’Ele que eu dizia: ‘Depois de mim vem um homem, que passou à minha frente, porque era antes de mim’. Eu não O conhecia, mas foi para Ele Se manifestar a Israel que eu vim batizar na água». João deu mais este testemunho: «Eu vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e permanecer sobre Ele. Eu não O conhecia, mas quem me enviou a batizar na água é que me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer e permanecer é que batiza no Espírito Santo’. Ora, eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus».”

A salvação vem de Deus, é ele quem sussurra ao ouvido do homem o seu desejo de mudar a sorte dos que foram levados para o cativeiro, onde são privados da liberdade de viver e sonhar a sua própria vida e a possibilidade de um mundo melhor. A experiência de cativeiro é revestida de solidão, abandono, vazio, impotência, incapacidade, ausência de razões, a morte do desejo e a resignação perante a sorte. Israel encontra-se assim, quando o profeta Isaías surge com a notícia de um servo enviado por Deus para reconduzir os filhos dispersos. Este anúncio é uma voz de esperança. Nem sempre a esperança reanima os desalentados. Por vezes a derrota é mais forte que a esperança.

A salvação de Deus é para todos os homens e não apenas para Israel. Deus anuncia que o seu servo será luz das nações para que a sua salvação chegue até aos confins da terra. Por vezes é necessário ver a luz a brilhar lá longe para acreditar que ela pode brilhar também em nós. Não “basta que sejas meu servo, vou fazer de ti a luz das nações” e “não basta restaurar as tribos de Jacob” porque a salvação é para todos. O servo de Isaías apresenta-se como um escutador de Deus e está disponível para ser a luz das nações.

O servo é Jesus que se apresenta como aquele que vem para fazer a vontade de Deus. É assim que João Batista o apresenta. João reconhece que é Jesus quem vem substituir os sacrifícios do templo, que não concedem o perdão, pelo seu próprio sacrifício como cordeiro de Deus. Deus não quer sacrifícios inúteis, Deus salva pelo cumprimento da sua vontade. Jesus é esse “cordeiro” capaz de oferecer o único sacrifício agradável a Deus e capaz de salvar o homem dos seus pecados, porque é Filho de Deus e sobre ele permanece o Espírito Santo, que desceu do céu para que ele batize segundo o mesmo Espírito.

João reconhece em Jesus o enviado por Deus porque ele próprio aprendeu a escutar a voz daquele cuja palavra anuncia a salvação. Habituado a escutar, adquiriu a capacidade de ver realizar-se diante dos seus olhos a ação de Deus. Por isso, quando Jesus vem ao seu encontro pode reconhecer nele, aquele sobre quem desceu o Espírito e o único que pode santificar o homem.

Paulo também reconhece a ação de Jesus nos irmãos de Corinto e em todos os que invocam o seu nome porque também ele foi tornado Apóstolo de Jesus por vontade de Deus. Foi ao escutar a vontade de Deus que ele se tornou capaz de ver Deus acontecer nos seus irmãos que, como ele, são chamados à santidade.

Por vezes as circunstâncias da nossa vida impedem-nos de acreditar que há alguém que nos pode salvar. Mesmo que nos anunciem a chegada de um salvador, a dor, o sofrimento, a desilusão ou a resignação tomaram conta de nós ao ponto de já não haver esperança que nos levante do chão. É olhando a luz a brilhar no rosto de quem aprendeu a escutar a voz daquele que salva, que podemos perceber a possibilidade do encontro com Jesus, que vem ao nosso encontro, e reconhecer nele o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Com João Batista aprendemos a escutar a voz daquele que sempre e a todos envia como testemunhas de Cristo, que batiza no Espírito Santo e tira o pecado do mundo, o único que nos pode tirar a todos do cativeiro em que, por vezes, nos vemos aprisionados. Escutar é tornar ‘talia’ de Deus, servo, filho, cordeiro.

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Servo de Iahvé, que lanças a luz da salvação sobre as nações, ilumina-me. Cordeiro de Deus que tiras o pecado do mundo, santifica-me. Filho de Deus que batizas no Espírito Santo, faz-me reconhecer que é em ti que sou santificado e em ti encontro o caminho da santidade. Espírito de Deus inspira-me para escutar e ver a salvação que vem ao meu encontro.

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sábado, 7 de janeiro de 2023

Solenidade da Epifania do Senhor - 2023

Hoje, nas leituras dominicais, Deus manifesta-se em Jesus, Seu muito amado Filho. N’Ele encontramos a Luz que nos conduz à salvação. É a luz salvadora do Amor de Deus, que, por cada um de nós, por toda a humanidade, vem ao encontro dos que O procuram de coração sincero e se faz presente no meio de nós, nos habita e nos inunda.

Na 1ªleitura (Is 60, 1-6) somos envolvidos na alegria dos que vêm de longe, mais especificamente do Oriente, adorar o Menino Jesus e louvar, dar glória a Deus. Façamos nós também como eles e demos Glória ao Senhor, hoje e sempre, pelos séculos sem fim.

“Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas, sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor.”

Na 2ªleitura (Ef 3, 2-3a.5-6)  S.Paulo é categórico: para Deus não há gregos, nem romanos, nem escravos, nem homens livres, nem judeus, todos somos chamados a fazer parte do projeto de Amor, que Deus tem para todos os homens, de todos os tempos. Todos somos filhos no Filho, que agora, no Menino deitado sobre as palhas da manjedoura, somos convidados a contemplar e a louvar. 

"Irmãos: Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: por uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho."

No Evangelho (Mt 2, 1-12), a catequese que S.Mateus nos apresenta, está cheia de sinais: o encontro; a estrela; os magos; as atitudes diante da estrela; os presentes; o caminho a seguir para procurar Jesus.  Os magos encontram Jesus. Todo aquele que se deixa guiar, por Jesus, encontra Deus nos caminhos da sua vida. A estrela simboliza Jesus, a luz que nos guia. Os magos representam todos os povos, que se deixam guiar para Deus e O procuram de coração sincero. E, como eles, somos desafiados a oferecer o que de melhor temos a Deus.

“Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.”

O anúncio da promessa é como a estrela que guia os magos, gera a alegria como se os olhos já vissem a sua realização. Jerusalém ainda está envolta na escuridão. Ainda chora e lamenta o luto da desgraça, mas o anúncio da chegada de Jesus é já razão para tirar o véu do luto e enxugar as lágrimas porque uma luz já brilha na esperança de quantos ouvem a promessa. Esta certeza da esperança é razão suficiente para transformar a noite em dia, as lágrimas em alegria e o luto em festa. Para os magos foi razão suficiente para deixar tudo e seguir a estrela.
A história dos magos deixa-nos suspensos como crianças a contemplar. (...) O importante é perceber que os magos são homens habituados à reflexão. Homens de olhar penetrante que procuram o sentido das coisas e não apenas as coisas, o sentido da vida e não apenas a vida, a riqueza última e não as riquezas. São homens que olham o céu à procura daquele que o coração deseja adorar. Arriscam a vida toda para o encontrar. O importante é perceber que eles assumiram a missão da procura e o caminho a fazer como algo deles e que não pode ser dado a outros em seu lugar. O importante é aprender com eles a fazer o caminho, seguir a luz e descobrir o mistério.
No final do caminho eles encontram um menino, mas os olhos veem Deus. Adoram-no de coração prostrado em terra e entregam-lhe tudo. Cada um deles entrega três presentes. Entregam ouro para dizer que não são reis, o rei é Jesus e eles apenas súbditos prontos para o servir. Entregam incenso para dizer que não esperam ser incensados, mas incensar Jesus, pois só ele é Deus. Entregam a mirra que é esta vida limitada, onde o pecado acontece e as fragilidades se manifestam continuamente, reconhecendo que, se não for Jesus, a vida é um caminho para a morte. Como os magos também nós entregamos ouro, incenso e mirra a Jesus.
Muitas vezes fechados na nossa mentalidade, como os sábios de Jerusalém, não fazemos o caminho e não deixamos que outros o façam excluindo-os da fé como se Cristo fosse um património só nosso e mais ninguém pudesse beneficiar da graça de Deus revelada em Cristo. Ou então, colocamos tantas exigências para reconhecer os outros como seguidores de Cristo que eles acabam por nunca se identificar connosco de pleno direito. Afinal, Paulo fala de gentios. Os gentios são todos os que não são judeus. Ora, nós não somos judeus, por isso, somos também nós gentios. Apesar disso recebemos a fé, temos acesso a Cristo. Porque excluímos os outros se nós também recebemos de graça o dom do conhecimento do mistério de Cristo?
O nascimento de Cristo contemplado pelos magos é o início daquele dia sem ocaso, que já começou, e à sua luz somos convidados a caminhar e a arrastar todos os que queiram ir connosco por um novo caminho que nos leve de regresso a casa.

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(...)

A Tua palavra pronunciada pelo profeta faz nascer em mim uma luz. Tu és a minha luz, Senhor. Brilha sobre mim, porque sou gentio descendente de gentios. Se não for por essa graça que deste a Paulo nunca chegarei ao mistério que salva, ao Menino das palhinhas. Como os magos quero ir a Belém. Quero fazer da minha vida um caminho arriscado na busca do mistério que se esconde para lá dos céus. Como eles quero cair de rosto por terra e entregar-Te todas as riquezas, porque a minha riqueza é servir-Te. Quero entregar-Te toda a fama e prestígio porque a minha alegria é adorar-Te. Quero entregar-Te as minhas fragilidades porque só Tu és a minha vida.

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