quarta-feira, 30 de setembro de 2020

 CARTA APOSTÓLICA

SCRIPTURAE SACRAE AFFECTUS

DO SANTO PADRE
FRANCISCO
NO XVI CENTENÁRIO DA MORTE DE SÃO JERÓNIMO

 

O afeto à Sagrada Escritura, um terno e vivo amor à Palavra de Deus escrita é a herança que São Jerónimo, com a sua vida e as suas obras, deixou à Igreja. Tais expressões, tiradas da memória litúrgica do Santo,[1] dão-nos uma chave de leitura indispensável para conhecermos, no XVI centenário da morte, a sua figura saliente na história da Igreja e o seu grande amor a Cristo. Este amor ramifica-se, como um rio em muitos canais, na sua obra de incansável estudioso, tradutor, exegeta, profundo conhecedor e apaixonado divulgador da Sagrada Escritura; na sua obra de intérprete primoroso dos textos bíblicos; de defensor ardente e por vezes impetuoso da verdade cristã; de eremita asceta e intransigente, bem como de sábia guia espiritual, na sua generosidade e ternura. Passados mil e seiscentos anos, a sua figura continua a ser de grande atualidade para nós, cristãos do século XXI.

Introdução

A 30 de setembro de 420, terminava a vida terrena de Jerónimo em Belém, na comunidade que ele fundara na gruta da Natividade. Assim se entregava àquele Senhor que nunca cessara de procurar e conhecer na Escritura; o mesmo que ele, febricitante, tinha contemplado como Juiz, numa visão, talvez na Quaresma de 375. Naquele acontecimento, que marcou uma viragem decisiva na sua vida, momento de conversão e mudança de perspetiva, sentiu-se arrastado até à presença do Juiz. «Interrogado sobre a minha condição, respondi que era cristão. Mas, Aquele que presidia retorquiu: “Mentes… Tu és ciceroniano; não, cristão!”».[2] Na realidade, desde muito jovem, Jerónimo apreciara a beleza cristalina dos textos clássicos latinos, em comparação dos quais os escritos da Bíblia, num primeiro tempo, se lhe apresentavam rudes e sem sintaxe, grosseiros demais para os seus refinados gostos literários.

Papa publica Carta Apostólica sobre a Sagrada Escritura - 16ºcentenário da morte de S.Jerónimo

Vaticano: Papa publica documento sobre a Bíblia e questiona desconhecimento de texto fundamental do Cristianismo e da Cultura ocidental

Ecclesia - Set 30, 2020 - 13:44

Carta apostólica assinala 1600 anos da morte de São Jerónimo, que se distinguiu pela tradução e comentário dos textos bíblicos


Cidade do Vaticano, 30 set 2020 (Ecclesia) – O Papa publicou hoje, 16.º centenário da morte de São Jerónimo, uma carta apostólica sobre a Bíblia, ‘Sacrae Scripturae affectus’ (O afeto pela Sagrada Escritura), na qual questiona o desconhecimento de um texto fundamental do Cristianismo e da Cultura ocidental.

“Infelizmente, a riqueza da Escritura é ignorada ou minimizada por muitos, porque não lhes foram fornecidas as bases essenciais para o seu conhecimento. Por conseguinte, a par dum incremento dos estudos eclesiásticos, dirigidos a sacerdotes e catequistas, que proporcionem de forma mais adequada a competência na Sagrada Escritura, deve ser promovida uma formação alargada a todos os cristãos”, pede Francisco, no documento divulgado, simbolicamente, na memória litúrgica de São Jerónimo (340-420), que se distinguiu pela tradução e comentário dos textos bíblicos.

A carta refere que em muitas famílias cristãs “não há ninguém que se sinta capaz de dar a conhecer aos filhos a Palavra do Senhor com toda a sua beleza e força espiritual”.

Em 2019, com o Motu Proprio ‘Aperuit illis’, o Papa determinou que “o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus”, nas comunidades católicas.

“Muitos, mesmo entre os cristãos praticantes, declaram-se abertamente incapazes de ler [a Bíblia], não por analfabetismo, mas por não estarem preparados para a linguagem bíblica, os seus modos de se expressar e as tradições culturais antigas, pelo que o texto bíblico resulta indecifrável, como se estivesse escrito num alfabeto desconhecido e numa língua enigmática”, precisa Francisco.

O documento pede que o ensino sobre a Bíblia garanta aos alunos “uma capacidade interpretativa competente”, incluindo a “contribuição indispensável do Antigo Testamento”.

Um dos problemas atuais – e não só da religião – é o analfabetismo: faltam as habilitações hermenêuticas que nos tornem intérpretes e tradutores credíveis da nossa própria tradição cultural. De forma especial aos jovens, quero lançar um desafio: parti à procura da vossa herança”.

Francisco apresenta uma síntese da vida de São Jerónimo, marcada pela “consagração absoluta e rigorosa a Deus” e “o empenho assíduo no estudo”, mostrando a sua admiração pelo autor de uma histórica tradução da Bíblia para o latim, a Vulgata.

“O resultado é um verdadeiro monumento que marcou a história cultural do Ocidente, modelando a sua linguagem teológica. Jerónimo é exegeta, professor, guia espiritual”, sustenta.

O Papa sublinha a importância da tradução, saudando a “vitalidade missionária extraordinária” que se manifesta na publicação da Bíblia “em mais de três mil línguas”.

“O centenário atual constitui um apelo a amar o que Jerónimo amou, redescobrindo os seus escritos e deixando-se tocar pelo impacto duma espiritualidade que se pode descrever, no seu núcleo mais vital, como o desejo inquieto e apaixonado dum conhecimento maior do Deus da Revelação”, escreve Francisco.


O Papa dedica uma passagem da carta apostólica à vasta representação de São Jerónimo na arte, em particular pelos “grandes mestres da pintura ocidental”.

Francisco destaca uma pintura de Caravaggio, exposta na Galeria Borghese de Roma: “Com efeito, numa única cena, o idoso asceta é apresentado sumariamente coberto por um pano vermelho, tendo sobre a mesa uma caveira, símbolo da vaidade das realidades terrenas, mas ao mesmo tempo é poderosamente representada também a qualidade do estudioso, que conserva os olhos fixos no livro enquanto a sua mão, no ato caraterístico do escritor, molha a pena no tinteiro”.

domingo, 27 de setembro de 2020

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM


O Senhor continua na Sua vinha. Hoje, vem até nós e dirige-nos um pedido especial “Filho, vai hoje trabalhar na vinha”. Cabe a cada um dar-Lhe a sua resposta: sim, sim; não, não. Mais do que as palavras, o que interessa verdadeiramente é fazer a Sua vontade, nada mais é necessário.


Na 1ªleitura (Ez 18, 25-28)   Ezequiel continua, na linha das leituras dos últimos domingos, a revelar-nos Deus como o único justo, como Aquele que vai sempre mais além, quando se trata de nos amar. A medida da justiça de Deus é o Seu Amor infinito por todo e cada ser, hoje e sempre, para além do tempo. Eis o que diz o Senhor: «Vós dizeis: ‘A maneira de proceder do Senhor não é justa’. Escutai, casa de Israel: Será a minha maneira de proceder que não é justa? Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto? Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida. Se abrir os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há de viver e não morrerá».


S.Paulo, na 2ªleitura (Filip 2, 1-11)  exorta-nos a amar os nossos irmãos, tendo como expoente o Amor de Jesus Cristo por cada um de nós. Deixemo-nos amar totalmente por Jesus, entreguemo-nos de coração e seremos elos na cadeia de transmissão do Seu Amor, por este mundo além. 
“Irmãos: Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma comunhão no Espírito, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração. Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus.”


No Evangelho (Mt 21, 28-32) o Senhor Jesus conta-nos uma parábola em que nos desafia a colocarmo-nos totalmente nas mãos de Deus. Se Lhe dissermos sim, que a nossa palavra corresponda aos nossos atos, caso contrário, mais vale fazermos como o primeiro filho. 
Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?». Eles responderam-Lhe: «O primeiro». Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus. João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram. E vós, que bem o vistes, não vos arrependestes, acreditando nele».” 


Senhor, que aprenda de Ti a dizer sim, por palavras, mas também de coração. Que, ainda que te diga não, mesmo nessas alturas, me coloque nas Tuas mãos e faça o que Tu queres de mim. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Dia Internacional da Paz


No Dia Internacional da Paz, Francisco indica o caminho da fraternidade

A fraternidade foi o tema escolhido pelo Papa Francisco para assinalar hoje o Dia Internacional da Paz convocado pela ONU. À fraternidade, aliás, é dedicada a encíclica que o Pontífice assinará em Assis em 3 de outubro.

Vatican News

O Papa Francisco assinala o Dia Internacional da Paz celebrado pelas Nações Unidas neste 21 de setembro de 2020 com uma mensagem no Twitter.

“Devemos procurar uma fraternidade real, baseada na origem comum de Deus. O desejo de paz está profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos com nada que seja menos do que isso.”

A fraternidade será o tema da encíclica que o Pontífice assinará no próximo dia 3 de outubro junto ao túmulo de São Francisco de Assis, cujo título é "Fratelli Tutti".

Trata-se de um dos assuntos que o Santo Padre tem mais a peito, dedicando inclusive uma viagem apostólica para a assinatura, em Abu Dhabi, do Documento sobre a "Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum". Este texto foi assinado também pelo Grão Imame de Al-Azhar, Ahamad al-Tayyib.

Moldar a Paz Juntos

Neste dia 21 de setembro, as Nações Unidas escolheram como tema "Moldar a Paz Juntos".

Em mensagem de vídeo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a data é dedicada “a apelar às partes beligerantes em todos os lugares a depor armas e a trabalhar em prol da harmonia.” 

Para o chefe da ONU, “à medida que a pandemia da Covid-19 continua a assolar o mundo, este apelo é mais importante do que nunca.” 

Foi por isso que Guterres pediu um cessar-fogo global em março, num apelo que irá repetir na abertura da semana de alto nível da Assembleia Geral na terça-feira, dia 22.  

Para ele, “o mundo enfrenta um inimigo comum, um vírus mortal que está a causar imenso sofrimento, destruindo meios de subsistência, contribuindo para as tensões internacionais e agravando os já grandes desafios para a paz e a segurança.” 

O secretário-geral também destaca dificuldades causadas pelas medidas de combate à pandemia. Segundo ele, nestes dias de distanciamento físico não é possível ficarmos próximos uns dos outros.  Ainda assim, as pessoas devem permanecer juntas pela paz. 

Juntos, conclui António Guterres, os cidadãos do mundo podem “construir um mundo mais justo, mais sustentável e equitativo.” 

sábado, 19 de setembro de 2020

  XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM 

As leituras de hoje, sendo uma contradição aos olhos do homem justiceiro (de ontem, de hoje, de amanhã, no fundo, de sempre) são uma maravilha da revelação de Nosso Senhor: afinal, Deus é Amor em plenitude, que Se nos dá sempre todo, sempre por inteiro. Por isso, não importa quando foi o nosso primeiro encontro: no berço; na juventude; na idade adulta; na velhice; à hora da morte…. O que interessa é deixarmo-nos encontrar e aceitarmos entrar na lógica de Deus Amor, que só sabe dar-Se e sempre na totalidade, numa entrega infinita, sem seleções, barreiras, contabilidades, ou cálculos de qualquer espécie. Esta é a maravilha do nosso Deus!

Na 1ªleitura (Is 55, 6-9) Isaías projeta-nos para a dimensão do perdão, da conversão, da procura de Deus, inserindo tudo na lógica de Deus, na infinitude do Seu Amor por cada um de nós. Se nos deixarmos habitar por Ele, como será diferente a nossa vida. Afinal nem corremos qualquer risco, pois Ele é o Senhor e todo Se dá a cada um, que O queira acolher no seu coração, na sua vida. Vale a pena confiar n’Ele!
“Procurai o Senhor, enquanto se pode encontrar, invocai-O, enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho e o homem perverso os seus pensamentos. Converta-se ao Senhor, que terá compaixão dele, ao nosso Deus, que é generoso em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus – oráculo do Senhor –. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos vossos e acima dos vossos estão os meus pensamentos.”

Na 2ªleitura (Filip 1, 20c-24.27a) recebemos o testemunho de S.Paulo, como alguém que todo se deixou cativar, possuir, habitar, por Deus. Ele demonstra-nos que é possível viver de Deus e só de Deus. Impressionante! Quão profunda é a fé deste homem! Bendito seja Deus nos Seus anjos e nos Seus santos ! 

“Irmãos: Cristo será glorificado no meu corpo, quer eu viva quer eu morra. Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se viver neste corpo mortal me permite um trabalho útil, não sei o que escolher. Sinto-me constrangido por este dilema: desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal. Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo.”

No evangelho (Mt 20, 1-16a) a parábola, que Jesus nos conta, situa-nos na lógica do Amor de Deus. É aí, em Deus e só n’Ele, que  se entende, pois, como nos revela Jesus, Deus dá-Se todo, e sempre todo, a cada um. Assim, seja ao trabalhador da primeira hora, seja ao da última hora, seja ao que O procura, ou ao que aceita o Seu convite a viver d’ “O Amor” e para “O Amor” no concreto da vida, na relação com os irmãos, Ele ama cada um infinitamente. Não se trata de pagamento por serviços prestados, ou por quantidade de trabalho produzido e número de horas despendidas, mas de comunhão de Amor e no Amor. Deixemo-nos entrar nesta dinâmica do Amor de Deus, para que um dia, na plenitude dos tempos, Deus seja tudo em todos.

"Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um pro­prie­tário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Saiu a meia-manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’. Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz: «Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros’. Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um. Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizen­do: ‘Estes últimos trabalharam só uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o peso do dia e o calor’. Mas o proprietário respondeu a um deles: ‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’. Assim, os últimos serão os primei­ros e os primeiros serão os últimos»."

Senhor, que eu nunca duvide do Teu Amor infinito, por todo e cada ser humano.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Faleceu Dom Anacleto Oliveira

 


O Secretariado Nacional de Liturgia informou que faleceu hoje, dia 18 de setembro, o Senhor Dom Anacleto Oliveira, bispo de Viana do Castelo e presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade.

Descanse na paz do Senhor.

2020-09-18 00:00:00


Nota pessoal

Foi há muitos anos que, enquanto sacerdote da diocese de Leiria-Fátima, o conheci e tive o privilégio de trabalhar em algumas das atividade que promoveu. Para mim, era verdadeiramente um homem de Deus. Foi uma das pessoas que, ao explicar as escrituras, mais me impressionou e, mais do que isso, me levou a abrir horizontes na descoberta de Deus Amor, como "Aquele" que não sabe senão dar-Se, sempre e infinitamente, por cada um de nós, seus filhos no Filho. Comunicava de uma forma única e, ao mesmo tempo, testemunhava uma fé profunda em tudo o que nos transmitia, o que nos permitia e motivava a redescobrir o nosso Deus, impregnado na vida, a caminhar connosco, nunca nos deixando sós e abandonados.

Muito obrigada por tudo!

Que o Senhor o tenha no Seu eterno descanso, pois, como diz o poeta, "só Ele tem os que mais ama". 

Até sempre D.Anacleto!

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Carta Pastoral do Bispo de Leiria-Fátima sobre a Eucaristia

A EUCARISTIA, ENCONTRO E COMUNHÃO COM CRISTO E OS IRMÃOS

Caríssimos diocesanos,

Irmãs e irmãos no Senhor Jesus

“O Senhor esteja convosco!” Saúdo-vos com estas palavras que ouvis em cada Eucaristia, fazendo votos de que possais experimentar, em cada celebração e na vida, que Ele se torna verdadeiramente presente em nós e no meio de nós, quando O acolhemos na fé e no amor.

O biénio pastoral dedicado aos “Jovens, fé e vocação” foi uma caminhada vivida com entusiasmo nos encontros de diálogo, oração, reflexão e convívio. Os jovens das nossas comunidades puderam, ali, partilhar connosco as suas necessidades, problemas, interrogações e feridas.

Também foi possível abrir espaços e percursos para o seu amadurecimento na fé, discernimento da vocação, participação na vida da comunidade cristã, serviço voluntário aos mais necessitados e de experiências fortes que levam a um encontro com Cristo vivo.

Regozijamo-nos com este crescimento, que requer ser continuado pelo empenho de todos. Os jovens precisam do nosso amor, acolhimento e acompanhamento. “Eles não são o amanhã, mas o hoje de Deus”, como afirma o Papa Francisco. A próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ) pode e deve ser motivo impulsionador para continuar com entusiasmo este percurso pastoral.

A EUCARISTIA NO CONTEXTO ATUAL

1. Porquê este tema?

Nos encontros vicariais com os jovens apareciam sempre as perguntas: para ser católico é preciso ir à Missa? O que é mais importante: ir à Missa ou amar os irmãos?

Também no Conselho Pastoral Diocesano, ao debruçar-se sobre a problemática da juventude, voltavam as questões: porque é que a maioria dos jovens não frequenta a celebração da Eucaristia dominical? Como motivá-los? Estas interrogações fizeram vir ao de cima algo que trazia dentro de mim e que já aflorara, anos antes, numa semana de formação permanente do clero, como sendo necessário dedicar particular atenção pastoral à Eucaristia como centro e fonte da vida cristã. O Papa Bento XVI oferece outra motivação pertinente: “Toda a grande reforma da Igreja está, de algum modo, ligada à redescoberta da fé na presença eucarística do Senhor no meio do seu povo” (SCa 6).

De facto, o tema da Eucaristia, na sua amplitude, aponta para o essencial da fé cristã: Jesus Cristo que, no Sacramento do Altar, é o coração da Igreja e alimento de vida espiritual para os fiéis. Além disso, à maneira de abóbada, permite encerrar o ciclo dos temas pastorais anteriores. Eis, pois, as razões da escolha deste tema para o próximo biénio pastoral. Mal eu imaginava que a pandemia da Covid-19 vinha colocar este tema de forma tão premente na ordem do dia da vida e pastoral da Igreja.

2. Criatividade e novas oportunidades pastorais no tempo de pandemia

Cada projeto pastoral tem o seu contexto existencial, cultural e eclesial próprio. Este começou a ser pensado antes do flagelo global da pandemia. Mas não poderia deixar de ter presente o seu impacto, as suas consequências e interpelações, conforme o discernimento que fizemos nos vários conselhos diocesanos. Estamos conscientes de que a epidemia continua em evolução, sem sabermos como e até quando.

O longo período do confinamento abalou profundamente as nossas comunidades. Nunca tínhamos imaginado ver as igrejas vazias, suspensas as celebrações comunitárias, a catequese e tantas atividades. A impossibilidade de aceder aos sacramentos, de receber a comunhão sacramental, de se encontrar com os irmãos e irmãs em comunidade, de celebrar um funeral religioso digno aos entes queridos falecidos, de viver confinados a Quaresma, a Páscoa e todo o tempo pascal, tudo isto constituiu uma dura provação.

Todavia, o confinamento não nos deixou imobilizados. Levou-nos a dar provas de criatividade pastoral para alimentar a fé e manter vivo o sentido de comunidade nos fiéis, nesta situação excecional.

A crise não significa só perigo, é também oportunidade. Neste caso, fez-nos descobrir outras coisas belas da experiência cristã. Talvez a mais significativa tenha sido, a meu ver, a de viver, como nunca, a experiência da fé em família e como família, qual pequena Igreja doméstica. Foi impressionante ver famílias que (re)começaram a rezar e a partilhar a própria fé nas suas casas. Eis uma dimensão a cuidar melhor na ação pastoral.

O confinamento evidenciou a necessidade da personalização da fé (não mais de tradição ou rotina), de revigoramento da espiritualidade, para dar sentido à vida, mesmo nos momentos de crise, e de acolhimento e acompanhamento face à solidão e às feridas existenciais. Mostrou-nos quanto são essenciais o encontro, o afeto, a ajuda, a comunidade, a comunhão com Deus e entre nós. Daí o desafio a uma pastoral de proximidade da Igreja em saída, próxima das pessoas, sobretudo das que mais sofrem.

Foi consolador constatar os numerosos e belos gestos de generosidade e solidariedade dos profissionais de saúde, dos inúmeros voluntários, mesmo jovens, e dos grupos sociocaritativos das nossas comunidades e a colaboração entre as paróquias e as autarquias.

Grande inovação e criatividade foi o uso das novas tecnologias de comunicação, ferramentas imprescindíveis para a evangelização deste tempo e desta cultura. Elas possibilitaram manter relações pessoais, familiares e comunitárias, oferta e partilha da Palavra de Deus, de orações, meditações, textos de apoio, catequese “on line”, tele-reuniões, etc. Pudemos ver muitos leigos empenhados nestas atividades, corresponsáveis, a solicitar mais confiança numa Igreja marcadamente laical.

Neste tempo, Deus não esteve ausente. Não obstante os momentos de obscuridade, percebemos a sua proximidade e a sua Páscoa mais forte do que as trevas. Descobrimos um amplo espaço de oração e alimento espiritual “para além da Missa”. Por outro lado, fez-nos sentir o valor específico e único da Eucaristia. Como sucede tantas vezes na vida, só descobrimos os valores fundamentais (pão, água, saúde, trabalho, amor...) quando nos faltam. Muitos sentiram a dor de não poderem participar presencialmente na Missa e na comunhão eucarística. A celebração entrava nas nossas casas por via digital ou televisão. Permitia estar unidos espiritualmente e fazer a comunhão espiritual. Penso que o Espírito Santo também agia através destes meios. Mas sentíamos na pele e no coração que não era a mesma coisa que uma celebração presencial e comunitária.

Agora, com prudência, mas com grande alegria, podemos saborear de novo a celebração comunitária presencial. Mas há que estar atentos e evitar a grande tentação do comodismo ou da virtualização da Missa, pensando que basta segui-la comodamente em casa. A celebração da fé é incarnada, presencial, comunitária, relacional, de encontro, de afeto, de comunhão de irmãos e irmãs. Não o esqueçamos!

Notamos que bastantes pessoas ainda estão reticentes em participar na celebração dominical, dominadas pelo medo ou pelo comodismo. Sentimos tristeza e preocupação, particularmente com a ausência de pais, crianças e jovens. Não será o sinal de alarme e alerta de que a pandemia veio pôr a descoberto e acentuar o que já estava a acontecer, isto é, o abandono da celebração dominical por parte das novas gerações?

3. Situação de emergência eucarística

Estamos a viver, hoje, na Igreja uma situação de “emergência eucarística”. Não por heresias doutrinais como no passado, mas sobretudo pela indiferença e consequente abandono da celebração dominical como se fosse algo meramente opcional ou mesmo um fardo. Basta ver a debandada após o crisma e, mesmo já, após a primeira comunhão.

O Concílio Vaticano II ofereceu-nos ensinamentos e condições para uma melhor compreensão do mistério da Eucaristia e a sua celebração mais viva e participada. Devemos, todavia, reconhecer que os frutos esperados desta renovação não têm correspondido às expectativas e tardam a amadurecer.

Constatamos a falta de enlevo, encanto, amor, atração e devoção a este sacramento, uma verdadeira desafeição e até desamor por parte de muitos cristãos que se afastam da celebração. Para este abandono contribuem fatores de ordem social, cultural, familiar, próprios do mundo e deste tempo em mudança. Mas as razões mais profundas são o esmorecimento da fé, a ignorância do verdadeiro significado deste sacramento para a vida cristã e também a falta de qualidade de certas celebrações. Não se ama o que não se conhece bem!

Porquê ir à Missa ao domingo? Para que serve? Entre os chamados católicos “não praticantes”, esta questão é seguida, normalmente, de uma autojustificação: “para rezar não preciso de ir à igreja; rezo melhor em casa ou em contacto com a natureza”. Ou então “a Missa é sempre a mesma coisa”, “não percebo nada do que lá se faz e diz”. A celebração é assim reduzida a uma coisa, uma mera oração pessoal ou comunitária, um rito tradicional religioso.

Para outros, trata-se de um dever ou obrigação a cumprir para estar em ordem com Deus. Alguns vão à Missa por rotina devocional, para lembrar e rezar pelos defuntos, ou apenas por hábito social. O próprio vocabulário traduz o que se pensa: vai-se “assistir à Missa” como quem vê o desenrolar de um rito ou espetáculo religioso que o padre e seus colaboradores representam! Mesmo quando se fala de oferecer o santo sacrifício da Missa, alguns entendem que se refere à penitência do ir à Missa e do tempo que lá se passa.

Também encontramos pessoas que põem toda a sua atenção exclusivamente na hóstia consagrada e na comunhão individual, como se fosse uma mera devoção piedosa privada. E que dizer do programa das festas, quando a Missa figura lá como mais um número e, por vezes, em horários que não permitem grande participação?

Ouvimos, com alguma frequência, queixas de que as nossas celebrações não são atraentes e apetecíveis. Mas se fizéssemos um inquérito sobre o motivo que leva a participar nelas, talvez grande parte das pessoas não referisse o encontro com Cristo ressuscitado e a comunhão com Ele e com os irmãos na fé.

Este panorama evidencia a chamada “situação de emergência eucarística”, que nos coloca perante as questões de fundo. Porque é tão difícil descobrir o “rosto” de Jesus presente na Eucaristia? Que fazer para que mais pessoas apreciem e saboreiem esse Cristo que Se nos entrega para morar em nós e connosco? E tenham interesse em participar na Santa Missa e serem transformadas pelos seus frutos? Como motivar pais, crianças, adolescentes e jovens a participar com gosto na celebração dominical? Que fazer para que, em silêncio, Jesus seja adorado diante do sacrário? O que é que não funciona em relação à compreensão, celebração e vivência da Eucaristia nas nossas comunidades?

Não podemos continuar a apoiar-nos somente na prática tradicional, no hábito social ou no cumprimento do preceito dominical. Cada comunidade é chamada a fazer um discernimento pastoral sério a fim de encontrar respostas e avançar propostas para responder a estas interrogações.

É fundamental descobrir e aprofundar a riqueza e a beleza do conteúdo e do significado que estão presentes na celebração eucarística e que dão sentido pleno à vida de cada cristão e da Igreja. Por isso, vamos tratar o tema numa perspetiva de evangelização, que leve cada fiel e cada comunidade a crescer na fé como encontro com Cristo vivo, no amor ao mistério do Corpo e Sangue do Senhor, na alegria da Sua presença e da comunhão com Ele, na comunhão fraterna e comunitária, no testemunho cristão no mundo. Eis a razão da escolha do título abrangente do biénio “Eucaristia, Comunidade Cristã e Missão”, do lema mobilizador “Felizes os convidados para a ceia do Senhor” e da frase bíblica inspiradora “Eu sou o pão da vida” (Jo 6, 35).


A EUCARISTIA, MISTÉRIO ADMIRÁVEL DA NOSSA FÉ

 

4. “Uma história para nos guiar: os discípulos de Emaús”

Adoto este título do documento preparatório do Congresso Eucarístico Internacional, em 2012, na Irlanda. Ele inspira-se na Carta Apostólica do Papa S. João Paulo II “Fica connosco, Senhor”. A mesma história está também presente no subsídio para o 52º Congresso Eucarístico Internacional, na Hungria, em 2021.

Segundo os estudiosos, o episódio dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35) é um testemunho notável da fé eucarística da comunidade apostólica. A experiência pascal destes discípulos apresenta os traços característicos da celebração eucarística dominical: os momentos essenciais do encontro de Cristo Ressuscitado com a comunidade cristã e com cada fiel e as partes principais da nossa celebração.

A narrativa é simples, bela e inspiradora. Nunca deixa de nos maravilhar e comover. Tomo-a eu também como fonte de inspiração para o nosso tema.

5. “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”

“Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a caminho” (Lc 24, 15).

O primeiro passo consiste em Jesus Ressuscitado tomar a iniciativa de vir ao encontro, fazer-se próximo e companheiro de viagem dos discípulos, pondo-se a seu lado, numa atitude de escuta e acolhimento. Este gesto é, por si, eloquente. Testemunha o amor de Deus que nos precede, que nos ama primeiro: Deus ama-te, aproxima-se de ti sem pôr condições. É Ele quem te move interiormente à participação na Eucaristia.

Não nos reunimos por simples amizade, laços familiares, raízes e interesses comuns ou motivos culturais, desportivos, políticos ou de solidariedade. É Cristo ressuscitado quem nos convoca e nos reúne no seu amor que transcende todos os outros laços de união. Nós somos seus convidados e hóspedes! O Senhor que nos reúne em comunidade torna-se presente e é Ele quem, na realidade, preside à Eucaristia: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18, 20).

No início da celebração da Missa, fazemos esta experiência de Deus que vem ao nosso encontro com o seu amor trinitário. Sinais disso são o sinal da cruz, a saudação inicial, “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”, e a resposta da assembleia “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”.

Estes ritos iniciais têm a finalidade de nos recolher em interioridade e preparar para o encontro vivo com Deus por meio de Jesus ressuscitado. Para acolher este chamamento de amor que Deus nos faz é necessária a preparação interior e exterior, a começar desde logo pela maneira de entrar e estar na igreja: o modo como se faz, por exemplo, a genuflexão diante do Santíssimo Sacramento no sacrário, a atitude de recolhimento, silêncio e oração. Evitemos a todo o custo a banalização dos gestos, das posturas, dos ruídos desnecessários. Sejam bons exemplos, de modo particular, os que exercem algum ministério ou função especial na celebração.

sábado, 12 de setembro de 2020

 XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM 

As leituras deste domingo, a meu ver, estão na mesma linha (amor infinito de Deus por cada um de nós) dos textos da semana passada, mas numa sequência crescente. Se, então, éramos exortados a “corrigir os que erram”, hoje somos desafiados a ir muito mais longe, no caminho que nos leva a Jesus, perdoando totalmente (no amor divino) sempre, sempre, sempre e cada vez mais, os que connosco convivem, ou se cruzam nos caminhos da vida, tendo como meta o encontro, de cada um, com o amor infinito de Deus.

A 1ªleitura (Sir 27, 33 – 28, 9)  traz-nos um confronto, ou melhor, uma correlação entre o perdão de Deus e o perdão dos homens. Acredito sinceramente que só perdoamos verdadeiramente quem nos ofende, quando Deus, no nosso coração, ama a outra pessoa. Então, sim o perdão é verdadeiro e total, passa a ato de amor. O rancor e a ira são coisas detestáveis, e o pecador é mestre nelas. Quem se vinga sofrerá a vingança do Senhor, que pedirá minuciosa conta de seus pecados. Perdoa a ofensa do teu próximo e, quando o pedires, as tuas ofensas serão perdoadas. Um homem guarda rancor contra outro e pede a Deus que o cure? Não tem compaixão do seu semelhante e pede perdão para os seus próprios pecados? Se ele, que é um ser de carne, guarda rancor, quem lhe alcançará o perdão das suas faltas? Lembra-te do teu fim e deixa de ter ódio; pensa na corrupção e na morte, e guarda os mandamentos. Recorda os mandamentos e não tenhas rancor ao próximo; pensa na aliança do Altíssimo e não repares nas ofensas que te fazem.”

Na 2ª leitura (Rom 14, 7-9) S. Paulo diz-nos que somos de Cristo e que só n’Ele seremos completamente felizes, porque a Ele pertencemos, uma vez que nos reconquistou para Deus. “Irmãos: Nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum de nós morre para si mesmo. Se vivemos, vivemos para o Senhor, e se morremos, morremos para o Senhor. Portanto, quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. Na verdade, Cristo morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos vivos e dos mortos.”

No evangelho (Mt 18, 21-35) Jesus, através de uma parábola, leva-nos a reconhecer o quanto Deus é misericordioso para connosco. Como Deus é diferente de nós. Deus só sabe amar! Nós, precisamos de aprender d’Ele a perdoar, a amar.

“Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou-Lhe: «Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?». Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Na verdade, o reino de Deus pode comparar-se a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo de começo, apresentaram-lhe um homem que devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido, com a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, para assim pagar a dívida. Então o servo prostrou-se a seus pés, dizendo: ‘Senhor, concede-me um prazo e tudo te pagarei’. Cheio de compaixão, o senhor daquele servo deu-lhe a liberdade e perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço, dizendo: ‘Paga o que me deves’. Então o companheiro caiu a seus pés e suplicou-lhe, dizendo: ‘Concede-me um prazo e pagar-te-ei’. Ele, porém, não consentiu e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto devia. Testemunhas desta cena, os seus companheiros ficaram muito tristes e foram contar ao senhor tudo o que havia sucedido. Então, o senhor mandou-o chamar e disse: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque mo pediste. Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’. E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração».

Ensina-me Senhor a amar aqueles com quem convivo diariamente, mas também os que, ocasional ou frequentemente, pões no meu caminho.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Natividade de Nossa Senhora


Papa: Maria, cuida com carinho deste mundo ferido

Através de um tweet, o Papa Francisco confia a Nossa Senhora "este mundo ferido", no dia em que a Igreja celebra a Natividade de Maria.

Vatican News

“Maria, mãe que cuidaste  de Jesus, cuida com carinho e preocupação materna também deste mundo ferido.”

Com uma mensagem no Twitter, o Papa Francisco recorda hoje a Natividade de Nossa Senhora. 

A festa da Natividade de Maria projeta a sua luz sobre nós, disse o Pontífice na homilia de 8 de setembro de 2017.

“Maria é o primeiro esplendor que anuncia o fim da noite e, sobretudo, a proximidade do dia. O seu nascimento faz-nos intuir a iniciativa amorosa, terna e compassiva do amor com que Deus Se inclina sobre nós e nos chama para uma aliança maravilhosa com Ele, que nada e ninguém poderá romper.

Maria soube ser transparência da luz de Deus e refletiu os fulgores desta luz na sua casa, que partilhou com José e Jesus, e também no seu povo, na sua nação e na casa comum de toda a humanidade que é a criação.

No Evangelho, ouvimos a genealogia de Jesus (cf. Mt 1, 1-17), que não é uma mera lista de nomes, mas história viva, história dum povo com o qual Deus caminhou e, ao fazer-Se um de nós, quis anunciar que, no seu sangue, corre a história de justos e pecadores, que a nossa salvação não é uma salvação assética, de laboratório, mas concreta, uma salvação de vida que caminha.

Esta longa lista diz-nos que somos uma pequena parte duma longa história e ajuda-nos a não pretender protagonismos excessivos, ajuda-nos a fugir da tentação de espiritualismos evasivos, a não abstrair das coordenadas históricas concretas em que nos cabe viver. E também integra, na nossa história de salvação, aquelas páginas mais obscuras ou tristes, os momentos de desolação e abandono comparáveis ao exílio.”

Os momentos de desolação que hoje ferem o mundo são inúmeros, como denuncia o Pontífice. A pandemia acirrou as consequências das desigualdades sociais, somando-se aos problemas já existentes, como migração forçada, desnutrição, analfabetismo, conflitos, guerras e destruição do meio ambiente.

Maria, com o seu «sim» generoso, permitiu que Deus cuidasse desta história. E hoje pedimos a Nossa Senhora que cuide “deste mundo ferido”.