TEMPO COMUM - 2022
As leituras de
hoje são verdadeiramente desafiantes para nós, enquanto cristãos, pois
fazem-nos questionar os nossos princípios e valores essenciais. Afinal, em quem
pomos toda a confiança, quem é para nós o fundamento da existência?! O que é
que realmente nos faz felizes e nos impele a fazer tudo o que podemos para o(a)
obter?! Quem, ou o que, é o nosso mais que tudo? Só o encontro com e em Deus
Amor, poderá ser a resposta a todas as nossas inquietações e buscas, tudo o
mais não passa de uma série de ilusões que se desfazem no tempo.
Na 1ªleitura (Co (Ecle) 1, 2; 2, 21-23) Coelet
acentua a necessidade de descobrirmos o porquê do nosso existir, do nosso
labor, do nosso viver, pois se endeusamos o trabalho, a riqueza, as pessoas, ou
o que quer que seja, tudo não passa de vaidade e mais vaidade. Deixemos que o
Senhor, Deus Amor, nos preencha por inteiro e então tudo o que temos e somos e
d’Ele recebemos, passa a estar dentro da dinâmica da transmissão do amor a Deus
e ao próximo, adquirindo a sua dimensão meramente transitória e passageira.
“Vaidade das vaidades – diz Coelet – vaidade das vaidades: tudo é vaidade.
Quem trabalhou com sabedoria, ciência e êxito, tem de deixar tudo a outro que
nada fez. Também isto é vaidade e grande desgraça. Mas então, que aproveita ao
homem todo o seu trabalho e a ânsia com que se afadigou debaixo do sol? Na
verdade, todos os seus dias são cheios de dores e os seus trabalhos cheios de
cuidados e preocupações; e nem de noite o seu coração descansa. Também isto é
vaidade.”
Na 2ªleitura (Col 3, 1-5.9-11) S. Paulo projeta-nos para a nossa condição de batizados, de ressuscitados em Cristo e como tal novas criaturas n’Ele. É só em Jesus que aspiramos às coisas do alto e nos tornamos verdadeiramente livres, independentemente dos bens, das afeições, dos amores, ou desamores, das angústias, ou das alegrias, dos sucessos, ou das derrotas e de tantas outras situações que a vida nos possa trazer. Em e com Jesus, tudo passa a ter um sentido novo!
“Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai
às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às
coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está
escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar,
também vós vos manifestareis com Ele na glória. Portanto, fazei morrer o que em
vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é
uma idolatria. Não mintais uns aos outros, vós que vos despojastes do homem
velho com as suas ações e vos revestistes do homem novo, que, para alcançar a
verdadeira ciência, se vai renovando à imagem do seu Criador. Aí não há grego
ou judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro ou cita, escravo ou livre; o que
há é Cristo, que é tudo e está em todos.”
No evangelho (Lc 12, 13-21) Jesus diz-nos claramente (e depois reforça a mesma ideia através da
parábola que nos conta) que não é pelos bens que alguém acumula para si próprio
que se mede a sua vida, mas antes pelo que o torna rico aos olhos de Deus. Tudo
o que temos e somos, estando sob a nossa administração, está ao serviço dos
demais e só nessa dimensão recupera o seu verdadeiro sentido, a sua finalidade
principal.
“Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a
meu irmão que reparta a herança comigo». Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me
fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?». Depois disse aos presentes: «Vede
bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da
abundância dos seus bens». E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico
tinha produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: ‘Que hei de fazer, pois
não tenho onde guardar a minha colheita? Vou fazer assim: Deitarei abaixo os
meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e
os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens em
depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus respondeu-lhe:
‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para
quem será?’. Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico
aos olhos de Deus».”