sábado, 11 de março de 2023

QUARESMA PASSO A PASSO - 2023  

Semana III da Quaresma 

Domingo III – 12/03/2023

EVANGELHO Jo 4, 5-42     

«Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá-Me de beber’, tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva»;

«Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente que jorra para a vida eterna»;

«Vai chegar a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. (...) Deus é espírito e os seus adoradores devem adorá-l’O em espírito e verdade»;

«O meu alimento é fazer a vontade d’Aquele que Me enviou e realizar a sua obra. 

As leituras de hoje levam-nos a subir mais um degrau, ou a avançar mais uma etapa na caminhada até à noite das noites, isto é, até à Páscoa da Ressurreição. Desta vez somos desafiados a deixarmo-nos repassar pela Água Viva, que é o Senhor, o Único que antes de ser desejado por nós, já há muito, muito tempo mesmo, tinha o desejo de se encontrar com cada um de nós e de saciar a sede que d’Ele tínhamos. É o Amor que procura o amado, antes mesmo de este saber da Sua existência. Deixemos que Jesus, a Fonte de Água Viva, sacie a nossa sede.

Na 1ªleitura  (Ex 17, 3-7) ao fazermos parte deste povo que caminha ainda no deserto, em busca da terra prometida, encontramo-nos no meio dos que já esqueceram a presença de Deus ao longo do percurso, apesar de todos os sinais que Ele tem realizado ao longo do caminho já percorrido. Também nós reclamamos e testamos a paciência infinita de Deus, exigindo “água para beber”, ou seja, querendo ter também hoje, no meio das dificuldades, tribulações e angústias que vivemos no dia a dia da vida, provas da Sua presença no meio de nós. Não tenhas em conta os nossos pecados Senhor! Na Tua Misericórdia, no Teu Amor, salva-nos Senhor. Sem Ti nada podemos, mas conTigo tudo nos é possível. 

“Naqueles dias, o povo israelita, atormentado pela sede, começou a altercar com Moisés, dizendo: «Porque nos tiraste do Egipto? Para nos deixares morrer à sede, a nós, aos nossos filhos e aos nossos rebanhos?». Então Moisés clamou ao Senhor, dizendo: «Que hei de fazer a este povo? Pouco falta para me apedrejarem». O Senhor respondeu a Moisés: «Passa para a frente do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel. Toma na mão a vara com que fustigaste o Rio e põe-te a caminho. Eu estarei diante de ti, sobre o rochedo, no monte Horeb. Baterás no rochedo e dele sairá água; então o povo poderá beber». Moisés assim fez à vista dos anciãos de Israel. E chamou àquele lugar Massa e Meriba, por causa da altercação dos filhos de Israel e por terem tentado o Senhor, ao dizerem: «O Senhor está ou não no meio de nós?».” 

Na 2ªleitura (Rom 5, 1-2.5-8) S.Paulo conduz-nos até ao nosso batismo, até quando foi derramado o Amor de Deus nos nossos corações, pela ação do Espírito Santo. Grande dia na nossa vida, esse em que recebemos o sacramento do batismo, em que passámos a ser filhos no Filho. Meu Deus, como é que nos podemos esquecer, ou duvidar do quanto nos amas, depois de tudo o que fizeste por nosso amor?! No Teu Amor, tem compaixão de nós.

“Irmãos: Tendo sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual temos acesso, na fé, a esta graça em que permanecemos e nos gloriamos, apoiados na esperança da glória de Deus. Ora, a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios no tempo determinado. Dificilmente alguém morre por um justo; por um homem bom, talvez alguém tivesse a coragem de morrer. Mas Deus prova assim o seu amor para connosco: Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores.”

 

O evangelho (Jo 4, 5-42) é uma conversa em que Jesus nos vai revelando o Amor de Deus por cada um de nós. Sim ,porque cada um de nós pode bem colocar-se no lugar da samaritana, numa situação, ou noutra, ou em várias. E é lindo perceber, primeiro que Jesus, mesmo fatigado e com fome, estava desperto e atento a todos e a qualquer um, independentemente do povo, da raça, ou da cor da pele. Depois, é Jesus quem toma a iniciativa e sem denunciar situação alguma, mas fazendo as perguntas que levam a samaritana a descobrir-se a si mesma, enquanto pessoa, e a reconhecer n’Ele o Messias, acaba por desafiar aquela mulher a uma adesão tal, que o Espírito Santo  a transforma numa anunciadora do Messias. Uma coisa fica clara para mim, neste encontro único, Jesus revela-se a todo o que O procura de coração sincero, isto é, ninguém está fora do Amor de Deus.

“Naquele tempo, chegou Jesus a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, junto da propriedade que Jacob tinha dado a seu filho José, onde estava o poço de Jacob. Jesus, cansado da caminhada, sentou-Se à beira do poço. Era por volta do meio-dia. Veio uma mulher da Samaria para tirar água. Disse-lhe Jesus: «Dá-Me de beber». Os discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos. Respondeu-Lhe a samaritana: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber, sendo eu samaritana?». De facto, os judeus não se dão com os samaritanos. Disse-lhe Jesus: «Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá-Me de beber’, tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva». Respondeu-Lhe a mulher: «Senhor, Tu nem sequer tens um balde, e o poço é fundo: donde Te vem a água viva? Serás Tu maior do que o nosso pai Jacob, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, com os seus filhos e os seus rebanhos?». Disse-Lhe Jesus: «Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente que jorra para a vida eterna». «Senhor, – suplicou a mulher – dá-me dessa água, para que eu não sinta mais sede e não tenha de vir aqui buscá-la». Disse-lhe Jesus: «Vai chamar o teu marido e volta aqui». Respondeu-lhe a mulher: «Não tenho marido». Jesus replicou: «Disseste bem que não tens marido, pois tiveste cinco e aquele que tens agora não é teu marido. Neste ponto falaste verdade». Disse-lhe a mulher: «Senhor, vejo que és profeta. Os nossos antepassados adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar». Disse-lhe Jesus: «Mulher, acredita em Mim: Vai chegar a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vai chegar a hora – e já chegou – em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são esses os adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito e os seus adoradores devem adorá-l’O em espírito e verdade». Disse-Lhe a mulher: «Eu sei que há de vir o Messias, isto é, Aquele que chamam Cristo. Quando vier, há de anunciar-nos todas as coisas». Respondeu-lhe Jesus: «Sou Eu, que estou a falar contigo». Nisto, chegaram os discípulos e ficaram admirados por Ele estar a falar com aquela mulher, mas nenhum deles Lhe perguntou: «Que pretendes?», ou então: «Porque falas com ela?». A mulher deixou a bilha, correu à cidade e falou a todos: «Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será Ele o Messias?». Eles saíram da cidade e vieram ter com Jesus. Entretanto, os discípulos insistiam com Ele, dizendo: «Mestre, come». Mas Ele respondeu-lhes: «Eu tenho um alimento para comer que vós não conheceis». Os discípulos perguntavam uns aos outros: «Porventura alguém Lhe trouxe de comer?». Disse-lhes Jesus: «O meu alimento é fazer a vontade d’Aquele que Me enviou e realizar a sua obra. Não dizeis vós que dentro de quatro meses chegará o tempo da colheita? Pois bem, Eu digo-vos: Erguei os olhos e vede os campos, que já estão loiros para a ceifa. Já o ceifeiro recebe o salário e recolhe o fruto para a vida eterna e, deste modo, se alegra o semeador juntamente com o ceifeiro. Nisto se verifica o ditado: ‘Um é o que semeia e outro o que ceifa’. Eu mandei-vos ceifar o que não trabalhastes. Outros trabalharam e vós aproveitais-vos do seu trabalho». Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus, por causa da palavra da mulher, que testemunhava: «Ele disse-me tudo o que eu fiz». Por isso os samaritanos, quando vieram ao encontro de Jesus, pediram-Lhe que ficasse com eles. E ficou lá dois dias. Ao ouvi-l’O, muitos acreditaram e diziam à mulher: «Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos. Nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é realmente o Salvador do mundo».”

Senhor, que eu nunca duvide do Teu Amor, seja qual for a situação em que me encontro.

Doce consolador, refrigério da alma, sustenta e ampara todas as pessoas que se sentem sós, perdidas, abandonadas e com medo. Que encontrem em Ti a força e a coragem para superarem os vários obstáculos que enfrentam. 

Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

O Evangelho de hoje apresenta-nos o encontro de Jesus com a mulher samaritana, que aconteceu em Sicar, junto de um antigo poço onde a mulher ia todos os dias buscar água. Naquele dia, encontrou lá Jesus, sentado, «cansado devido à viagem» (Jo 4, 6). Ele diz-lhe imediatamente: «Dá-me de beber» (v. 7). Deste modo supera as barreiras de hostilidade que existiam entre judeus e samaritanos e rompe os esquemas do preconceito em relação às mulheres. O pedido simples de Jesus é o início de um diálogo genuíno, mediante o qual Ele, com grande delicadeza, entra no mundo interior de uma pessoa à qual, segundo os esquemas sociais, não deveria nem sequer ter dirigido a palavra. Mas Jesus fá-lo! Jesus não tem medo. Jesus quando vê uma pessoa vai em frente, porque ama. Ama-nos a todos. Nunca se detém diante de uma pessoa por preconceitos. Jesus coloca-a diante da sua situação, sem a julgar mas fazendo-a sentir-se considerada, reconhecida, e deste modo suscitando nela o desejo de ir além da rotina diária.

A sede de Jesus não era tanto de água, quanto de encontrar a Samaritana para lhe abrir o coração: pede-lhe de beber para evidenciar a sede que havia nela mesma. A mulher comove-se com este encontro: dirige a Jesus aquelas perguntas profundas que todos temos dentro, mas que muitas vezes ignoramos. Também nós temos tantas perguntas para fazer, mas não encontramos a coragem de as dirigir a Jesus! A Quaresma, queridos irmãos e irmãs, é o tempo oportuno para olhar para dentro de nós, para fazer emergir as nossas necessidades espirituais mais verdadeiras, e pedir a ajuda do Senhor na oração. O exemplo da Samaritana convida-nos a expressar-nos do seguinte modo: «Jesus, dá-me aquela água que me saciará eternamente».

O Evangelho diz que os discípulos ficaram surpreendidos que o seu Mestre falasse com aquela mulher. Mas o Senhor é superior aos preconceitos, e por isso não receou falar com a Samaritana: a misericórdia é maior do que o preconceito. Devemos aprender bem isto! A misericórdia é maior do que o preconceito, e Jesus é muito misericordioso, tanto! O resultado daquele encontro junto do poço foi que a mulher se transformou: «deixou a sua ânfora» (v. 28), com a qual ia buscar água, e foi depressa à cidade contar a sua experiência extraordinária. «Encontrei um homem que me disse todas as coisas que eu fiz. Será o Messias?». Estava entusiasmada. Tinha ido buscar água ao poço, e encontrou outra água, a água viva que jorra para a vida eterna. Encontrou a água que procurava desde sempre! Corre à aldeia, àquela aldeia que a julgava, a condenava e a rejeitava, e anuncia que encontrou o Messias: alguém que lhe mudou a vida. Porque cada encontro com Jesus nos muda a vida, sempre. É um passo em frente, um passo mais próximo de Deus. E assim cada encontro com Jesus nos muda a vida. É sempre assim.

Também nós encontramos neste Evangelho o estímulo para «deixar a nossa ânfora», símbolo de tudo o que aparentemente é importante, mas que perde valor diante do «amor de Deus». Todos temos uma, ou mais que uma! Pergunto a vós, e também a mim: «Qual é a tua ânfora, a que te pesa, a que te afasta de Deus?». Deixemo-la um pouco de lado e com o coração ouçamos a voz de Jesus que nos oferece outra água, outra água que aproxima do Senhor. Somos chamados a redescobrir a importância e o sentido da nossa vida cristã, que começou com o baptismo e, como a Samaritana, a testemunhar aos nossos irmãos. O quê? A alegria! Testemunhar a alegria do encontro com Jesus, porque disse que cada encontro com Jesus muda a nossa vida, e também cada encontro com Jesus enche de alegria, aquela alegria que vem de dentro. E o Senhor é assim. E contar quantas coisas maravilhosas o Senhor faz no nosso coração, quando temos a coragem de pôr de lado a nossa ânfora.

Papa Francisco

(Angelus, 23 de março de 2014)

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