terça-feira, 31 de outubro de 2023

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

Estamos em festa. A Igreja hoje “celebra a plenitude da vida cristã e a Santidade de Deus, em seus filhos, os santos da Igreja.”

Só Deus é Santo, mas, por graça de Deus, participamos da Sua Santidade, em união com todos os nossos irmãos, incluindo os que já veem Deus face a face.

Todos juntos formamos em Cristo uma só família, a Igreja, para a glória da Trindade.

As leituras de hoje revelam o projeto de Deus a respeito do homem: quer torná-lo participante da sua Santidade.

A 1ª Leitura (Ap 7,2-4.9-14) afirma que uma grande multidão de pessoas, de todos os povos, são os santos que participam da glória celeste, junto de Deus. O texto apresenta um número simbólico, que nos abrange a todos. Deus não exclui ninguém, ama a todos infinitamente, como só Ele sabe amar, porque é todo Amor.

"Eu, João, vi um Anjo que subia do Nascente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele clamou em alta voz aos quatro Anjos a quem foi dado o poder de causar dano à terra e ao mar: «Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus». E ouvi o número dos que foram marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. Depois disto, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. E clamavam em alta voz: «A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro». Todos os Anjos formavam círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos. Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra, e adoraram a Deus, dizendo: «Amen! A bênção e a glória, a sabedoria e a ação de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amen!». Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: «Esses que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e de onde vieram?». Eu respondi-lhe: «Meu Senhor, vós é que o sabeis». Ele disse-me: «São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro»." 

Na 2ª leitura (1Jo 3,1-3)  S. João desperta em nós um sentimento de gratidão e louvor a Deus, pelas maravilhas inimagináveis que opera nos homens de ontem, de hoje e de sempre. Bendito e louvado sejas Senhor, pelo Teu Amor por cada um de nós e por toda a humanidade.

"Caríssimos: Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a Ele. Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é. Todo aquele que tem n’Ele esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser puro, como Ele é puro." 

No Evangelho (Mt 5,1-12), Jesus apresenta uma proposta de Santidade: as bem-aventuranças. Que o Senhor nos ajude e o Espírito Santo nos ilumine para as vivermos, no dia a dia da vida, pois só  este caminho nos conduz à santidade. 

"Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa»."

Amados irmãos e irmãs, bom dia e boa festa!

A primeira leitura de hoje, tirada do Livro do Apocalipse, fala-nos do céu e coloca diante de nós «uma multidão imensa», incalculável, «de todas as nações, tribos, povos e línguas» (Ap 7, 9). São os santos. O que fazem “lá em cima”? Cantam juntos, louvam a Deus com alegria. Seria agradável ouvir os cânticos deles... Mas podemos imaginá-los: sabeis quando? Durante a Missa, quando cantamos «Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo...». É um hino — diz a Bíblia — que vem do céu, que se canta lá (cf. Is 6, 3; Ap 4, 8), um hino de louvor. Então, cantando o “Santo”, não só pensamos nos santos, mas fazemos aquilo que eles fazem: naquele momento, na Missa, estamos como nunca em união com eles.

E estamos em união com todos os santos: não só com os mais conhecidos, do calendário, mas também com os “da porta ao lado”, os nossos familiares e conhecidos que agora fazem parte daquela multidão imensa. Então hoje é festa de família. Os santos estão próximos de nós, aliás, são os nossos irmãos e irmãs mais verdadeiros. Compreendem-nos, amam-nos, sabem qual é o nosso verdadeiro bem, ajudam-nos e esperam por nós. São felizes e querem que sejamos felizes com eles no paraíso.

Por isso nos convidam pelo caminho da felicidade, indicada no Evangelho hodierno, tão bonito e conhecido: «Bem-aventurados os pobres de espírito [...] Bem-aventurados os mansos [...] Bem-aventurados os puros de coração...» (cf. Mt 5, 3-8). Como? O Evangelho diz os pobres, enquanto que o mundo diz bem-aventurados os ricos. O Evangelho diz os mansos, mas o mundo diz bem-aventurados os prepotentes. O Evangelho diz bem-aventurados os puros, ao passo que o mundo diz bem-aventurados os astutos e os felizardos. Este caminho da bem-aventurança, da santidade, parece levar à derrota. Contudo — recorda-nos ainda a primeira Leitura — os santos têm «ramos de palmeira nas mãos» (v. 9), ou seja, os símbolos da vitória. Venceram eles, não o mundo. E exortam-nos a escolher a sua parte, a de Deus que é Santo.

Perguntemo-nos de que lado estamos: do céu ou da terra? Vivemos para o Senhor ou para nós mesmos, para a felicidade eterna ou para alguma satisfação momentânea? Questionemo-nos: queremos deveras a santidade? Ou contentamo-nos de ser cristãos sem grande entusiasmo nem glória, que acreditam em Deus e estimam o próximo mas sem exagerar? O Senhor «pede tudo, e aquilo que oferece é a vida verdadeira. Oferece tudo, oferece a felicidade para a qual fomos criados» (Exort. ap. Gaudete et exsultate, 1). Em síntese, ou santidade ou nada! Faz-nos bem deixarmo-nos provocar pelos santos, que aqui não tiveram meias medidas e de lá “torcem” por nós, para que escolhamos Deus, a humildade, a mansidão, a misericórdia, a pureza, para que nos apaixonemos pelo céu e não pela terra.

Hoje os nossos irmãos e irmãs não nos pedem que ouçamos outra vez um lindo Evangelho, mas que o ponhamos em prática, que enveredemos pelo caminho das Bem-aventuranças. Não se trata de fazer coisas extraordinárias, mas de seguir todos os dias este caminho que nos conduz ao céu, nos leva à família, nos guia para casa. Por conseguinte, hoje divisamos o nosso futuro e festejamos aquilo para que nascemos: nascemos para nunca mais morrer, nascemos para gozar da felicidade de Deus! O Senhor encoraja-nos e a quem empreende o caminho das Bem-aventuranças diz: «Alegrai-vos e exultai, pois grande é a vossa recompensa no céu» (Mt 5, 12). A Santa Mãe de Deus, Rainha dos santos, nos ajude a percorrer com decisão o caminho da santidade; ela, que é a Porta do céu, introduza os nossos entes queridos defuntos na família celeste.

Papa Francisco
(Angelus, 1 de novembro de 2018)

sábado, 28 de outubro de 2023

  XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM

Nas leituras de hoje somos chamados a acolher a Lei de Deus e a dar-lhe cumprimento. Quando nos situamos apenas na letra da lei, tudo se torna muito complicado, pois só com as nossas forças há situações que nos ultrapassam e de que maneira… Mas, Jesus veio tornar claro que, em Deus Amor, até é possível amar os nossos inimigos. Jesus veio dar pleno cumprimento à Lei e n’Ele os mandamentos passam a fazer parte da nossa vida, como degraus da escada que nos leva a descobrir e a encontrar Deus Amor e a n’Ele amar o próximo.

Na 1ªleitura (Ex 22, 20-26) percebemos que os mandamentos já eram, no Antigo Testamento, uma ajuda a viver na caridade e na justiça com o próximo, quanto mais não o serão agora, isto é, depois de Jesus lhes dar pleno cumprimento e sentido no Amor. São também para nós hoje muito mais do que normas jurídicas, ou de conduta, mas uma ajuda a caminhar e a crescer na Lei de Deus, a deixarmo-nos conduzir pelo Seu Amor.

“Eis o que diz o Senhor: «Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios fostes estrangeiros na terra do Egito. Não maltratarás a viúva nem o órfão. Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor; inflamar-se-á a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas mulheres ficarão viúvas, e órfãos os vossos filhos. Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que vive junto de ti, não procederás com ele como um usurário, sobrecarregando-o com juros. Se receberes como penhor a capa do teu próximo, terás de lha devolver até ao pôr do sol, pois é tudo o que ele tem para se cobrir, é o vestuário com que cobre o seu corpo. Com que dormiria ele? Se ele Me invocar, escutá-lo-ei, porque sou misericordioso».”

Na 2ªleitura (1 Tes 1, 5c-10) S.Paulo continua a dar glória a Deus pelo testemunho de fé da comunidade dos Tessalonicenses, que, pela ação do Espírito Santo, se converteram dos ídolos para Deus e se tornaram exemplo para os crentes do seu tempo. Como temos tanto a aprender com S.Paulo e com as primeiras comunidades cristãs!

“Irmãos: Vós sabeis como procedemos no meio de vós, para vosso bem. Tornastes-vos imitadores nossos e do Senhor, recebendo a palavra no meio de muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo; e assim vos tornastes exemplo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia. Porque, partindo de vós, a palavra de Deus ressoou não só na Macedónia e na Acaia, mas em toda a parte se divulgou a vossa fé em Deus, de modo que não precisamos de falar sobre ela. De facto, são eles próprios que relatam o acolhimento que tivemos junto de vós e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos Céus o seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livrará da ira que há de vir.”


No evangelho (Mt 22, 34-40) Jesus continua a ser questionado pelos fariseus e assim vai-se servindo das “armadilhas”, que lhe lançam, para explicar, não só a eles, mas a todos, incluindo nós, hoje, o sentido da Lei de Deus: só em Deus Amor se olha para o outro, de quem gostamos ou de quem nem sequer queremos ouvir falar, como alguém que é infinitamente amado por Deus. Sim, não há ninguém fora do Amor de Deus e assim, em Deus Amor, por Jesus Cristo e como resultado da ação do Espírito Santo será possível amar mesmo os que achamos que nos fizeram e fazem mal, isto é, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Que o Senhor nos ajude, conforte e ilumine com a Sua luz. 

“Naquele tempo, os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas».

Senhor, ama em mim, todos os que colocas nos caminhos da minha vida. Que eu aprenda de Ti, a subir, degrau a degrau, a escada do Amor.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Na página do Evangelho de hoje (cf. Mt 22, 34-40), um doutor da Lei pergunta a Jesus qual é «o maior mandamento» (v. 36), ou seja, o mandamento principal de toda a Lei divina. Jesus responde simplesmente: «“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente”». (v. 37). E acrescenta imediatamente: «O segundo é-lhe semelhante: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”»(v. 39).

A resposta de Jesus retoma e une dois preceitos fundamentais que Deus deu ao seu povo através de Moisés (cf. Dt 6, 5; Lv 19, 18). E assim supera a cilada que lhe fizeram «para o pôr à prova» (v. 35). O seu interlocutor, de facto, tenta arrastá-lo para a disputa entre os peritos da Lei sobre a hierarquia das prescrições. Mas Jesus estabelece duas pedras angulares essenciais para os crentes de todos os tempos, duas pedras angulares essenciais da nossa vida. A primeira é que a vida moral e religiosa não pode ser reduzida a uma obediência ansiosa e forçada. Há pessoas que procuram cumprir os mandamentos de uma forma ansiosa ou forçada, e Jesus faz-nos compreender que a vida moral e religiosa não pode ser reduzida a uma obediência ansiosa e forçada, mas deve ter o amor como princípio. A segunda pedra angular é que o amor deve tender junta e inseparavelmente para Deus e para o próximo. Esta é uma das principais novidades do ensinamento de Jesus e faz-nos compreender que não é amor verdadeiro a Deus o que não se expressa no amor ao próximo; e, da mesma forma, não é amor verdadeiro ao próximo o que não se inspira no relacionamento com Deus.

Jesus conclui a sua resposta com estas palavras: «Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas» (v. 40). Isto significa que todos os preceitos que o Senhor deu ao seu povo devem ser postos em relação com o amor a Deus e ao próximo. De facto, todos os mandamentos servem para implementar, para expressar esse duplo amor indivisível. O amor a Deus exprime-se sobretudo na oração, em particular na adoração. Descuidamos muito a adoração a Deus. Recitamos a oração de ação de graças, a súplica para pedir algo..., mas negligenciamos a adoração. O núcleo da oração consiste precisamente em adorar a Deus. E o amor ao próximo, que também se chama caridade fraterna, é feito de proximidade, de escuta, de partilha, de cuidado pelo próximo. E muitas vezes não ouvimos o outro porque é tedioso ou porque me rouba tempo, não o apoiamos, não o acompanhamos nas suas dores e provações... Mas encontramos sempre tempo para coscuvilhar, sempre! Não temos tempo para consolar os aflitos, mas muito tempo para bisbilhotar. Atenção! O Apóstolo João escreve: «Quem não ama a seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê?» (1 Jo 4, 20). Assim, vemos a unidade destes dois mandamentos.

No Evangelho de hoje, mais uma vez, Jesus ajuda-nos a ir à fonte viva e jorrante do Amor. E esta nascente é o próprio Deus, que deve ser amado totalmente numa comunhão que nada e ninguém pode interromper. Comunhão que é um dom a ser invocado todos os dias, mas também um compromisso pessoal para que a nossa vida não seja escravizada pelos ídolos do mundo. E a avaliação da nossa jornada de conversão e santidade consiste sempre no amor ao próximo. Esta é a avaliação: se eu disser “amo a Deus” e não amar o próximo, não está bem. A comprovação de que eu amo a Deus é que amo o próximo. Enquanto houver um irmão ou irmã a quem fechamos o nosso coração, estaremos ainda longe de ser discípulos, como Jesus nos pede. Mas a Sua misericórdia divina não nos permite desanimar, pelo contrário, chama-nos a recomeçar todos os dias a fim de vivermos o Evangelho de forma coerente.

Que a intercessão de Maria Santíssima abra o nosso coração para receber o “maior mandamento”, o duplo mandamento do amor, que resume toda a Lei de Deus e da qual depende a nossa salvação.

Papa Francisco
(Angelus, 25 de outubro de 2020)

Sínodo dos Bispos- carta ao Povo de Deus - Ecclesia


sábado, 21 de outubro de 2023

  XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM

Dia Mundial das Missões

Hoje, dia em que a Igreja celebra o Dia Mundial das Missões, as leituras levam-nos a questionarmo-nos sobre quem pomos em primeiro lugar na vida: Deus; os senhores deste mundo político, económico, social, religioso, ecológico,…; as nossas coisas (pequeninas, médias, ou enormes); a ânsia de queremos ter mais e melhor;… Afinal, quem, ou o que é que, nos faz mover e existir?

Simultaneamente, somos alertados, nesta liturgia, para a necessidade de cumprimos também as nossas obrigações para com o poder justo e as instituições políticas e sociais que nos governam, sejam elas fiscais, ou de outra natureza. Digo eu, se todos queremos ter direito à saúde, educação, paz, pão e liberdade (como diz a canção) devemos contribuir com a nossa parte, que passa por pagar impostos, entre outras obrigações. E, acrescento ainda, agora como católica, são todos os cidadãos e não são só os que não podem “fugir”, por qualquer artimanha contabilístico-financeiro, política, etc, que devem suportar o erário público! Assim, também estaremos (todos) ao serviço uns dos outros. Se todos pagássemos, o que devemos, talvez sentíssemos mais a chamada “coisa pública” também como nossa e consequentemente agíssemos de uma forma mais responsável, comprometida, solidária e sustentável e , quem sabe (?!), podia ser que não precisássemos de pagar tanto...

Na 1a leitura (Is 45, 1.4-6) o profeta mostra como Deus, o único Senhor, se serve de alguém que não pertence ao povo escolhido, para chegar ao coração de Israel. É assim, estejamos atentos aos sinais, pois nunca sabemos de quem Deus se serve para chegar ao nosso coração.

“Assim fala o Senhor a Ciro, seu ungido, a quem tomou pela mão direita, para subjugar diante dele as nações e fazer cair as armas da cintura dos reis, para abrir as portas à sua frente, sem que nenhuma lhe seja fechada: «Por causa de Jacob, meu servo, e de Israel, meu eleito, Eu te chamei pelo teu nome e te dei um título glorioso, quando ainda não Me conhecias. Eu sou o Senhor e não há outro; fora de Mim não há Deus. Eu te cingi, quando ainda não Me conhecias, para que se saiba, do Oriente ao Ocidente, que fora de Mim não há outro. Eu sou o Senhor e mais ninguém».”

Na 2ªleitura (1 Tes 1, 1-5b) S.Paulo dá graças e louvores a Deus, porque a comunidade dos Tessalonicenses dá testemunho de Jesus vivo e ressuscitado demonstrando, no seu tempo, a atividade da sua fé, o esforço da caridade e a firmeza na esperança. Que este seja um desafio para também nós deixarmos que o Espírito Santo nos habite de forma a vivermos de Jesus em todos os momentos da nossa vida.

“Paulo, Silvano e Timóteo à Igreja dos Tessalonicenses, que está em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo: A graça e a paz estejam convosco. Damos continuamente graças a Deus por todos vós, ao fazermos menção de vós nas nossas orações. Recordamos a atividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo, na presença de Deus, nosso Pai. Nós sabemos, irmãos amados por Deus, como fostes escolhidos. O nosso Evangelho não vos foi pregado somente com palavras, mas também com obras poderosas, com a ação do Espírito Santo.”


No Evangelho (Mt 22, 15-21) Jesus não se deixa enganar pelos falsos elogios, através dos quais os fariseus achavam que O iam “apanhar”. Nunca quiseram perceber quem era Aquele que lia o que lhes ia na alma e, mesmo assim, lhes dava todas as oportunidades de O reconhecerem. É linda a forma como Jesus desmonta sempre os seus “mafiosos” esquemas! Às vezes somos mesmo duros de coração e não nos abrimos à ação de Deus em nós. É uma pena! Ainda assim, Deus continua a amar-nos infinitamente e a escolher-nos para darmos testemunho do Amor junto de todos os que coloca nos nossos caminhos. Deixemos que Ele seja o nosso único Senhor, o nosso Amor, a Luz que nos conduz. Demos a Deus o que é de Deus e a César o que é de César.

“Naquele tempo, os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes aceção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: «De César». Disse-Lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus».

Senhor, que sejas para mim sempre e só o meu único Deus. Que eu aprenda a viver de Ti e só de Ti.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste Domingo (cf. Mt 22,15-21) mostra-nos Jesus a lutar contra a hipocrisia dos seus adversários. Fazem-lhe muitos elogios - no início, muitos elogios - mas depois dirigem-lhe uma pergunta insidiosa para o colocar em apuros e o desacreditar perante o povo. Perguntam-lhe: «É lícito, ou não, pagar o tributo a César?»(v. 17), ou seja, pagar os impostos a César. Naquele tempo, na Palestina, o domínio do império romano era mal tolerado - e é evidente que eram invasores – também por motivos religiosos. Para a população, o culto do imperador, frisado também pela sua imagem nas moedas, era um insulto ao Deus de Israel. Os interlocutores de Jesus estão convencidos de que não há alternativa ao seu interrogatório: ou um “sim” ou um “não”. Estavam à espera, precisamente porque com esta pergunta esperavam pôr Jesus em dificuldade e fazê-lo cair na armadilha. Mas Ele conhece a maldade deles e liberta-se da cilada. Pede-lhes que lhe mostrem a moeda, a moeda dos impostos, a moeda do tributo, pega nela e pergunta de quem é a imagem gravada. Eles respondem que é de César, ou seja, do imperador. Então Jesus responde: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus»(v. 21).

Com esta resposta, Jesus coloca-se acima da controvérsia. Jesus, sempre acima. Por um lado, reconhece que o tributo a César deve ser pago - também por todos nós, os impostos devem ser pagos - porque a imagem na moeda é a sua; mas acima de tudo, lembra que cada pessoa traz dentro de si outra imagem - nós trazemo-la nos nossos corações, nas nossas almas -: a de Deus, e portanto é a Ele, e só a Ele, que cada pessoa deve a sua existência, a sua vida.

Neste julgamento de Jesus encontramos não só o critério da distinção entre as esferas política e religiosa, mas também diretrizes claras para a missão dos crentes de todos os tempos, até para nós hoje. Pagar impostos é um dever dos cidadãos, assim como observar as justas leis do Estado. Ao mesmo tempo, é necessário afirmar a primazia de Deus na vida humana e na história, respeitando o direito de Deus ao que Lhe pertence.

Eis a missão da Igreja e dos cristãos: falar de Deus e dar testemunho dele aos homens e mulheres do seu tempo. Cada um de nós,  pelo batismo, é chamado a ser presença viva na sociedade, animando-a com o Evangelho e com a linfa vital do Espírito Santo. É uma questão de nos comprometermos humildemente, e ao mesmo tempo com coragem, a dar a nossa própria contribuição para a construção da civilização do amor, onde reinam a justiça e a fraternidade.

Que Maria Santíssima ajude todos a evitar qualquer hipocrisia e a serem cidadãos honestos e construtivos. E nos sustente, a nós discípulos de Cristo, na missão de testemunhar que Deus é o centro e o sentido da vida.

Papa Francisco
(Angelus, 18 de outubro de 2020)

Mensagem dp Papa Francisco - Dia Mundial das Missões de 2023

 MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO

PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2023

[22 de outubro de 2023]

Corações ardentes, pés ao caminho (cf. Lc 24, 13-15)

Queridos irmãos e irmãs!

Para o Dia Mundial das Missões deste ano escolhi um tema que se inspira na história dos discípulos de Emaús, narrada por Lucas no seu Evangelho (cf. 24, 13-35): «Corações ardentes, pés ao caminho». Aqueles dois discípulos estavam confusos e desiludidos, mas o encontro com Cristo na Palavra e no Pão partido acendeu neles o entusiasmo para pôr os pés ao caminho rumo a Jerusalém e anunciar que o Senhor tinha verdadeiramente ressuscitado. Na narração evangélica, apreendemos a transformação dos discípulos a partir de algumas imagens sugestivas: corações ardentes pelas Escrituras explicadas por Jesus, olhos abertos para O reconhecer e, como ponto culminante, pés ao caminho. Meditando sobre estes três aspetos, que traçam o itinerário dos discípulos missionários, podemos renovar o nosso zelo pela evangelização no mundo de hoje.

1. Corações ardentes, «quando nos explicava as Escrituras». A Palavra de Deus ilumina e transforma o coração na missão.

No caminho de Jerusalém para Emaús, os corações dos dois discípulos estavam tristes – como transparecia dos seus rostos – por causa da morte de Jesus, em Quem haviam acreditado (cf. 24, 17). Perante o fracasso do Mestre crucificado, a esperança de que fosse Ele o Messias, desmoronou-se neles (cf. 24, 21).

sábado, 14 de outubro de 2023

   XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM


Deixando o tema da vinha, que nos acompanhou nos últimos domingos, Jesus apresenta-nos hoje o Reino dos Céus, recorrendo a uma parábola que tem como personagem principal um rei que prepara um banquete para celebrar as núpcias do seu filho e nos convida, a todos, para a festa. Respondamos ao convite que o Senhor nos faz para participarmos na Eucaristia, no banquete do Senhor.


Na 1ª leitura (Is 25, 6-10a)  é numa linguagem festiva, de ânimo e esperança para o povo de Israel, mas também para nós, hoje, que o profeta Isaías, nos fala da promessa de Deus de preparar um banquete para todos os povos, com suculentos manjares e com vinhos deliciosos, fazendo-nos presente o milagre do Amor Vivo no meio de nós, que é cada Eucaristia.

“Sobre este monte, o Senhor do Universo há de preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos: comida de boa gordura, vinhos puríssimos. Sobre este monte, há de tirar o véu que cobria todos os povos, o pano que envolvia todas as nações; destruirá a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e fará desaparecer da terra inteira o opróbrio que pesa sobre o seu povo. Porque o Senhor falou. Dir-se-á naquele dia: «Eis o nosso Deus, de quem esperávamos a salvação; é o Senhor, em quem pusemos a nossa confiança. Alegremo-nos e rejubilemos, porque nos salvou. A mão do Senhor pousará sobre este monte».”

Na 2ªleitura (Filip 4, 12-14.19-20) S.Paulo, numa linguagem muito bela e, ao mesmo tempo, pessoal, vivencial, forte e profunda, dá-nos testemunho de que é possível viver em Jesus a tempo inteiro. Por outro lado, agradece aos Filipenses a ajuda que recebeu deles. Apoiado em Deus e atento aos irmãos, eis como vive Paulo. 

Irmãos: Sei viver na pobreza e sei viver na abundância. Em todo o tempo e em todas as circunstâncias, tenho aprendido a ter fartura e a passar fome, a viver desafogadamente e a padecer necessidade. Tudo posso n’Aquele que me conforta. No entanto, fizestes bem em tomar parte na minha aflição. O meu Deus proverá com abundância a todas as vossas necessidades, segundo a sua riqueza e magnificência, em Cristo Jesus. Glória a Deus, nosso Pai, pelos séculos dos séculos. Ámen.”

No Evangelho (Mt 22, 1-14) é o próprio Jesus quem nos convida, por meio da parábola que nos conta, a participar no banquete que o Pai nos prepara em cada Eucaristia. Festejamos Jesus ressuscitado, vivo no meio de nós. E, sempre que o nosso coração se abre, sob a ação do Espírito Santo, e se deixa inundar do Amor de Deus, participamos em cheio neste banquete de manjares suculentos e vinho puríssimo, preparado para nós desde toda a eternidade. Deixemo-nos cativar pelo Seu convite de amor infinito.

“Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, falando em parábolas, disse-lhes: «O reino dos Céus pode comparar-se a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram vir. Mandou ainda outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: Preparei o meu banquete, os bois e os cevados foram abatidos, tudo está pronto. Vinde às bodas’. Mas eles, sem fazerem caso, foram um para o seu campo e outro para o seu negócio; os outros apoderaram-se dos servos, trataram-nos mal e mataram-nos. O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos, que acabaram com aqueles assassinos e incendiaram a cidade. Disse então aos servos: ‘O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes’. Então os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala do banquete encheu-se de convidados. O rei, quando entrou para ver os convidados, viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’. Mas ele ficou calado. O rei disse então aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o às trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes’. Na ver­dade, muitos são os chamados, mas poucos os esco­lhidos».” 

Senhor, Pai Santo eu te louvo e bendigo pelo dom da Eucaristia. Que eu me coração se deixe repassar de Ti e assim eu responda ao Teu convite de Amor.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Com a narração da parábola do banquete nupcial, da página do Evangelho de hoje (cf. Mt 22, 1-14), Jesus delineia o desígnio de Deus para a humanidade. O rei que «preparou um banquete nupcial para o seu filho» (v. 2), é a imagem do Pai que preparou para toda a família humana uma maravilhosa festa de amor e comunhão ao redor do seu Filho unigénito. Duas vezes o rei envia os seus servos para chamar os convidados mas eles recusam-se, não querem ir ao banquete porque têm outras coisas em que pensar: campos e negócios. Muitas vezes também nós antepomos os nossos interesses e coisas materiais ao Senhor que nos chama - e nos chama para uma festa. Mas o rei da parábola não quer que o salão fique vazio, porque quer doar os tesouros do seu reino. Por isso diz aos servos: «Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes» (v. 9). É assim que Deus se comporta: quando é rejeitado, em vez de se render, insiste e convida a chamar todos aqueles que estão nas encruzilhadas, sem excluir ninguém. Ninguém é excluído da casa de Deus.

O termo original usado pelo evangelista Mateus refere-se aos limites das estradas, ou seja, aqueles pontos onde as ruas da cidade terminam e começam os caminhos que levam à zona rural, fora da cidade, onde a vida é precária. É a esta encruzilhada da humanidade que o rei da parábola envia os seus servos, na certeza de encontrar pessoas dispostas a sentar-se à mesa. Assim, o salão de banquetes está cheio de “excluídos”, aqueles que estão “fora”, aqueles que nunca tinham sido considerados dignos de participar numa festa, num banquete de núpcias. Pelo contrário: o senhor, o rei, diz aos mensageiros: “Convidai todos, bons e maus. Todos”! Deus chama até os maus. “Não, eu sou mau, fiz tantas...”. Ele chama: “Vem, vem, vem!”. E Jesus almoçava com os publicanos, que eram os pecadores públicos, os maus. Deus não tem medo da nossa alma ferida por tantas maldades, porque nos ama, nos convida. E a Igreja é chamada a ir às encruzilhadas de hoje, ou seja, às periferias geográficas e existenciais da humanidade, àqueles lugares marginais, àquelas situações em que as pessoas se encontram acampadas e vivem como farrapos de humanidade sem esperança. Não se trata de nos acomodarmos nas formas confortáveis e habituais de evangelização e de testemunho da caridade, mas de abrir as portas dos nossos corações e das nossas comunidades a todos, pois o Evangelho não é reservado a poucos eleitos. Até os marginalizados, os rejeitados e desprezados pela sociedade, são considerados por Deus dignos do seu amor. Ele prepara o seu banquete para todos: justos e pecadores, bons e maus, inteligentes e incultos. Ontem à noite, consegui fazer um telefonema a um sacerdote italiano idoso, missionário da juventude no Brasil, mas sempre a trabalhar com os excluídos, com os pobres. E ele vive essa velhice em paz: gastou a sua vida com os pobres. Esta é a nossa Igreja-Mãe, ele é o mensageiro de Deus que vai às encruzilhadas.

No entanto, o Senhor apresenta uma condição: usar o hábito nupcial. E voltemos à parábola. Quando o salão está cheio, o rei chega e cumprimenta os convidados da última hora, mas vê um deles sem o hábito nupcial, uma espécie de capa que cada convidado recebia de presente à entrada. As pessoas iam como estavam, como podiam vestir-se, sem hábito de festa. Mas à entrada era-lhes dada uma espécie de capa, um presente. Aquele convidado, ao recusar o presente, auto-excluiu-se: assim o rei mais não pode fazer do que mandá-lo embora. Este homem aceitou o convite, mas depois decidiu que  para ele ele não significava nada: era uma pessoa auto-suficiente, não tinha desejo de mudar ou de deixar que o Senhor o mudasse. O hábito nupcial - esta capa - simboliza a misericórdia que Deus nos concede gratuitamente, ou seja, a graça. Sem a graça não se pode dar um passo em frente na vida cristã. Tudo é graça. Não basta aceitar o convite para seguir o Senhor, é necessário estar aberto a um caminho de conversão que mude o coração. O hábito da misericórdia, que Deus nos oferece incessantemente, é um dom gratuito do seu amor, é precisamente a graça. E requer ser recebido com maravilha e alegria: “Obrigado, Senhor, por me teres concedido este dom”.

Que Maria Santíssima nos ajude a imitar os servos da parábola evangélica para sairmos dos nossos esquemas e da nossa mente fechada, anunciando a todos que o Senhor nos convida para o seu banquete, para nos oferecer a graça que salva, para nos dar o seu dom.

Papa Francisco
(Angelus, 11 de outubro de 2020)