SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS
Estamos em
festa. A Igreja hoje “celebra a plenitude da vida cristã e a Santidade de Deus,
em seus filhos, os santos da Igreja.”
Só Deus é
Santo, mas, por graça de Deus, participamos da Sua Santidade, em união com
todos os nossos irmãos, incluindo os que já veem Deus face a face.
Todos
juntos formamos em Cristo uma só família, a Igreja, para a glória da Trindade.
As leituras de hoje revelam o projeto de Deus a respeito do homem: quer torná-lo participante da sua Santidade.
A 1ª Leitura (Ap 7,2-4.9-14) afirma
que uma grande multidão de pessoas, de todos os povos, são os santos que
participam da glória celeste, junto de Deus. O texto apresenta um número simbólico,
que nos abrange a todos. Deus não exclui ninguém, ama a todos infinitamente,
como só Ele sabe amar, porque é todo Amor.
"Eu, João, vi um Anjo que subia do
Nascente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele clamou em alta voz aos quatro Anjos
a quem foi dado o poder de causar dano à terra e ao mar: «Não causeis dano à
terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos
do nosso Deus». E ouvi o número dos que foram marcados: cento e quarenta e
quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. Depois disto, vi uma
multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e
línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com
túnicas brancas e de palmas na mão. E clamavam em alta voz: «A salvação ao
nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro». Todos os Anjos formavam
círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos. Prostraram-se
diante do trono, de rosto por terra, e adoraram a Deus, dizendo: «Amen! A
bênção e a glória, a sabedoria e a ação de graças, a honra, o poder e a força
ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amen!». Um dos Anciãos tomou a
palavra e disse-me: «Esses que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e de
onde vieram?». Eu respondi-lhe: «Meu Senhor, vós é que o sabeis». Ele disse-me:
«São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as
branquearam no sangue do Cordeiro»."
Na 2ª leitura (1Jo 3,1-3) S. João desperta em nós um
sentimento de gratidão e louvor a Deus, pelas maravilhas inimagináveis que
opera nos homens de ontem, de hoje e de sempre. Bendito e louvado sejas Senhor,
pelo Teu Amor por cada um de nós e por toda a humanidade.
"Caríssimos: Vede que admirável amor o Pai
nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não
nos conhece, é porque não O conheceu a Ele. Caríssimos, agora somos filhos de
Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura
em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele
é. Todo aquele que tem n’Ele esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser
puro, como Ele é puro."
No Evangelho (Mt 5,1-12), Jesus apresenta uma proposta
de Santidade: as bem-aventuranças. Que o Senhor nos ajude e o Espírito Santo nos ilumine para as vivermos, no dia a
dia da vida, pois só este caminho nos conduz à santidade.
"Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus
subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a
ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o
reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que
têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de
coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque
serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por
amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis,
quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem
todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa
recompensa»."
Amados irmãos e irmãs, bom dia e boa
festa!
A primeira leitura de hoje, tirada do Livro do Apocalipse, fala-nos do céu
e coloca diante de nós «uma multidão imensa», incalculável, «de todas as
nações, tribos, povos e línguas» (Ap 7,
9). São os santos. O que fazem “lá em cima”?
Cantam juntos, louvam a Deus com alegria. Seria agradável ouvir os cânticos
deles... Mas podemos imaginá-los: sabeis quando? Durante a Missa, quando
cantamos «Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo...». É um hino
— diz a Bíblia — que vem do céu, que se canta lá (cf. Is 6, 3; Ap 4, 8), um hino de louvor. Então, cantando o
“Santo”, não só pensamos nos santos, mas fazemos aquilo que eles fazem: naquele
momento, na Missa, estamos como nunca em união com eles.
E estamos em união com todos os santos: não só com os mais
conhecidos, do calendário, mas também com os “da porta ao lado”, os nossos
familiares e conhecidos que agora fazem parte daquela multidão imensa. Então
hoje é festa de família. Os santos estão próximos de nós, aliás,
são os nossos irmãos e irmãs mais verdadeiros. Compreendem-nos, amam-nos, sabem
qual é o nosso verdadeiro bem, ajudam-nos e esperam por nós. São felizes e
querem que sejamos felizes com eles no paraíso.
Por isso nos convidam pelo caminho da felicidade, indicada no Evangelho
hodierno, tão bonito e conhecido: «Bem-aventurados os pobres de espírito [...]
Bem-aventurados os mansos [...] Bem-aventurados os puros de coração...» (cf. Mt 5, 3-8). Como? O Evangelho diz os pobres,
enquanto que o mundo diz bem-aventurados os ricos. O Evangelho diz os mansos,
mas o mundo diz bem-aventurados os prepotentes. O Evangelho diz bem-aventurados
os puros, ao passo que o mundo diz bem-aventurados os astutos e os felizardos.
Este caminho da bem-aventurança, da santidade, parece levar à derrota. Contudo
— recorda-nos ainda a primeira Leitura — os santos têm «ramos de palmeira nas
mãos» (v. 9), ou seja, os
símbolos da vitória. Venceram eles, não o mundo. E exortam-nos a escolher a sua
parte, a de Deus que é Santo.
Perguntemo-nos de que lado estamos: do céu ou da terra? Vivemos para o
Senhor ou para nós mesmos, para a felicidade eterna ou para alguma satisfação
momentânea? Questionemo-nos: queremos deveras a santidade? Ou contentamo-nos de
ser cristãos sem grande entusiasmo nem glória, que acreditam em Deus e estimam
o próximo mas sem exagerar? O Senhor «pede tudo, e aquilo que oferece é a vida
verdadeira. Oferece tudo, oferece a felicidade para a qual fomos criados» (Exort. ap. Gaudete et exsultate, 1). Em síntese, ou santidade ou nada!
Faz-nos bem deixarmo-nos provocar pelos santos, que aqui não tiveram meias
medidas e de lá “torcem” por nós, para que escolhamos Deus, a humildade, a
mansidão, a misericórdia, a pureza, para que nos apaixonemos pelo céu e não
pela terra.
Hoje os nossos irmãos e irmãs não nos pedem que ouçamos outra vez um lindo Evangelho, mas que o ponhamos em prática, que enveredemos pelo caminho das Bem-aventuranças. Não se trata de fazer coisas extraordinárias, mas de seguir todos os dias este caminho que nos conduz ao céu, nos leva à família, nos guia para casa. Por conseguinte, hoje divisamos o nosso futuro e festejamos aquilo para que nascemos: nascemos para nunca mais morrer, nascemos para gozar da felicidade de Deus! O Senhor encoraja-nos e a quem empreende o caminho das Bem-aventuranças diz: «Alegrai-vos e exultai, pois grande é a vossa recompensa no céu» (Mt 5, 12). A Santa Mãe de Deus, Rainha dos santos, nos ajude a percorrer com decisão o caminho da santidade; ela, que é a Porta do céu, introduza os nossos entes queridos defuntos na família celeste.