SOLENIDADE DE SANTA MARIA MÃE DE DEUS
Com o início do novo ano – 2024 – a Igreja
celebra, hoje, a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus e, simultaneamente, o
dia mundial da Paz.
Na Oitava do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo e dia da sua
Circuncisão, a Igreja celebra a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, que no
Concílio de Éfeso os Padres aclamaram como Theotókos, porque nela o Verbo Se
fez carne e habitou entre os homens o Filho de Deus, príncipe da paz, a quem
foi dado o Nome que está acima de todos os nomes.
Neste primeiro dia do Ano Civil iniciamos uma nova caminhada que
desejamos percorrer com a Bênção de Deus.
Na
1ªleitura (Num 6, 22-27) o autor
sagrado sublinha a presença contínua de Deus na nossa caminhada. Hoje, como no tempo de Moisés, Deus inclina o seu rosto sobre nós
e ilumina os nossos caminhos, ilumina a nossa noite. Ele, nosso refúgio e
proteção, olha-nos desde o seu infinito amor e dá-nos a sua paz. Neste início
de ano, podemos ser abençoados por Deus com uma vida nova.
“O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».”
Na
2ªleitura (Gl 4,4-7) Paulo fala do tempo de Deus que não se
mede no relógio, mas na vida e coração de Deus, por isso é plenitude. Nesse
tempo que é dele, fez-nos participantes do seu mistério ao enviar o seu filho
na condição humana. Agora, nele, também nós somos filhos, adotivos, mas filhos
e como ele habitados pelo Espírito. Em nós começa uma existência nova que é
liberdade total diante das realidades deste mundo. Uma vida que é filiação.
Tudo acontece por meio de uma mulher que é Maria.
“Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho,
nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à
Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos
nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não
és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.”
No evangelho (Lc 2,16-21), Lucas diz-nos que chegou a plenitude do tempo. Chegou
Jesus ao mundo. Chegou o prometido filho de uma virgem. A sua chegada gera
novos circuitos, novos caminhos, novos interesses, novos horizontes. Ele é a
novidade de Deus para os homens. É a luz que brilha nas trevas. É a
perplexidade. Aparentemente tudo fica igual, mas quem se encontra com ele
sente-se novo. Como os pastores também nós contemplamos Jesus, nascido em Belém
e sentimos que este ano será para nós tempo novo. Continuaremos as nossas
atividades, responderemos aos nossos compromissos, ‘guardaremos o nosso
rebanho’, mas o nosso coração cheio da novidade de Jesus, viverá dando glória a
Deus porque os nossos olhos puderam contemplar o filho que Maria deu à
luz.
“Naquele tempo, os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e
encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram,
começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os
que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes
acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram,
glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes
tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser
circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido
concebido no seio materno.
A exemplo de MARIA, Mãe de Deus e Rainha da Paz, que eu aprenda a SEMEAR PAZ.
Estimados irmãos e irmãs, bom dia! Bom
ano!
Comecemos o novo ano, confiando-o a Maria Mãe de Deus. O Evangelho da
liturgia de hoje fala dela, reconduzindo-nos para o encanto do presépio. Os
pastores vão sem demora para a gruta e o que encontram? Encontram – diz o texto
– «Maria, José e o menino deitado na manjedoura» (Lc 2, 16).
Façamos uma pausa sobre esta cena e imaginemos Maria que, como mãe terna e
carinhosa, acabou de colocar Jesus na manjedoura. Naquele gesto podemos ver um
dom feito a nós: Nossa Senhora não guarda o Filho para si, mas apresenta-o a
nós; não o segura apenas no seu colo, mas depõe-no para nos convidar a olhar
para ele, acolhê-lo e adorá-lo. Eis a maternidade de Maria: o Filho que nasceu
é oferecido a todos nós. Sempre oferecendo o Filho, indicando o Filho, nunca o
reteve como unicamente seu, não. E foi assim ao longo da vida de Jesus.
E ao colocá-lo diante dos nossos olhos, sem dizer uma palavra,
transmite-nos uma mensagem maravilhosa: Deus está próximo, ao nosso alcance.
Ele não vem com o poder de quem quer ser temido, mas com a fragilidade de quem
pede para ser amado; não julga a partir do alto de um trono, mas olha para nós
de baixo como irmão, aliás, como filho. Ele nasce pequenino e necessitado para
que ninguém se envergonhe: precisamente quando experimentamos a nossa fraqueza
e fragilidade, podemos sentir Deus ainda mais próximo, porque Ele se nos
apresentou assim, débil e frágil. É o Deus-menino que nasce para não excluir
ninguém. Para nos tornar todos irmãos e irmãs.
Eis então: o novo ano começa com Deus que, nos braços da sua Mãe e deitado
numa manjedoura, nos encoraja ternamente. Precisamos deste encorajamento. (...) Muitos estão assustados
com o futuro e sobrecarregados por situações sociais, problemas pessoais,
perigos que provêm da crise ecológica, injustiças e desequilíbrios económicos
planetários. Olhando para Maria com o Filho nos braços, penso nas jovens mães e
nos seus filhos que fogem das guerras e da fome ou que aguardam nos campos de
refugiados. São tantos! E ao contemplarmos Maria que coloca Jesus na
manjedoura, pondo-o à disposição de todos, lembremo-nos que o mundo muda e a
vida de todos só melhora se nos colocarmos à disposição dos outros, sem esperar
que eles comecem a fazê-lo. Se nos tornarmos artífices da fraternidade, seremos
capazes de tecer os fios de um mundo dilacerado por guerras e violências.
Hoje celebramos o Dia Mundial da Paz. A paz «é conjuntamente dádiva do Alto
e fruto dum empenho compartilhado» (Mensagem para o LV Dia Mundial da Paz,
1). Dádiva do alto: deve ser implorada a Jesus, porque
sozinhos não somos capazes de a salvaguardar. Só podemos verdadeiramente
construir a paz se a tivermos no coração, só se a recebermos do Príncipe da
paz. Mas a paz é também empenho nosso: exige que demos o
primeiro passo, requer gestos concretos. É construída com atenção aos últimos,
com a promoção da justiça, com a coragem do perdão, que extingue o fogo do
ódio. E também precisa de uma perspetiva positiva: que olhemos sempre – na Igreja
como na sociedade – não para o mal que nos divide, mas para o bem que nos pode
unir! Não nos devemos abater nem lamentar, mas arregaçar as mangas para
construir a paz. A Mãe de Deus, Rainha da paz, no início deste ano, obtenha
concórdia para os nossos corações e para o mundo inteiro.