sábado, 31 de dezembro de 2022

 SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS - 2023

Eis-nos chegados ao ano de 2023!  Neste primeiro dia do ano, a Igreja, para além de festejar a chegada de um novo ano, celebra especialmente a solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e, desde 1968, o então Papa Paulo VI instituiu o Dia Mundial da Paz, como um dia especialmente dedicado à oração pela paz no mundo.

As leituras de hoje são, por um lado, um convite a colocar tudo o que somos e temos, novos projetos de vida, realizações, que são continuidade de atividades, ou planos já iniciadas no(s) ano(s) anterior(es), sonhos por concretizar, surpresas da vida(…)nas mãos de Deus, invocando a Suas Bênçãos sobre nós e sobre toda a Humanidade; mas por outro lado, são também um desafio a confiar e a acreditar que, sejam quais forem as circunstâncias que formos chamados a viver, ao longo do novo ano, na nossa vida, Deus nunca, mas nunca mesmo, nos deixa sós, pois caminhará connosco, qual Pai extremoso e totalmente enamorado de cada um de nós, Seus filhos no Filho e a exemplo de Maria, ir aprendendo a contemplar Deus em todas as situações.

A 1ª leitura (Num 6, 22-27) fez-me recuar muitos anos, até aos tempos da minha meninice, quando, crianças pequeninas, pedíamos a bênção aos pais, aos avós e aos tios, quando os encontrávamos, pela primeira vez, naquele dia. Recebíamos a bênção e lá partíamos descansados e confiantes para as nossas brincadeiras, ou afazeres mais sérios. O sentido da bênção, do pedido de proteção a quem nos quer bem, a quem cuida de nós, a quem nos ama, no caso de Deus, infinitamente, é um pouco o que acho que Moisés nos propõe na 1ªleitura de hoje. Qual crianças de outros tempos, peçamos a Deus a Sua bênção e deixemos que o Seu Santo Espírito nos habite, para podermos ser portadores do Seu Amor a todos os que fizerem parte dos nossos caminhos, ao longo do novo ano.

“O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».”

Na 2ªleitura (Gal 4, 4-7) S.Paulo, neste primeiro dia do ano, centra-nos no Amor infinito de Deus por cada um de nós, numa relação de comunhão filial tão profunda, que no Seu Filho, pelo Espírito Santo, nos tornou Seus filhos. Sim, diz-nos S.Paulo, por e em Jesus, que se fez um de nós, também nós podemos: chamar a Deus “Abá, Pai”; pedir a Sua Bênção; ser livre n’Ele. Inclinemos a nossa cabeça sobre o Seu peito e deixemos que nos estreite nos braços e que seja o Único em que nos apoiemos sempre.

“Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.”

No Evangelho (Lc 2, 16-21) somos convidados, por S.Lucas, a louvar e dar graças a Deus pelo milagre que se desenrola perante os nossos olhos: Deus, na pessoa do Seu amado Filho, fez-se um de nós, habita-nos. Não há palavras para explicar tão grande mistério de Amor. Façamos como os pastores, louvemos e dêmos glória a Deus pelo Seu Amor infinito por cada um de nós. Confiemos, contemplemos Deus Amor, e peçamos a Maria que nos guie no nosso caminho para Deus. 

“Naquele tempo, os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno.”

Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós.

Santa Maria, Mãe de Deus, protegei-nos ao longo deste novo ano.

Santa Maria, Mãe de Deus, guiai-nos de forma a fazermos a vontade de Deus.

Santa Maria, Mãe de Deus, ensinai-nos a amar o Vosso Filho, como vós O amastes, na totalidade do nosso ser.  

Desejo a todos um Feliz Ano de 2023

 

Morreu Bento XVI - Ecclesia


sábado, 24 de dezembro de 2022

Natal do Senhor - 2022

Hoje, estamos em festa, pois a Igreja celebra o nascimento do Menino Deus. Hoje, mais do que nunca, o nosso coração alegra-se porque o Filho de Deus habita entre nós, mora no nosso coração, habita todo o nosso ser, corpo e alma. Sim, esta é a razão da nossa festa, da nossa alegria, pois Jesus veio habitar entre nós, melhor ainda, em cada um de nós, para nos elevar à dignidade de filhos de Deus. N’Ele, Seu Único e muito amado Filho, fomos conquistados para Deus, tornados também nós Seus filhos. A causa da nossa alegria é o nascimento de Jesus, como nos diz o Papa Francisco:  “Antes de mais nada, porque manifesta a ternura de Deus. Ele, o Criador do universo, abaixa-Se até à nossa pequenez. O dom da vida, sempre misterioso para nós, fascina-nos ainda mais ao vermos que Aquele que nasceu de Maria é a fonte e o sustento de toda a vida. Em Jesus, o Pai deu-nos um irmão, que vem procurar-nos quando estamos desorientados e perdemos o rumo, e um amigo fiel, que está sempre ao nosso lado; deu-nos o seu Filho, que nos perdoa e levanta do pecado.” Nunca mais ficámos sós, agora Ele está sempre connosco. Confiemos-Lhe tudo o que somos e temos, toda a nossa vida, porque só Ele nos ama infinitamente, tal qual somos e está sempre desejoso de nos receber e estreitar entre os seus braços. E, neste abraço de Deus Amor, cabemos todos, não fica ninguém de fora.

Missa do Dia

Na 1ªleitura (Is 52, 7-10) Isaías convida os homens de todos os tempos, povos e nações a romper em brados de alegria, porque o Senhor volta para Sião, porque Deus, em Jesus, Seu Filho, vem libertar, resgatar toda a humanidade. 

“Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que proclama a salvação e diz a Sião: «O teu Deus é Rei». Eis o grito das tuas sentinelas que levantam a voz. Todas juntas soltam brados de alegria, porque veem com os próprios olhos o Senhor que volta para Sião. Rompei todas em brados de alegria, ruínas de Jerusalém, porque o Senhor consola o seu povo, resgata Jerusalém. O Senhor descobre o seu santo braço à vista de todas as nações e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus.”

Na 2ªleitura (Hebr 1, 1-6) S.Paulo propõe-nos uma reflexão sobre a relação de Deus com a humanidade, ou melhor,  leva-nos a contemplar o Mistério do Amor que veio habitar no meio dos homens, Jesus Cristo, o Filho de Deus. Adoremos  o Menino Deus, que veio habitar entre os homens. 

“Muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos Profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por seu Filho, a quem fez herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo. Sendo o Filho esplendor da sua glória e imagem da sua substância, tudo sustenta com a sua palavra poderosa. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-Se à direita da Majestade no alto dos Céus e ficou tanto acima dos Anjos quanto mais sublime que o deles é o nome que recebeu em herança. A qual dos Anjos, com efeito, disse Deus alguma vez: «Rompei todas em brados de alegria»? E ainda: «Eu serei para Ele um Pai e Ele será para Mim um Filho»? E de novo, quando introduziu no mundo o seu Primogénito, disse: «Adorem-n’O todos os Anjos de Deus».”

 

No evangelho (Jo 1, 1-18) S.João, de uma forma muito bela, ajuda-nos a contemplar o mistério do Amor de Deus por cada ser criado. E é Jesus quem nos revela quão infinito é o amor de Deus por cada um de nós. Neste Menino, cujo nascimento hoje celebramos, fomos gerados para Deus, somos filhos no Filho. Como não romper em cânticos de júbilo e alegria a Deus, que nos ama desta forma tão total e infinita? 

“No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus. Tudo se fez por meio d’Ele e sem Ele nada foi feito. N’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam. Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem. Estava no mundo e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu. Veio para o que era seu e os seus não O receberam. Mas àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho d’Ele, exclamando: «É deste que eu dizia: ‘O que vem depois de mim passou à minha frente, porque existia antes de mim’». Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos graça sobre graça. Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. A Deus, nunca ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer.”

Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade. Bendito e louvado seja o Senhor, hoje e sempre, pelos séculos sem fim. Ámen.

GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS E PAZ NA TERRA AOS HOMENS POR ELE AMADOS.


Desejo a todos Um Santo Natal, na Paz do Menino Deus. 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Ano A - 2022

Advento passo a passo

Semana 4 

28º dia – Sábado - 24/12/2022

Lc 1, 67-79

«Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo e nos deu um salvador poderoso na casa de David, seu servo.» 

Hoje o evangelho traz-nos o Benedictus, o Cântico entoado pelo pai de João Baptista, Zacarias, quando o nascimento daquele filho tinha mudado a sua vida, afastando a dúvida que o tinha tornado mudo, uma significativa punição pela sua falta de fé e de louvor.

Mas agora, Zacarias pode celebrar Deus que salva e fá-lo com este hino, narrado pelo evangelista Lucas de uma forma que, sem dúvida, reflete o uso litúrgico no âmbito das primeiras comunidades cristãs (cf. Lc 1, 68-79).

O mesmo evangelista define-o como um cântico profético, que se abre através do sopro do Espírito Santo (cf. 1, 67). De facto, encontramo-nos diante de uma bênção que proclama as ações salvíficas e a libertação oferecida pelo Senhor ao seu povo. Por conseguinte, a leitura "profética" da história, isto é, a descoberta do sentido íntimo e profundo de toda a vicissitude humana, orientada pela mão escondida mas laboriosa do Senhor, que se entrelaça com a mais frágil e incerta do homem.

Papa João Paulo II

(Audiência Geral,1 de outubro de 2003)

“Naquele tempo, Zacarias, pai de João Baptista, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou dizendo: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo e nos deu um salvador poderoso na casa de David, seu servo. Assim prometera desde os tempos antigos, pela boca dos seus santos Profetas, que nos libertaria dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam; que teria compaixão dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai: que nos concederia a graça de O servirmos um dia sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, em santidade e justiça, na sua presença, todos os dias da nossa vida. E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos, para dar a conhecer ao seu povo a salvação, pela remissão dos pecados; graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz».”

O texto é solene e, no original grego, compõe-se unicamente por duas frases (cf. vv. 68-75; 76-79). Depois da introdução, marcada pela bênção de louvor, podemos identificar no corpo do Cântico quase três estrofes, que exaltam igual número de temas, destinados a marcar toda a história da salvação:  a aliança davídica (cf. vv. 68-71), a aliança abraâmica (cf. vv. 72-75), e o Baptista que  nos  introduz  na  nova  aliança  em Cristo  (cf.  vv.  76-79).  De  facto,  toda a  oração  tende  para  aquela  meta  que David  e  Abraão  indicam  com  a  sua presença.

O vértice encontra-se precisamente numa frase quase conclusiva:  "Visitar-nos-á a luz do alto" (cf. v. 78). A expressão, à primeira vista paradoxal com o facto de unir "o alto" e o "surgir", na realidade é significativa.

Com efeito, no original grego o "sol que surge" é anatolè, uma palavra que em si significa tanto a luz solar que brilha no nosso planeta, como o rebento que nasce. As duas imagens na tradição bíblica têm um valor messiânico.

Por um lado, Isaías recorda-nos, falando do Emanuel, que "o povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou" (9, 1). Por outro lado, referindo-se ainda ao rei Emanuel, representa-o como "um rebento que brotou do tronco de Jessé", isto é, da dinastia davídica, um rebento envolvido pelo Espírito de Deus (cf. Is 11, 1-2).
Por conseguinte, com Cristo surge a luz  que  ilumina  todas  as  criaturas (cf. Jo 1, 9)  e  floresce  a  vida,  como  dirá o  evangelista  João  unindo  precisamente  estas  duas  realidades:   "N'Ele  estava  a  Vida  e  a  Vida  era  a  luz  dos homens" (1, 4).

A humanidade que está envolvida "nas trevas e na sombra da morte" é iluminada por este esplendor de revelação (cf. Lc 1, 79). Como anunciara o profeta Malaquias, "para vós que temeis o Meu nome brilhará o sol de justiça" (3, 20). Este sol "guiará os nossos passos no caminho da paz" (Lc 1, 79).

Movamo-nos então, tendo como ponto de referência aquela luz; e os nossos passos incertos, que durante o dia muitas vezes se desviam por caminhos obscuros e perigosos, são amparados pela luz da verdade que Cristo difunde no mundo e na história.

A este ponto, queremos citar as palavras de um mestre da Igreja, um dos seus Doutores, o britânico Beda, o Venerável ( séc. VII-VIII ) que na sua Homilia para o nascimento de São João Baptista, comentava assim o Cântico de Zacarias:  "O Senhor... visitou-nos como um médico visita os doentes, porque para curar a enfermidade arreigada da nossa soberba, ofereceu-nos o novo exemplo da sua humildade; redimiu o seu povo, porque nos libertou com o preço do nosso sangue a nós que nos tínhamos tornado servos do pecado e escravos do antigo inimigo... Cristo encontrou-nos quando jazíamos "nas trevas e na sombra da morte", ou seja, oprimidos pela longa cegueira do pecado e da ignorância... Trouxe-nos a luz verdadeira do seu conhecimento e, afastou as trevas do erro, mostrou-nos o caminho seguro para a pátria celeste. Dirigiu os passos das nossas obras para fazer com que andássemos pelo caminho da verdade, que nos mostrou, e para nos fazer entrar na casa da paz eterna, que nos prometeu".

Por fim, inspirando-se noutros textos bíblicos, o Venerável Beda concluía da seguinte forma, dando graças pelos dons recebidos:  "Dado que possuímos estes dons da bondade eterna, irmãos caríssimos..., bendizemos também nós o Senhor em todos os tempos (cf. Sl 33, 2), porque "visitou e redimiu o seu povo". Esteja sempre nos nossos lábios o seu louvor, conservemos a sua recordação e, por nosso lado, proclamamos a virtude daquele que "nos chamou das trevas para a Sua luz admirável" (1 Pd 2, 9). Pedimos continuamente a sua ajuda, para que conserve em nós a luz do conhecimento que nos trouxe, e nos conduza até ao dia da perfeição" (Homilias sobre o Evangelho, Roma 1990, págs. 464-465).

Papa João Paulo II

(Audiência Geral,1 de outubro de 2003)

Avé-Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte. Ámen.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

 Ano A - 2022

Advento passo a passo

Semana 4 

27º dia – Sexta-feira - 23/12/2022

Lc 1, 57-66

«O seu nome é João» (...) «Quem virá a ser este menino?»

O nascimento de São João Batista é o evento que ilumina a vida dos seus pais, Isabel e Zacarias, e envolve os parentes e os vizinhos na alegria e na admiração. Estes pais idosos tinham sonhado e até preparado aquele dia, mas já não o esperavam: sentiam-se excluídos, humilhados, desiludidos: não tinham filhos. Diante do anúncio do nascimento de um filho (cf. Lc 1, 13), Zacarias ficara incrédulo, porque as leis naturais não o permitiam: eram velhos, idosos; por conseguinte, o Senhor o tornou mudo durante todo o tempo da gestação (cf. v. 20). É um sinal. Mas Deus não depende das nossas lógicas nem das nossas limitadas capacidades humanas. É preciso aprender a confiar e a silenciar diante do mistério de Deus e a contemplar com humildade e silêncio a sua obra, que se revela na história e que muitas vezes supera a nossa imaginação.

Papa Francisco

(Angelus,  24 de junho de 2018)

“Naquele tempo, chegou a altura de Isabel ser mãe e deu à luz um filho. Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe tinha feito tão grande benefício e congratularam-se com ela. Oito dias depois, vieram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. Mas a mãe interveio e disse: «Não, ele vai chamar-se João». Disseram-lhe: «Não há ninguém da tua família que tenha esse nome». Perguntaram então ao pai, por meio de sinais, como queria que o menino se chamasse. O pai pediu uma tábua e escreveu: «O seu nome é João». Todos ficaram admirados. Imediatamente se lhe abriu a boca e se lhe soltou a língua e começou a falar, bendizendo a Deus. Todos os vizinhos se encheram de temor e por toda a região montanhosa da Judeia se divulgaram estes factos. Quantos os ouviam contar guardavam-nos em seu coração e diziam: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.”

E agora que o evento se realiza, agora que Isabel e Zacarias experimentam que «a Deus nada é impossível» (Lc 1, 37), é grande a alegria deles. A página evangélica de hoje (Lc 1, 57-66.80) anuncia o nascimento e depois detém-se no momento da imposição do nome ao menino. Isabel escolhe um nome incomum na tradição familiar e diz: «Chamar-se-á João» (v. 60), dom gratuito e já inesperado, pois João significa «Deus concedeu uma graça». E esta criança será arauta, testemunha da graça de Deus aos pobres que esperam com fé humilde a sua salvação. Inesperadamente Zacarias confirma a escolha daquele nome, escrevendo-o numa pequena tábua — pois era mudo — e «naquele momento abriu-se-lhe a boca, a sua língua soltou-se, e ele começou a falar, louvando a Deus» (v. 64).

Todo o acontecimento do nascimento de João Batista está circundado por um jubiloso sentido de admiração, de surpresa e de gratidão. Admiração, surpresa, gratidão. As pessoas são tomadas por um santo temor de Deus «e por toda a região montanhosa da Judeia se comentavam esses factos» (v. 65). Irmãos e irmãs, o povo fiel intuiu que aconteceu algo grandioso, mesmo se humilde e escondido, e pergunta-se: «O que virá a ser este menino?» (v. 66). O povo fiel de Deus é capaz de viver a fé com alegria, com sentido de admiração, de surpresa e de gratidão. Olhemos para aquela gente que falava bem acerca deste evento maravilhoso, deste milagre do nascimento de João, e fazia-o com alegria, estava feliz, com sentido de admiração, surpresa e gratidão. E pensando nisto perguntemo-nos: como é a minha fé? É uma fé jubilosa, ou é uma fé sempre igual, uma fé “tíbia”? Tenho o sentido da admiração, quando vejo as obras do Senhor, quando ouço falar da evangelização ou da vida de um santo, ou quando vejo tantas pessoas boas: sinto a graça, dentro, ou nada se move no meu coração? Sei sentir as consolações do Espírito ou sou fechado? Questionemo-nos, cada um de nós, num exame de consciência: como é a minha fé? É jubilosa? É aberta às surpresas de Deus? Porque Deus é o Deus das surpresas. “Experimentei” na alma aquele sentido da admiração que a presença de Deus dá, aquele sentido de gratidão? Pensemos nestas palavras, que são estados de ânimo da fé: alegria, sentido de admiração, surpresa e gratidão.

A Virgem Santa nos ajude a compreender que em cada pessoa humana há a marca de Deus, nascente da vida. Ela, Mãe de Deus e nossa Mãe, nos torne cada vez mais conscientes de que na geração de um filho os pais agem como colaboradores de Deus. Uma missão deveras sublime que faz de cada família um santuário da vida e desperta — o nascimento de cada filho — a alegria, a admiração, a gratidão.

Papa Francisco

(Angelus,  24 de junho de 2018)

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Ano A - 2022

Advento passo a passo

Semana 4  

26º dia – Quinta-feira - 22/12/2022

Lc 1, 46-56

« A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. »

Maria eleva até Deus como uma oração o cântico de louvor do magnificat. Trata-se de um conjunto de afirmações retirados de salmos e de muitas outras passagens da Bíblia. Aquela que gerou no seu seio Jesus Cristo, a Palavra do Pai, inspira-se na mesma palavra para louvar a Deus pelo que Ele realizou na sua vida.

Naquele tempo, Maria disse: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas, Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre». Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses e depois regressou a sua casa.” 

A minha vida está cheia de acontecimentos nos quais Deus está permanentemente presente. A sua ação acontece sempre a meu favor. Até os acontecimentos menos agradáveis são manifestação do amor de Deus que me ensina a construir a minha vida. Sou convidado, como Maria, a agradecer e louvar a Deus pela sua ação salvadora em mim. Com a Palavra de Deus que escuto aprendo a usar as palavras certas para que o meu louvor, a minha oração, seja agradável a Deus.

A Tua Palavra, Senhor, inspira a minha oração. Preciso escutar-te com mais atenção, com toda a força do meu coração e da minha alma, como Maria, para que a minha oração seja um cântico agradável que Tu acolhes como manifestação do meu amor por ti. Ensina-me, Senhor a escutar-te, para que as minhas palavras não sejam vazias.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

 Ano A - 2022 

Advento passo a passo

Semana 4  

 

25º dia – Quarta-feira - 21/12/2022

Lc 1, 39-45

«Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?»

O anjo Gabriel tinha revelado a Maria que Isabel esperava um filho e já estava no sexto mês (cf. Lc 1, 26.36). E então a Virgem, que acabara de conceber Jesus por obra de Deus, partiu à pressa de Nazaré, na Galileia, para chegar aos montes da Judeia, e se encontrar com a sua prima. Diz o Evangelho: «Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel» (v. 40). Certamente congratulou-se com ela pela sua maternidade, assim como por sua vez Isabel se congratulou com Maria dizendo: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?» (vv. 42-43). E imediatamente louva a sua : «Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor» (v. 45).

Papa Francisco

(Angelus  23 de setembro de 2018)

“Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».

É evidente o contraste entre Maria, que teve fé, e Zacarias, o marido de Isabel, o qual duvidara, e não acreditara na promessa do anjo e por isso permanece mudo até ao nascimento de João. É um contraste.

Este episódio ajuda-nos a ler com uma luz muito particular o mistério do encontro do homem com Deus. Um encontro que não acontece com prodígios espetaculares, mas antes no sinal da  e da caridade. Com efeito, Maria é bem-aventurada porque acreditou: o encontro com Deus é fruto da fé. Ao contrário, Zacarias, o qual duvidou e não acreditou, permaneceu surdo e mudo. Para crescer na fé durante o longo silêncio: sem fé permanece-se inevitavelmente surdo à voz confortadora de Deus; e também incapaz de pronunciar palavras de consolação e de esperança para os nossos irmãos. E nós vemos isto todos os dias: as pessoas que não têm fé ou que têm uma fé muito tíbia, quando devem aproximar-se de uma pessoa que sofre, dirigem-lhe palavras de circunstância, mas não conseguem chegar ao coração porque não têm força. Não têm força porque não têm fé, e se não têm fé não lhes saem as palavras que chegam ao coração dos outros. A fé, por sua vez, alimenta-se na caridade. O evangelista narra que «Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa» (v. 39) para a casa de Isabel: à pressa, não com ansiedade, não ansiosa, mas à pressa, em paz. “Pôs-se a caminho”: um gesto cheio de solicitude. Teria podido ficar em casa para preparar o nascimento do seu filho, mas ao contrário, preocupa-se primeiro pelos outros e não por si, demonstrando com os factos que já é discípula daquele Senhor que leva no seio. O evento do nascimento de Jesus começou assim, com um simples gesto de caridade: de resto, a caridade autêntica é sempre fruto do amor de Deus.

O Evangelho da visita de Maria a Isabel, que ouvimos hoje na Missa, prepara-nos para viver bem o Natal, comunicando-nos o dinamismo da fé e da caridade. Este dinamismo é obra do Espírito Santo: o Espírito de Amor que fecundou o seio virginal de Maria e que a levou a apressar-se ao serviço da prima idosa. Um dinamismo cheio de júbilo, como se vê no encontro entre as duas mães, que é um hino de alegre exultação no Senhor, o qual realiza grandes coisas com os pequeninos que confiam n’Ele.

A Virgem Maria nos obtenha a graça de viver um Natal extrovertido, mas não dispersivo. Extrovertido: que no centro não esteja o nosso “eu”, mas o Tu de Jesus e o tu dos irmãos, sobretudo daqueles que têm necessidade de uma ajuda. Então daremos espaço ao Amor que, também hoje, se quer fazer carne e vir habitar entre nós.

Papa Francisco

(Angelus  23 de setembro de 2018)


Avé-Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte. Ámen

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

 Ano A - 2022

Advento passo a passo

Semana 4 

24º dia – Terça-feira - 20/12/2022

Lc 1, 26-38

«Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

O relato evangélico conta o anúncio do anjo que vem da parte de Deus “convidar” Maria para ser a mãe de Jesus. É um relato muito conhecido que pretende evidenciar a proposta de Deus, a relação de Jesus com David que o identifica com o Messias, a ação de Deus em Maria, através do Espírito Santo, que mostra a origem divina do Menino que vai nascer e a atitude de obediência de Maria diante da proposta de Deus.

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Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?» O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».”

Este tempo que antecede o Natal prepara para ver no menino nascido em Belém, o Messias salvador, Filho de Deus, descendente de David, o cumpridor das promessas feitas por Deus para toda a humanidade. Mostra estas realidades através de relatos muito simples que nos fazem crer que a vida era simples e que a resposta dos homens a Deus era também muito simples e quase livre de dificuldades. Na realidade nunca foi fácil obedecer a Deus nem reconhecer que a sua vontade era o melhor. Maria é visitada pelo anjo e parece tudo tão fácil e simples, que até nós dávamos uma resposta igual à dela. Mas quando caímos na vida real e atendemos às propostas de Deus para nós, verificamos que não é assim tão simples. 

Sinto, hoje, Senhor, que o meu coração quer ser como o de Maria e o de José que, ao escutarem a tua palavra, mudaram as suas decisões e os seus desejos para fazer a tua vontade e dar seguimento ao teu projeto. Nem sempre me é fácil alterar a minha vontade, nem mudar a minha maneira de ver a vida. Nem sempre penso no que Tu queres e poucas vezes entendo que a tua vontade é mais sensata que a minha. Ajuda-me, Senhor, a ver como tu vês para não me perder nos labirintos da minha maneira de pensar.

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Avé-Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte. Ámen.