Durante o ano pastoral de 2017 - 2018, o nosso pároco continuou com o "Clube de Leitura Cristã da Paróquia de Porto de Mós". Partilho, aqui no blogue, o que registei após a leitura de cada um dos livros propostos, sem nenhuma pretensão de qualquer espécie. Quando acabo a leitura de um livro, ajuda-me imenso o esforço de o resumir e assinalar o que foi mais importante, para mim, na obra lida. O meu muito obrigada ao sr. pe. José Alves, por nos permitir "alargar os nossos horizontes" vivenciais, através dos livros que tem escolhido para lermos no Clube, pois até mesmo os do património , embora situados noutro contexto, tiveram bastante interesse, sobretudo o do Kevin: "O Bom Jesus de Porto de Mós" - Convento dos Agostinhos Descalços.
Breve
reflexão sobre o livro do mês de outubro:
"A Mensagem de Fátima"
Em termos gerais
Gostei muito do livro, porque
situa todo o acontecimento Fátima na realidade sócio cultural da época e da zona
em que aconteceu. Demonstrando conhecer muito bem a nossa história recente, é, tendo-a em conta, que enquadra o
acontecimento Fátima na história do mundo. É também muito clara e, ao mesmo
tempo, reveladora a forma como nos vai apresentando as várias etapas do caminhar
da Igreja na aceitação do acontecimento Fátima, quer a nível nacional, que a
nível internacional, mais precisamente na relação de vários papas com Fátima.
Outro dos aspetos, que me
encantaram no livro, foi a apresentação de cada um dos videntes no que tem de
específico e único para a mensagem de Fátima. Cada um, ao seu jeito, é
diferente e dá à mensagem o seu cunho particular, o seu “carisma peculiar”.
Apresenta a mensagem de Fátima,
enraizada nos princípios da fé católica, apostólica romana, e na Eucaristia, o
que aprecio especialmente. Mas, mais do que tudo, para além de a centrar em
Deus Trindade, eleva-a até Deus Misericórdia, até Deus enamorado da sua
criatura, pronto a todo se dar por cada ser, mesmo quando este é pecador. A
forma como enquadra o espírito sacrificial da mensagem nesta dimensão amorosa
de Deus Misericórdia é, sem dúvida, uma forma muito feliz de trazer a mensagem
para mais perto daqueles a quem preferencialmente se destina: “o pecador na sua
solidão”, “o sofredor na sua luta”.
Por fim, realço a forma bela e
profunda como apresenta Nossa Senhora pertencendo à revelação do Pai, pelo
Filho e pelo Espírito e à mediação entre o ser humano e Jesus. Em Maria fica-se
com a certeza de que no Amor Misericórdia de Deus Trindade, na glória da Páscoa
“o mal, o pecado, a dor e a injustiça, a tragédia não têm a última palavra,
pois há futuro para a esperança.”
Mais em pormenor
Pág. 49 - À pergunta “porquê
um protagonismo tão acentuado da Virgem Maria?” o autor responde: “ porque
Maria pertence à revelação do Pai pelo Filho e pelo Espírito […] precisamente
pela participação no mistério salvador do Filho, ela atua como memória
atualizadora da atividade do Jesus terreno e como garantia da espera confiante
na manifestação definitiva da vitória de Jesus Ressuscitado. Como “vigia do
Invisível” continua a dar uma contribuição peculiar ao desígnio salvífico da
Trindade.
Pág.50 – O protagonismo de
Maria não consiste portanto em colocar-se no centro. As suas manifestações não
têm como objetivo simplesmente a sua glória, mas robustecer e aprofundar a
relação de Deus com os homens.
Pág.52 – Maria, enquanto
assunta, irrompeu como ”lugar” a partir do qual o cristianismo se narra a si
mesmo, vendo-se liberado da fragmentariedade do tempo e, por isso, aberto ao
futuro e à esperança. Maria ajuda a contemplar a realidade a partir do olhar de
Deus sobre a história e apela não tanto à dureza do juiz divino quanto a uma
misericórdia que, ainda que ferida, permite descobrir o coração de Deus. As
mariofanias são, por isso, sinal de uma compaixão que não abandona o pecador na
sua solidão, nem o sofredor na sua luta.
Pág.54 – Este protagonismo –
maternal - de Maria não questiona o caráter único, exclusivo e insuperável da
mediação de Jesus Cristo.
Pág.85/86 – Não podemos
subvalorizar um dado significativo: as contingências históricas facilitaram o
desaparecimento físico das testemunhas, para que brilhasse uma iniciativa que
não era meramente humana. […] O acontecimento Fátima deixa assim transparecer
nitidamente o paradoxo do testemunho cristão: deixa todo o espaço à ação do
Outro e simultaneamente permite ao observador captar o reflexo da graça na
biografia das testemunhas.
Pág.102 – Francisco – O seu
espírito era naturalmente contemplativo, por isso desfrutava do nascer e do
pôr-do-sol, da irradiação das estrelas, do movimento dos passarinhos. Sobre
esta base natural, foi favorecido seguramente com o dom da contemplação infusa,
como o demonstra a frequência e o interesse com que procurava momentos de
oração. Mostrava-se especialmente sensível perante a beleza e o encanto de
Deus, e assim também perante o seu sofrimento, despertando nele um profundo
desejo de O consolar.
Pág.103 – Jacinta – A sua
espiritualidade foi marcada, desde o início, pela Eucaristia, a paixão de
Cristo e o amor filiar à Virgem. Estas atitudes foram-se aprofundando com a experiência
das aparições. […] Especialmente característico da Jacinta é a sua disposição
para fazer sacrifícios pela conversão dos pecadores.
Pág.260 – É o que se vê
manifestado em Fátima, como diz o Papa, a 13 de maio de 1982: na mensagem de
Fátima, o que se torna percetível e experimentável é “o poder infinito do amor
misericordioso”. É natural que Maria apareça como o ícone e espelho
privilegiado: “É a criatura que, como nenhuma outra, experimentou a
misericórdia e tornou possível, com o sacrifício do coração, a sua participação
na revelação da misericórdia divina”. Mas aponta para além de si mesma, para a
própria Trindade.
Pág.261 – É a melodia que
acompanha a mensagem de Fátima: “Lá porque uns se obstinam no mal” dirá Lúcia
(A146), o Deus misericordioso desvela o mistério de um Deus que não desiste de
amar os homens, apesar do seu pecado, ou precisamente pelo seu pecado. É o
mistério mais transbordante do Deus da revelação bíblica. Maria é o seu reflexo
e a sua expressão.[…] É o ícone materno da compaixão do Pai.
Breve reflexão sobre o livro do mês de novembro:
"Senhor Bispo, o Pároco Fugiu"
Em termos
gerais
Aqui está um
livro que eu não compraria, de maneira nenhuma, se tivesse em conta apenas o
título, claro. Acontece que foi o livro proposto para este mês pelo padre José
Alves, que é o presidente do nosso clube de leitura cristã. Assim, encetada a
leitura, dei-me conta de que a história era interessante e que tentava
contar-nos alguns dos “tormentos” porque passam aqueles que são homens de Deus,
a tempo inteiro, e lhe dedicam todas as suas energias, ao longo de cada dia.
Acho que o autor conhece demasiado bem muitas das brigas, rivalidades e
mesquinhices que fazem parte do dia a dia de uma paróquia. Como se repetem, por
estas terras fora, daqui e pelo vistos, também do estrangeiro, tantas das “fraquezas” humanas das vivências
dos fiéis leigos romanceadas neste livro. Acho que as “histórias”, aqui
contadas, são demasiado reais (nos comportamentos e atitudes das personagens)
para terem sido inventadas por quem nunca presenciou, na vida, nenhuma delas.
Quanto às atitudes do pároco, embora levadas ao exagero, pelo autor do livro,
acho que, algumas delas, devem traduzir os sentimentos pelos quais, certos dos
padres de hoje, também passam. O cansaço, a saturação, o sentimento de
incapacidade, quando são confrontados com situações, como as que vêm contadas
neste romance, calculo que também devem fazer parte dos seus dias. Felizmente,
a força de Deus é sempre maior que os problemas, por isso, como homens de Deus,
que são, acredito que não precisem de chegar ao extremo de se encerrarem atrás
de uma parede de cimento para fazerem valer os seus pontos de vista, as suas
convicções e testemunharem o amor de Deus vivo entre nós. Quando tudo cai à
nossa volta, nós, os leigos, esperamos, dos nossos párocos, o testemunho da sua
fé num Amor maior. Esperamos, tal como aconteceu com o padre Benjamim, que o
seu Amor a Deus venha ao de cima e supere o que aparentemente parece
intransponível. O que aconteceu àquela paróquia, no romance, após o
encerramento do padre Benjamim atrás da parede, não pode ser apenas uma bela
história, mas tem que ser a certeza de que Deus está sempre presente entre nós
e que, mesmo no meio de tantas atitudes erradas, há um coração humano que busca
Deus sem cessar e está à espera de sentir estreitado por Ele, num abraço bem
aconchegado, de forma a entregar-Lhe todos os problemas, angústias, sofrimento,
recalcamentos, frustrações,... Todos, padres e leigos, cada um ao seu jeito,
acabaram por se sentir totalmente amados por Deus, nas diferentes
circunstâncias das suas vidas. Esta é, para mim, a chave de toda a história
contada neste livro.
Mais em
pormenor
Pág. 46 – “Proponho-vos
que ofereçais as vossas mãos como um trono, como diz São Cirilo de Jerusalém, e
aí receber o Senhor. Em seguida, levai-O à vossa boca contemplando-O, os vossos
olhos fixos n’Ele, e as vossas duas mãos sempre uma sobre a outra. Convido-vos
a dizer-Lhe no vosso coração algumas palavras de amor, como «Senhor Jesus,
amo-Te!», ou então «Senhor salva-me!»…Ou outras palavras que o Espírito Santo
vos inspire nesse momento.”
Pág.103- “Minha
senhora, esteja em paz. Confie no Senhor. Ele aceita a sua vida tal e qual é.
Esqueça todos os seus pecados em Deus, deponha tudo nas mãos de Jesus, deixe-O
fazer milagres em si e, em primeiro lugar, esse da paz recuperada. Deixe de
viver na culpabilização. Considere que está sob o efeito da anestesia. Como se
fosse uma criança pequena que precisa de ser operada a uma doença grave. Se ela
se agita, se se mexe, o cirurgião não pode fazer nada. Agora, quando ela se
deixa adormecer pode ser operada. Assim, minha senhora deixe-se anestesiar por
Jesus, quer dizer, deixe de julgar o seu passado.”
Pág.112- “Eu
sei, é bizarro: não posso ir ter com as pessoas e agora têm de ser elas a vir
ter comigo. Mas isso não é mau. Sabe, as pessoas tomam o seu pároco como um
homem dos sete ofícios. Sim, o pároco está ao serviço dos seus paroquianos, mas
corre o risco de agir numa forma de ativismo em que se esquece porque é que o
padre lá está: para testemunhar Cristo e a Sua presença no meio dos homens. É a
missão do sacramento da Ordem.
Pág.212/213-
“-Sim, estou. Mas entendamo-nos bem. Não se trata de pôr os batizados a fazer
exorcismos, ou curas todo-poderosas, nem que se façam passar por Jesus. Mas de
deixar Cristo agir através deles e, em particular, através da sua fraqueza.
Isso implica, por sua vez, uma grande humildade e uma verdadeira audácia de
confiar n’Ele que tudo pode fazer em nós, mesmo se nem sempre O vemos, mesmo se
não nos sentimos capazes. O problema dos cristãos é que não acreditam,
suficientemente, que têm neles esta autoridade do Pai, que lhes vem do Filho,
pelo Espírito Santo. Frequentemente, mesmo, eles não acreditam de todo…Se fosse
o caso, eles fariam mais milagres do que imaginam.
.... Em dezembro e janeiro as leituras andaram (literalmente) pelo património histórico da vila de Porto de Mós...
Breve reflexão sobre o livro do mês de fevereiro:
"Walale, Gungo!"
Em termos
gerais
Gostei muito do
livro, lê-se muito bem. Cada uma, das várias “histórias de amor” aqui narradas,
chega ao nosso coração pela força do testemunho missionário que apresenta.
Percebe-se que há muitas dificuldades a transpor pelos missionários, mas que o
que recebem de amor, carinho e de fortalecimento/crescimento na fé, ultrapassa
todos os obstáculos.
O que me
impressionou mais, em todo o livro, foi a forma como as pessoas recebem os
missionários, chegando a percorrer distâncias tão longas para se encontrarem
com eles.
Ao refletir
sobre o livro, ainda pensei em eleger uma “história”, como aquela que mais me
tinha tocado, por uma razão, ou por outra. Mas não fui capaz de selecionar nenhuma narrativa face às restantes, pois
todas as “histórias”, sendo diferentes umas das outras, transmitem vida
verdadeiramente experimentada e vivida e, por isso, é-me impossível dizer que uma é mais bonita
do que outra. São todas impressionantes.
Mais em
pormenor
Pág. 29 – «Chegou
o dia. Afinal o “meu Herodes” era um menino que teria perto de dois anos, tão
meigo, com um olhar tão doce. »
Pág. 38 - «Ao
longo de muitos anos e do contacto com diferentes missionários, o Ezequiel e
outros jovens e menos jovens, foram e vão ganhando competências que lhes servem
para a vida»
Pág. 44 –
Nenhum missionário consegue voltar de forma definitiva. Tanto de nós fica entre
as montanhas do Sumbe, com um desejo incessante de voltar.
Pág. 49 - «Fui,
sou e serei sempre missionária tentando espalhar os amor aos outros.»
Pág.55 -
«Fez-nos pensar em como uma simples visita a um bairro pôde trazer tanta
alegria a quem lá mora.»
Pág.60 – «Se o
sorriso de uma criança é contagiante e uma graça de Deus a música é o amor
d’Ele que transborda em nós.»
Pág. 65 –
«Também eu fui irradiado com a felicidade e alegria deles»
Pág.73 –
«Obrigada por tudo Gungo, e espero reencontrar-te um dia»
Pág.100 - «O
sorriso, esse continuava mais radioso ainda!»
Pág.189 -
«Aprendemos com as dificuldades, unimos esforços para vencer as duras pedras da
picada.»
Breve reflexão sobre o
livro do mês de março:
”10 ateus que mudaram de autobus “
Em termos gerais:
Gostei imenso do livro
deste mês, pois é revigorante, para a minha fé, perceber como outras pessoas,
ainda por cima famosas, fizeram o seu encontro com Jesus e foram crescendo ao
longo do seu caminho de fé. Os casos escolhidos são variados, quanto à
aproximação da Igreja Católica e, quanto ao mundo vivencial original de cada
convertido, isto é, provêm de épocas e de costumes sociais e percursos académicos
diferentes. No entanto têm algo de comum as histórias de vida selecionadas,
pois, a meu ver, todas as pessoas de quem nos apresentaram a conversão, tinham
como princípio de vida a busca da verdade, a procura persistente de um sentido para
a vida, o desejo de encontrar a verdadeira felicidade, não se sentindo ainda
completos. Com um espírito sempre aberto, disponível e ansioso por encontrar
respostas, que verdadeiramente preencham a alma, só pode haver uma resposta:
Jesus Cristo, que nos revela Deus Amor infinito por cada um de nós. Só Ele é a
resposta que dá sentido à vida, porque
Ele é a Vida. Embora seja uma apresentação feita por outra pessoa, que não os próprios, é bom porque
recorre, com frequência, a extratos de obras, ou excertos de conversas na primeira
pessoa de cada convertido, o que permite o acesso ao pensamento original de
cada um deles. Acabou por criar, em mim, o desejo de ler alguns dos títulos
originais (dos convertidos) referidos neste livro.
Mais em pormenor:
Pág.15 – “Embora a existência
do sofrimento – concretamente do sofrimento dos inocentes - seja o grande argumento do ateísmo, a
humanidade acreditou maioritariamente em Deus. Em todo o caso , se Deus existe,
porque é que permite o mal? ... alguma finalidade“
Pág.18 – “ Não chores,
se me amas. ... Por isso enxuga as tuas lágrimas e não chores se me amas”
Pág.20 – “ Pergunta à
formosura da terra... aquele que é a beleza perfeita?”
Pág.22 – “Sou filho
deste século, filho da incredulidade e das dúvidas ... , preferia ficar com
Cristo do que com a verdade”
Pág.26 – Porque razão
existe alguma coisa em vez do nada?… Pág.27 – pelo menos tal como hoje o
conhecemos – não podia ter existido.”
Pág.28 – “ Um homem
honesto que estivesse em poder de todo o saber que hoje está ao nosso alcance
deveria afirmar que a origem da vida parece um milagre, a julgar por tantas
condições que é preciso reunir para a conseguir “ Francis Crick, prémio Nobel
da Biologia, por ter descoberto o ADN.
1. Francis
Collins – médico, cientista especialista em genética, coordenador da equipa que
apresentou ao mundo o primeiro mapa do genoma humano. Aos vinte dois anos era
um agnóstico que passou para o ateísmo, convencido de que “nenhum cientista
podia defender a hipótese da existência de Deus sem cometer um suicídio
intelectual”. Só se questionou verdadeiramente e partiu em busca de fundamentação para as
suas convicções quando uma velhinha, sua doente, com uma doença incurável, lhe perguntou
em que é ele acreditava. Pondo-se à procura, foi ter com um pastor metodista que lhe pediu que
lesse o livro “ Mero Cristianismo “ de C.S. Lewis. Nesta obra encontrou
resposta para muitas das suas interrogações, entre as quais:”Se Deus é exterior
e diferente do mundo, não o podemos identificar com nada do que há no mundo, do
mesmo modo que um arquiteto não pode ser identificado com as paredes , ou com
as escadas dos seus edifícios. A única maneira de se dar a conhecer a nós seria
dentro de nós mesmos, como uma sugestão ou uma ordem para agir de determinada
maneira. E é isso que encontramos dentro de nós.” Aos vinte e seis anos
concluiu que o “agnosticismo – um refúgio de segunda mão – aparecia como um
grande subterfúgio, e crer em Deus parecia ser mais racional do que não crer”
2.
Ernesto Sábato – romancista, ensaísta,
comprometido desde a juventude com a justiça, enamorado pela beleza, obcecado
pela verdade e pelo sentido dos “factos fundamentais da existência: nascimento,
amor, dor e morte”. Por volta dos dezasseis anos aderiu a grupos anarquistas e comunistas para
combater a injustiça social, mas acabou por se desiludir e abandonar estes
grupos, virando-se para a especialização científica. Chegou mesmo a trabalhar no laboratórios Curie de Paris.
Mas, nem mesmo aí, preencheu o vazio de
sentido para a sua vida, pelo que se revigorou na escrita. Escreveu, ente outros, os livros “Homens e Engrenagens”
e “ Antes do fim”. Nunca desistiu de procurar Deus e é no fim que afirma: “ Eu
oscilo entre o desespero e a esperança, que é a que sempre prevalece (...) É
devido à persistência nesse sentimento tão profundo como disparatado, alheio a
qualquer lógica - que desgraçado é o homem que só conta com a razão! – que nos
salvamos uma e outra vez.
3.
Fiódor Dostoievski – escritor, com lugar
de destaque na literatura universal, com obras consagradas como: “Crime e
Castigo”; “O Idiota” e “Os Irmãos Karamazov”. Condenado à morte, viu a sua pena
ser substituída pela prisão na Sibéria. É aí, na Sibéria que começa a sua transformação:
“Um dia, porém, deitado nas tábuas em que dormia Dostoievski contou um
peripécia da sua infância. Tinha nove anos... que não esperava nem sequer
suspeitava que podia ser livre”. Nas personagens dos seus livros vai refletindo
a dimensão e profundidade da sua fé em Cristo “Não conhecia nada mais belo,
profundo, compreensivo, razoável, viril e perfeito do que Cristo”.
4.
Tatiana Goricheva – nascida no seio de
uma família soviética normal, foi criada
e educada no ateísmo oficial do regime comunista soviético. “Eu, pelo
contrário, nasci num país em que os valores tradicionais de cultura, religião e
moral foram extorquidos de raíz de maneira intencional e com êxito; ...Outros
converteram-se em alcoólicos. Alguns estão em instituições para alienados...
Tudo parecia indicar que não tínhamos esperança alguma na vida. Mas o vento do
Espírito Santo sopra onde quer, outorga vida ressuscita os mortos. Então que
foi que me aconteceu? Que nasci de novo. ... Mas o livro de yoga propunha como
exercício uma oração cristã, concretamente, a oração do Pai-Nosso. Precisamente
a oração que Nosso Senhor tinha ensinado pessoalmente! Comecei a repeti-la
mentalmente como um mantra, de maneira expressiva e automática. Disse-a umas
seis vezes. Então, de repente, senti-me completamente transtornada. Compreendi
– não com a minha inteligência ridícula, mas com todo o meu ser – que Ele
existe. Ele, o Deus vivo e pessoal, que me ama a mim e a todas as criaturas,
Ele que criou o mundo, que se fez homem por amor, ele o Deus crucificado e
ressuscitado!
5.
C.S.Lewis - nasceu em 1898, e em 1925 já ensinava
filosofia e literatura em Oxford. Era ateu e converteu-se ao Cristianismo com a
idade de Jesus, trinta e três anos. Em 1917 incorporou-se na primeira Guerra
mundial, mas caiu doente e foi enviado para o hospital onde, pela primeira vez,
lê um ensaio de Chesterton. A impressão causada foi de tal maneira forte, que,
a partir daí, passou a ler todos os livros à luz das ideias veiculadas por
Chersterton, isto é “Pareciam pouco profundos, demasiado simples. O dramatismo
e a densidade da vida não apareciam nas suas obras”. Quando voltou a ler
Chersterton em “Everlasting Man” sentiu o seu ateísmo a ser posto em causa ,
mais uma vez. As suas resistências começavam a desaparecer: “Tens de
imaginar-me sozinho, naquele compartimento de Magdalen, noite após noite... Por
fim, Aquele a quem temia profundamente caiu
sobre mim. Na festa da Santíssima Trindade, de 1929, cedi; admiti que Deus era
Deus e, de joelhos, rezei. ...Até aí eu tinha imaginado que o centro da
realidade era qualquer coisa como um lugar. Em vez disso encontrei-me com uma Pessoa.
6.
André Frossard – 1915 a 1995 – Era filho
“do primeiro secretário do partido comunista francês e considerava-se um ateu
perfeito, desses que nem sequer se interrogam sobre o seu ateísmo”. “Contudo,
numa tarde, entrará numa capela parisiense do Bairro Latino, à procura de um
amigo. Entrará cético e ateu de extrema esquerda e sairá, cinco minutos mais
tarde, católico, apostólico romano, embalado por uma onda de uma alegria
inesgotável. Entrará com vinte anos e sairá como um criança, com os olhos
esgazeados pelo que vê através do imenso rasgão que acaba de abrir-se no toldo
do mundo. E, quando tentar pô-lo por escrito, resumirá tudo num famoso título:”
Deus existe. Eu encontrei-O”
7.
Edita Stein -1891 a 1942 – “ No seu
livro Estrelas amarelas, conta-nos que
conhecia a religião judaica, mas
não acreditava nela, nem a praticava, e que a sua procura apaixonada da verdade
a levou a estudar Filosofia na Universidade de Göttingen, porque nela ensinava
Edmund Husserl, famoso pela sua obra Investigações Lógicas. ... Edith
integrou-se num grupo graças à generosidade de Adolf Reinach, jovem professor
de inteligência aguda e de grande coração. Reinach, ateu, defrontou-se com o
horror da guerra de 1914, e a procura de sentido levou-o à fé cristã. ... Entrámos uns minutos na catedral e, no meio
daquele silêncio apareceu uma mulher com o seu saco do mercado e ajoelhou-se
com um profundo recolhimento para orar. Isto foi para mim algo totalmente novo.
Nas sinagogas e nas igrejas protestantes, que eu conhecia, só se ia para os
ofícios religiosos. Ao contrário, aqui, qualquer um, no meio do seu trabalho,
podia dirigir-se à igreja vazia para um diálogo confidencial. Isto foi uma
coisa que nunca pude esquecer. ... Adolfo Reinach morre na frente de batalha. Edith
viaja para Friburgo para assistir ao funeral e consolar a viúva. A integridade
da sua amiga Ana, a sua confiança serena de que o seu marido estava a gozar da
paz e da luz de Deus, revelou a Edith o poder de Cristo sobre a morte. ... Mas
deparou-se com algo totalmente inesperado: uma paz que só podia ter origem
muito superior a tudo o que é humano. Foi ali que encontrei, pela primeira vez,
a Cruz e o poder divino que comunica àqueles que a levam. Foi o meu primeiro
vislumbre da Igreja, nascida da Paixão redentora de Cristo, da Sua vitória
sobre a morte. Nesses momentos a minha incredulidade desmoronou-se e o judaísmo
empalideceu diante da aurora de Cristo: Cristo no mistério da Cruz.” Professou
mais tarde como carmelita descalça. A 9 de agosto de 1942 morreu no campo de
concentração de Auschwitz.
8. Vittorio
Messori – jornalista italiano nascido a 16 de abril de 1941, não teve educação
católica, nem procurava ser cristão: “Batizaram-me como se fosse uma espécie de
rito supersticioso, sociológico e depois não tive mais nenhum contacto com a
Igreja. A seguir ao secundário decidiu estudar ciências políticas. Entregou-se
apaixonadamente à política e comprometeu-se com a esquerda. “Mais do que um
ateu, eu era agnóstico radical, não se preocupava que Deus existisse ou não.
Messori era um universitário de muitas e variadas leituras, que incluíam
Homero, os líricos e os trágicos gregos, na língua original, mas nunca tinha
lido o Novo Testamento. Mais tarde, quando, pela primeira vez, leu o Evangelho,
não encontrou um livro, mas uma pessoa , Jesus Cristo. “ Foi uma coisa que
ainda me mantém atordoado. Mudou a minha vida, obrigando-me a perceber que ali
havia um mistério ao qual valia a pena dedicar a vida.” Durante dez anos dedicou-se,
como trabalho jornalístico, ao estudo crítico do texto dos evangelhos e
subjugado pelo tema que investigava escreveu “Hipótese sobre Jesus” em que diz,
a certa altura: “Trabalhei principalmente para mim, procurando não me enganar a
mim próprio. Deus, se existe, não precisa das nossas mentiras. O personagem
histórico Jesus tem direito à verdade, não a argúcias apologéticas e nós temos
direito a ser informados, não tranquilizados. Também tentei ater-me àquilo que
todos podem aceitar: àquilo que, na medida do possível está fora de questão.” ...
“Divinizar uma pessoa era possível no Império romano, mas totalmente impossível
entre os judeus. Eles adoravam Javé, o Deus único, transcendente e inefável,
cujo nome nem sequer devia ser pronunciado. Associar a Javé um homem era o
sacrilégio máximo, a abominação suprema. Por isso, supor que um galileu tenha
podido equiparar-se a Deus e ser adorado como tal, poucos anos após a sua
morte, é não conhecer nada do mundo hebraico. ... Como muito bem se fez notar,
Maomé e o islamismo são a revolta do mesmo sangue semita contra a
incompreensível pretensão cristã de assemelhar um homem a Deus. ...Porque nos
diz que, se a Paixão de Cristo é o preço do nosso resgate, o sofrimento humano
é a colaboração do homem na sua mesma redenção. ... Não existe outra resposta
para o problema do mal a não ser a Cruz de Jesus, na qual o mesmo Deus sofreu o
último suplício. Só esta resposta elimina o escândalo de um Deus tirano que se
diverte com os sofrimentos das suas criaturas, porque propõe , à vista de
todos, um escândalo ainda maior.
9.
Narciso Yepes ( 1927- 1997) personifica
um capítulo importante da história universal da guitarra. Foi Batizado quando
nasceu, mas a partir daí não recebeu nada que o educasse na fé, Deus não
contava para nada na vida deste exímio artista do toque da guitarra. A sua conversão,
quando tinha vinte e cinco anos, foi “súbita, repentina, inesperada, ... mas
muito simples. Estava em Paris, debruçado sobre o Sena, a ver correr a água.
Era manhã . Exatamente no dia 18 de maio. Repentinamente senti-O dentro de mim.
... Provavelmente já me tinha chamado noutras ocasiões, mas eu
não tinha ouvido. Naquele dia eu tinha a porta aberta ... E Deus pôde entrar.
Não somente se fez ouvir, senão que entrou em cheio, e para sempre, na minha
vida. ...Assim como até então Deus não
contava para nada na minha vida, a partir daquele momento não há nada na minha
vida – nem o mais trivial, nem o mais sério – em que eu não conte com Deus. E
isso tanto no que é alegre, como no que é doloroso,...como quando a Guarda Civil
me bateu à porta para dizer que o meu filho tinha morrido. ... A dor aproxima
da intimidade de Deus. É ... uma predileção , um voto de confiança de Deus no
homem. ... Não sei se me faço entender, é
a carícia de um pai que se apoia no seu filho. E essa carícia ... limpa,
sossega e enriquece a alma. Obtém a certeza moral e quase física de que a morte
será uma passagem maravilhosa: chegar, finalmente à felicidade que nunca mais
acaba, e que nada, nem ninguém pode desfazer... Começar a viver
verdadeiramente! À pergunta: “E Deus gosta da sua música? Responde: Adora! Mais
do que a minha música, o que mais lhe agrada é que lhe dedique a minha atenção,
a minha sensibilidade, o meu esforço, a minha arte ..., o meu trabalho. Além
disso, tocar um instrumento o melhor que uma pessoa sabe, e ser consciente da
presença de Deus, é uma forma maravilhosa
de rezar, de orar. Tenho disso experiência.”
10.
Gilbert K. Chesterton (1874-1936) foi um
dos grandes escritores do século XX. Disse sobre si que “o ambiente da minha
juventude não era só o ateísmo, mas a ortodoxia ateia, e essa atitude gozava de
prestígio. ...No seu livro Ortodoxia
reconheceu que, à idade de doze anos era um pouco pagão e, aos dezoito, era um
perfeito agnóstico, cada vez mais afundado num suicídio espiritual. ... Depois
de ter permanecido algum tempo nos abismos do pessimismo contemporâneo, sentiu
um forte impulso para se revoltar e rejeitar semelhante pesadelo. Como
encontrou pouca ajuda na filosofia e nenhuma na religião, inventou uma teoria
mística rudimentar: que mesmo a mera existência, reduzida aos seus limites mais
primários, era suficientemente extraordinária para ser estimulante. ... Um dia
de Outono de 1896, Chersterton viu Frances Blogg pela primeira vez e
enamorou-se dela. Mas Frances praticava a religião. ... Para todo o mundo
agnóstico praticar a religião era algo mais complicado do que professá-la. Em
1900 conheceu Hilaire Belloc, um jovem historiador de caráter apaixonado, que
lhe descobriu o pensamento social cristão. Em 1901 casou com Frances. De férias
em Yorkshire, os Chersterton conheceram o padre O’Connor, um sacerdote que os
surpreendeu com a sua inteligência e simpatia. ... Neste padre encontrou um sacerdote, um homem
do mundo, um homem do outro mundo, um homem de ciência e um velho amigo. ... Converteu-se
ao catolicismo em 1922 e diz que a sua conversão foi completamente racional ...
Batizou-se num telheiro de lata situado nas traseiras de um hotel da estação.
Aceitou o batismo porque, desse modo, se tornava mais convincente para a sua
mente analítica. Se alguém me pergunta, do ponto de vista intelectual, porque é
que creio no cristianismo, só lhe posso responder que creio nele racionalmente,
obrigado pela evidência. O seu critianismo é uma convicção racional, diz ele e
acrescenta que tem outra razão mais profunda para aceitar a verdade cristã, é
que a doutrina da Igreja é algo vivo, não morto: qualquer coisa que nos explica
o passado e nos ilumina o futuro. ... quando as pessoas me perguntam porque é
que ingressou na Igreja de Roma? A primeira resposta é: para me desembaraçar
dos meus pecados, pois não existe nenhum outro sistema religioso que faça
desaparecer realmente os pecados das pessoas. Escreveu, como resposta a um
colunista, no Daily News: segundo você, confessar os pecados é uma coisa
doentia. Eu responder-lhe-ia que o doentio é não os confessar. O doentio é
ocultar os pecados deixando que lhe corroam o coração, que tal é o estado em
que vive a maioria das pessoas das sociedades altamente civilizadas. ... No dia
da sua primeira comunhão, conta o pároco, quando lhe dei os parabéns disse-me: “Foi
a hora mais feliz da minha vida.” Anteriormente
Chersterton confiara-lhe: “Atemoriza-me a tremenda Realidade que se ergue sobre
o altar. Não cresci com ela e é demasiado esmagadora para mim.” ... Sobre a
Igreja Católica dirá: Não existe outra instituição estável e inteligente que
tenha meditado sobre o sentido da vida durante dois mil anos. A sua experiência
abrange quase todas as experiências, e concretamente quase todos os erros. O
resultado é um projeto no qual estão nitidamente sinalizados as vielas sem
saída e os caminhos errados, esses caminhos que o melhor testemunho possível
provou que não valem a pena, o testemunho daqueles que o percorreram antes
(...) Além disso a Igreja defende dogmaticamente a humanidade dos seus piores
inimigos, esses monstros horríveis, devoradores e velhos que são os antigos
erros. “Ninguém tinha imaginado a hipótese de Deus viver entre os homens, falar
com funcionários romanos e com recebedores de impostos. Mas, a mão de Deus, que
tinha moldado as estrelas, converteu-se, de repente, na mãozinha de uma criança
a choramingar num berço... Esse acontecimento, admitido em bloco pela civilização
ocidental durante dois milénios é, sem dúvida alguma, o acontecimento mais
assombroso que o homem conheceu desde que pronunciou a primeira palavra
articulada. O primeiro argumento a favor
da Ressurreição de Cristo é da maior simplicidade: qualquer um poderia ter
motivos para denunciar o desaparecimento do cadáver de Jesus. Qualquer um,
menos os apóstolos, no caso de que eles o tivessem escondido para anunciarem um
falso milagre. Além disso, torna-se
muito difícil imaginar alguém a deixar-se torturar e matar para defender uma
mentira. Escreveu a biografia de S.Francisco de Assis e S.Tomás de Aquino, O
homem eterno e Ortodoxia, entre outros
livros .
Breve reflexão sobre o livro do mês de
abril: ”Rezar 15 dias com Frederico Ozanam “ de Christian Verheyde
Em termos gerais:
É um livro que, quanto a mim, perde
muito pelo facto do autor não recorrer mais frequentemente a citações da pessoa
que é objeto desta obra – Frederico Ozanam. Percebendo, pelo que nos foi dito
pelo autor, acerca do fundador das Conferências de S.Vicente de Paulo, que
este, simultaneamente com o desenvolvimento de toda a sua ação caritativa, teve
também uma atividade literária e académica abundante (livros, artigos,cartas)
foi pena não beneficiarmos de um contacto mais profundo com o que ele escreveu,
mas apresentado na primeira pessoa. No
entanto, gostei do que li, principalmente porque fiquei a saber mais sobre
Frederico Ozanam.
O que mais me impressionou, neste
jovem chefe de família, foi o seu amor aos pobres e a sua coerência de vida com
as verdades da fé cristã, católica, cimentadas na educação cristã que, enquanto
criança, recebeu da mãe e de uma das sua irmãs. Deve ter sido muito difícil
testemunhar a sua fé e vivê-la da forma como o fez, no tempo em que viveu. É
verdade que cada época tem as suas próprias dificuldades, mas em questões de
afirmação da fé católica e da experiência sócio caritativa que Frederico iniciou
e desenvolveu nas Conferências, acho, pelo que o autor nos conta, que só alguém
com uma formação cristã católica muito sólida, experimentada e vitoriosa sobre
todas as disputas que a racionalidade provoca numa inteligência esclarecida,
conseguiria impor-se no meio estudantil. O amor de Deus, quando uma alma se lhe
entrega totalmente, faz maravilhas. Como disse S.João Paulo II no dia da beatificação
de Frederico: “o teu caminho foi, verdadeiramente, o caminho da santidade”
Mais em pormenor:
Pág.20 – “Estava realmente obcecado
por estas questões: unir ciência e religião, riqueza e pobreza, crentes e
não-crentes. Abundam textos onde descobrimos este zelo obstinado. É
verdadeiramente um apóstolo ardente, «com um grande desejo de pregar a verdade
e de salvar as almas».”
Pág.42/44 – “Atravessa um período
muito difícil em que, no entanto, agradece ao céu: « Neste século de ceticismo,
Deus deu-me a graça de nascer na fé». Já não sabe a quantas anda: «De tanto
ouvir falar dos incrédulos e da incredulidade questionava-me como era possível
eu acreditar». (…)O seu professor, o padre Noirot, será para ele um verdadeiro
diretor espiritual. «Deu ordem e luz aos meus pensamentos. Acreditava agora,
com uma fé segura; e, tocado por um benefício tão especial, prometi a Deus
devotar os meus dias ao serviço da verdade que me dava paz» (…) «Duvidava e, no
entanto, queria acreditar. Afastava a dúvida… A minha fé não era sólida e, no
entanto, preferia crer sem razão do que duvidar, o que me atormentava mais.»”
Pág.92 - «Há uma coisa que não nos
foi ensinada, uma coisa que eles não conhecem a não ser pelo nome, e que é
preciso ter visto sofrer nos outros, para aprender a sofrê-la quando ela nos
chegar, mais cedo, ou mais tarde. Essa coisa é a dor, é a privação, é a
necessidade…É preciso que esses jovens senhores saibam o que é a fome, a sede,
um celeiro vazio. É preciso que vejam os indigentes, as crianças doentes, as
crianças que choram. É preciso que os vejam e que os amem.»
Pág.104 - «A caridade é uma mãe
terna que tem os olhos fitos no filho que tem ao seio: já não pensa nela
própria, esquece a sua beleza por causa do seu amor»
Pág.107 - «Há exploração quando o
patrão considera o trabalhador, não como um auxiliar, mas como um instrumento
de quem tira o máximo de serviço possível, ao menor preço que puder pagar. A
exploração do homem pelo homem é escravatura.»
Pág.116 - «Não falemos tanto da
caridade. Pratiquemo-la e visitemos os pobres»
Breve reflexão sobre o livro do mês de maio:” O
Pequeno Caminho das Grandes Perguntas “de José Tolentino Mendonça
Em termos gerais:
É um livro que nos faz pensar, que nos ajude a
pôr, na primeira pessoa, e a trazer para “o hoje” algumas das perguntas que o
autor coloca. Quantas vezes, ao longo da vida, por mais do que uma vez, nos pusemos
algumas das questões aqui apresentadas! A novidade está na forma como coloca as
perguntas e as enquadra, pois a reflexão filosófica, teológica e relacional, em
que envolve cada questão, projeta-nos para mais longe nas questões formuladas,
do que das outras vezes em que as colocámos. Mas há questões que aqui aparecem e
que nos ficaram apenas no pensamento, pois não ousámos formulá-las
explicitamente, pelas mais variadas razões. Aqui somos incentivados a
assumi-las e a lê-las a outra luz, o que também é uma ótima ajuda.
Já não é o primeiro livro deste autor que o clube
de leitura no propõe, mas tal como no primeiro, também neste, continuo a achar
que a forma bela como “brinca” e “lida” com as palavras leva a ler, com mais
gosto e interesse, o que escreve. Já não é só o tema, mas a forma como escreve,
também prende à leitura.
Por fim, gostei muito do livro, mas,
especialmente, de algumas questões, como por exemplo: “O que somos chamados a
acolher”; “Se encostarmos o ouvido…”; “Então o que é que nos redime?”; “Crer é
arriscar crer”; “Ampliar o olhar”; “Qual é o meu desejo?”; “A possibilidade de
Deus”; “Meu Deu, meu Deus, porque me abandonaste?”; “O vazio das nossas mãos”;
“Como se víssemos o invisível”; “Onde está Deus”; “Esta dança de crianças
eternas”; “Sentados à soleira do instante”; “A perfeita alegria”; “A insensatez
que salva o mundo”; “Pedimos coisas diferentes”; “A flor que não colhemos”; “A
desventura”; “Encontrar o deserto”; “Sobre a ternura de Deus”; “As linhas de
fogo da oração”; “Crer na possibilidade da transformação”; “Bendito o futuro”;
“Não tornes impossíveis os milagres”; “A Deus ninguém o viu”; “O bom uso das
doenças”; “Aliviemos os ombros dos publicitários; “O que é feito da nossa
alegria?”; “A fé é um livro do desassossego”; “Tenho saudades de Deus”;
“Levanta-te e dança”.
Este é um daqueles livros em que, se o fosse
ler outra vez, provavelmente faria uma seleção bem diferente, mas este foi o
resultado da minha primeira leitura desta obra.
Breve reflexão sobre o livro do mês de junho: ”Gaudete et Exsultate “ (Alegrai-vos e Exultai) - terceira
Exortação Apostólica do papa Francisco
Gostei muito do livro do mês de
junho, porque, se por um lado, nos ajuda pormenorizadamente na identificação
das dificuldades, dos erros, das ilusões, dos falsos caminhos, num viver
cristão, (os inimigos da santidade), como as novas formas de gnosticismo e de
pelagianismo, pelo outro, inspira-nos e desafia-nos na forma de encontrar o
nosso próprio caminho de santidade, apontando exemplos concretos que
testemunham o que é viver em santidade, no quotidiano da vida, dando sempre o
primado à Graça de Deus.
Nesta exortação apostólica, o Papa
Francisco dá-nos indicações quanto à forma de sermos santos, de vivermos a
santidade, hoje, no nosso dia a dia, inseridos em qualquer condição de vida:
solteiro, casado, viúvo, religioso(a), consagrado(a), eclesiástico, ou fiel
leigo, pessoa (fora, ou dentro da Igreja)- criança, jovem, adulto, idoso,
doente, ou com saúde, inserido na sociedade, ou marginalizado, empregado,
desempregado, ou reformado... Ninguém, seja qual for a sua condição de vida,
fica fora deste chamamento, deste desafio, que o papa Francisco nos lança em:
”Gaudete et Exsultate “ (Alegrai-vos e Exultai).
[parágrafonº7-pág9] “Gosto de ver a santidade no
povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos
homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes,
nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de caminhar dia
após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a
«santidade ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da
presença de Deus, ou – por outras palavras- da «classe média da santidade»”.
Diz-nos o Papa que santo é aquele
que sabe comover-se e mover-se para ajudar os miseráveis e curar as misérias. “A
maior sabedoria que pode existir consiste em dispensar frutuosamente o que se
possui e que lhe foi dado precisamente para o distribuir… «Há atividades, como
as obras de misericórdia e de piedade, que, unindo-se à contemplação, não a
impedem, antes favorecem-na»” [parágrafonº46-pág28-29] ; “Aliás, a Igreja sempre ensinou que só a
caridade torna possível o crescimento na vida da graça, porque, «se não tiver
amor, nada sou(1Cor13,2)»” [parágrafonº56-pág34].
No terceiro capítulo, «À luz do
mestre” o Papa Francisco indica-nos como caminho de santidade a vivência das
Bem-aventuranças e percorre-as uma a uma, numa dinâmica que apela à mudança
radical de vida. “Quem deseja verdadeiramente dar glória a Deus com a sua vida,
quem realmente se quer santificar para que a sua existência glorifique o Santo,
é chamado a obstinar-se, gastar-se e cansar-se procurando viver as obras de
misericórdia”. [parágrafonº107-pág58]
No quarto capítulo “Algumas
características da santidade” gostei especialmente das cinco grandes
manifestações do amor a Deus e ao próximo, que o papa nos indica como modelo de
santidade e que são: 1-Suportação, paciência e mansidão; 2- Alegria e sentido
de humor; 3- Ousadia e ardor; 4- Em comunidade; 5- Em oração constante.
Contrapõe-nas, como forma de combater os riscos e limites da cultura de hoje ,
que se manifestam em: 1- a ansiedade nervosa e violenta que nos dispersa e
enfraquece; 2- o negativismo e a tristeza; 3- a acédia cómoda, consumista e
egoísta; 4- o individualismo e tantas
formas de falsa espiritualidade sem encontro com Deus que reinam no mercado
religioso atual.
Por
fim, o Papa conclui com um capítulo dedicado à “Luta, vigilância e
discernimento” em que nos alerta para a necessidade de estarmos sempre
vigilantes na luta contra o "Maligno” que,
escreve ele, não é "um mito", mas" um ser pessoal que nos
atormenta”. “Quem não quiser reconhecê-lo, ver-se-á exposto ao fracasso ou à
mediocridade”. As suas maquinações, indica, devem ser contrastadas com a
"vigilância", usando as "armas poderosas" da oração, a
adoração eucarística, os Sacramentos e com uma vida permeada pela caridade. [parágrafonº162-pág85].
Este capítulo é também uma grande ajuda para fazer um verdadeiro discernimento: “Importante“, continua Francisco, é também o
"discernimento", particularmente numa época "que oferece enormes
possibilidades de ação e distração" - das viagens, ao tempo livre, ao uso
descontrolado da tecnologia - "que não deixam espaços vazios onde ressoa a
voz de Deus ". Francisco pede cuidados especiais para os jovens, muitas
vezes "expostos a um constante zapping", em mundos virtuais distantes
da realidade [parágrafonº167-pág87. "Não
se faz discernimento para descobrir que mais proveito podemos tirar desta vida,
mas para reconhecer como podemos cumprir melhor a missão que nos foi confiada
no Batismo." [parágrafonº174-pág91]; “Quando perscrutamos na presença de Deus os
caminhos da vida, não há espaços que fiquem excluídos. Em todos os aspetos da
existência, podemos continuar a crescer e dar algo mais a Deus, mesmo naqueles
em que experimentamos as dificuldades mais fortes. Mas é necessário pedir ao
Espírito Santo que nos liberte e expulse aquele medo que nos leva a negar-Lhe a
entrada nalguns aspetos da nossa vida. Aquele que pede tudo, também dá tudo, e
não quer entrar em nós para mutilar ou enfraquecer, mas para levar à perfeição.
Isto mostra-nos que o discernimento não é uma autoanálise presuntuosa, uma
introspeção egoísta, mas uma verdadeira saída de nós mesmos para o mistério de
Deus, que nos ajuda a viver a missão para a qual nos chamou a bem dos irmãos.”
[parágrafonº175-pág92].
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