quinta-feira, 2 de março de 2023

  QUARESMA PASSO A PASSO - 2023

Sexta-feira I – dia 9 –03/03/2023

Evangelho: Mt 5, 20-26

«Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento.»

Jesus convida os discípulos a “superar”, a ir “mais além” que o comum das pessoas. A sociedade está estruturada por leis que tentam garantir e preservar o bem de cada um, mas Jesus apresenta “um mais” que está para além da lei. Trata-se do amor. O amor ao irmão, que pode ter alguma coisa contra mim e tirar valor à oferta que apresento no altar. Jesus convida os discípulos a ir “primeiro” reconciliar-se com o irmão. “Primeiro” é o mais importante, o mais urgente, o mais necessário. “Primeiro” é aquilo diante do qual tudo é secundário, tudo fica relativo.

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"Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo»."

Jesus propõe-me um caminho de felicidade que está para lá das alegrias deste mundo. A sua proposta implica também um esforço suplementar, uma exigência maior na minha relação com os outros. Jesus começa por me dizer que o outro é meu irmão e que este irmão tem influência em todas as coisas da minha vida, também na minha relação com Deus. Se quero amar a Deus, então, tenho que inserir nesse amor a solicitude pelo irmão, mesmo que ele tenha alguma coisa contra mim. Se assim não for, o amor a Deus é um amor estéril que nada produz na minha vida.

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Vinde, Espírito Santo,
enchei os corações dos vossos fiéis
e acendei neles o fogo do Vosso amor.
Enviai, Senhor, o Vosso Espírito, e tudo será criado,
e renovareis a face da terra.
Oremos:
Ó Deus,
que instruístes os corações dos vossos fiéis
com a luz do Espírito Santo,
fazei que apreciemos retamente todas as coisas
e gozemos sempre da sua consolação. 
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho,que é Deus convosco, na unidade do Espírito Santo. Ámen.

O insulto pode matar

(...)

«Mas o Senhor vai em frente — prosseguiu o Pontífice — e é severo porque diz: “Ouvistes o que foi dito aos antigos: não matarás”». Portanto, Jesus «parte disto, do matar», e afirma: «Mas Eu vos digo, todo aquele que se irar contra o seu irmão será castigado pelos juízes. Aquele que disser ao seu irmão: “tolo”» e também «“louco”» será condenado.

Em síntese, explicou o Papa, «o Senhor diz: o insulto tem consequências; o insulto é uma porta que se abre, significa começar um caminho que acabará — eu disse no início: “Não matarás” - matar, pois o insulto é o início do matar, é um desqualificar o outro, tirar-lhe o direito de ser respeitado, significa pô-lo de lado, eliminá-lo da sociedade».

«Estamos habituados a respirar o ar dos insultos», reconheceu Francisco. De resto, «é suficiente conduzir o carro na hora de ponta: ali há um carnaval de insultos, as pessoas são criativas quando insultam». Mas «o insulto separa, fragmenta a comunidade e mata o outro, começa por privar a pessoa da sua boa fama, e depois vai além, além, além».

Até «os pequenos insultos — digamos pequenos — que por acaso se dizem na hora de ponta, quando guiamos o carro, depois se tornam grandes». E «insultos não só de boca: de coração».

Precisamente «isto mata: o insulto». E «o insulto cancela o direito da pessoa: “Não, não o ouças, ele é assim e assim...”». Mas com estas palavras «apedreja-se aquela pessoa, ela já não tem direito de falar, já não terá direito à palavra: a sua voz foi anulada».

Nesta perspetiva, «podemos perguntar por que o insulto é tão perigoso e por que tem a força de matar e de desqualificar o outro, de o pôr de lado».

A questão, explicou, é que «muitas vezes o insulto nasce da inveja». Por exemplo, não insultamos uma pessoa com «“deficiência” mental ou temperamental», pois esta «deficiência não me ameaça». A ponto que, quando nos encontramos perante «uma criança deficiente, uma pessoa inválida, de cadeira de rodas, não temos vontade de as insultar». Mas «quando alguém faz algo que não me agrada, insulto-o, fazendo-o passar por “deficiente”: mental, social, familiar, sem capacidade de integração».

«Por isso», insistiu, o insulto «mata: mata o futuro de uma pessoa, mata o percurso de uma pessoa». Mas «é a inveja que abre a porta, pois quando alguém me ameaça de algum modo, a inveja leva-me a insultá-lo: ali há quase sempre a inveja».

«O livro da Sabedoria — observou o Pontífice — diz-nos que entrou a morte no mundo devido à inveja do diabo: é a inveja que traz a morte». Quanto a nós, «podemos dizer: “a inveja é um pecado estranho, não tenho inveja de ninguém”». Na realidade, sugeriu o Papa, pensemos bem na «inveja escondida, que se não for ocultada é forte, é capaz de te tornar amarelo, verde, como o líquido biliar quando estás doente: pessoas com a alma amarela, com a alma verde por causa da inveja que as leva a insultar, a destruir o próximo».

Além disso, Francisco observou que «Jesus impede este percurso — “Não, isto não se faz” — a ponto que se rezares, fores à missa e te aperceberes que um dos teus irmãos tem algo contra ti, primeiro reconcilia-te com ele». O Senhor «é deveras radical», recordando que «a reconciliação não é uma atitude de boas maneiras: é uma atitude radical, uma atitude que procura respeitar a dignidade do outro, e também a minha». Em síntese, «do insulto à reconciliação, da inveja à amizade: eis o percurso que Jesus nos oferece hoje».

Nesta linha, o Papa propôs também um exame de consciência: «Far-nos-á bem pensar: como insulto eu?». Isto não significa fazer «a lista de todos os palavrões que sei contra os outros; não, isto não». Mas é bom perguntar: «Como insulto eu? Quando insulto eu? Quando separo o outro do meu coração com um insulto?». E «ver se nele há a raiz amarga da inveja, que me leva a desejar destruir o outro para o dominar na concorrência». Embora «isto não seja fácil», Francisco concluiu convidando a pensar como seria «bom nunca insultar: bom, porque assim permitimos que os outros cresçam». E «que o Senhor nos conceda esta graça!».

Papa Francisco

(Meditações Matutinas, 14 de junho de 2018)

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