TEMPO PASCAL - 2023
Sexta-feira da semana VI do Tempo Pascal - dia 41 - 19/05/2023
Evangelho Jo 16, 20-23a
«Também vós agora estais tristes; mas Eu hei de ver-vos de novo e o vosso coração se alegrará e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria.»
Repete-se aqui o versículo 20, da liturgia de ontem, para ligar com a parábola da mulher que dá à luz e assim entendermos o que Jesus quer dizer. Está próximo um tempo em que Jesus deixará de ser visto e que provocará tristeza nos seus discípulos, mas essa tristeza não será para sempre, porque depois virá um tempo em que o poderão ver de novo e a alegria será ainda maior. Como acontece com a mulher diante do filho recém-nascido, assim os discípulos esquecerão a tristeza que sentiram diante da alegria nova que significará a ressurreição de Jesus.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Em verdade, em verdade vos digo: Chorareis e lamentar-vos-eis, enquanto o mundo se alegrará. Estareis tristes, mas a vossa tristeza converter-se-á em alegria. A mulher, quando está para ser mãe, sente angústia, porque chegou a sua hora. Mas depois que deu à luz um filho, já não se lembra do sofrimento, pela alegria de ter dado um homem ao mundo. Também vós agora estais tristes; mas Eu hei de ver-vos de novo e o vosso coração se alegrará e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. Nesse dia, não Me fareis nenhuma pergunta».
“Ninguém vos poderá tirar a vossa alegria”. Medito nestas palavras e no que elas me querem dizer. A minha recusa de toda e qualquer situação de sofrimento pode significar a recusa de uma alegria que ninguém me pode tirar. Se pretendo que a minha vida seja vivida sem riscos para não ter que sofrer com os fracassos; se fujo das dificuldades para não experimentar a aflição; se me fecho em mim para não ter que enfrentar os embates com o mundo e com os outros; se me nego a enfrentar a morte para não perder a vida, então não chegarei a experimentar a verdadeira alegria. A alegria será tanto maior quanto mais arriscar perder, quanto maior for a luta, quanto mais sair de mim e quanto mais gastar a vida. Porque tudo se ganha quando tudo se dá.
Tantas perguntas para fazer, Senhor. Agora é que eu tenho perguntas e as
respostas parecem tão poucas e curtas. E tu dizes-me que “nesse dia, não te
farei nenhuma pergunta”. Pois, nesse dia verei tudo e já não terei dúvidas nem
incertezas. Hoje, Senhor, hoje tenho tantas perguntas sem resposta e tantas
respostas para perguntas que nunca fiz. Que o meu coração se alegre nas
perguntas que te faço com a esperança na resposta que só com coração posso
entender.
O cristão não anestesia o
sofrimento, nem sequer o maior que faz vacilar a fé, e não vive a alegria e a
esperança como se fosse sempre carnaval. Mas encontra o sentido da sua
existência no perfil da mulher que dá à luz: sente tanta felicidade quando nasce
a criança que se esquece do seu sofrimento. «Na liturgia da Ascensão do Senhor,
observou Francisco, a Igreja explode numa atitude que não é habitual, e no
início a primeira oração é um grito: “Exulte, Senhor, a tua Igreja!”». Sim,
prosseguiu, «exulte com a esperança de viver e alcançar o Senhor: “Exulte de
alegria a tua Igreja”». E na oração da coleta, «hoje rezámos: “Senhor, eleva os
nossos corações para Jesus!”». Uma invocação que expressa «precisamente a
alegria que invade toda a Igreja, alegria e esperança: ambas caminham juntas».
Com efeito, «uma alegria sem esperança é um simples divertimento, uma alegria
passageira». E «uma esperança sem alegria não é esperança, não vai além de um
otimismo sadio».
Eis por que «alegria e
esperança caminham juntas — explicou Francisco — e ambas fazem esta explosão
que a Igreja na sua liturgia quase, permito-me dizer a palavra, grita sem
pudor: “Exulte a tua Igreja!”, exulte de alegria, sem formalidades». Porque
«quando há grande alegria, não há formalidade: é alegria». Portanto, explicou o
Papa, «Exulte de alegria a tua Igreja, viva na esperança de a alcançar» e
«eleva, Senhor, os nossos corações para Jesus que está sentado na glória do
Pai».
«Com três pinceladas — afirmou
o Pontífice — a Igreja diz qual deve ser a atitude cristã: alegria e esperança
juntas». E assim «a alegria fortalece a esperança e a esperança floresce na
alegria». E «ambas, com esta atitude que a Igreja lhes deseja atribuir, estas
duas virtudes cristãs indicam um sair de nós mesmos: o jubiloso não se fecha em
si mesmo; a esperança leva-te lá, é a âncora que está precisamente na praia do
céu e te conduz para fora». Por isso podemos «sair de nós mesmos com a alegria
e a esperança». Uma reflexão que faz referência ao trecho evangélico de João
(16, 20-23) proposto pela liturgia.
«O Senhor diz-nos que há
problemas — prosseguiu o Papa — e na vida esta alegria e esperança não são um
carnaval: são outra coisa, também, ter que enfrentar dificuldades». Francisco
repropôs «a imagem que o Senhor usa hoje no Evangelho: a mulher quando chega o
momento do parto». Sim, explicou, «a mulher, quando dá à luz, sente dor porque
chegou a sua hora; mas depois de dar à luz a criança, esquece o sofrimento».
E é precisamente «o que fazem a
alegria e a esperança juntas, na nossa vida, quando estamos nas tribulações,
quando temos problemas, quando sofremos». Não se trata certamente de «uma
anestesia: o sofrimento é sofrimento, mas se for vivido com alegria e esperança
abre a porta para a alegria de um futuro novo».
«Esta imagem do Senhor deve
ajudar-nos muito nas dificuldades», acrescentou o Papa, até as «más que nos
fazem duvidar da nossa fé». Mas «com a alegria e com a esperança vamos em
frente, porque depois desta tempestade chega um homem novo, como a mulher
quando dá à luz». E Jesus diz que esta alegria e esperança são duradouras, que
não passam». «Assim também vós, agora, estais no sofrimento», são as palavras
de Jesus aos discípulos transmitidas pelo Evangelho. Mas tranquiliza-os
imediatamente: «Ver-vos-ei de novo e o vosso coração alegrar-se-á e ninguém vos
poderá privar da vossa alegria».
São palavras que devem ser frisadas, acrescentou o Pontífice: «A alegria humana pode ser tirada de qualquer coisa, de qualquer dificuldade. Mas esta alegria que o Senhor nos dá, que nos faz exultar, que nos faz elevar na esperança de O encontrar, esta alegria ninguém no-la pode tirar, é duradoura. Até nos momentos mais obscuros».(...)
Francisco concluiu a sua
meditação com os votos de «que o Senhor nos conceda a graça de uma alegria
grande que seja a expressão da esperança; e uma esperança forte que se torne
alegria na nossa vida». E com a oração que «o Senhor conserve esta alegria e
esperança, assim ninguém poderá privar-nos delas».
Papa Francisco
(Capela de Santa Marta, 6 de maio de 2016)
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