TEMPO PASCAL - 2023
SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR
Domingo da semana VII do Tempo Pascal - dia 43 - 21/05/2023
EVANGELHO Mt 28, 16-20
«Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra.»
«Ide e ensinai todas as nações»
«Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos»
Nas leituras de hoje
continuamos a celebrar o grande dia de Páscoa, que iniciámos a 9 de abril, a
quando da festa da Ressurreição de Jesus. É como se se tratasse de um só dia
que culminará com a festa que, se Deus quiser, celebraremos no próximo domingo.
Hoje, centramo-nos na Ascensão de Jesus, dia para o qual Jesus nos tem vindo a
preparar desde a Sua Ressurreição, até hoje, deixando-nos as Suas instruções e
recomendações finais. Na solenidade de hoje celebramos a partida de Jesus para
o Pai. Do Céu saiu, para lá volta, e
para aí nos atrai, através da ação do Espírito Santo, que nos move a fazer o
bem, a testemunhar a presença de Jesus entre nós, a anunciá-l’O onde nos
movemos e existimos. Sim, porque Jesus não nos deixou sós, continua vivo e atuante
em cada um de nós, no meio de nós.
Na 1ªleitura (Atos 1, 1-11) o autor
projeta-nos para a Ascensão de Jesus ao Céu. Ao mesmo tempo, desafia-nos a,
sobre a ação do Espírito Santo, continuarmos, hoje, no nosso tempo, a ação
evangelizadora dos primeiros cristãos, dos que conheceram e conviveram com
Jesus, o Filho de Deus, que encarnou entre nós. Deixemos que o Espírito Santo,
que recebemos no dia do nosso batismo, nos preencha por inteiro e nos
transforme, no nosso dia a dia, no concreto da vida, em verdadeiros
anunciadores da Boa Nova do Amor, que quer comunicar-se, revelar-se, amar a
todos, sem exceção.
“No
meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer
e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de
ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera.
Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas
provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus.
Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de
Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, «da qual – disse Ele – Me
ouvistes falar. Na verdade, João batizou com água; vós, porém, sereis batizados
no Espírito Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido
começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?».
Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai
determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que
descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia
e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e
uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus
Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram:
«Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio
de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».”
Na
2ªleitura (Ef
1, 17-23) S.Paulo exorta-nos a glorificar Jesus e a contemplar, na Sua
Ascensão, a volta da humanidade para o Pai.
“Irmãos:
O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito
de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do
vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os
tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza
do seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força
que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita
nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo
o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há de
vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça
de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em
todos.”
No
evangelho (Mt
28, 16-20) S.Mateus propõe-nos, tal como o fez S. Lucas,na 1ªleitura, a continuação do anúncio do Evangelho de
Nossos Senhor Jesus Cristo, hoje, no nosso tempo e na nossa história, em
Igreja. Com a certeza de que, apesar de subir para o Pai, Jesus continua
connosco, no meio da humanidade inteira, agora, já não de forma física, mas de
um modo diferente, pois sobre a ação do Espírito Santo habita-nos por inteiro.
Se Lhe quisermos abrir o nosso coração será um connosco, até ao fim dos tempos.
“Naquele tempo, os Onze discípulos partiram para a
Galileia, em direção ao monte que Jesus lhes indicara. Quando O viram,
adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e disse-lhes:
«Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações,
batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a
cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos
tempos».”
Senhor
Jesus, que eu me deixe habitar pelo Espírito Santo, na totalidade do meu ser.
Bom dia, prezados irmãos e irmãs!
«Eu estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28,
20). Estas últimas palavras do Evangelho de Mateus evocam o anúncio profético
que encontramos no início: «Ele chamar-se-á Emanuel, que significa Deus
connosco» (Mt 1, 23; cf. Is 7, 14). Deus
estará ao nosso lado todos os dias, até ao fim do mundo. Jesus caminhará ao
nosso lado todos os dias, até ao fim do mundo. O Evangelho inteiro está
encerrado entre estas duas citações, palavras que comunicam o mistério de Deus
cujo nome, cuja identidade é estar-com: não é um Deus isolado,
mas um Deus-com, de modo particular connosco, ou seja, com a
criatura humana. O nosso Deus não é um Deus ausente, raptado por um céu remoto;
ao contrário, é um Deus «apaixonado» pelo homem, tão ternamente amante que
chega a ser incapaz de se separar dele. Nós, humanos, somos peritos em romper
vínculos e pontes. Ele, ao contrário, não! Se o nosso coração arrefece, o seu
permanece sempre incandescente. O nosso Deus acompanha-nos sempre, inclusive
se, por desventura, nos esquecêssemos dele. No ponto que divide a incredulidade
da fé, é decisiva a descoberta de que somos amados e acompanhados pelo nosso
Pai, que Ele nunca nos deixa sozinhos.
A nossa existência é uma peregrinação, um caminho. Até aqueles
que são impelidos por uma esperança simplesmente humana sentem a sedução do
horizonte, que os leva a explorar mundos ainda desconhecidos. A nossa alma
é uma alma migrante. A Bíblia está cheia de histórias de peregrinos
e viajantes. A vocação de Abraão começa com esta exortação: «Deixa a tua terra»
(Gn 12, 1). E o patriarca abandona aquele recanto de mundo que
conhecia bem e que era um dos berços da civilização do seu tempo. Tudo
conspirava contra a sensatez daquela viagem. E no entanto Abraão parte. Não nos
tornamos homens e mulheres maduros, se não sentirmos a atração do horizonte:
aquele limite entre o céu e a terra que pede para ser alcançado por um povo de
caminhantes.
No seu caminhar no mundo, o homem nunca
está sozinho. Sobretudo o
cristão nunca se sente abandonado, porque Jesus nos garante que não nos
aguardará apenas no final da nossa longa viagem, mas que nos acompanhará em
cada um dos nossos dias.
Até quando perdurará a atenção de Deus pelo homem? Até quando o Senhor
Jesus, que caminha connosco, até quando cuidará de nós? A resposta do Evangelho
não deixa margem a dúvidas: até ao fim do mundo! Passarão os
céus, passará a terra, serão anuladas as esperanças humanas, mas a Palavra de
Deus é maior do que tudo e não passará. E Ele será o Deus connosco, o Deus
Jesus que caminha ao nosso lado. Não haverá um dia da nossa vida em que
cessaremos de ser uma solicitude para o Coração de Deus. Contudo, alguém
poderia dizer: «Mas o que dizes?». Digo isto: não haverá um dia da nossa vida
em que deixaremos de ser uma solicitude para o Coração de Deus. Ele preocupa-se
connosco, caminha ao nosso lado. E por que faz isto? Simplesmente porque nos
ama. Entendestes isto? Ele ama-nos! E sem dúvida Deus proverá a todas as nossas
necessidades, não nos abandonará no tempo da prova e da escuridão. É preciso
que esta certeza se aninhe no nosso espírito, para nunca mais se apagar. Há
quem lhe dê o nome de «Providência». Ou seja, a proximidade de Deus, o amor de
Deus, o caminhar de Deus ao nosso lado chama-se também «Providência de Deus»:
Ele provê à nossa vida.
Não é por acaso que entre os símbolos cristãos da esperança existe um do
qual eu gosto muito: a âncora. Ela exprime que a nossa esperança
não é vaga; não deve ser confundida com o sentimento mutável de quem deseja
aperfeiçoar as situações deste mundo de maneira irrealista, apostando
unicamente na própria força de vontade. Com efeito, a esperança cristã encontra
a sua raiz não na atração do futuro, mas na segurança daquilo que Deus
nos prometeu e realizou em Jesus Cristo. Se Ele nos garantiu que nunca nos
abandonará, se o princípio de cada vocação é um «Segue-me!», com o qual Ele nos
assegura que permanecerá sempre à nossa frente, então por que devemos recear?
Com esta promessa, os cristãos podem ir por toda a parte. Inclusive
atravessando as regiões de um mundo ferido, onde a situação não é boa, nós
estamos entre aqueles que até ali continuam a esperar. O salmo reza: «Ainda que
eu atravesse um vale escuro, nada temerei, pois estais comigo» (Sl 23,
4). Exatamente onde se propaga a obscuridade é necessário manter acesa uma luz.
Voltemos à âncora. A nossa fé é a âncora no céu. Mantemos a nossa vida ancorada
no céu? Que devemos fazer? Segurar a corda: ela está sempre ali. E vamos em
frente, porque estamos certos de que a nossa vida tem a sua âncora no céu,
naquela margem onde chegaremos.
Sem dúvida, se confiássemos apenas nas nossas forças, teríamos razão de nos
sentirmos desiludidos e derrotados, porque o mundo se demonstra muitas vezes
refratário às leis do amor. Prefere frequentemente as leis do egoísmo. Mas se
em nós sobreviver a certeza de que Deus não nos abandona, que Deus ama com
ternura tanto a nós como a este mundo, então a perspetiva muda
imediatamente. «Homo viator, spe erectus», diziam os antigos. Ao
longo do caminho, a promessa de Jesus «Eu estou convosco» leva-nos a estar de
pé, erguidos, com esperança, convictos de que o bom Deus já age para realizar
aquilo que humanamente parece impossível, porque a âncora está na praia do céu.
O santo povo fiel de Deus é um povo que está de pé — «homo viator»
— e caminha, mas de pé, «erectus», caminha na esperança. E
onde quer que vá, sabe que o amor de Deus o precedeu: não há região do mundo
que evite a vitória de Cristo Ressuscitado. E qual é a vitória de Cristo
Ressuscitado? A vitória do amor. Obrigado!
Papa Francisco
(Audiência Geral, 26 de abril de 2017)
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