sábado, 20 de maio de 2023

 TEMPO PASCAL - 2023

SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

Domingo da semana VII do Tempo Pascal - dia 43 - 21/05/2023

EVANGELHO Mt 28, 16-20

«Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra.» 

«Ide e ensinai todas as nações»

«Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos»

Nas leituras de hoje continuamos a celebrar o grande dia de Páscoa, que iniciámos a 9 de abril, a quando da festa da Ressurreição de Jesus. É como se se tratasse de um só dia que culminará com a festa que, se Deus quiser, celebraremos no próximo domingo. Hoje, centramo-nos na Ascensão de Jesus, dia para o qual Jesus nos tem vindo a preparar desde a Sua Ressurreição, até hoje, deixando-nos as Suas instruções e recomendações finais. Na solenidade de hoje celebramos a partida de Jesus para o Pai.  Do Céu saiu, para lá volta, e para aí nos atrai, através da ação do Espírito Santo, que nos move a fazer o bem, a testemunhar a presença de Jesus entre nós, a anunciá-l’O onde nos movemos e existimos. Sim, porque Jesus não nos deixou sós, continua vivo e atuante em cada um de nós, no meio de nós.

 

Na 1ªleitura (Atos 1, 1-11) o autor projeta-nos para a Ascensão de Jesus ao Céu. Ao mesmo tempo, desafia-nos a, sobre a ação do Espírito Santo, continuarmos, hoje, no nosso tempo, a ação evangelizadora dos primeiros cristãos, dos que conheceram e conviveram com Jesus, o Filho de Deus, que encarnou entre nós. Deixemos que o Espírito Santo, que recebemos no dia do nosso batismo, nos preencha por inteiro e nos transforme, no nosso dia a dia, no concreto da vida, em verdadeiros anunciadores da Boa Nova do Amor, que quer comunicar-se, revelar-se, amar a todos, sem exceção.

“No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus. Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, «da qual – disse Ele – Me ouvistes falar. Na verdade, João batizou com água; vós, porém, sereis batizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?». Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».”

 

Na 2ªleitura  (Ef 1, 17-23) S.Paulo exorta-nos a glorificar Jesus e a contemplar, na Sua Ascensão, a volta da humanidade para o Pai.

“Irmãos: O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há de vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.

 

No evangelho (Mt 28, 16-20) S.Mateus propõe-nos, tal como o fez S. Lucas,na 1ªleitura, a continuação do anúncio do Evangelho de Nossos Senhor Jesus Cristo, hoje, no nosso tempo e na nossa história, em Igreja. Com a certeza de que, apesar de subir para o Pai, Jesus continua connosco, no meio da humanidade inteira, agora, já não de forma física, mas de um modo diferente, pois sobre a ação do Espírito Santo habita-nos por inteiro. Se Lhe quisermos abrir o nosso coração será um connosco, até ao fim dos tempos.

Naquele tempo, os Onze discípulos partiram para a Galileia, em direção ao monte que Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».”

Senhor Jesus, que eu me deixe habitar pelo Espírito Santo, na totalidade do meu ser.

Bom dia, prezados irmãos e irmãs!

«Eu estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20). Estas últimas palavras do Evangelho de Mateus evocam o anúncio profético que encontramos no início: «Ele chamar-se-á Emanuel, que significa Deus connosco» (Mt 1, 23; cf. Is 7, 14). Deus estará ao nosso lado todos os dias, até ao fim do mundo. Jesus caminhará ao nosso lado todos os dias, até ao fim do mundo. O Evangelho inteiro está encerrado entre estas duas citações, palavras que comunicam o mistério de Deus cujo nome, cuja identidade é estar-com: não é um Deus isolado, mas um Deus-com, de modo particular connosco, ou seja, com a criatura humana. O nosso Deus não é um Deus ausente, raptado por um céu remoto; ao contrário, é um Deus «apaixonado» pelo homem, tão ternamente amante que chega a ser incapaz de se separar dele. Nós, humanos, somos peritos em romper vínculos e pontes. Ele, ao contrário, não! Se o nosso coração arrefece, o seu permanece sempre incandescente. O nosso Deus acompanha-nos sempre, inclusive se, por desventura, nos esquecêssemos dele. No ponto que divide a incredulidade da fé, é decisiva a descoberta de que somos amados e acompanhados pelo nosso Pai, que Ele nunca nos deixa sozinhos.

A nossa existência é uma peregrinação, um caminho. Até aqueles que são impelidos por uma esperança simplesmente humana sentem a sedução do horizonte, que os leva a explorar mundos ainda desconhecidos. A nossa alma é uma alma migrante. A Bíblia está cheia de histórias de peregrinos e viajantes. A vocação de Abraão começa com esta exortação: «Deixa a tua terra» (Gn 12, 1). E o patriarca abandona aquele recanto de mundo que conhecia bem e que era um dos berços da civilização do seu tempo. Tudo conspirava contra a sensatez daquela viagem. E no entanto Abraão parte. Não nos tornamos homens e mulheres maduros, se não sentirmos a atração do horizonte: aquele limite entre o céu e a terra que pede para ser alcançado por um povo de caminhantes.

No seu caminhar no mundo, o homem nunca está sozinho. Sobretudo o cristão nunca se sente abandonado, porque Jesus nos garante que não nos aguardará apenas no final da nossa longa viagem, mas que nos acompanhará em cada um dos nossos dias.

Até quando perdurará a atenção de Deus pelo homem? Até quando o Senhor Jesus, que caminha connosco, até quando cuidará de nós? A resposta do Evangelho não deixa margem a dúvidas: até ao fim do mundo! Passarão os céus, passará a terra, serão anuladas as esperanças humanas, mas a Palavra de Deus é maior do que tudo e não passará. E Ele será o Deus connosco, o Deus Jesus que caminha ao nosso lado. Não haverá um dia da nossa vida em que cessaremos de ser uma solicitude para o Coração de Deus. Contudo, alguém poderia dizer: «Mas o que dizes?». Digo isto: não haverá um dia da nossa vida em que deixaremos de ser uma solicitude para o Coração de Deus. Ele preocupa-se connosco, caminha ao nosso lado. E por que faz isto? Simplesmente porque nos ama. Entendestes isto? Ele ama-nos! E sem dúvida Deus proverá a todas as nossas necessidades, não nos abandonará no tempo da prova e da escuridão. É preciso que esta certeza se aninhe no nosso espírito, para nunca mais se apagar. Há quem lhe dê o nome de «Providência». Ou seja, a proximidade de Deus, o amor de Deus, o caminhar de Deus ao nosso lado chama-se também «Providência de Deus»: Ele provê à nossa vida.

Não é por acaso que entre os símbolos cristãos da esperança existe um do qual eu gosto muito: a âncora. Ela exprime que a nossa esperança não é vaga; não deve ser confundida com o sentimento mutável de quem deseja aperfeiçoar as situações deste mundo de maneira irrealista, apostando unicamente na própria força de vontade. Com efeito, a esperança cristã encontra a sua raiz não na atração do futuro, mas na segurança daquilo que Deus nos prometeu e realizou em Jesus Cristo. Se Ele nos garantiu que nunca nos abandonará, se o princípio de cada vocação é um «Segue-me!», com o qual Ele nos assegura que permanecerá sempre à nossa frente, então por que devemos recear? Com esta promessa, os cristãos podem ir por toda a parte. Inclusive atravessando as regiões de um mundo ferido, onde a situação não é boa, nós estamos entre aqueles que até ali continuam a esperar. O salmo reza: «Ainda que eu atravesse um vale escuro, nada temerei, pois estais comigo» (Sl 23, 4). Exatamente onde se propaga a obscuridade é necessário manter acesa uma luz. Voltemos à âncora. A nossa fé é a âncora no céu. Mantemos a nossa vida ancorada no céu? Que devemos fazer? Segurar a corda: ela está sempre ali. E vamos em frente, porque estamos certos de que a nossa vida tem a sua âncora no céu, naquela margem onde chegaremos.

Sem dúvida, se confiássemos apenas nas nossas forças, teríamos razão de nos sentirmos desiludidos e derrotados, porque o mundo se demonstra muitas vezes refratário às leis do amor. Prefere frequentemente as leis do egoísmo. Mas se em nós sobreviver a certeza de que Deus não nos abandona, que Deus ama com ternura tanto a nós como a este mundo, então a perspetiva muda imediatamente. «Homo viator, spe erectus», diziam os antigos. Ao longo do caminho, a promessa de Jesus «Eu estou convosco» leva-nos a estar de pé, erguidos, com esperança, convictos de que o bom Deus já age para realizar aquilo que humanamente parece impossível, porque a âncora está na praia do céu.

O santo povo fiel de Deus é um povo que está de pé — «homo viator» — e caminha, mas de pé, «erectus», caminha na esperança. E onde quer que vá, sabe que o amor de Deus o precedeu: não há região do mundo que evite a vitória de Cristo Ressuscitado. E qual é a vitória de Cristo Ressuscitado? A vitória do amor. Obrigado!

Papa Francisco

(Audiência Geral, 26 de abril de 2017)

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