quarta-feira, 3 de maio de 2023

 TEMPO PASCAL - 2023

Quinta-feira da semana IV do Tempo Pascal - dia 26 - 04/05/2023

Evangelho    Jo 13, 16-20

«Em verdade, em verdade vos digo: O servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou.»

«Eu conheço aqueles que escolhi».

Estamos na Ceia após o lavar dos pés por parte de Jesus aos discípulos. O gesto e as palavras de Jesus pretendem ser um momento de envio dos apóstolos. Ao ver o que Jesus fez, sentem-se enviados a fazer o mesmo: “sereis felizes se o puserdes em prática”. Por outro lado, Judas surge no contexto do envio, sem que se diga o seu nome. Ele é excluído do envio porque “levantou contra mim o calcanhar”. Sentou-se à mesa, mas não estabeleceu comunhão, pelo que não participa da missão. Apesar disso, o acontecimento serve, como todas as coisas da vida de Jesus, para que “acrediteis que Eu sou”. De novo nos aparece aqui o “Eu sou”, que identifica Jesus com Deus. Finalmente o texto apresenta a preocupação pela hospitalidade. Os cristãos devem acolher os irmãos que andam de viagem, em especial os Apóstolos que vêm em nome de Jesus, mas ninguém deve ser como Judas que se sentou à mesa não para participar da missão, mas para se aproveitar da situação. Aquele que acolhemos à mesa é acolhido no coração e deve entrar na comunhão de vida e ação de Jesus.

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Naquele tempo, quando Jesus acabou de lavar os pés aos seus discípulos, disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: O servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. Sabendo isto, sereis felizes se o puserdes em prática. Não falo de todos vós: Eu conheço aqueles que escolhi; mas tem de cumprir-se a Escritura, que diz: ‘Quem come do meu pão levantou contra Mim o calcanhar’. Desde já vo-lo digo antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu Sou. Em verdade, em verdade vos digo: Quem recebe aquele que Eu enviar, a Mim recebe; e quem Me recebe a Mim, recebe Aquele que Me enviou».

Penso nas mesas em que me sento e nas pessoas com quem me sento para partilhar do mesmo pão. Penso na minha mesa e naqueles que sento comigo e a quem reparto o pão. Penso na mesa da Eucaristia onde nos sentamos tantos, tão frequentemente. Olho o meu coração e vejo-me demasiado pobre para ser como o Mestre, amando até me prostrar aos pés dos irmãos. Sinto-me tantas vezes como quem se senta para comer e não para comungar. Sinto-me tantas vezes como um aproveitador dos dons comuns sem pôr em comum os dons que tenho. Vejo que, termino sem acreditar o suficiente para poder identificar-me e sem experimentar a verdadeira alegria por não ser morada onde todos se podem acolher.

Eu não levantei o calcanhar contra ti, Senhor. Pelo menos não o fiz conscientemente. Sei que sou pobre. Sei que não tenho o teu coração. Sei que o orgulho não me deixa prostrar na lama onde mergulham os pés dos meus irmãos. Mas também sei que mesmo assim me sentas à tua mesa, me dás do teu pão e me envias a repartir por todos o dom do teu amor.

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Quanto poderia aprender cada cristão se, com «humildade», se deixasse ver por Jesus «com o mesmo olhar» com o qual o Mestre fitou os seus amigos durante a última Ceia. Poderia partilhar o privilégio que os apóstolos tiveram de receber e entender o que significa para a sua vida a «herança de Jesus», o «testamento» que Ele confiou com dois gestos: a instituição da Eucaristia e o lava-pés.

O Papa dedicou a meditação desta missa à hora suprema em que «Jesus se despede» dos apóstolos antes da paixão. Como de costume, Francisco inspirou-se num trecho do Evangelho do dia (Jo 16-20) em que «na alegria do tempo pascal» a Igreja faz meditar sobre «um momento triste, de angústia»: aquele no qual Jesus, que «sabe o que acontecerá», se despede «com o longo e bonito discurso contido nos capítulos de João», que precede as horas do Getsémani e da paixão. «Nesta despedida», frisou o Papa, o Senhor faz «dois gestos que são instituições: dois gestos para os discípulos e para toda a Igreja futura. Dois gestos que são, por assim dizer, o fundamento da sua doutrina»: a instituição da Eucaristia e o lava-pés. Destes gestos «nascem dois mandamentos: os dois mandamentos que levarão a Igreja a crescer, se formos fiéis».

Antes de tudo há o «primeiro mandamento» que é o «do amor». E é «novo» pois, explicou, «havia o mandamento do amor — amar o próximo como a si mesmo — mas este dá mais um passo: amar o próximo como Eu vos amei». Portanto: «amor ilimitado», sem o qual «a Igreja não progride nem respira. Sem o amor, ela não cresce, transforma-se numa instituição vazia, de aparências, de gestos infecundos». Com a Eucaristia, na qual Jesus «oferece como alimento o seu Corpo e como bebida o seu Sangue», Ele «diz como devemos amar, até ao fim».

Depois há outro gesto, o do lava-pés, em que «Jesus nos ensina o serviço, como caminho do cristão». Com efeito, «o cristão existe para servir, não para ser servido». E é uma regra válida para a vida inteira». Tudo está contido nela: «na história, muitos homens e mulheres» que a «levaram a sério» deixaram «vestígios de uma vida verdadeiramente cristã: de amor e de serviço». O Papa resumiu: «Eis a herança de Jesus: “Amai-vos como Eu amei” e “servi-vos uns aos outros”. Lavai os pés uns aos outros, como Eu os lavei a vós».

Portanto, na última Ceia o Senhor deixou os dois mandamentos do amor e do serviço, e depois «uma admoestação» que se lê no breve trecho evangélico proposto pela liturgia do dia: «Deveis amar-vos como servos, deveis servir porque sois servos». E a explicação destas palavras, observou o Papa, «é também uma regra de vida: “Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou”». Isto é: «Podeis celebrar a Eucaristia, podeis servir, mas enviados por mim, mandados por mim. Não sois maiores do que Eu». Em síntese, trata-se da «atitude da humildade simples, não fingida»: da humildade que vem da «consciência de que Ele é maior do que todos nós, e nós somos servos, e não podemos ultrapassar Jesus, não o podemos usar. Ele é o Senhor, não nós. Ele é o Senhor».

Portanto, eis «o testamento do Senhor. Oferece-se como alimento e bebida e diz-nos: amai-vos assim. Lava os pés, dizendo-nos: servi-vos assim, mas prestai atenção, o servo nunca é maior do que aquele que o envia». O «fundamento da Igreja» está contido em poucas linhas, disse Francisco.

São «palavras e gestos contundentes», comentou. Mas «se avançarmos com estas três coisas, nunca erraremos. Nunca!». Radical, forte mas «simples». De resto, «os mártires foram em frente assim». E também «muitos santos anónimos, na vida da Igreja, fizeram assim — os santos escondidos — com esta consciência de ser servos».

Um programa de vida relativamente ao qual, disse o Papa continuando a releitura do Evangelho, «há uma admoestação: “Eu conheço aqueles que escolhi”». Com efeito, o Senhor diz: “Sei que um de vós me trairá”». Que significa? Significa que «Jesus nos conhece. Jesus conhece-me». Por isso, o Pontífice sugeriu a cada cristão: «Acho que nos fará bem a todos, num momento de silêncio, deixar-nos olhar pelo Senhor e fitá-lo», reconhecer que Jesus nos «ensinou o amor com a Eucaristia» e «o serviço com o lava-pés», entender que «ninguém é maior do que aquele que o enviou», conscientes de estar diante de quem nos conhece. Nesse momento, acrescentou Francisco, é bom «deixar que o olhar de Jesus entre em nós. Sentiremos muitas coisas: sentiremos amor», ou talvez «fiquemos bloqueados, com vergonha». Contudo «deixemo-nos ver sempre pelo olhar de Jesus. O mesmo olhar com o qual, na última Ceia, Ele fitava os seus». É uma meditação em que o homem pode dizer humildemente: «Senhor, Tu conheces, Tu sabes tudo», como Pedro afirmou em Tiberíades: «Tu conheces, Tu sabes tudo. Tu sabes que te amo». Com efeito, o Senhor sabe o que existe no coração de cada um. Trata-se, concluiu o Pontífice, de uma «bonita prece», graças à qual «sentiremos muitas coisas».

Papa Francisco

(Santa Marta, 26 de abril de 2018)

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