segunda-feira, 15 de maio de 2023

  TEMPO PASCAL - 2023

Terça-feira da semana VI do Tempo Pascal - dia 38 - 16/05/2023

Evangelho Jo 16, 5-11

«Agora vou para Aquele que Me enviou»;

«Se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se Eu for, Eu vo-l’O enviarei.»

Este pequeno texto inserido no longo diálogo de Jesus com os discípulos, na Última Ceia, revela que a situação é cada vez mais difícil para os discípulos. Jesus tem que os provocar com perguntas, porque eles deixaram-se vencer pela tristeza e caíram num silêncio de morte. Jesus procura mostrar aos discípulos que a razão da sua tristeza não tem sentido. Eles ouviram Jesus falar da sua partida e ficaram tristes. Agora, Jesus mostra-lhes que é do seu interesse que Ele vá, primeiro porque se Ele não for não virá o Espírito e segundo porque o Espírito trará a justiça e o juízo sobre o mundo e conduzirá os discípulos na verdade. Eles têm a ganhar com a partida de Jesus.

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Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Agora vou para Aquele que Me enviou e nenhum de vós Me pergunta: ‘Para onde vais?’. Mas por Eu vos ter dito estas coisas, o vosso coração encheu-se de tristeza. No entanto, Eu digo-vos a verdade: É do vosso interesse que Eu vá. Se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se Eu for, Eu vo-l’O enviarei. Quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do julgamento: do pecado, porque não acreditam em Mim; da justiça, porque vou para o Pai e não Me vereis mais; do julgamento, porque o príncipe deste mundo já está condenado».

A simples notícia da eminente partida de Jesus, gera uma onda de tristeza à sua volta. Os discípulos estão inconsoláveis porque não podem aceitar nem entender que Jesus tenha que partir. Não há argumentos, não há palavras nem motivos que justifiquem tal necessidade. Jesus tem que lhes mostrar que é para seu bem. Acontece assim com muitas situações da nossa vida. Muitas vezes temos que perder algo ou alguém, mudar a situação real da nossa vida, sair do nosso lugar de conforto e experimentar o desconhecido enfrentando a novidade que é sempre desconsoladora. Jesus mostra-nos um bem maior para além das perdas que vão acontecendo na vida. Somos convidados a acolher a vida nestas mudanças e a enfrentar com entusiasmo e alegria, como uma promessa, o futuro que ainda não se conhece, mas que será tempo feliz e de grandes frutos.

Senhor Jesus, experimento muitas vezes o desconforto da mudança. A perda de alguém, a mudança das situações da minha vida, a suspeita perante a dificuldade ou a exigência de novos rumos quando já me encontrava confortavelmente instalado na vida que julgava ter conquistado. Nem sempre entendo porque tem de ser assim, porque tenho de recomeçar, porque tenho de partir para novos rumos e novos desafios. Dá-me um coração aventureiro capaz de ver em cada momento da vida não uma paragem confortável, mas uma partida para novos horizontes de alegria em plenitude.

«Ou és jovem de coração, de alma, ou não és plenamente cristão». A homilia do Papa foi um verdadeiro hino à vida, à vitalidade, à «juventude do Espírito», contrastando com a deriva cansada de muitas pessoas “reformadas” na alma, abatidas pelas dificuldades e pela tristeza porque «o pecado envelhece». Há um vento de alegria fundado no «grande dom que Jesus nos deixou»: o Espírito Santo.

Ponto de partida da reflexão do Pontífice foi o trecho evangélico do dia (Jo 16, 5-11) que contém um excerto do discurso de despedida dos apóstolos durante a última Ceia. Nesta ocasião Jesus «diz muitas coisas», mas «o centro deste discurso é o Espírito Santo». De facto, o Senhor oferece aos seus amigos uma autêntica «catequese sobre o Espírito Santo»: começa notando o seu estado de ânimo — «Por Eu ter dito que vou embora, a tristeza encheu o vosso coração» — e «reprova-os suavemente» pois, observou o Papa, «a tristeza não é uma atitude cristã».

A inquietação interior dos apóstolos que, face ao drama de Jesus e à incerteza sobre o futuro «começam a compreender o drama da paixão» pode ser comparada com a realidade de cada cristão. A este propósito Francisco recordou que na oração da coleta do dia «pedimos ao Senhor que mantenha em nós a renovada juventude do espírito», elevando assim uma invocação «contra a tristeza na prece». É precisamente este, acrescentou, o ponto: «O Espírito Santo faz com que em nós haja sempre esta juventude, que se renova todos os dias com a sua presença».

Aprofundando este conceito, o Pontífice recordou: «Uma grande santa disse que um santo triste é um triste santo; um cristão triste é um triste cristão: não é bom». O que significa? Que «a tristeza não entra no coração do cristão», porque ele «é jovem». Uma juventude que se renova e que «o faz carregar aos ombros muitas provações e dificuldades». O que — explicou referindo-se à primeira leitura tirada dos Atos dos Apóstolos (16, 22-34) — aconteceu, por exemplo, a Paulo e Silas que foram espancados e presos pelos magistrados em Filipos. Naquele momento, disse o Papa, «entra o Espírito Santo e renova tudo, faz tudo novo; rejuvenesce até o carcereiro». Por conseguinte, o Espírito Santo é aquele «que nos acompanha na vida, que nos ampara». Como é manifestado pelo nome que lhe dá Jesus: «Paráclito». Um termo insólito, cujo significado com frequência muitos não compreendem. Sobre isto o Pontífice brincou narrando uma breve história relativa a uma missa que celebrara quando era pároco: «Havia mais ou menos 250-300 crianças, era um domingo de Pentecostes e então perguntei-lhes: “Quem sabe quem é o Espírito Santo?”. E todos: “Eu, eu, eu!” — “Tu”: “O paralítico”, disse-me. Ele ouviu “Paráclito” e não entendeu o que era» e então respondeu «paralítico». Uma pronúncia errada divertida que contudo, disse Francisco, revela uma realidade: «Muitas vezes pensamos que o Espírito Santo é um paralítico, que nada faz... E ao contrário é quem nos ampara».

Com efeito, explicou o Pontífice, «a palavra paráclito significa “aquele que está ao meu lado para me apoiar” para que eu não caia, para que vá em frente, a fim de conservar esta juventude do Espírito». Eis porque «o cristão é sempre jovem: sempre. E quando o coração do cristão começa a envelhecer, começa a diminuir a sua vocação de cristão. Ou és jovem de coração, de alma ou não és plenamente cristão».

Alguém poderia assustar-se com as dificuldades e dizer: «“Mas como posso...?”: há o Espírito. O Espírito ajudar-te-á nesta renovada juventude». Isto não significa que faltem dores. Paulo e Silas, por exemplo, sofreram muito por terem sido espancados: «diz o texto que o carcereiro quando viu aquele milagre quis converter-se e levou-os a sua casa e cuidou das suas feridas com óleo... feridas graves, profundas...». Mas não obstante a dor, eles «estavam cheios de alegria, cantavam... Esta é a juventude. Uma juventude que te faz ver sempre a esperança».

E como se obtém esta juventude? «É preciso — disse o Papa — um diálogo diário com o Espírito Santo, que está sempre ao nosso lado». É o Espírito «o grande dom que Jesus nos deixou: este apoio, que te faz ir em frente». E assim, a quem disser: “Sim, Padre, é verdade, mas o senhor sabe, sou um pecador, cometi muitas ações más na minha vida e não consigo...», podemos responder: «Está bem: olha para os teus pecados; mas olha para o Espírito que está ao teu lado e fala com o Espírito: ele será o teu apoio e dar-te-á a juventude». Porque, acrescentou, «todos sabemos que o pecado envelhece. Envelhece a alma, envelhece tudo. Ao contrário, o Espírito ajuda-nos a arrepender-nos, a deixar o pecado de lado e a ir em frente com aquela juventude».

Por isso Francisco exortou a pôr de lado o que ele definiu «tristeza pagã», explicando: «Não digo que a vida é um carnaval: não, pois não é verdade. Na vida há cruzes, momentos difíceis. Mas nestes momentos difíceis sentimos que o Espírito nos ajuda a ir em frente, como ajudou Paulo e Silas, a superar as dificuldades. Até ao martírio. Porque há esta renovada juventude».

Para concluir a homilia eis o convite à oração: «Peçamos ao Senhor para não perder esta renovada juventude, para não sermos cristãos reformados que não sentem a alegria e não se deixam levar avante... O cristão nunca vai para a reforma; o cristão vive porque é jovem, quando é cristão verdadeiro».

Papa Francisco

(Capela de Santa Marta, 28 de maio de 2019)

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