TEMPO PASCAL - 2023
Sábado da semana VI do Tempo Pascal - dia 42 - 20/05/2023
EVANGELHO Jo 16, 23b-28
«Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo dará.»
A experiência da fé é um encontro com o Deus revelado por Jesus Cristo. Jesus, através de parábolas e também de forma clara, como ele mesmo diz, revela o mistério de Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. Entrar em intimidade com Deus é chegar ao seu coração e confiar que tudo o que lhe pedirmos ele nos concede, sobretudo aquilo que é para a nossa alegria. Jesus faz esta recomendação/revelação aos discípulos no momento em que está próxima a sua saída deste mundo.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Em verdade, em verdade vos digo: Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo dará. Até agora não pedistes nada em meu nome: pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa. Tenho-vos dito tudo isto em parábolas mas vai chegar a hora em que não vos falarei mais em parábolas: falar-vos-ei claramente do Pai. Nesse dia pedireis em meu nome; e não vos digo que rogarei por vós ao Pai, pois o próprio Pai vos ama, porque vós Me amastes e acreditastes que Eu saí de Deus. Saí de Deus e vim ao mundo, agora deixo o mundo e vou para o Pai».
Peço ao Pai a confiança de quem acredita que é possível viver e ser feliz.Caímos muitas vezes no equívoco de pensar que ter fé é acreditar que Deus existe, mas Jesus ensina-nos que acreditar é confiar que Deus é Pai e que podemos chegar ao seu coração e habitar aí tranquilamente. Jesus habita nesse coração divino porque é filho e apenas saiu para vir até nós e ensinar-nos o caminho para lá chegarmos. Olhando para Jesus percebemos o convite a segui-lo confiantes até ao coração do Pai onde todos os nossos desejos se realizarão numa alegria completa, quer dizer uma alegria à qual nada falta e que não se acaba.
Hoje, Senhor, sigo as tuas palavras e peço ao Pai que me dê a confiança de filho para vencer, nos desafios de cada dia, a tentação de julgar que só posso contar comigo.
Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação,mas livrai-nos do mal. Ámen.
Hoje passamos a analisar a
segunda parte do “Pai-Nosso”, aquela na qual apresentamos a Deus as nossas
necessidades. Esta segunda parte começa com uma palavra que perfuma o dia a
dia: o pão.
A oração de Jesus parte de uma
pergunta impelente, que é muito semelhante à imploração de um mendigo: “O pão
nosso de cada dia nos dai hoje!”. Esta oração provém de uma evidência que
muitas vezes esquecemos, ou seja, que não somos criaturas autossuficientes, e
que todos os dias precisamos de nos alimentar.
As Escrituras mostram-nos que
para muitas pessoas o encontro com Jesus se realizou a partir de uma pergunta.
Jesus não pede invocações requintadas, aliás, toda a existência humana, com os
seus problemas mais concretos e diários, se pode tornar prece. Nos Evangelhos encontramos
uma multidão de mendigos que suplicam libertação e salvação. Há quem pede o
pão, ou a cura; alguns a purificação, outros a vista; ou que uma pessoa
querida possa reviver... Jesus nunca fica indiferente face a estes pedidos e
padecimentos.
Por conseguinte, Jesus ensina a
pedir ao Pai o pão de cada dia. E ensina-nos a fazê-lo juntamente com muitos
homens e mulheres para os quais esta prece é um grito — muitas vezes abafado —
que acompanha a ansiedade de todos os dias. Quantas mães e quantos pais, ainda
hoje, vão dormir com o tormento de não ter no dia seguinte o pão suficiente
para os próprios filhos! Imaginemos esta oração recitada não na segurança de um
apartamento confortável, mas na precariedade de um ambiente ao qual se adapta,
onde falta o necessário para viver. As palavras de Jesus assumem uma força
nova. A oração cristã começa por este nível. Não é um exercício para ascetas;
parte da realidade, do coração e da carne de pessoas que vivem em necessidade,
ou que partilham a condição de quem não dispõe do necessário para viver. Nem
sequer os místicos cristãos mais elevados podem prescindir da simplicidade
deste pedido. “Pai, faz com que para nós e para todos, hoje, haja o pão
necessário”. E “pão” significa água, medicamentos, casa, trabalho... Pedir o
necessário para viver.
O pão que o cristão pede na
oração não é o “meu” pão mas o “nosso”. Assim quer Jesus. Ensina-nos a pedi-lo
não só para nós mesmos, mas para a inteira fraternidade do mundo. Se não se
rezar deste modo, o “Pai-Nosso” deixa de ser uma oração cristã. Se Deus é o
nosso Pai, como nos podemos apresentar a Ele sem nos darmos a mão? Todos nós. E
se roubarmos uns aos outros o pão que Ele nos concede, como podemos dizer que
somos seus filhos? Esta prece contém uma atitude de empatia, uma atitude de
solidariedade. Na minha fome sinto a fome das multidões, e então rezarei a Deus
enquanto o pedido delas não for ouvido. Assim Jesus educa a sua comunidade, a
sua Igreja, a apresentar a Deus as necessidades de todos: “Todos somos Vossos
filhos, tende piedade de nós!”. E agora far-nos-á bem pensar por alguns
momentos nas crianças famintas. Pensemos nas crianças que vivem em países em
guerra: nas crianças famintas do Iémen, nas crianças famintas na Síria, nas
crianças famintas em muitos países onde não há pão, no Sudão do Sul. Pensemos
nestas crianças e pensando nelas recitemos juntos, em voz alta, a prece: “Pai,
o pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Todos juntos.
O pão que pedimos ao Senhor na
oração é o mesmo que um dia nos acusará. Repreender-nos-á o pouco hábito de o
repartir com quem está próximo, o pouco hábito de o repartir. Era um pão
oferecido à humanidade, e ao contrário foi comido só por alguns: o amor não
pode suportar isto. O nosso amor não o pode suportar; nem sequer o amor de Deus
pode suportar este egoísmo de não repartir o pão.
Certa vez havia uma grande
multidão diante de Jesus; eram pessoas que tinham fome. Jesus perguntou se
havia entre eles quem tivesse alguma coisa, e viu que só uma criança estava
disposta a partilhar aquilo de que dispunha: cinco pães e dois peixes. Jesus
multiplicou aquele gesto generoso (cf. Jo 6, 9). Aquele menino
tinha compreendido a lição do “Pai-Nosso”: que os alimentos não são propriedade
individual — convençamo-nos disto: os alimentos não são propriedade individual
— mas providência a partilhar, com a graça de Deus.
O verdadeiro milagre realizado
por Jesus naquele dia não foi tanto a multiplicação — que foi verdadeira — mas
a partilha: dai-me o que tendes e eu farei o milagre. Ele mesmo, multiplicando
aquele pão oferecido, antecipou a oferenda de Si no Pão eucarístico. Com
efeito, só a Eucaristia é capaz de saciar a fome de infinito e o desejo de Deus
que anima cada homem, até na busca do pão de cada dia.
Papa Francisco
(Audiência Geral, 27 de março de 2019)
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