TEMPO PASCAL - 2023
Quarta-feira da semana VI do Tempo Pascal - dia 39 - 17/05/2023
Evangelho
Jo 16, 12-15
«Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena»
O texto é muito interessante. Fala de uma verdade que não é deste mundo e, por isso, os que ainda vivem os critérios deste mundo têm dificuldade em entender. Esta verdade é a revelação da intimidade de Deus que só o Espírito conhece e só Ele pode revelar. É algo que não se conhece agora, mas que se perceberá no futuro, quando vier o Espírito, porque só Ele nos pode guiar para a verdade.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vos há de anunciá-lo. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vos há de anunciá-lo».
Ainda não consigo entender as palavras de Jesus, porque estou demasiado mundanizado. As minhas preocupações ainda estão ao nível das necessidades básicas e na busca do bem-estar pessoal e familiar. Não me é fácil experimentar a preocupação pela verdade, pelas coisas do Espírito, pelo que me é oferecido para depois, quando este mundo passar. Os meus olhos ainda não se abriram para Jesus e o meu coração está longe de se render ao Espírito. Preciso fazer ainda muita dieta espiritual para começar a desejar a verdade como alimento e a alegria como experiência do encontro eterno com Deus.
Guia-me, Senhor, com o teu Espírito. Guia-me pelo caminho da verdade e faz com que
me apaixone pelo conhecimento da tua intimidade como lugar da revelação do
mistério do meu próprio ser. Que eu me encontre em ti e em ti me reconheça
amado e te encontre em mim e aí te ame no Espírito que em mim depositaste.
Prezados
irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, gostaria de meditar sobre
a acção que o Espírito Santo realiza ao guiar a Igreja e cada um de nós para a
Verdade. O próprio Jesus diz aos discípulos: o Espírito Santo «ensinar-vos-á
toda a verdade» (Jo 16, 13), dado que Ele mesmo é «o Espírito da
Verdade» (cf. Jo 14, 17; 15, 26; 16, 13).
Vivemos numa época em que se é
bastante cético em relação à verdade. Bento XVI falou muitas vezes de
relativismo, ou seja, da tendência a considerar que não existe nada de
definitivo e a pensar que a verdade depende do consenso ou daquilo que nós
queremos. Surge a interrogação: existe verdadeiramente «a» verdade? O que é «a»
verdade? Podemos conhecê-la? Conseguimos encontrá-la? Aqui vem ao meu
pensamento a pergunta do Procurador romano Pôncio Pilatos, quando Jesus lhe
revela o sentido profundo da sua missão: «Que é a verdade?» (Jo 18,
37.38). Pilatos não consegue entender que «a» Verdade está diante dele, não
consegue ver em Jesus o rosto da verdade, que é o rosto de Deus. E no entanto,
Jesus é precisamente isto: a Verdade que, na plenitude dos tempos, «se fez
carne» (Jo 1, 1.14), veio habitar no meio de nós para que nós a
conhecêssemos. A verdade não se captura como uma coisa, mas a verdade
encontra-se. Não é uma posse, é um encontro com uma Pessoa.
Mas quem nos faz reconhecer que
Jesus é «a» Palavra da verdade, o Filho unigénito de Deus Pai? São Paulo ensina
que «ninguém pode dizer: “Jesus é o Senhor”, a não ser sob a acção do Espírito
Santo» (1 Cor 12, 3). É precisamente o Espírito Santo, o dom de
Cristo ressuscitado, que nos faz reconhecer a Verdade. Jesus define-o o
«Paráclito», ou seja, «aquele que vem em ajuda», que está ao nosso lado para
nos sustentar, neste caminho de conhecimento; e, durante a última Ceia, Jesus
garante aos discípulos que o Espírito Santo há-de ensinar todas as coisas,
recordando-lhes as suas palavras (cf. Jo 14, 26).
Então, qual é a acção do
Espírito Santo na nossa vida e na existência da Igreja, para nos guiar rumo à
verdade? Antes de tudo, recorda e imprime nos corações dos fiéis as palavras
que Jesus disse e, precisamente através de tais palavras, a lei de Deus — como
tinham anunciado os profetas do Antigo Testamento — inscreve-se no nosso
coração e em nós torna-se princípio de avaliação das escolhas e de orientação
nas obras quotidianas, torna-se princípio de vida. Realiza-se a grande profecia
de Ezequiel: «Derramarei sobre vós águas puras, que vos purificarão de todas as
vossas manchas e de todas as vossas abominações. Dar-vos-ei um coração novo e
em vós porei um espírito novo... Dentro de vós colocarei o meu espírito,
fazendo com que obedeçais às minhas leis e sigais e observeis os meus
preceitos» (36, 25-27). Com efeito, é do íntimo de nós mesmos que nascem as
nossas obras: é precisamente o coração que deve converter-se a Deus, e o
Espírito Santo transforma-o, se nós nos abrirmos a Ele.
Além disso o Espírito Santo,
como Jesus promete, orienta-nos «para toda a verdade» (Jo 16, 13);
guia-nos não só para o encontro com Jesus, plenitude da Verdade, mas fá-lo inclusive
«dentro» da Verdade, ou seja, faz-nos entrar numa comunhão cada vez mais
profunda com o próprio Jesus, proporcionando-nos a compreensão das realidades
de Deus. E não a podemos alcançar só com as nossas forças. Se Deus não nos
iluminar interiormente, o nosso ser cristãos será superficial. A Tradição da
Igreja afirma que o Espírito da verdade age no nosso coração, suscitando aquele
«sentido da fé» (sensus fidei) através do qual, como afirma o Concílio
Vaticano II, o Povo de Deus, sob a guia do Magistério, adere indefetivelmente
à fé transmitida, aprofunda-a com juízo reto e aplica-a mais plenamente na
vida (cf. Constituição dogmática Lumen gentium, 12). Procuremos
perguntar-nos: estou aberto à acção do Espírito Santo, peço-lhe que me conceda
a luz, que me torne mais sensível às realidades de Deus? Esta é uma oração que
devemos recitar todos os dias: «Espírito Santo, fazei com que o meu coração permaneça
aberto à Palavra de Deus, que o meu coração esteja aberto ao bem, que o meu
coração se abra à beleza de Deus todos os dias». Gostaria de dirigir uma
pergunta a todos: quantos de vós rezam todos os dias ao Espírito Santo? Serão
poucos, mas nós temos que satisfazer este desejo de Jesus e rezar todos os dias
ao Espírito Santo, para que abra o nosso coração a Jesus.
Pensemos em Maria, que
«conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração» (Lc 2,
19.51). Para que se torne vida, o acolhimento das palavras e das verdades da fé
realiza-se e desenvolve-se sob a obra do Espírito Santo. Neste sentido, é
necessário aprender de Maria, reviver o seu «sim», a sua disponibilidade total
a receber o Filho de Deus na sua vida, que se transforma a partir daquele
momento. Através do Espírito Santo, o Pai e o Filho passam a habitar em nós:
nós vivemos em Deus e de Deus. Mas a nossa vida é verdadeiramente animada por
Deus? Quantas coisas ponho antes de Deus?
Estimados irmãos e irmãs, temos necessidade de nos deixarmos inundar pela luz do Espírito Santo, para que Ele nos introduza na Verdade de Deus, que é o único Senhor da nossa vida. (...)
Não se
é cristão «a tempo parcial», apenas em determinados momentos, em certas
circunstâncias, nalgumas escolhas. Não se pode ser cristão assim, somos
cristãos em cada momento! Totalmente! A verdade de Cristo, que o Espírito Santo
nos ensina e nos concede, diz respeito sempre e totalmente à nossa vida
quotidiana. Invoquemo-lo mais frequentemente, a fim de que nos oriente pelo
caminho dos discípulos de Cristo. Invoquemo-lo todos os dias. Faço-vos esta
proposta: invoquemos o Espírito Santo todos os dias, e assim o Espírito Santo
aproximar-nos-á de Jesus Cristo.
Papa Francisco
(Audiência Geral, 15 de maio de 2013)
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