QUARESMA PASSO A PASSO
Semana Santa
2024 - Ano B
38º Dia –
Quinta-feira – Semana Santa – 28/03/2024
«Senhor, Tu vais lavar-me os pés?.»
Evangelho Jo 13, 1-15
O texto inicia com a indicação da chegada da hora de Jesus. A sua partida está eminente. O seu amor aos discípulos é incondicional e até ao fim. As forças de confronto, Jesus e o demónio, são claras e manifestam-se nos discípulos particularmente em Judas. O Mestre deixa o seu testemunho de vida lavando os pés aos discípulos, gesto que eles não compreendem, por agora, mas compreenderão mais tarde. Do mesmo modo que o Mestre, eles serão servos uns dos outros por amor.
“Antes
da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a Sua hora de passar deste mundo
para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. No
decorrer da ceia, tendo já o Demónio metido no coração de Judas Iscariotes,
filho de Simão, a ideia de O entregar, Jesus, sabendo que o Pai Lhe tinha dado
toda a autoridade, sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se
da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura. Depois, deitou água
numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha
que pusera à cintura. Quando chegou a Simão Pedro, este disse-Lhe: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «O
que estou a fazer, não o podes entender agora, mas compreendê-lo-ás mais
tarde». Pedro insistiu: «Nunca consentirei que me laves os pés». Jesus
respondeu-lhe: «Se não tos lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro
replicou: «Senhor, então não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça».
Jesus respondeu-lhe: «Aquele que já tomou banho está limpo e não precisa de
lavar senão os pés. Vós estais limpos, mas não todos». Jesus bem sabia quem O
havia de entregar. Foi por isso que acrescentou: «Nem todos estais limpos».
Depois de lhes lavar os pés, Jesus tomou o manto e pôs-Se de novo à mesa. Então
disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e
dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés,
também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que,
assim como Eu fiz, vós façais também».”
Aquele
que se baixa para lavar os pés é o que tem o poder e a vitória sobre o demónio.
O poder do mal não se vence e a voz da loucura não se cala senão diante do
poder do amor, da caridade, que se dispõe a servir como escravo. O exemplo de
Jesus é claro e aquele que o imitar nesta atitude de serviço participará da sua
vitória. Tomar parte com Jesus exige ultrapassar os critérios estritamente
humanos de escravo e Senhor e aprender a nova linguagem social, a caridade.
Glória ao Pai, ao Filho e ao
Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre. Ámen.
João não descreve o relato da
última ceia como fazem os demais evangelistas. O seu discurso revela o espírito
eucarístico como “Lei do Amor”, caminho de maturidade espiritual num clima
marcado pelo afeto filial e fraterno de Jesus.
A Páscoa é a grande festa do
povo judeu, em que faz memória da saída do Egito e da opressão.
Antes desta festa, Jesus quer
cear com os seus amigos – discípulos, de modo solene, numa oportunidade
reveladora da riqueza do Reino de Deus.
Jesus percebe que tinha
chegado a ‘Sua hora’, o momento de “passar deste mundo para o Pai”!
Não é um caminho fácil, porque
Jesus tem vínculos estreitos de amor com “os seus”, e esse mesmo amor leva-O a
separar-Se deles.
É o preço que terá que pagar por ter anunciado
o Reino de Deus: Reino
pleno da pureza
do Amor em gratuidade
de entrega, de verdadeira alegria, e da paz como oferta de vida e justiça para todos.
Estas realidades que são
desejadas por cada coração humano, só podem ser verdadeiras se verificadas na
vivência de uma prática através da conduta, que os poderes deste mundo ficam
recalcitrantes em admitir.
O gesto profético de Jesus, de Se levantar para lavar os pés dos seus discípulos, é expressão de acolhimento e serviço,
pedagogia de inversão de paradigmas estabelecidos pela hierarquia social. Ao
inverter os termos, o Seu Amor leva-O ao serviço mais humilde.
Pedro protesta, e isso não O
detém, fazendo-lhe ver a importância do que está a acontecer.
Não excetua Judas, mas adverte
que “nem todos estão limpos”,
dando-lhe a oportunidade de reconsiderar e tomar consciência do que está
prestes a fazer. A pergunta é: “compreendeis o que Eu fiz?”
Ao lavar os pés dos
discípulos, Jesus vive o ‘ministério do serviço entre os irmãos como o Senhor e
o Filho glorificado pelo Pai’ (Jo 13, 31). Filho
identificado com o Pai de tal maneira, que conhecer a Jesus é conhecer o Pai (Jo 14, 9), glorificação da humanidade quando
se tornar discípula de Jesus e produzir frutos
de seguimento.
O Reino que anuncia
é descrito como vida eterna,
uma vida que começa na história, porque
consiste em crescer no conhecimento de quem é o Pai e o Filho e na prática da Sua única lei: a de nos amarmos uns aos outros
como Jesus nos amou, dispostos a entregar a vida em favor dos irmãos,
medida de amor que revela a vontade do Pai como Rei.
Jesus ensina na ceia que não
há lei se não houver amor, essa é a única lei! O que parece estar em oposição,
quando exercitado chega a um ponto em que lei e amor se fundem numa única
realidade. A autonomia da liberdade (amor) busca conhecer o desejo do Amado, o
Outro, que pela lei oferece toda a expressão do Seu Amor na liberdade.
As palavras de Jesus que
consagram o pão e o vinho em corpo e sangue são anúncio de algo que ocorrerá na
sexta-feira da Sua Paixão e Morte, e representam o compromisso de algo que se
irá realizar, juramento e promessa de doação total.
A eucaristia é memória de todo
o Mistério Pascal: promessa realizada na quinta-feira e que se concretiza na
sexta-feira santa, englobando a aceitação do Pai e dos irmãos, e a revelação no
domingo da ressurreição.
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