QUARESMA PASSO A PASSO
Semana Santa
2024 - Ano B
37° Dia – Quarta-feira - Semana Santa - 26/03/2024
«A partir de então Judas procurava uma
ocasião para O entregar .»
O
texto de Mateus está construído a partir de uma atitude de entrega. Temos em
cena aquele que procura todos os meios para entregar Jesus, aqueles a quem ele
vai ser entregue e Jesus que se entrega. Judas quer entregar o Mestre, o Mestre
quer entregar-se pelos homens e os príncipes dos sacerdotes estão dispostos a
pagar para que lhes seja entregue. Há também, na cena, quem recebe Jesus em sua
casa para celebrar a Páscoa, os que ficam tristes com as suas palavras, uma
sentença antes de se saber quem é o traidor e um traidor que se denuncia.
“Naquele tempo, um dos Doze, chamado Iscariotes, foi
ter com os príncipes dos sacerdotes e disse-lhes: “Que estais dispostos a
dar-me para vos entregar Jesus?” Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. A
partir de então, Judas procurava uma oportunidade para O entregar. No primeiro
dia dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe: “Onde
queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?” Ele respondeu “Ide à
cidade, a casa de tal pessoa, e dizei-lhe: “O Mestre manda dizer: o meu tempo
está próximo. É em tua casa que Eu quero celebrar a Páscoa com os meus
discípulos”. Os discípulos fizeram como Jesus lhes tinha mandado e prepararam a
Páscoa. Ao cair da tarde, sentou-Se à mesa com os Doze. Enquanto comiam
declarou: “Em verdade vos digo: Um de vós Me entregará”. Profundamente
entristecidos, começou cada um a perguntar-Lhe: “Serei eu Senhor?” Jesus
respondeu: “Aquele que meteu comigo a mão no prato é que vai entregar-Me. O
Filho do homem vai partir, como está escrito acerca d’Ele. Mas ai daquele por
quem o Filho do homem vai ser entregue! Melhor seria para esse homem não ter
nascido”. Judas, que O ia entregar, tomou a palavra e perguntou: “Serei eu,
Mestre?” Respondeu Jesus: “Tu o disseste”.”
Serei
eu? É a pergunta que chega até mim. Serei eu quem está disposto a entregá-l'O?
Serei eu quem está disposto a pagar para poder dominá-l'O e calá-l'O para sempre?
Serei eu quem deseja abrir as portas de casa para O receber? A resposta a estas
perguntas sai da boca de Jesus: “Tu o disseste”. Mas que disse eu? O meu
coração fala e diz se eu O entrego, se O quero calar ou se O recebo em minha
casa. Olho o meu coração para vigiar sobre ele e não permitir que se corrompa
com o poder do mal.
Pai-Nosso, que estais nos céus, santificado seja o
Vosso Nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade assim na
terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas
ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis
cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Ámen.
Na Quarta-Feira Santa, a Igreja propõe-nos que
meditemos o Evangelho de Jesus segundo Mt 26, 14-25. Esta leitura apresenta-nos
a traição de Judas. Descreve-nos como Judas foi ter com os chefes dos
sacerdotes e se ofereceu para trair Jesus. Aceitou trinta moedas de prata como
recompensa da sua traição. Por apenas trinta moedas de prata, um dos Doze
entregou o Mestre! Por quantas moedas cada um de nós tem vendido Jesus? É
chegada a hora das trevas!
Com um simples beijo Judas planeia vender o seu
mestre. Por trinta moedas traça-se o poder financeiro, material e finito pela
vida, dom de Deus. Uma verdadeira contradição, o dono de tudo é trocado pelo
dinheiro. Ontem como hoje a opção pelo dinheiro e a rejeição da vida têm falado
mais alto.
Estamos hoje diante da agonia de Jesus no Monte das
Oliveiras quando, diante do sofrimento que passaria nas próximas horas, Jesus,
numa tristeza mortal, num gesto humano suplica ao Pai: “Meu Pai, se é possível,
afasta de Mim este cálice” (Mt 26, 39). Mas imediatamente, como cordeiro que
vai para o matadouro, diz: “Contudo, não seja feito como Eu quero, mas como Tu
queres” (Mt 26, 39). É a Vítima perfeita que Se entrega, é o Cordeiro Pascal, é
Aquele que tira o pecado do mundo por Amor! É o Bom Pastor, Aquele que dá a
vida pelas Suas ovelhas!
Hoje, São Mateus revela-nos o modo como Jesus foi traído por um dos Seus homens de confiança. O evangelho destaca que o gesto estava inserido num contexto maior do desígnio divino sobre o destino do Messias. Nem por isso a sua responsabilidade foi menor. As palavras terríveis que recaíram sobre ele não deixam dúvida a este respeito: “Seria melhor que nunca tivesse nascido!” Só Judas age na contramão da vontade do Mestre, mesmo que a sua decisão, já estivesse no contexto da vontade de Deus.
A atitude cristã, que devemos ter, é a de corresponder à graça divina, e não a desprezar, traindo o Amor de Cristo, como fez Judas. Peçamos ao Senhor que nos conceda uma fé firme e permanente a ponto de fazermos a diferença neste mundo, cheio de ganância e numa busca constante de privilégios e, sobretudo, onde parece que o grito de Maquiavel “os fins justificam os meios” continua ditando normas. Tira-se a vida em troca de Poder, Prazer e Posse. Jesus faz do dom da Sua vida entregue, doada livremente por nós, a Nova e Eterna Aliança com o Pai celeste, a fim de que, livres do pecado, vivamos agora na liberdade de filhos e filhas de Deus.
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