sábado, 9 de março de 2024

 QUARESMA PASSO A PASSO

Semana IV  

2024 - Ano B

Tema da quarta semana: «Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna.»

Domingo IV – 10/03/2024

Evangelho Jo 3, 14-21

«...o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna.»;

«Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna.»

«...a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras.»

Hoje é um domingo especial na caminhada quaresmal, que nos projeta para a libertação, como que dando-nos força, energia suplementar, para enfrentarmos todos os obstáculos que ainda temos de ultrapassar na caminhada para a Páscoa. Neste domingo, como sinal exterior, até os paramentos são rosa e não roxos como é usual no tempo litúrgico que vivemos. Recarreguemos as nossas baterias e demos graças e louvores a Deus que nos providenciou tão saboroso manjar.

Nas leituras de hoje, se por um lado somos confrontados com as consequências das nossas opções e das nossas escolhas, por outro, somos invadidos por uma grande alegria, pois, pela misericórdia infinita de Deus, e pelo Sua Graça, recebemos a certeza de que se fizermos como Nicodemos e O procurarmos, de coração sincero, encontra-l’O-emos e n’Ele seremos verdadeiramente felizes.



Na 1ªleitura (2 Cr 36, 14-16.19-23) escutamos um pouco da história do povo de Israel, focada numa época de muitas infidelidades para com Deus e nos sofrimentos suportados, como consequência da tomada, pelos príncipes dos sacerdotes e pelo povo, de más escolhas e péssimas decisões. No entanto, o que mais ressalta nesta leitura é a misericórdia, o Amor infinito de Deus, que, através de um rei persa, Ciro, lhes restitui a alegria do regresso a casa, com a promessa da reconstrução do templo em Jerusalém. 

"Naqueles dias, todos os príncipes dos sacerdotes e o povo multiplicaram as suas infidelidades, imitando os costumes abomináveis das nações pagãs, e profanaram o templo que o Senhor tinha consagrado para Si em Jerusalém. O Senhor, Deus de seus pais, desde o princípio e sem cessar, enviou-lhes mensageiros, pois queria poupar o povo e a sua própria morada. Mas eles escarneciam dos mensageiros de Deus, desprezavam as suas palavras e riam-se dos profetas, a tal ponto que deixou de haver remédio, perante a indignação do Senhor contra o seu povo. Os caldeus incendiaram o templo de Deus, demoliram as muralhas de Jerusalém, lançaram fogo aos seus palácios e destruíram todos os objetos preciosos. O rei dos caldeus deportou para Babilónia todos os que tinham escapado ao fio da espada; e foram escravos deles e de seus filhos, até que se estabeleceu o reino dos persas. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciara pela boca de Jeremias: «Enquanto o país não descontou os seus sábados, esteve num sábado contínuo, durante todo o tempo da sua desolação, até que se completaram setenta anos». No primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, para se cumprir a palavra do Senhor, pronunciada pela boca de Jeremias, o Senhor inspirou Ciro, rei da Pérsia, que mandou publicar, em todo o seu reino, de viva voz e por escrito, a seguinte proclamação: «Assim fala Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus do Céu, deu-me todos os reinos da terra e Ele próprio me confiou o encargo de Lhe construir um templo em Jerusalém, na terra de Judá. Quem de entre vós fizer parte do seu povo ponha-se a caminho e que Deus esteja com ele»."

Na 2ªleitura (Ef 2, 4-10) S.Paulo, de uma forma única e profunda, faz ressaltar o Amor misericordioso e infinito de Deus por cada um de nós. Fá-lo centrando-nos no essencial da nossa fé: o imenso Amor que Deus nos tem e que se manifestou em Jesus Cristo, que nos salvou, morreu e ressuscitou, continua vivo, habita o coração de todo o que procura o Senhor sinceramente, com todas as sua forças. Deixemos que Deus nos preencha com a Sua Graça e faça de nós transmissores do Seu Amor a todos os que connosco vivem, ou se cruzam nos caminhos da vida.

"Irmãos: Deus, que é rico em misericórdia, pela grande caridade com que nos amou, a nós, que estávamos mortos por causa dos nossos pecados, restituiu-nos à vida com Cristo – é pela graça que fostes salvos – e com Ele nos ressuscitou e com Ele nos fez sentar nos Céus. Assim quis mostrar aos séculos futuros a abundante riqueza da sua graça e da sua bondade para connosco, em Jesus Cristo. De facto, é pela graça que fostes salvos, por meio da fé. A salvação não vem de vós: é dom de Deus. Não se deve às obras: ninguém se pode gloriar. Na verdade, nós somos obra de Deus, criados em Jesus Cristo, em vista das boas obras que Deus de antemão preparou, como caminho que devemos seguir."

No evangelho (Jo 3,14-21) é o próprio Jesus quem nos diz que todo aquele que procura Deus, de coração sincero e todo se Lhe entrega, acreditando verdadeiramente n’Ele, o Filho Único de Deus, esse encontrou a salvação. 

"Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus. E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras. Todo aquele que pratica más ações odeia a luz e não se aproxima dela, para que as suas obras não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus."

Bendito e louvado seja Deus, no seu imenso Amor por toda a humanidade e por cada um de nós, em particular.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Neste quarto domingo de Quaresma a liturgia eucarística começa com este convite: «Alegra-te, Jerusalém...». (cf. Is 66, 10). Qual é a razão desta alegria? Em plena Quaresma, qual é o motivo desta alegria? O Evangelho de hoje diz-nos: Deus «amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho único, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). Esta jubilosa mensagem é o coração da fé cristã: o amor de Deus encontrou o seu ápice no dom do seu Filho à humanidade débil e pecadora. Ele doou-nos o seu Filho, a nós, a todos nós.

Isto manifesta-se no diálogo noturno entre Jesus e Nicodemos, do qual a própria página do Evangelho descreve uma parte (cf. Jo 3, 14-21). Nicodemos, como qualquer membro do povo de Israel, aguardava o Messias, identificando-o como um homem forte que iria julgar o mundo com poder. Ao contrário, Jesus põe em crise esta expetativa ao apresentar-se sob três aspetos: o do Filho do homem exaltado na cruz; o do Filho de Deus enviado ao mundo para a salvação; e o da luz que distingue quantos seguem a verdade dos que seguem a mentira. Vejamos estes três aspetos: Filho do Homem, Filho de Deus e luz.

Jesus apresenta-se antes de mais como o Filho do homem (vv. 14-15). O texto alude à história da serpente de bronze (cf. Nm 21, 4-9) que, pela vontade de Deus, foi levantada por Moisés no deserto quando o povo foi atacado por serpentes venenosas; quem era mordido e olhava para a serpente de bronze ficava curado. Do mesmo modo, Jesus foi levantado na cruz e aqueles que acreditam n’Ele são curados do pecado e vivem.

O segundo aspeto é o do Filho de Deus (vv. 16-18). Deus Pai ama os homens ao ponto de “dar” o seu Filho: Ele doou-o na Encarnação e doou-o ao entregá-lo à morte. O propósito do dom de Deus é a vida eterna dos homens: de facto, Deus envia o seu Filho ao mundo não para o condenar, mas para que o mundo possa ser salvo através de Jesus. A missão de Jesus é uma missão de salvação, de salvação para todos.

O terceiro nome que Jesus se atribui é “luz” (vv. 19-21). O Evangelho diz: «a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz» (v. 19). A vinda de Jesus ao mundo provoca uma escolha: quem escolhe as trevas enfrenta um julgamento de condenação, quem escolhe a luz terá um julgamento de salvação. O julgamento é sempre a consequência da livre escolha de cada um: quem pratica o mal procura as trevas, o mal esconde-se sempre, cobre-se. Quem faz a verdade, isto é, pratica o bem, vem à luz, ilumina os caminhos da vida. Quem caminha na luz, quem se aproxima da luz, realiza boas obras. A luz leva-nos a praticar boas obras. É isto que somos chamados a fazer com maior empenho durante a Quaresma: acolher a luz na nossa consciência, para abrir os nossos corações ao amor infinito de Deus, à sua misericórdia cheia de ternura e bondade, ao seu perdão. Não vos esqueçais que Deus perdoa sempre, sempre, se pedirmos humildemente perdão. É suficiente pedir perdão, e Ele perdoa. Desta forma, encontraremos a verdadeira alegria e poderemos regozijar-nos com o perdão de Deus que regenera e dá vida.

Maria Santíssima nos ajude a não ter medo de nos deixarmos “entrar em crise” por Jesus. É uma crise saudável, para a nossa cura; para que a nossa alegria possa ser plena.

Papa Francisco

(Angelus, 14 de março de 2021)

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