sábado, 2 de março de 2024

 QUARESMA PASSO A PASSO

Semana III  

2024 - Ano B

Tema da terceira semana: «DESTRUÍ ESTE TEMPLO, E EM TRÊS DIAS O LEVANTAREI.»

Domingo III – 03/03/2024

Evangelho Jo 2, 13-25

«Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio.»

As leituras deste Domingo projetam-nos, como que por antecipação, para a Cruz e, simultaneamente, para a Ressurreição de Cristo. Jesus é o Filho de Deus e apresenta-se no templo por ocasião da Páscoa dos judeus. Há de voltar uma outra vez, mas para celebrar a Sua Páscoa, dando a vida na Cruz como semente lançada à terra de onde vai ressurgir a vida nova da Ressurreição.

Na 1ªleitura (Ex 20, 1-17) recebemos os mandamentos que o Senhor deu a Moisés, que são meios para que a liberdade conquistada na saída do Egito se torne uma realidade permanente. Estes preceitos de ontem continuam válidos hoje, para nós, o novo povo de Israel, desde que nos conduzam ao reconhecimento de Deus como o Único Senhor e do próximo como lugar da Sua presença.

Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas palavras: «Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, dessa casa de escravidão. Não terás outros deuses perante Mim. Não farás para ti qualquer imagem esculpida, nem figura do que existe lá no alto dos céus ou cá em baixo na terra ou nas águas debaixo da terra. Não adorarás outros deuses nem lhes prestarás culto. Eu, o Senhor, teu Deus, sou um Deus cioso: castigo a ofensa dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem; mas uso de misericórdia até à milésima geração para com aqueles que Me amam e guardam os meus mandamentos. Não invocarás em vão o nome do Senhor, teu Deus, porque o Senhor não deixa sem castigo aquele que invoca o seu nome em vão. Lembrar-te-ás do dia de sábado, para o santificares. Durante seis dias trabalharás e levarás a cabo todas as tuas tarefas. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem os teus animais domésticos, nem o estrangeiro que vive na tua cidade. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso, o Senhor abençoou e consagrou o dia de sábado. Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te vai dar. Não matarás. Não cometerás adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença».”

Na 2ªleitura (1Cor 1, 22-25) S.Paulo Paulo escreve para os cristãos de Corinto e questiona-os a eles e também a nós, hoje, sobre o mistério da Cruz de Cristo, esperando que nos definamos ou do lado dos judeus, a quem a Cruz escandaliza, ou do lado dos gregos, para quem a Cruz é loucura. E alerta para o facto de que, na loucura e fraqueza da Cruz de Cristo se escondem a sabedoria e o poder de Deus para os que foram chamados.

“Irmãos: Os judeus pedem milagres e os gregos procuram a sabedoria. Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios; mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.”

No evangelho (Jo 2, 13-25) escutamos Jesus a falar em sentido figurado, pois quando se refere à reconstrução do templo, fala do Seu Corpo, que é a Igreja. Três dias é o número divino que aponta para uma resposta de Deus que torna possível o que para os homens é impossível. A força dos gestos e das palavras de Jesus só tem sentido à luz da Sua Ressurreição.

“Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo, e Tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem.”

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

 

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho de hoje apresenta, na versão de João, o episódio em que Jesus expulsa os vendilhões do templo de Jerusalém (cf. Jo 2, 13-25). Ele fez este gesto com a ajuda de um chicote de cordas, virou as mesas e disse: «Não façais da casa do meu Pai uma casa de negociantes!» (v. 16). Esta ação decidida, realizada na proximidade da Páscoa, suscitou grande impressão na multidão, e a hostilidade das autoridades religiosas e de quantos se sentiram ameaçados nos seus interesses económicos. Mas como a devemos interpretar? Sem dúvida, não era uma ação violenta, a ponto que não provocou a intervenção dos defensores da ordem pública, da polícia. Não! Mas foi entendida como uma ação típica dos profetas, que muitas vezes, em nome de Deus, denunciavam abusos e excessos. A questão que se apresentou era a da autoridade. Com efeito, os judeus perguntaram a Jesus: «Que sinal nos apresentas Tu, para procederes deste modo (v. 18), ou seja, que autoridade tens para fazer estas coisas? Como se exigissem a demonstração de que Ele agia verdadeiramente em nome de Deus.

Para interpretar o gesto de Jesus, de purificar a casa de Deus, os seus discípulos serviram-se de um texto bíblico tirado do Salmo 69: «O zelo pela tua casa consumir-me-á» (Jo 2, 17); assim reza o Salmo: «O zelo pela tua casa consumir-me-á». Este Salmo é uma invocação de ajuda numa situação de perigo extremo, por causa do ódio dos inimigos: a situação que Jesus viverá na sua paixão. O zelo pelo Pai e pela sua casa levá-lo-á até à Cruz: o seu é o zelo de amor que leva ao sacrifício de si mesmo, não aquele falso, que tem a presunção de servir a Deus mediante a violência. Come efeito, o “sinal” que Jesus dará, como prova da sua autoridade, será precisamente a sua morte e ressurreição: «Destruí este templo — diz — e Eu voltarei a erguê-lo em três dias» (v. 19). E o evangelista comenta: «Ele falava do templo do seu corpo» (v. 21). Com a Páscoa de Jesus tem início o novo culto, no templo renovado, o culto do amor, e o novo templo é Ele mesmo.

A atitude de Jesus, narrada na hodierna página evangélica, exorta-nos a levar a nossa vida não à procura das nossas vantagens e interesses, mas pela glória de Deus, que é o amor. Somos chamados a ter sempre presentes aquelas palavras incisivas de Jesus: «Não façais da casa do meu Pai uma casa de negociantes!» (v. 16). É muito desagradável, quando a Igreja escorrega nesta atitude de transformar a casa de Deus num mercado. Estas palavras ajudam-nos a afastar o perigo de fazer também da nossa alma, que é a morada de Deus, um lugar de mercado, vivendo continuamente em busca da nossa vantagem, e não no amor generoso e solidário. Este ensinamento de Jesus é sempre atual, não apenas para as comunidades eclesiais, mas também para os indivíduos, para as comunidades civis e para a sociedade inteira. Com efeito, é comum a tentação de se aproveitar de atividades boas, às vezes necessárias, para cultivar interesses particulares, ou até ilícitos. É um perigo grave, especialmente quando instrumentaliza o próprio Deus e o culto que lhe é devido, ou então o serviço ao homem, sua imagem. Por isso, naquela circunstância Jesus agiu de “maneira forte”, para nos despertar deste perigo mortal.

A Virgem Maria nos ampare no compromisso de fazer da Quaresma uma boa ocasião para reconhecer Deus como único Senhor da nossa vida, tirando do nosso coração e das nossas obras todas as formas de idolatria.

Papa Francisco

Angelus, 4 de março de 2018

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