TEMPO PASCAL - 2023
Domingo da semana III do Tempo Pascal - dia 15 - 23/04/2023
EVANGELHO Lc 24, 13-35
«Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão»;
«Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O»;
«E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão.»
Ao escutar a Palavra proclamada neste domingo, há um denominador comum a todas as leituras, que é o anúncio de Jesus Ressuscitado. Sim, em tempo do "Compasso Pascal" este anúncio torna-se ainda mais vivo e presente: receber a boa nova de que Jesus está vivo; apercebermo-nos da Sua presença, de que caminha connosco; sentir a bênção de Deus derramada sobre nós e sobre os nossos lares, é bom, mesmo muito bom! Deus seja louvado. Obrigada Sr.Padre José.
Na 1ª leitura (Atos 2, 14.22-33) ficamos espantados com a coragem desassombrada de Pedro ao anunciar Jesus Ressuscitado. Temos na memória outros momentos da vida de S.Pedro com Jesus, muito diferentes dos que nos são apresentados nas duas primeiras leituras de hoje. É impressionante a ação de Deus num coração que todo se Lhe entrega. A transformação em Pedro é total. Não deixa de ser quem era, com as suas qualidades e os seus defeitos, mas entregou-se-Lhe totalmente, com tudo o que era e tinha feito. Este é o caminho para Deus, que S.Pedro nos abre hoje, quer pela sua história pessoal, quer através das Escrituras, quando recorre a David: não há nada, nem ninguém que nos possa afastar do Amor de Deus, manifestado em Jesus Ressuscitado. Entreguemo-nos de alma e coração, com tudo, mas mesmo tudo, por pior que nos sintamos, pois Ele está vivo, caminha connosco.
“No dia de
Pentecostes, Pedro, de pé, com os onze Apóstolos, ergueu a voz e falou ao povo:
«Homens da Judeia e vós todos que habitais em Jerusalém, compreendei o que está
a acontecer e ouvi as minhas palavras: Jesus de Nazaré foi um homem acreditado
por Deus junto de vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus realizou no
meio de vós, por seu intermédio, como sabeis. Depois de entregue, segundo o
desígnio imutável e a previsão de Deus, vós destes-Lhe a morte, cravando-O na
cruz pela mão de gente perversa. Mas Deus ressuscitou-O, livrando-O dos laços
da morte, porque não era possível que Ele ficasse sob o seu domínio. Diz David
a seu respeito: ‘O Senhor está sempre na minha presença, com Ele a meu lado não
vacilarei. Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta e até o meu
corpo descansa tranquilo. Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos
mortos, nem deixareis o vosso Santo sofrer a corrupção. Destes-me a conhecer os
caminhos da vida, a alegria plena em vossa presença’. Irmãos, seja-me permitido
falar-vos com toda a liberdade: o patriarca David morreu e foi sepultado e o
seu túmulo encontra-se ainda hoje entre nós. Mas, como era profeta e sabia que
Deus lhe prometera sob juramento que um descendente do seu sangue havia de
sentar-se no seu trono, viu e proclamou antecipadamente a ressurreição de
Cristo, dizendo que Ele não O abandonou na mansão dos mortos, nem a sua carne
conheceu a corrupção. Foi este Jesus que Deus ressuscitou e disso todos nós
somos testemunhas. Tendo sido exaltado pelo poder de Deus, recebeu do Pai a
promessa do Espírito Santo, que Ele derramou, como vedes e ouvis»."
Na 2ªleitura (1 Pedro 1, 17-21) S.Pedro continua a sua evangelização e anúncio do Senhor Ressuscitado, penhor e garantia da nossa salvação. É em Jesus, morto e ressuscitado, que está vivo e caminha connosco, no dia a dia da vida, que está o fundamento da nossa fé. Jesus, o Cordeiro Imaculado, deu a vida por cada um de nós e só radicados n’Ele, sob a ação do Espírito Santo, seremos anunciadores de Deus Amor, na vida concreta de cada dia, nos tempos de hoje, com guerra na Ucrânia, no Sudão, na Síria e ... em em tantos outros locais, por esse mundo fora. Sigamos o exemplo de S.Pedro e deixemos que Deus nos ame por inteiro, mais ainda nas nossas dificuldades, nos nossos defeitos, nos nossos pecados. Acreditemos que Jesus venceu a morte, de uma vez por todas, está vivo, ressuscitou, conduz-nos, caminha connosco. Louvado sejas Senhor, hoje e sempre, pelos séculos sem fim.
“Caríssimos:
Se invocais como Pai Aquele que, sem aceção de pessoas, julga cada um segundo
as suas obras, vivei com temor, durante o tempo de exílio neste mundo.
Lembrai-vos que não foi por coisas corruptíveis, como prata e oiro, que fostes
resgatados da vã maneira de viver, herdada dos vossos pais, mas pelo sangue
precioso de Cristo, Cordeiro sem defeito e sem mancha, predestinado antes da
criação do mundo e manifestado nos últimos tempos por vossa causa. Por Ele
acreditais em Deus, que O ressuscitou dos mortos e Lhe deu a glória, para que a
vossa fé e a vossa esperança estejam em Deus.”
No evangelho (Lc 24, 13-35) somos convidados a colocarmo-nos no papel de cada um daqueles discípulos, mas no dia a dia da nossa vida, deixando que Jesus nos vá explicando o sentido das escrituras, como fez com eles. Às vezes o nosso coração anda demasiado atarefado “com muitas coisas” e não O reconhece, mas Ele, caminha connosco, pelas estradas da vida, repartindo o pão. Deixemos que o nosso coração “arda cá dentro” quando O escutamos e estejamos atentos aos sinais, pois Ele continua a “partir o pão” com todos os que fazem parte da nossa vida e O procuram de coração sincero.
“Dois dos discípulos de Jesus iam a caminho duma povoação chamada Emaús, que ficava a duas léguas de Jerusalém. Conversavam entre si sobre tudo o que tinha sucedido. Enquanto falavam e discutiam, Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho. Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem. Ele perguntou-lhes: «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?». Pararam, com ar muito triste, e um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único habitante de Jerusalém a ignorar o que lá se passou estes dias». E Ele perguntou: «Que foi?». Responderam-Lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; e como os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte e crucificado. Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel. Mas, afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu. É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos sobressaltaram: foram de madrugada ao sepulcro, não encontraram o corpo de Jesus e vieram dizer que lhes tinham aparecido uns Anjos a anunciar que Ele estava vivo. Alguns dos nossos foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas a Ele não O viram». Então Jesus disse-lhes: «Homens sem inteligência e lentos de espírito para acreditar em tudo o que os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer tudo isso para entrar na sua glória?». Depois, começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que Lhe dizia respeito. Ao chegarem perto da povoação para onde iam, Jesus fez menção de ir para diante. Mas eles convenceram-n’O a ficar, dizendo: «Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles. E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O. Mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?». Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles, que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão». E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão.”
Senhor, eu te louvo e bendigo pelo dom da Eucaristia. Mil graças Senhor.
Hoje gostaria de analisar a experiência dos dois discípulos de Emaús, sobre
a qual fala o Evangelho de Lucas (cf. 24, 13-35). Imaginemos a cena: dois
homens caminham desiludidos, tristes, decididos a deixar para trás a amargura
de um vicissitude mal sucedida. Antes daquela Páscoa estavam cheios de
entusiasmo: convencidos de que aqueles dias teriam sido determinantes para as
suas expetativas e para a esperança do povo inteiro. Jesus, ao qual tinham
confiado a própria vida, parecia ter finalmente chegado à batalha decisiva:
agora manifestaria o seu poder, depois de uma longa fase de preparação e de
escondimento. Era isso o que eles esperavam. Mas não foi assim.
Os dois peregrinos cultivavam uma esperança somente humana, que agora
desabava. Aquela cruz erguida no Calvário era o sinal mais eloquente de uma
derrota que não tinham previsto. Se deveras aquele Jesus era segundo o coração
de Deus, deviam chegar à conclusão que Deus estava inerme, indefeso nas mãos
dos violentos, incapaz de opor resistência ao mal.
Assim, naquela manhã de domingo, os dois fogem de Jerusalém. Ainda tinham
nos olhos os momentos da paixão, a morte de Jesus; e na alma o pensamento
atormentado pelos acontecimentos, durante o repouso forçado do sábado. Aquela
festa de Páscoa, que devia entoar o canto da libertação, transformou-se pelo
contrário no dia mais doloroso da sua vida. Deixam Jerusalém para ir alhures, a
uma aldeia tranquila. Têm toda a aparência de pessoas empenhadas em apagar uma
recordação que magoa. Portanto, encontram-se numa estrada, andam, tristes. Este
cenário — a estrada — já tinha sido importante nas narrações dos evangelhos;
agora tornar-se-á cada vez mais relevante, no momento em que se começa a narrar
a história da Igreja.
O encontro de Jesus com aqueles dois discípulos parece ser totalmente
casual: assemelha-se a uma das numerosas encruzilhadas que se encontram na
vida. Os dois discípulos prosseguem pensativos e um desconhecido caminha ao
lado deles. É Jesus; mas os seus olhos não são capazes de o reconhecer. E então
Jesus começa a sua “terapia da esperança”. O que acontece nesta estrada é uma
terapia da esperança. Quem a faz? Jesus.
Em primeiro lugar pergunta e escuta: o nosso Deus não é um Deus
intrometido. Embora já conheça o motivo da deceção dos dois, deixa-lhes o tempo
para poder sondar profundamente a amargura que se apoderou deles. Daqui surge
uma confissão que é um refrão da existência humana: «Nós esperávamos,
mas... Nós esperávamos, mas...» (v. 21). Quantas tristezas, quantas
derrotas, quantas falências há na vida de cada pessoa! No fundo somos todos um
pouco como esses dois discípulos. Quantas vezes na vida esperamos, quantas
vezes nos sentimos a um passo da felicidade e, no fim, ficamos desiludidos. Mas
Jesus caminha com todas as pessoas desanimadas que procedem cabisbaixas. E
caminhando com elas, de forma discreta, consegue restituir-lhes a esperança.
Jesus fala com eles sobretudo através das Escrituras. Quem pega
o livro de Deus nas mãos não se cruza com histórias de fácil heroísmo,
campanhas de conquista impetuosas. A verdadeira esperança nunca é pouco
dispendiosa: passa sempre através das derrotas. A esperança de quem não sofre,
talvez nem sequer seja tal. Deus não gosta de ser amado como poderíamos amar um
general que leva o seu povo à vitória, aniquilando no sangue os seus
adversários. O nosso Deus é uma chama esmorecida que arde num dia de frio e de
vento, e não obstante a sua presença neste mundo possa parecer frágil, Ele
escolheu o lugar que todos nós desdenhamos.
Em seguida Jesus repete também aos dois discípulos o gesto fulcral
de cada Eucaristia: pegou no pão, abençoou-o e, depois de o partir,
ofereceu-o. Nesta sequência de gestos, não há porventura toda a história de
Jesus? E não há, em cada Eucaristia, também o sinal do que deve ser a Igreja?
Jesus pega em nós, abençoa-nos, “parte” a nossa vida — porque não há amor sem
sacrifício — e oferece-a aos outros, oferece-a a todos.
O encontro de Jesus com os dois discípulos de Emaús é rápido. Todavia, nele
está todo o destino da Igreja. Narra-nos que a comunidade cristã não está
fechada numa cidadela fortificada, mas caminha no seu ambiente mais vital, ou
seja, a estrada. E ali encontra as pessoas com as suas esperanças e as suas
desilusões, por vezes pesadas. A Igreja escuta as histórias de todos, assim
como sobressaem do íntimo da consciência pessoal; para depois oferecer a
Palavra de vida, o testemunho de amor, amor fiel até ao fim. E então o coração
das pessoas volta a arder de esperança.
Todos nós, na nossa vida, tivemos momentos difíceis, obscuros; momentos nos
quais caminhávamos tristes, pensativos, sem horizontes, somente com um muro à
nossa frente. E Jesus sempre está ao nosso lado para nos dar esperança, para
nos aquecer o coração e dizer: “Vai em frente, estou contigo. Vai em frente”. O
segredo da estrada que conduz a Emaús resume-se inteiramente nisto: mesmo
através das aparências contrárias, continuamos a ser amados, e Deus nunca
deixará de nos querer bem. Deus caminhará sempre connosco, sempre, até nos
momentos mais dolorosos, nos períodos mais difíceis, também nos momentos de
derrota: ali está o Senhor. E esta é a nossa esperança. Vamos em frente com
esta esperança! Porque Ele está ao nosso lado e caminha connosco, sempre!
Papa Francisco
(Audiência Geral, 24 de maio de 2017)
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