sábado, 15 de abril de 2023

O Grande Dia de Domingo de Páscoa

A OITAVA DA PÁSCOA - 2023

DOMINGO II DA PÁSCOA OU DA DIVINA MISERICÓRDIA

Domingo II -  Último dia da Oitava da Páscoa - dia 8 - 16/04/2023

EVANGELHO –  Jo 20, 19 – 31

«Meu Senhor e meu Deus!»;

«Porque me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».

Nas leituras de hoje, continuamos a vivência do grande dia da Ressurreição do Senhor Jesus. A Páscoa, de Jesus Cristo, prolonga-se no tempo sem fim, mas, todo este tempo, desde o Domingo de Páscoa até à Sua Ascensão, parece tratar-se de um único dia, o grande dia da Páscoa de Jesus Ressuscitado. Em cada domingo, deste tempo pascal, vamos recebendo o testemunho dos discípulos e, ao mesmo tempo, caminhando com eles na descoberta de Deus Amor, em Jesus Ressuscitado. Sempre num crescendo, Jesus vai-nos abrindo o coração à certeza de que está sempre connosco, mesmo quando não O vemos, principalmente quando mais d’Ele precisamos. Não há portas, nem paredes, nem abismos, nem profundidades, que impeçam Jesus de ser um connosco, de nos habitar por inteiro, de ser a força que nos sustenta e diz: “ A Paz esteja convosco”.  Podemos, agora mais do que nunca anunciar, cantar: Jesus está vivo, ressuscitou. Aleluia!

Na 1ªleitura (Atos 2, 42-47) o que mais impressiona é a forma como os primeiros cristãos viviam em comunidade, em união e, ao mesmo tempo, eram assíduos e solidários. Um só era Aquele que os unia e d’Ele faziam a razão de ser das suas vidas. Tiveram problemas também, e muitos, por certo, mas o amor a Jesus era a sua força. Que o Espírito do Senhor repasse cada uma das fibras do nosso ser, nos encha a alma e, n´Ele possamos voltar a ser, quem sabe, um dia…, uma só Igreja unida no seu único Senhor.

“Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, toda a gente se enchia de temor. Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e gozando da simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava todos os dias o número dos que deviam salvar-se.”

 

Na 2ªleitura (1 Pedro 1, 3-9) louvamos e damos graças a Deus, com S.Pedro, pelo dom do Seu infinito Amor. É Deus, quem nos ama assim perdidamente, de tal forma, que, por Jesus, Seu único Filho, morto e ressuscitado, fomos resgatados, fomos salvos. Hoje, por e em Jesus ressuscitado, somos, cada um de nós também, Seus filhos. Bendito e louvado sejas Senhor, hoje e sempre, pelos séculos sem fim.

“Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece. Esta herança está reservada nos Céus para vós que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que se vai revelar nos últimos tempos. Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, acreditais n’Ele. E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque conseguis o fim da vossa fé: a salvação das vossas almas.

No evangelho (Jo 20, 19-31) S.João vai-nos conduzindo, vai-nos preparando para a necessidade de descobrirmos Jesus em Igreja. Realmente, é numa dimensão comunitária, isto é em Igreja, que vamos descobrindo e compreendendo Jesus Cristo, que conduz ao Pai. A fé cristã, no meu entender, passa pela vivência eclesial, isto é, a dimensão espiritual e individual é um tesouro que Deus nos dá, mas só chegaremos a uma profundidade maior de comunhão com Deus, se tivermos  a graça de vivenciarmos a fé uns com os outros. “Ninguém se salva sozinho”, não sei quem é o autor desta afirmação, nem a quem a ouvi pela primeira vez, mas, ao longo da vida, que já vai sendo longa, tenho aprendido o quanto é verdadeira. Senhor, que aprendamos a descobrir-Te no outro, que caminha comigo, que não gosta de mim, ou, quem sabe, até me detesta, mas que é tão precioso para Ti, quanto eu, que até deste a vida por ele(a). Que verdadeiramente se possa dizer da Igreja, vede como eles se amam.

“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

Jesus está vivo. Ressuscitou dos mortos. Aleluia! Aleluia! Aleluia!

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, último dia da Oitava de Páscoa, o Evangelho narra sobre a primeira e a segunda aparição do Senhor Ressuscitado aos discípulos. Jesus vem na Páscoa, enquanto os Apóstolos estão fechados no Cenáculo, por medo, mas como Tomé, um dos Doze, não está presente, regressa oito dias depois (cf. Jo 20, 19-29). Concentremo-nos nos dois protagonistas, Tomé e Jesus, olhando primeiro para o discípulo e depois para o Mestre. E entre eles surge um lindo diálogo.

Foquemo-nos, sobretudo, no apóstolo Tomé. Ele representa-nos a todos nós, que não estávamos presentes no Cenáculo quando o Senhor apareceu e não tivemos outros sinais físicos nem aparições d'Ele. Também nós, como aquele discípulo, por vezes temos dificuldade: como podemos acreditar que Jesus ressuscitou, que nos acompanha e é Senhor da nossa vida sem O termos visto, sem O termos tocado? Como podemos acreditar nisto? Por que o Senhor não nos dá um sinal mais evidente da sua presença e do seu amor? Algum sinal que eu possa ver melhor... Bem, nós também somos como Tomé, com as mesmas dúvidas, o mesmo raciocínio.

Mas não devemos ter vergonha disto. Ao contar-nos a história de Tomé, de facto, o Evangelho diz-nos que o Senhor não procura cristãos perfeitos. O Senhor não procura cristãos perfeitos. Digo-vos: receio quando vejo alguns cristãos, alguma associação de cristãos que pensam que são perfeitos. O Senhor não procura cristãos perfeitos; o Senhor não procura cristãos que nunca duvidam e sempre ostentam uma fé segura. Quando um cristão é assim, há algo errado. Não, a aventura da fé, como para Tomé, é feita de luzes e sombras. Se não, que tipo de fé seria? Ela conhece tempos de consolação, ímpeto e entusiasmo, mas também de cansaço, desorientação, dúvida e escuridão. O Evangelho mostra-nos a “crise” de Tomé para nos dizer que não devemos temer as crises da vida e da fé. As crises não são um pecado, são um caminho, não devemos receá-las. Muitas vezes tornam-nos humildes, porque nos despojam da ideia de estarmos certos, de sermos melhores do que os outros. As crises ajudam-nos a reconhecer que estamos em necessidade: despertam a nossa necessidade de Deus e permitem-nos assim regressar ao Senhor, tocar as Suas feridas, experimentar novamente o Seu amor, como fizemos na primeira vez. Estimados irmãos e irmãs, é melhor ter uma fé imperfeita, mas humilde, sempre orientada para Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna orgulhosos e arrogantes. Ai destes, ai!

E perante a ausência e o caminho de Tomé, que muitas vezes também é nosso, qual é a atitude de Jesus? O Evangelho diz duas vezes que Ele «veio» (vv. 19.26). Uma primeira vez, depois uma segunda vez, oito dias mais tarde. Jesus não desiste, não se cansa de nós, não tem medo das nossas crises, das nossas fraquezas. Ele volta sempre: quando as portas estão fechadas, ele volta; quando duvidamos, ele volta; quando, como Tomé, precisamos de O encontrar e tocá-l'O mais de perto, Ele volta. Jesus volta sempre, bate sempre à porta, e não volta com sinais poderosos que nos fariam sentir pequenos e inadequados, até envergonhados, mas com as Suas feridas; Ele volta mostrando-nos as Suas chagas, sinais do Seu amor que abraçou as nossas fragilidades.

Irmãos e irmãs, especialmente quando experimentamos cansaço ou momentos de crise, Jesus, o Ressuscitado, deseja regressar para estar connosco. Ele espera unicamente que O procuremos, que O invoquemos, até mesmo que protestemos, como Tomé, mostrando-lhe as nossas necessidades e a nossa incredulidade. Ele regressa sempre. Porquê? Porque é paciente e misericordioso. Ele vem para abrir os cenáculos dos nossos medos e das nossas incredulidades, pois quer sempre dar-nos outra oportunidade. Jesus é o Senhor das “outras oportunidades”: Ele dá-nos sempre mais uma, sempre. Pensemos então na última vez – lembremo-nos – quando, durante um momento difícil, ou um período de crise, nos fechamos em nós próprios, barricando-nos nos nossos problemas e deixando Jesus fora de casa. E prometemos, na próxima vez, no nosso cansaço, procurar Jesus, voltar para Ele, para o Seu perdão – Ele perdoa sempre, sempre! – voltemos para as feridas que nos curaram. Desta forma, tornar-nos-emos também capazes de compaixão, de nos aproximar das feridas dos outros sem rigidez nem preconceitos.

Que Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia – gosto de pensar nela como Mãe da Misericórdia na segunda-feira depois do Domingo da Misericórdia – nos acompanhe no caminho da fé e do amor.

Papa Francisco

(Regina Caeli, 24 de abril de 2022)

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