O Grande Dia de Domingo de Páscoa
A OITAVA DA PÁSCOA - 2023
DOMINGO II DA PÁSCOA OU DA DIVINA MISERICÓRDIA
Domingo II - Último dia da Oitava da Páscoa - dia 8 - 16/04/2023
EVANGELHO – Jo 20, 19 – 31
«Meu Senhor e meu Deus!»;
«Porque me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».
Nas leituras de hoje, continuamos a vivência do
grande dia da Ressurreição do Senhor Jesus. A Páscoa, de Jesus Cristo,
prolonga-se no tempo sem fim, mas, todo este tempo, desde o Domingo de Páscoa até
à Sua Ascensão, parece tratar-se de um único dia, o grande dia da Páscoa de Jesus
Ressuscitado. Em cada domingo, deste tempo pascal, vamos recebendo o testemunho
dos discípulos e, ao mesmo tempo, caminhando com eles na descoberta de Deus
Amor, em Jesus Ressuscitado. Sempre num crescendo, Jesus vai-nos abrindo o
coração à certeza de que está sempre connosco, mesmo quando não O vemos,
principalmente quando mais d’Ele precisamos.
Não há portas, nem paredes, nem abismos, nem profundidades, que impeçam Jesus
de ser um connosco, de nos habitar por inteiro, de ser a força que nos sustenta
e diz: “ A Paz esteja convosco”. Podemos,
agora mais do que nunca anunciar, cantar: Jesus está vivo, ressuscitou.
Aleluia!
Na 1ªleitura (Atos 2, 42-47) o que mais impressiona é a forma
como os primeiros cristãos viviam em comunidade, em união e, ao mesmo tempo,
eram assíduos e solidários. Um só era Aquele que os unia e d’Ele faziam a razão
de ser das suas vidas. Tiveram problemas também, e muitos, por certo, mas o
amor a Jesus era a sua força. Que o Espírito do Senhor repasse cada uma das
fibras do nosso ser, nos encha a alma e, n´Ele possamos voltar a ser, quem
sabe, um dia…, uma só Igreja unida no seu único Senhor.
“Os irmãos eram assíduos ao ensino dos
Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. Perante os
inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, toda a gente se
enchia de temor. Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo
em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos,
conforme as necessidades de cada um. Todos os dias frequentavam o templo, como
se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com
alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e gozando da simpatia de
todo o povo. E o Senhor aumentava todos os dias o número dos que deviam
salvar-se.”
Na 2ªleitura (1 Pedro 1, 3-9) louvamos e damos graças a Deus, com
S.Pedro, pelo dom do Seu infinito Amor. É Deus, quem nos ama assim perdidamente,
de tal forma, que, por Jesus, Seu único Filho, morto e ressuscitado, fomos
resgatados, fomos salvos. Hoje, por e em Jesus ressuscitado, somos, cada um de
nós também, Seus filhos. Bendito e louvado sejas Senhor, hoje e sempre, pelos
séculos sem fim.
“Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus
Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de
Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que
não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece. Esta herança está reservada nos
Céus para vós que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a
salvação que se vai revelar nos últimos tempos. Isto vos enche de alegria,
embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações,
para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro
perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra,
quando Jesus Cristo Se manifestar. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver
ainda, acreditais n’Ele. E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e
gloriosa, porque conseguis o fim da vossa fé: a salvação das vossas almas.
No evangelho (Jo 20, 19-31) S.João vai-nos conduzindo, vai-nos
preparando para a necessidade de descobrirmos Jesus em Igreja. Realmente, é
numa dimensão comunitária, isto é em Igreja, que vamos descobrindo e
compreendendo Jesus Cristo, que conduz ao Pai. A fé cristã, no meu entender,
passa pela vivência eclesial, isto é, a dimensão espiritual e individual é um
tesouro que Deus nos dá, mas só chegaremos a uma profundidade maior de comunhão
com Deus, se tivermos a graça de
vivenciarmos a fé uns com os outros. “Ninguém se salva sozinho”, não sei quem é
o autor desta afirmação, nem a quem a ouvi pela primeira vez, mas, ao longo da
vida, que já vai sendo longa, tenho aprendido o quanto é verdadeira. Senhor,
que aprendamos a descobrir-Te no outro, que caminha comigo, que não gosta de
mim, ou, quem sabe, até me detesta, mas que é tão precioso para Ti, quanto eu,
que até deste a vida por ele(a). Que verdadeiramente se possa dizer da Igreja,
vede como eles se amam.
“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo
dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja
convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram
cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja
convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto,
soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem
perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes
ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles
quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele
respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o
dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias
depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus,
estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja
convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste
acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres
fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho
de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
Jesus está vivo.
Ressuscitou dos mortos. Aleluia! Aleluia! Aleluia!
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, último dia da Oitava de Páscoa,
o Evangelho narra sobre a primeira e a segunda aparição do Senhor Ressuscitado
aos discípulos. Jesus vem na Páscoa, enquanto os Apóstolos estão fechados no
Cenáculo, por medo, mas como Tomé, um dos Doze, não está presente, regressa
oito dias depois (cf. Jo 20, 19-29). Concentremo-nos nos dois
protagonistas, Tomé e Jesus, olhando primeiro para o discípulo e depois para o
Mestre. E entre eles surge um lindo diálogo.
Foquemo-nos, sobretudo, no apóstolo Tomé. Ele
representa-nos a todos nós, que não estávamos presentes no Cenáculo quando o Senhor
apareceu e não tivemos outros sinais físicos nem aparições d'Ele. Também nós,
como aquele discípulo, por vezes temos dificuldade: como podemos acreditar que
Jesus ressuscitou, que nos acompanha e é Senhor da nossa vida sem O termos
visto, sem O termos tocado? Como podemos acreditar nisto? Por que o Senhor não
nos dá um sinal mais evidente da sua presença e do seu amor? Algum sinal que eu
possa ver melhor... Bem, nós também somos como Tomé, com as mesmas dúvidas, o
mesmo raciocínio.
Mas não devemos ter vergonha disto. Ao
contar-nos a história de Tomé, de facto, o Evangelho diz-nos que o Senhor não
procura cristãos perfeitos. O Senhor não procura cristãos perfeitos. Digo-vos:
receio quando vejo alguns cristãos, alguma associação de cristãos que pensam
que são perfeitos. O Senhor não procura cristãos perfeitos; o Senhor não
procura cristãos que nunca duvidam e sempre ostentam uma fé segura. Quando um
cristão é assim, há algo errado. Não, a aventura da fé, como para Tomé, é feita
de luzes e sombras. Se não, que tipo de fé seria? Ela conhece tempos de
consolação, ímpeto e entusiasmo, mas também de cansaço, desorientação, dúvida e
escuridão. O Evangelho mostra-nos a “crise” de Tomé para nos dizer que não
devemos temer as crises da vida e da fé. As crises não são um pecado, são um
caminho, não devemos receá-las. Muitas vezes tornam-nos humildes, porque nos
despojam da ideia de estarmos certos, de sermos melhores do que os outros. As
crises ajudam-nos a reconhecer que estamos em necessidade: despertam a nossa
necessidade de Deus e permitem-nos assim regressar ao Senhor, tocar as Suas
feridas, experimentar novamente o Seu amor, como fizemos na primeira vez.
Estimados irmãos e irmãs, é melhor ter uma fé imperfeita, mas humilde, sempre
orientada para Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna
orgulhosos e arrogantes. Ai destes, ai!
E perante a ausência e o caminho de
Tomé, que muitas vezes também é nosso, qual é a atitude de Jesus? O Evangelho
diz duas vezes que Ele «veio» (vv. 19.26). Uma primeira vez, depois uma segunda
vez, oito dias mais tarde. Jesus não desiste, não se cansa de nós, não tem medo
das nossas crises, das nossas fraquezas. Ele volta sempre: quando as portas
estão fechadas, ele volta; quando duvidamos, ele volta; quando, como Tomé,
precisamos de O encontrar e tocá-l'O mais de perto, Ele volta. Jesus volta
sempre, bate sempre à porta, e não volta com sinais poderosos que nos fariam
sentir pequenos e inadequados, até envergonhados, mas com as Suas feridas; Ele
volta mostrando-nos as Suas chagas, sinais do Seu amor que abraçou as
nossas fragilidades.
Irmãos e irmãs, especialmente quando
experimentamos cansaço ou momentos de crise, Jesus, o Ressuscitado, deseja
regressar para estar connosco. Ele espera unicamente que O procuremos, que O invoquemos, até mesmo que protestemos, como Tomé, mostrando-lhe as nossas
necessidades e a nossa incredulidade. Ele regressa sempre. Porquê? Porque é
paciente e misericordioso. Ele vem para abrir os cenáculos dos nossos medos e
das nossas incredulidades, pois quer sempre dar-nos outra oportunidade. Jesus é
o Senhor das “outras oportunidades”: Ele dá-nos sempre mais uma, sempre.
Pensemos então na última vez – lembremo-nos – quando, durante um momento
difícil, ou um período de crise, nos fechamos em nós próprios, barricando-nos
nos nossos problemas e deixando Jesus fora de casa. E prometemos, na próxima
vez, no nosso cansaço, procurar Jesus, voltar para Ele, para o Seu perdão – Ele
perdoa sempre, sempre! – voltemos para as feridas que nos curaram. Desta forma,
tornar-nos-emos também capazes de compaixão, de nos aproximar das feridas dos
outros sem rigidez nem preconceitos.
Que Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia
– gosto de pensar nela como Mãe da Misericórdia na segunda-feira depois do
Domingo da Misericórdia – nos acompanhe no caminho da fé e do amor.
Papa Francisco
(Regina Caeli, 24 de abril de 2022)
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