quarta-feira, 5 de abril de 2023

  QUARESMA PASSO A PASSO - 2023

QUINTA-FEIRA DA SEMANA SANTA

Missa Vespertina da Ceia do Senhor

Início do Tríduo Pascal

Quinta-feira da Semana Santa – dia 38 – 06/04/2023

Evangelho Jo 13, 1-15

«Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também» 

Começa assim a antífona da entrada, da celebração da eucaristia de Quinta- Feira, da Semana Santa: Toda a nossa glória está na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. N’Ele está a nossa salvação, vida e ressurreição. Por Ele fomos salvos e livres.” (Gal 6,14)

Podemos dizer que, com estas palavras,  S.Paulo nos centra no mistério do Amor infinito de Deus, que hoje celebramos de uma forma mais solene e, ao mesmo tempo, mais profunda e intimamente unida a Jesus Cristo, que no memorial da Sua Morte e Ressurreição,  Se faz presente, hoje, em pleno século vinte e um, tal como ontem, com os discípulos, e amanhã, com os que hão de vir. Só Ele é quem nos salva e nos torna livres para Deus. Por isso, em cada Quinta-Feira, da Semana Santa, somos convidados a celebrar, a festejar a vida, a ressurreição, a proclamar que Jesus está aqui na Eucaristia, um com cada um de nós.


Na 1ªleitura (Ex 12, 1-8.11-14) o autor sagrado insere-nos na história de amor de Deus com o povo de Israel, o povo eleito. Transporta-nos para uma relação viva de amor com Deus, em que os judeus têm sempre presente a libertação da escravidão no Egito, acontecimento que transmitem de geração em geração, como a verdadeira Páscoa da libertação.

"Naqueles dias, o Senhor disse a Moisés e a Aarão na terra do Egito: «Este mês será para vós o princípio dos meses; fareis dele o primeiro mês do ano. Falai a toda a comunidade de Israel e dizei-lhe: No dia dez deste mês, procure cada qual um cordeiro por família, uma rês por cada casa. Se a família for pequena demais para comer um cordeiro, junte-se ao vizinho mais próximo, segundo o número de pessoas, tendo em conta o que cada um pode comer. Tomareis um animal sem defeito, macho e de um ano de idade. Podeis escolher um cordeiro ou um cabrito. Deveis conservá-lo até ao dia catorze desse mês. Então, toda a assembleia da comunidade de Israel o imolará ao cair da tarde. Recolherão depois o seu sangue, que será espalhado nos dois umbrais e na padieira da porta das casas em que o comerem. E comerão a carne nessa mesma noite; comê-la-ão assada ao fogo, com pães ázimos e ervas amargas. Quando o comerdes, tereis os rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. Comereis a toda a pressa: é a Páscoa do Senhor. Nessa mesma noite, passarei pela terra do Egito e hei de ferir de morte, na terra do Egito, todos os primogénitos, desde os homens até aos animais. Assim exercerei a minha justiça contra os deuses do Egito, Eu, o Senhor. O sangue será para vós um sinal, nas casas em que estiverdes: ao ver o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo exterminador, quando Eu ferir a terra do Egito. Esse dia será para vós uma data memorável, que haveis de celebrar com uma festa em honra do Senhor. Festejá-lo-eis de geração em geração, como instituição perpétua»."


Na 2ªleitura (1Cor11, 23-26) S.Paulo insere-nos no mistério sacramental que nos foi deixado, por Jesus, na noite em que ia ser entregue. Entramos realmente no memorial da entrega de Jesus. Nesta noite santa, as palavras de Paulo desafiam-nos, verdadeiramente, a deixarmo-nos envolver e a participar por inteiro, de modo especial, hoje, no mistério de Amor da Morte na Cruz e Ressurreição de Jesus, para salvação de toda a humanidade, e de cada um de nós em particular, que se torna presente, real, vivo, em cada Eucaristia e, por maioria de razão, na de Quinta-Feira Santa. São os gestos e as palavras de Jesus que no-lo afirmam e testemunham. Celebremos. Louvemos e demos graças ao nosso Deus.

"Irmãos: Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim». Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim». Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha."

No Evangelho (Jo 13, 1-15) S.João coloca-nos na celebração com Jesus e os discípulos. Estamos presentes naquela noite santa e não como meros espetadores. Aquela ceia, é agora, nesta noite, seis de abril de dois mil e vinte e três, pois Jesus está aqui connosco, convidou-nos a fazer parte com Ele, nesta ceia pascal, nesta eucaristia. Hoje é mais completa a ceia, tem um gesto que, habitualmente, não fazemos - o lava pés - em que Jesus nos mostra como vencer o mal que, tantas vezes, nos tenta: lavar os pés uns aos outros. Só na medida em que nos entregarmos de coração, em que nos dispusermos a servir, a amar os outros,  em e por Jesus, venceremos o mal que há em nós. Deixemo-nos habitar pelo Amor, que é Deus.

"Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. No decorrer da ceia, tendo já o Demónio metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, a ideia de O entregar, Jesus, sabendo que o Pai Lhe tinha dado toda a autoridade, sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura. Depois, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cintura. Quando chegou a Simão Pedro, este disse-Lhe: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «O que estou a fazer, não o podes entender agora, mas compreendê-lo-ás mais tarde». Pedro insistiu: «Nunca consentirei que me laves os pés». Jesus respondeu-lhe: «Se não tos lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro replicou: «Senhor, então não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça». Jesus respondeu-lhe: «Aquele que já tomou banho está limpo e não precisa de lavar senão os pés. Vós estais limpos, mas não todos». Jesus bem sabia quem O havia de entregar. Foi por isso que acrescentou: «Nem todos estais limpos». Depois de lhes lavar os pés, Jesus tomou o manto e pôs-Se de novo à mesa. Então disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também»."

Senhor Jesus, Pão vivo descido do céu, corpo entregue no amor e derramado em generosidade por nós, ensina-nos a viver de Ti, do Teu amor. Mostra-nos o caminho da entrega e a alegria que brota da vida gasta por todos. Faz-nos Eucaristia para os outros, transforma as nossas vidas em pão repartido pelos pobres e famintos. Transfigura-nos para sermos, como Tu, alimento que permanece até à vida eterna. 

aliturgia.com

Ouvimos o que Jesus fez. É interessante! O Evangelho diz: «Jesus sabia que o Pai tinha posto tudo nas suas mãos», ou seja, Jesus tinha todo o poder, todo. E depois, começa a fazer este gesto de lavar os pés. Trata-se de um gesto que faziam os escravos daquela época, porque não havia asfalto nas estradas e, quando chegavam, as pessoas tinham poeira nos pés; quando chegavam a uma casa para uma visita ou para o almoço, havia os escravos que lhes lavavam os pés. E Jesus faz este gesto: lava os pés! Faz um gesto de escravo: Ele, que tinha todo o poder, Ele, que era o Senhor, faz o gesto de escravo. E em seguida aconselha a todos: «Fazei este gesto também entre vós». Ou seja, servi-vos uns aos outros, sede irmãos no serviço, não na ambição, como de quem domina o outro ou de quantos espezinham o outro, não, sede irmãos no serviço. Tens necessidade de algo, de um serviço? Eu faço-o para ti. Nisto consiste a fraternidade. A fraternidade é humilde, sempre: está ao serviço. E eu farei este gesto — a Igreja quer que o Bispo o faça todos os anos, uma vez por ano, pelo menos na Quinta-Feira Santa — para imitar o gesto de Jesus e também para se beneficiar inclusive a si mesmo com o exemplo, porque o Bispo não é o mais importante, mas deve ser o maior servidor. E cada um de nós deve ser servidor do próximo.

Esta é a regra de Jesus, a regra do Evangelho: a regra do serviço, não de dominar, de praticar o mal, de humilhar os outros. Serviço! Certa vez, quando os Apóstolos discutiam entre eles, debatiam sobre «quem é o mais importante entre nós», Jesus pegou num menino e disse: «A criança. Se o vosso coração não for como o de uma criança, não sereis meus discípulos». Coração de criança, humilde mas servidor. E ali acrescenta algo interessante, que podemos relacionar com este gesto de hoje. Diz: «Prestai atenção: os chefes das Nações dominam, mas entre vós não deve ser assim. O maior deve servir o mais pequenino. Quem se sente o maior, deve ser o servidor». Também todos nós devemos ser servidores. É verdade que na vida existem problemas: discutimos entre nós... mas isto deve ser algo que passa, algo passageiro, porque no nosso coração deve existir este amor de serviço ao próximo, de estar ao serviço do outro.

Papa Francisco

(Casa de Reclusão de Paliano, 13 de abril de 2017) 

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