sexta-feira, 7 de março de 2025

 QUARESMA PASSO A PASSO - 2025 

Ano C

Sábado depois das Cinzas - 08/03/2025

Evangelho Lc 5, 27-32

«Segue-Me». Ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu Jesus.»;

«Eu não vim chamar os justos, vim chamar os pecadores, para que se arrependam»

Mateus (Levi) experimenta a força do olhar e do chamamento de Jesus e abandona tudo. Esta mudança na sua vida coloca-o sob o olhar dos fariseus e dos escribas. Mateus, porém, não se importando muito convida Jesus para um banquete e enche a casa de publicanos. Diante desta visão os fariseus não se atrevem a dizer nada a Jesus, mas aproximam-se dos discípulos para criticar aquela situação: “Porque comeis e bebeis com os publicanos e os pecadores?”. A resposta de Jesus deixa claro que o pecado só atinge aquele que o deixa entrar no seu coração. Eles não entraram no banquete e, no entanto, estão contaminados no seu coração. Jesus entrou no banquete lado a lado com pecadores e não se deixou contaminar.

«Naquele tempo, Jesus viu um publicano chamado Levi, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-Me». Ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu Jesus. Levi ofereceu-lhe um grande banquete em sua casa. Havia grande número de publicanos e de outras pessoas com eles à mesa. Os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo aos discípulos: «Porque comeis e bebeis com os publicanos e os pecadores?» Então Jesus, tomando a palavra, disse-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar os justos, vim chamar os pecadores, para que se arrependam».

Olha-me, Senhor, como olhaste Levi, o cobrador de impostos. Olha-me e desperta os meus ouvidos para o teu chamamento. Olha-me e arrasta-me contigo para o meio dos pecadores, dos doentes, dos carentes de amor. Olha-me e abre o meu coração à festa, a festa dos últimos, daqueles que não tendo nada sabem sorrir, saltar, dançar, alegrar-se com a tua presença.

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Pai-Nosso, que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Ámen.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

(...)

E hoje, gostaria de iniciar com um episódio evangélico de certo modo emblemático, que acabámos de ouvir: a chamada do apóstolo Mateus, e ele mesmo narra-a no seu Evangelho, no excerto que ouvimos (cf. Mt 9, 9-13).

Tudo começa com Jesus, que “vê” - diz o texto - «um homem». Poucos viam Mateus como era: conheciam-no como aquele que estava «sentado no banco dos impostos» (v. 9). Com efeito, era cobrador de impostos: ou seja, alguém que cobrava os tributos em nome do império romano, que ocupava a Palestina. Em síntese, era um colaboracionista, um traidor do povo. Podemos imaginar o desprezo que o povo sentia por ele: era um “publicano”, assim se chamava. Mas, aos olhos de Jesus, Mateus é um homem, com as suas misérias e a sua grandeza. Estai atentos a isto: Jesus não se detém nos adjetivos, Jesus procura sempre o substantivo. “Este é um pecador, este é um tal pelo qual…” são adjetivos: Jesus vai à pessoa, ao coração, esta é uma pessoa, este é um homem, esta é uma mulher, Jesus vai à substância, ao substantivo, nunca ao adjetivo, põe de lado os adjetivos. E enquanto entre Mateus e o seu povo há distância – pois eles viam o adjetivo “publicano” - Jesus aproxima-se dele, porque cada homem é amado por Deus; “Até este desventurado?”. Sim, inclusive este desventurado, aliás Ele veio para este desventurado, diz o Evangelho: “Vim para os pecadores, não para os justos”.  Este olhar de Jesus que é belíssimo, que vê o outro, quem quer que seja, como destinatário de amor, é o início da paixão evangelizadora. Tudo começa a partir deste olhar, que aprendemos com Jesus.

Podemos perguntar-nos: como vemos os outros? Quantas vezes vemos os seus defeitos e não as suas necessidades; quantas vezes etiquetamos as pessoas pelo que fazem ou por aquilo que pensam! Até como cristãos, dizemos: é ou não é dos nossos? Este não é o olhar de Jesus: Ele olha sempre para cada um com misericórdia, aliás, com predileção. E os cristãos são chamados a fazer como Cristo, olhando como Ele, especialmente para os chamados “distantes”. Efetivamente, a narração da chamada de Mateus conclui-se com Jesus que diz: «Não vim chamar os justos, mas os pecadores!» (v. 13). E se algum de nós se sente justo, Jesus permanece distante, Ele aproxima-se dos nossos limites e das nossas misérias, para nos curar.

Portanto, tudo começa pelo olhar de Jesus “Viu um homem”, Mateus. A isto segue-se - segunda passagem - um movimento. Antes do olhar, Jesus viu, depois a segunda passagem, o movimento. Mateus estava sentado no banco dos impostos; Jesus disse-lhe: «Segue-me!». E ele «levantou-se e seguiu-o» (v. 9). Observemos que o texto realça: “levantou-se”. Por que é tão importante este detalhe? Porque naquela época quem estava sentado tinha autoridade sobre os outros, que permaneciam em pé diante dele para o ouvir ou, como nesse caso, para pagar os impostos. Em síntese, quem estava sentado tinha poder. A primeira coisa que Jesus faz é separar Mateus do poder: do estar sentado para receber os outros, põe-no em movimento rumo aos outros, não recebe, não: vai até aos outros; fá-lo deixar uma posição de supremacia para o colocar no mesmo nível dos irmãos e para lhe abrir os horizontes do serviço. É isto que faz, e isto é fundamental para os cristãos: nós, discípulos de Jesus, nós, Igreja, permanecemos sentados à espera que as pessoas venham, ou sabemos levantar-nos, pôr-nos a caminho com os outros, procurar os outros? É uma posição não cristã dizer: “Mas, que venham, estou aqui, que venham”. Não, vai tu  procura-los, dá tu o primeiro passo.

Um olhar – Jesus viu - , um movimento – levanta-se -  e terceiro, uma meta. Depois de se levantar e seguir Jesus, para onde irá Mateus? Poderíamos imaginar que, tendo mudado a vida daquele homem, o Mestre o conduziu para novos encontros, novas experiências espirituais. Não, ou pelo menos não imediatamente. Em primeiro lugar, Jesus vai a sua casa; ali, Mateus prepara-lhe «um grande banquete», no qual «participa uma grande multidão de publicanos» (Lc 5, 29) isto é, pessoa como ele. Mateus regressa ao seu ambiente, mas volta mudado e com Jesus. O seu zelo apostólico não começa num lugar novo, puro, num lugar ideal, distante, mas lá, começa onde vive, com as pessoas que conhece. Eis a mensagem para nós: não devemos esperar ser perfeitos e ter percorrido um longo caminho atrás de Jesus para dar testemunho d’Ele; o nosso anúncio começa hoje, lá onde vivemos. E não começa procurando convencer os outros, convencer não: mas testemunhando todos os dias a beleza do Amor que olhou para nós e nos fez levantar e será esta beleza, comunicar esta beleza que convencerá as pessoas, não comunicar a nós, mas o Senhor. Somos aqueles que anunciam o Senhor, não anunciamos a nós mesmos, nem anunciamos um partido político, uma ideologia, não: anunciamos Jesus. É preciso pôr Jesus em contato com as pessoas, sem as convencer, mas deixar que o Senhor convença. Com efeito, como nos ensinou o Papa Bento XVI, «a Igreja não faz proselitismo. Ao contrário, ela desenvolve-se por atração» (Homilia na Missa de Inauguração da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Aparecida, 13 de maio de 2007). Não esqueçais isto: quando virdes cristãos que fazem proselitismo, que fazem uma lista de gente que venha… estes nãos são cristãos, são pagãos disfarçados de cristãos mas o coração é pagão. A Igreja não cresce por proselitismo, cresce por atração. Recordo que certa vez num hospital de Buenos Aires foram embora as religiosas que ali trabalhavam porque eram poucas e não podiam levar em frente o hospital e veio uma comunidade de irmãs da Coreia e chegaram, pensemos por exemplo numa segunda-feira, não me lembro o dia. Tomaram posse da casa das religiosas do hospital e na terça-feira desceram para visitar os doentes, mas não falavam uma palavra em espanhol, falavam apenas o coreano e os doentes estavam felizes, pois comentavam: “Ótimas estas religiosas, boas, excelentes” – Mas o que te disse a irmã? “Nada, mas com o olhar falou-me, comunicou-me Jesus”. Não comuniquemos a nós mesmos, mas com o olhar, com os gestos, comuniquemos Jesus. Esta é a atração, o contrário do proselitismo.

Este testemunho atraente, este testemunho jubiloso é a meta para a qual Jesus nos conduz com o seu olhar de amor e com o movimento em saída que o seu Espírito suscita no coração. E podemos pensar se o nosso olhar se assemelha ao de Jesus para atrair as pessoas, para aproximar à Igreja. Pensemos nisto.

Papa Francisco 
(Audiência Geral, 11 de janeiro de 2023)

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