QUARESMA PASSO A PASSO - 2025
Segunda-feira II da Quaresma – dia 17/03/2025
Evangelho Lc 6, 36-38
«Não julgueis e não serei julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados.»
É comum, no nosso dia a dia, que necessitemos de emitir juízos de valor. Como pais de família, como cidadãos e como cristãos batizados, consciente ou inconscientemente, condenamos, recriminamos,... certas posturas e outras situações. Portanto, o “não julgueis” não pode servir de álibi para aqueles que cometem injustiça na emissão desses juízos . A admoestação do Senhor está muito mais ligada à maneira como fazemos, “à medida com que medimos”. Erróneo seria sermos duros com os outros e benévolos com os nossos próprios erros. Que o Senhor nos dê a sabedoria para não nos eximirmos de emitir juízos corretos, pautados pela misericórdia.
Jesus acaba de anunciar a sua paixão (este é o terceiro anúncio, dos três relatados por Mateus, Marcos e Lucas), e os seus discípulos só pensam em honrarias e cargos de destaque.
Ainda não tinham compreendido que o reino anunciado por Jesus não segue os esquemas humanos. Diante do pedido dos filhos de Zebedeu, Jesus mostra-lhes que o importante no Reino não é ter um lugar de honra, mas segui-l'O no seu caminho de entrega e serviço.
in site Ignatiana - Jesuítas Brasil
"Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á: deitar-vos-ão no regaço uma boa medida, calcada, sacudida, a transbordar. A medida que usardes com os outros será usada também convosco»."
Pecador a necessitar de conversão neste tempo de Quaresma, percebo, ao escutar atentamente a voz de Deus, que preciso de: enfrentar a realidade, reconhecer os meus pecados, não sacudir as culpas para cima dos outros nem da situação geral, como se fosse inocente. É tempo de assumir a minha culpa, pessoal e coletiva, perceber a profundidade e extensão do meu pecado, para que a misericórdia de Deus venha sobre mim e me salve. O primeiro passo é mesmo ouvir a voz de Deus que fala nos profetas.
Não me julgues, Senhor, pelos meus pecados. Não recordes as minhas faltas. Na minha miséria vem em meu auxílio com a Tua misericórdia e salva-me perdoando os meus pecados. Que eu possa estar na Tua presença com tranquilidade de coração e encontrar em Ti acolhimento e aprender de Ti que és manso e humilde de coração, sempre pronto a compadecer-Te de mim.
Avé Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre Jesus.Santa Maria, Mãe de Deus, rogais por nós pecadores agora e na hora da nossa morte. Ámen.
Bom dia, estimados irmãos e irmãs!
Ouvimos o trecho do Evangelho de Lucas (6, 36-38), do qual foi tirado o lema do Ano Santo Extraordinário - 2015/2016: Misericordiosos como o Pai. A expressão completa é: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (v. 36). Não se trata de um slogan de efeito, mas de um compromisso de vida. Para compreender bem esta expressão, podemos confrontá-la com a paralela do Evangelho de Mateus, onde Jesus diz: «Sede, pois, perfeitos como é perfeito o vosso Pai que está nos Céus» (5, 48). No chamado sermão da montanha, que começa com as Bem-Aventuranças, o Senhor ensina que a perfeição consiste no amor, cumprimento de todos os preceitos da Lei. Nesta mesma ótica, são Lucas explicita que a perfeição é o amor misericordioso: ser perfeito significa ser misericordioso. Alguém que não é misericordioso é perfeito? Não! É boa a pessoa que não é misericordiosa? Não! A bondade e a perfeição radicam-se na misericórdia. Sem dúvida, Deus é perfeito. No entanto, se o considerarmos assim, para os homens será impossível tender para esta perfeição absoluta. Contudo, tê-lo diante dos olhos como misericordioso permite-nos entender melhor em que consiste a sua perfeição, impelindo-nos a ser como Ele, cheios de amor, compaixão, misericórdia. Mas questiono-me: são realistas as palavras de Jesus? É realmente possível amar como Deus ama, ser misericordioso como Ele?
Se olharmos para a história da salvação, veremos que toda a revelação de Deus é um amor incessante e incansável pelos homens: Deus é como um pai ou como uma mãe que ama com um amor insondável, derramando-o copiosamente sobre cada criatura. A morte de Jesus na cruz é o ápice da história de amor de Deus pelo homem. Um amor tão grande que só Deus o pode concretizar. É evidente que, comparado com este amor desmedido, o nosso amor será sempre imperfeito. Mas quando Jesus nos pede para ser misericordiosos como o Pai, não pensa na quantidade! Pede aos seus discípulos que se tornem sinal, canais, testemunhas da sua misericórdia.
E a Igreja não pode deixar de ser sacramento da misericórdia de Deus no mundo, em todos os tempos e para a humanidade inteira. Portanto, cada cristão está chamado a ser testemunha da misericórdia, e isto acontece no caminho da santidade. Pensemos em quantos santos se tornaram misericordiosos porque deixaram que seus corações se enchessem de misericórdia divina. Deram corpo ao amor do Senhor, derramando-o nas múltiplas necessidades da humanidade sofredora. Neste florescer de tantas formas de caridade é possível entrever os reflexos da face misericordiosa de Cristo.
Interroguemo-nos: para os discípulos, o que significa ser misericordiosos? Jesus explica-o com dois verbos: «perdoar» (v. 37) e «doar» (v. 38).
A misericórdia exprime-se antes de tudo no perdão: «Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados» (v. 37). Jesus não tenciona subverter o curso da justiça humana, mas recorda aos discípulos que para manter relações fraternas é preciso suspender o juízo e a condenação. Com efeito, o perdão é o pilar que sustenta a vida da comunidade cristã, porque é nele que se manifesta a gratuitidade do amor com que Deus nos amou primeiro. O cristão deve perdoar! Mas porquê? Porque foi perdoado. Todos nós que estamos hoje aqui, na praça, fomos perdoados. Todos nós, na nossa vida, tivemos necessidade do perdão de Deus. E dado que fomos perdoados, devemos perdoar. Recitamos todos os dias no Pai-Nosso: «Perdoai-nos os nossos pecados, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido». Ou seja, perdoar as ofensas, perdoar tantas coisas, porque nós fomos perdoados de tantas ofensas, de tantos pecados. Assim, é fácil perdoar: se Deus me perdoou, por que razão não devo perdoar os outros? São maiores do que Deus? Este pilar do perdão mostra-nos a gratuitidade do amor de Deus, que nos amou primeiro. É errado julgar e condenar o irmão que peca. Não porque não queremos reconhecer o pecado, mas porque condenar o pecador interrompe o vínculo de fraternidade com ele e despreza a misericórdia de Deus, que no entanto não quer renunciar a nenhum dos seus filhos. Não temos o poder de condenar o nosso irmão que erra, não estamos acima dele: ao contrário, temos o dever de o resgatar para a dignidade de filho do Pai e de o acompanhar no seu caminho de conversão.
À sua Igreja, a nós, Jesus indica também um segundo pilar: «doar». Perdoar é o primeiro pilar; doar é o segundo. «Dai e ser-vos-á dado [...] também vós sereis julgados segundo a medida com a qual medirdes» (v. 38). Deus doa muito além dos nossos méritos, mas será ainda mais generoso com quantos, aqui na terra, tiverem sido generosos. Jesus não diz o que acontecerá com quantos não doam, mas a imagem da «medida» constitui uma admoestação: com a medida do amor que dermos, somos nós mesmos que decidimos como seremos julgados, como seremos amados. Observando bem, há uma lógica coerente: na medida em que se recebe de Deus, dá-se ao irmão; e na medida em que se dá ao irmão, recebe-se de Deus!
Por isso, o amor misericordioso é o único caminho a percorrer. Quanta necessidade temos todos nós de ser um pouco mais misericordiosos, de não falar mal do próximo, de não julgar, de não «depenar» os outros com críticas, invejas e ciúmes. Devemos perdoar, ser misericordiosos, viver a nossa existência no amor. Este amor permite que os discípulos de Jesus não percam a identidade recebida dele, reconhecendo-se como filhos do mesmo Pai. Assim, no amor que eles puserem em prática na vida reflete-se a Misericórdia que não conhece ocaso (cf. 1 Cor 13, 1-12). Mas não nos esqueçamos disto: misericórdia e dom; perdão e dom. É assim que o coração se dilata, abrindo-se ao amor. Ao contrário, o egoísmo e a raiva reduzem o coração, que se endurece como uma pedra. O que preferis, um coração de pedra ou um coração repleto de amor? Se escolherdes um coração cheio de amor, sede misericordiosos!
Sem comentários:
Enviar um comentário