segunda-feira, 24 de março de 2025

 QUARESMA PASSO A PASSO - 2025

SOLENIDADE DA ANUNCIAÇÃO DO SENHOR

 

Terça-feira III da Quaresma – dia 18 –25/03/2025

Evangelho Lc 1, 26-38

«Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.»

Não há outro dia na Liturgia, que possa ser comparado ao anúncio que hoje celebramos. Alguém poderia indagar: “E a Páscoa?”. Sim, é verdade, a Páscoa é a nossa certeza da ressurreição. Mas, para quem acreditou até ao fim na Anunciação do anjo, a Páscoa seria uma consequência lógica: não seria possível que a morte prendesse para sempre o Filho de Deus. Ao tomarmos a sério e com profundidade o anúncio do anjo, descobrimos que nada nos pode afastar de Deus. Ele veio morar connosco, “armou a sua tenda entre nós”. Desde que o anjo nos anunciou a vinda do “Emanuel”, tudo o mais é uma espera confiante. Quem crê que Deus está presente sabe que a morte “não terá a ultima palavra”. Nós cremos e confiamos que o Menino Deus está connosco e que nem a morte, nem a vida nos poderão separar do Seu Amor.

in site Ignatiana - Jesuítas, Brasil

"Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?». O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra»."

Para Ti, Senhor, nada é impossível. Entras na minha vida e fazes morada em mim com o poder do Teu amor. Perante a Tua força não posso resistir nem colocar obstáculos. Senhor, dá-me a lucidez de Maria para poder dizer com verdade, “faça-se em mim segundo a Tua vontade”.

www.aliturgia.com

Avé-Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte. Ámen.

Acabamos de ouvir o anúncio mais importante da nossa história: a anunciação a Maria (cf. Lc 1, 26-38). Um trecho denso, cheio de vida, e que gosto de ler à luz de outro anúncio: o do nascimento de João Batista (cf. Lc 1, 5-20). Dois anúncios que se seguem e que estão unidos; dois anúncios que, se forem comparados, nos mostram aquilo que Deu nos doa no seu Filho.

A anunciação de João Batista ocorre quando Zacarias, sacerdote, pronto para dar início à ação litúrgica, entra no Santuário do Templo, enquanto toda a assembleia está do lado de fora, à espera. Ao contrário, a anunciação de Jesus realiza-se num lugar remoto da Galileia, numa cidade periférica e com uma fama não particularmente boa (cf. Jo 1, 46), no anonimato da casa de uma jovem de nome Maria.

Um contraste não irrelevante, que nos indica que o novo Templo de Deus, o novo encontro de Deus com o seu povo, terá lugar em locais onde normalmente não esperamos, às margens, na periferia. Ali se marcará o encontro, ali se encontrarão; ali Deus se fará carne para caminhar connosco desde o seio da sua Mãe. Já não será um lugar reservado a poucos, enquanto a maioria permanece fora, à espera. Nada e ninguém lhe será indiferente, nenhuma situação será privada da sua presença: a alegria da salvação tem início na vida quotidiana da casa de uma jovem de Nazaré.

O próprio Deus é Aquele que toma a iniciativa e escolhe inserir-se, como fez com Maria, nas nossas casas, nas nossas lutas do dia a dia, repletas de ansiedades e, ao mesmo tempo, de desejos. E é precisamente dentro das nossas cidades, das nossas escolas e universidades, das praças e dos hospitais que se cumpre o anúncio mais bonito que podemos ouvir: «Alegra-te, o Senhor está contigo!». Uma alegria que gera vida, que gera esperança, que se faz carne no modo em como olhamos para o porvir, na atitude com que olhamos para os outros. Uma alegria que se torna solidariedade, hospitalidade, misericórdia para com todos.

Como Maria, também nós podemos estar desorientados. «Como acontecerá isto» em tempos com tanta especulação? Especula-se sobre a vida, sobre o trabalho, sobre a família. Especula-se sobre os pobres e os migrantes; especula-se sobre os jovens e o seu futuro. Tudo parece reduzir-se a números, deixando, por outro lado, que a vida diária de muitas famílias se tinja de precariedade e de insegurança. Enquanto a dor bate em muitas portas, enquanto cresce a insatisfação de numerosos jovens pela falta de oportunidades reais, a especulação abunda em todos os lados.

Certamente, o ritmo vertiginoso a que estamos submetidos parece roubar-nos a esperança e a alegria. As pressões e a impotência perante muitas situações parece que nos tornam áridos e insensíveis diante dos inúmeros desafios. E paradoxalmente quando tudo se acelera para construir — em teoria — uma sociedade melhor, no final não se tem tempo para nada e para ninguém. Perdemos o tempo para a família, para a comunidade, para a amizade, para a solidariedade e para a memória.

Far-nos-á bem questionar-nos: como é possível viver a alegria do Evangelho hoje nas nossas cidades? É possível a esperança cristã nesta situação, aqui e agora?

Estas duas perguntas referem-se à nossa identidade, à vida das nossas famílias, dos nossos países e das nossas cidades. Mexem com a vida dos nossos filhos, dos nossos jovens e exigem da nossa parte um novo modo de nos situar na história. Se a alegria e a esperança cristã continuam a ser possíveis, não podemos, não queremos permanecer diante de tantas situações dolorosas como meros espetadores que olham para o céu esperando que «deixe de chover”. Tudo o que acontece exige que olhemos para o presente com audácia, com a audácia de quem sabe que a alegria da salvação adquire forma na vida quotidiana da casa de uma jovem de Nazaré.

Diante desta desorientação de Maria, perante as nossas desorientações, são três as chaves que o Anjo nos oferece para nos ajudar a aceitar a missão que nos é confiada.

1. Evocar a Memória

A primeira coisa que o Anjo faz é evocar a memória, abrindo assim o presente de Maria a toda a história da Salvação. Evoca a promessa feita a David como fruto da aliança com Jacó. Maria é filha da Aliança. Também nós hoje somos convidados a fazer memória, a olhar para o nosso passado para não esquecer de onde viemos. Para não nos esquecermos dos nossos antepassados, dos nossos avós e de tudo aquilo que passaram para chegar onde estamos hoje. Esta terra e a sua gente conheceram a dor das duas guerras mundiais; e, por vezes, viram a sua merecida fama de laboriosidade e civilização contaminada por ambições desregradas. A memória ajuda-nos a não permanecer prisioneiros de discursos que semeiam ruturas e divisões como único modo para resolver os conflitos. Evocar a memória é o melhor antídoto que temos à nossa disposição diante das soluções mágicas da divisão e da alienação.

2. A pertença ao Povo de Deus

A memória permite que Maria se aproprie da sua pertença ao Povo de Deus. Faz-nos bem recordar que somos membros do Povo de Deus! Milaneses, sim, Ambrosianos, sem dúvida, mas parte do grande Povo de Deus. Um povo formado por mil rostos, histórias e proveniências, um povo multicultural e multiétnico. Esta é uma das nossas riquezas. É um povo chamado a acolher as diferenças, a integrá-las com respeito e criatividade e a celebrar a novidade que provém dos outros; é um povo que não tem medo de abraçar os confins, as fronteiras; é um povo que não tem medo de acolher quem necessita porque sabe que ali está presente o seu Senhor.

3. A possibilidade do impossível

«Nada é impossível a Deus» (Lc 1, 37): assim termina a resposta do Anjo a Maria. Quando acreditamos que tudo depende exclusivamente de nós permanecemos prisioneiros das nossas capacidades, das nossas forças, dos nossos horizontes míopes. Quando, pelo contrário, nos dispomos a deixar-nos ajudar, aconselhar, quando nos abrimos à graça, parece que o impossível começa a tornar-se realidade. Sabem bem isto estas terras que, ao longo da sua história, geraram muitos carismas, muitos missionários, muitas riquezas para a vida da Igreja! Numerosos rostos que, superando o pessimismo estéril e divisor, se abriram à iniciativa de Deus e se tornaram sinal de quão fecunda possa ser uma terra que não se deixa fechar nas próprias ideias, limites e capacidades e se abre aos outros.

Como ontem, Deus continua a procurar aliados, continua a procurar homens e mulheres capazes de acreditar, capazes de fazer memória, de se sentirem parte de seu povo para cooperar com a criatividade do Espírito. Deus continua a percorrer os nossos bairros e as nossas ruas, vai a todos os lugares em busca de corações capazes de escutar o seu convite e de o fazer tornar-se carne aqui e agora. Parafraseando Santo Ambrósio no seu comentário a este trecho podemos dizer: Deus continua a procurar corações como o de Maria, dispostos a acreditar até em condições absolutamente extraordinárias (cfr. Exposição do Evangelho segundo Lucas II, 17: pl 15, 1559). Que o senhor faça crescer em nós esta fé e esta esperança.

Papa Francisco 
(Homilia na Solenidade da Anunciação do Senhor 
Parque de Monza, 25 de março de 2017)

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