sexta-feira, 28 de março de 2025

 QUARESMA PASSO A PASSO - 2025

Sábado III da Quaresma – dia 22 – 28/03/2025

Evangelho Lc 18, 9-14

"Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado»."

Não se pode confundir Deus com o homem nem reduzi-lo à medida das nossas ideias e ações. Deus é um Deus de misericórdia, está próximo do homem e pode ser conhecido. Se é verdade que usa a sua palavra para ferir, atingir, “matar” o homem, Ele também cura, trata as feridas e resplandece como luz para o homem. Com Deus o homem não pode ter uma relação ritualista, exterior, superficial. Ele não quer sacrifícios nem holocaustos, quer o coração, o amor, quer o homem. O homem é como nevoeiro da manhã, como orvalho da madrugada, nas suas relações com Deus. Deus não é assim, Ele é como a aguaceiro de outono e a chuva de primavera que empapa a terra e a fecunda e convida o homem a ser assim. Três dias é quanto basta para transformar a realidade do homem na realidade de Deus. (Leitura I Os 6, 1-6)

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"Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo quanto possuo’. O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’. Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado»."

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho da Liturgia de hoje apresenta-nos uma parábola que tem dois protagonistas, um fariseu e um publicano (cf. Lc 18, 9-14), ou seja, um homem religioso e um pecador confesso. Ambos sobem ao templo para rezar, mas só o publicano se eleva verdadeiramente a Deus, porque humildemente desce à verdade de si mesmo e se apresenta como é, sem máscaras, com a sua pobreza. Poderíamos então dizer que a parábola se situa entre dois movimentos, expressos por dois verbos: subir descer.

O primeiro movimento é subir. Na verdade, o texto começa dizendo: «Dois homens subiram ao templo para rezar» (v. 10). Este aspeto recorda muitos episódios da Bíblia, nos quais para encontrar o Senhor se sobe à montanha da sua presença: Abraão sobe a montanha para oferecer o sacrifício; Moisés sobe ao Sinai para receber os mandamentos; Jesus sobe à montanha, onde é transfigurado. Portanto, subir exprime a necessidade do coração de se desligar de uma vida monótona para ir ao encontro do Senhor; de se erguer das planícies do nosso ego para ascender até Deus - livrar-se do próprio eu; de recolher o que vivemos no vale para o levar perante o Senhor. Isto é “subir”, e quando rezamos, ascendemos.

Mas para vivermos o encontro com Ele e sermos transformados pela oração, para nos elevarmos a Deus, precisamos do segundo movimento: descer. Porquê? O que significa isto? Para ascender até Ele devemos descer dentro de nós: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre as nossas fragilidades e as nossas pobrezas interiores. Com efeito, na humildade tornamo-nos capazes de levar a Deus, sem fingimento, o que realmente somos, as limitações e feridas, os pecados, as misérias que pesam sobre o nosso coração, e de invocar a sua misericórdia para que nos cure, nos sare, nos levante. É Ele quem nos ergue, não nós. Quanto mais descermos com humildade, mais Deus nos elevará.

De facto, o publicano na parábola pára humildemente à distância (cf. v. 13) - não se aproxima, envergonha-se -, pede perdão, e o Senhor eleva-o. Ao contrário, o fariseu exalta-se, seguro de si, convencido de que está bem: ali parado, começa a falar apenas de si mesmo ao Senhor, elogiando-se, enumerando todas as boas obras religiosas que pratica, e despreza os outros: “Não sou como aquele ali...”. Porque a soberba espiritual faz isso – “Mas padre, por que nos fala de soberba espiritual?”. Porque todos nós corremos o risco de cair nisto. Ela leva-nos a pensar que somos bons e a julgar os outros. Esta é a soberba espiritual: “Estou bem, sou melhor que os outros: isto é a tal coisa, aquele é a outra…”. E assim, sem nos darmos conta, adoramos o nosso eu e cancelamos o nosso Deus. É rodar em volta de si mesmo. É a oração sem humildade.

Irmãos, irmãs, o fariseu e o publicano dizem-nos respeito de perto. Pensando neles, olhemos para nós mesmos: verifiquemos se em nós, como no fariseu, existe «a íntima presunção de ser justo» (v. 9) que nos leva a desprezar os outros. Acontece, por exemplo, quando procuramos elogios e enumeramos sempre os nossos méritos e boas obras, quando nos preocupamos em aparecer em vez de ser, quando nos deixamos apanhar pelo narcisismo e pelo exibicionismo. Vigiemos sobre o narcisismo e o exibicionismo, fundados na vanglória, que também nos leva a nós cristãos, nós sacerdotes, nós bispos a ter sempre uma palavra nos lábios, qual palavra? “Eu”: “eu fiz isto, eu escrevi aquilo, eu disse, eu compreendi-o antes de vós”, e assim por diante. Onde há muito eu, há pouco Deus. Na minha terra estas pessoas são chamadas “eu-comigo para-mim só-eu”, este é o nome dessas pessoas. E uma vez falava-se de um sacerdote que era assim, centrado em si mesmo, e as pessoas brincavam, dizendo: “Ele quando faz a incensação, fá-la em volta de si, incensa-se”. Assim, faz com que caias até no ridículo.

Peçamos a intercessão de Maria Santíssima, a humilde serva do Senhor, imagem viva do que o Senhor gosta de realizar, derrubando os poderosos dos tronos e elevando os humildes (cf. Lc 1, 52).

Papa Francisco 
(Angelus23 de outubro de 2022)

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre Jesus.

Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte. Ámen.

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