QUARESMA PASSO A PASSO - 2025
Sábado III da Quaresma – dia 22 – 28/03/2025
Evangelho Lc 18, 9-14
"Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado»."
Não se pode confundir Deus com o homem nem reduzi-lo à medida das nossas
ideias e ações. Deus é um Deus de misericórdia, está próximo do homem e pode
ser conhecido. Se é verdade que usa a sua palavra para ferir, atingir, “matar”
o homem, Ele também cura, trata as feridas e resplandece como luz para o homem.
Com Deus o homem não pode ter uma relação ritualista, exterior, superficial.
Ele não quer sacrifícios nem holocaustos, quer o coração, o amor, quer o homem.
O homem é como nevoeiro da manhã, como orvalho da madrugada, nas suas relações
com Deus. Deus não é assim, Ele é como a aguaceiro de outono e a chuva de
primavera que empapa a terra e a fecunda e convida o homem a ser assim. Três
dias é quanto basta para transformar a realidade do homem na realidade de
Deus. (Leitura I Os 6, 1-6)
"Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se
consideravam justos e desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao templo
para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim:
‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões,
injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e
pago o dízimo de tudo quanto possuo’. O publicano ficou a distância e nem
sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: ‘Meu
Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’. Eu vos digo que este desceu
justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será
humilhado e quem se humilha será exaltado»."
Estimados
irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia de hoje
apresenta-nos uma parábola que tem dois protagonistas, um fariseu e um
publicano (cf. Lc 18, 9-14), ou seja, um homem religioso e um
pecador confesso. Ambos sobem ao templo para rezar, mas só o publicano se eleva
verdadeiramente a Deus, porque humildemente desce à verdade de si mesmo e se
apresenta como é, sem máscaras, com a sua pobreza. Poderíamos então dizer que a
parábola se situa entre dois movimentos, expressos por dois verbos: subir e descer.
O primeiro movimento é subir.
Na verdade, o texto começa dizendo: «Dois homens subiram ao templo para rezar»
(v. 10). Este aspeto recorda muitos episódios da Bíblia, nos quais para
encontrar o Senhor se sobe à montanha da sua presença: Abraão sobe a montanha
para oferecer o sacrifício; Moisés sobe ao Sinai para receber os mandamentos;
Jesus sobe à montanha, onde é transfigurado. Portanto, subir exprime a
necessidade do coração de se desligar de uma vida monótona para ir ao encontro
do Senhor; de se erguer das planícies do nosso ego para ascender até Deus -
livrar-se do próprio eu; de recolher o que vivemos no vale para o levar perante
o Senhor. Isto é “subir”, e quando rezamos, ascendemos.
Mas para vivermos o encontro
com Ele e sermos transformados pela oração, para nos elevarmos a Deus,
precisamos do segundo movimento: descer. Porquê? O que significa
isto? Para ascender até Ele devemos descer dentro de nós: cultivar a
sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre as
nossas fragilidades e as nossas pobrezas interiores. Com efeito, na humildade
tornamo-nos capazes de levar a Deus, sem fingimento, o que realmente somos, as
limitações e feridas, os pecados, as misérias que pesam sobre o nosso coração,
e de invocar a sua misericórdia para que nos cure, nos sare, nos levante. É Ele
quem nos ergue, não nós. Quanto mais descermos com humildade, mais Deus nos
elevará.
De facto, o publicano na
parábola pára humildemente à distância (cf. v. 13) - não se aproxima,
envergonha-se -, pede perdão, e o Senhor eleva-o. Ao contrário, o fariseu
exalta-se, seguro de si, convencido de que está bem: ali parado, começa a falar
apenas de si mesmo ao Senhor, elogiando-se, enumerando todas as boas obras
religiosas que pratica, e despreza os outros: “Não sou como aquele ali...”.
Porque a soberba espiritual faz isso – “Mas padre, por que nos fala de soberba
espiritual?”. Porque todos nós corremos o risco de cair nisto. Ela leva-nos a
pensar que somos bons e a julgar os outros. Esta é a soberba espiritual: “Estou
bem, sou melhor que os outros: isto é a tal coisa, aquele é a outra…”. E assim,
sem nos darmos conta, adoramos o nosso eu e cancelamos o nosso Deus. É rodar em
volta de si mesmo. É a oração sem humildade.
Irmãos, irmãs, o fariseu e o
publicano dizem-nos respeito de perto. Pensando neles, olhemos para nós mesmos:
verifiquemos se em nós, como no fariseu, existe «a íntima presunção de ser
justo» (v. 9) que nos leva a desprezar os outros. Acontece, por exemplo, quando
procuramos elogios e enumeramos sempre os nossos méritos e boas obras, quando
nos preocupamos em aparecer em vez de ser, quando nos deixamos apanhar pelo
narcisismo e pelo exibicionismo. Vigiemos sobre o narcisismo e o exibicionismo,
fundados na vanglória, que também nos leva a nós cristãos, nós sacerdotes, nós
bispos a ter sempre uma palavra nos lábios, qual palavra? “Eu”: “eu fiz isto,
eu escrevi aquilo, eu disse, eu compreendi-o antes de vós”, e assim por diante.
Onde há muito eu, há pouco Deus. Na minha terra estas pessoas são chamadas
“eu-comigo para-mim só-eu”, este é o nome dessas pessoas. E uma vez falava-se
de um sacerdote que era assim, centrado em si mesmo, e as pessoas brincavam,
dizendo: “Ele quando faz a incensação, fá-la em volta de si, incensa-se”.
Assim, faz com que caias até no ridículo.
Peçamos a intercessão de Maria
Santíssima, a humilde serva do Senhor, imagem viva do que o Senhor gosta de
realizar, derrubando os poderosos dos tronos e elevando os humildes (cf. Lc 1,
52).
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa
morte. Ámen.
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