QUARESMA PASSO A PASSO - 2025
Segunda-feira III da Quaresma – dia 17 –24/03/2025
Evangelho Lc 4, 24-30
«Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra.»;
«Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho.»
Jesus, logo no início da sua missão, visitou os seus concidadãos da aldeia de Nazaré, onde ele viveu cerca de trinta anos, e foi por eles rejeitado. (...) Infelizmente, os judeus tinham como certo que o Messias, quando viesse à terra, seria um rei forte, cheio de poder, que marcharia à frente de um poderoso exército. Assim, também tinham a ideia de que ele teria uma corte, com os seus ministros à frente com toda a pompa, revestidos de preciosos trajes, com vistosos e luxuosos tecidos... Ora, Jesus não se apresentou desse modo, mas como aquele que veio trazer alegria, presença, proximidade, convivência, humanismo, conforme ele leu a seu próprio respeito no Livro de Isaías (61, 1ss). Mais tarde, o Messias ensinar-nos-ia que ele está onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome: Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou no meio deles (Mt 18, 20).
in site Ignatiana - Jesuítas Bras
"Naquele tempo, Jesus veio a Nazaré e falou ao povo na sinagoga, dizendo: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra. Digo-vos a verdade: Havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta, na região da Sidónia. Havia em Israel muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu; contudo, nenhum deles foi curado, mas apenas o sírio Naamã». Ao ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na sinagoga. Levantaram-se, expulsaram Jesus da cidade e levaram-n’O até ao cimo da colina sobre a qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo. Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho."
Jesus, hoje, diz-me a mim que o facto de O conhecer e até de ser batizado não me confere nenhum estatuto especial se, a par disso, eu não fizer um verdadeiro acolhimento da Sua Pessoa e não fizer uma verdadeira conversão interior. Corro o risco de me revoltar e querer atirar para fora da minha vida Aquele em quem digo acreditar só porque Ele não se identifica com os critérios que eu defini que Ele devia ter na minha vida.
Tu não és como eu quero nem a Tua vontade se identifica com a minha. Aceitar-Te e aceitar os Teus critérios não me é fácil, Senhor. Muitas vezes corro o mesmo risco das pessoas de Nazaré, querendo que Tu sejas, faças e digas o que me agrada. Ensina-me, Senhor, a perceber os Teus critérios para que viva de acordo com a Tua proposta de salvação e deixe que me cures e me sacies no mais íntimo de mim mesmo.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte. Ámen.
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Na liturgia de hoje, o Evangelho narra a primeira pregação de Jesus na sua cidade, Nazaré. O êxito é amargo: em vez de receber aprovação, Jesus encontra incompreensão e até hostilidade (cf. Lc 4, 21-30). Os seus concidadãos, mais do que uma palavra de verdade, queriam milagres, sinais prodigiosos. O Senhor não os realiza e eles rejeitam-no, pois dizem que já o conheciam desde criança, que é o filho de José (cf. v. 22) e outras coisas mais. Então, Jesus pronunciou uma frase que se tornou proverbial: «Nenhum profeta é bem aceite na sua pátria» (v. 24).
Estas palavras revelam que o fracasso para Jesus não foi totalmente inesperado. Conhecia o seu povo, conhecia o coração do seu povo, conhecia o risco que estava a correr e previa a rejeição. Então podemos perguntar-nos: se é assim, se previa o fracasso, por que foi à sua cidade? Por que fazer o bem a pessoas que não estão dispostas a aceitá-lo? É uma pergunta que nos fazemos com frequência. Contudo, é uma questão que nos ajuda a compreender melhor a Deus. Face aos nossos fechamentos, ele não retrocede: não põe limites ao seu amor. Perante os nossos fechamentos, ele vai em frente. Vemos um reflexo disto nos pais que estão conscientes da ingratidão dos filhos, mas não deixam de os amar e de lhes fazer o bem. Deus é assim, mas a um nível muito mais elevado. E hoje também nos convida a acreditar no bem, a nunca deixar de procurar fazer o bem.
Mas no que aconteceu em Nazaré, encontramos outro aspeto: a hostilidade para com Jesus por parte dos “seus” provoca-nos: eles não foram acolhedores, e nós? Para verificar isto, vejamos os modelos de acolhimento que Jesus propõe hoje, aos seus concidadãos e a nós. São dois estrangeiros: uma viúva de Sarepta, na Sidónia, e Naamã, o sírio. Ambos acolheram profetas: a primeira acolheu Elias, o segundo Eliseu. Mas não foi uma receção fácil, passou através de experiências. A viúva hospedou Elias, apesar da carestia e embora o profeta fosse perseguido (cf. 1 Rs 17, 7-16), era um perseguido político-religioso. Naamã, por sua vez, não obstante fosse uma pessoa de nível muito elevado, aceitou o pedido do profeta Eliseu, que o levou a humilhar-se, a banhar-se sete vezes num rio (cf. 2 Rs 5, 1-14), como se fosse uma criança ignorante. A viúva e Naamã, em suma, acolheram através da disponibilidade e da humildade. O modo de acolher Deus é estar sempre disponível, acolhê-lo e ser humilde. A fé passa por isto: disponibilidade e humildade. A viúva e Naamã não rejeitaram os caminhos de Deus e dos seus profetas; foram dóceis, não rígidos nem fechados.
Irmãos e irmãs, Jesus também segue o caminho dos profetas: apresenta-se como não o esperaríamos. Aqueles que procuram milagres não os encontrarão – se procurarmos milagres não encontraremos Jesus – aqueles que procuram novas sensações, experiências íntimas, coisas estranhas; aqueles que procuram uma fé feita de poder e de sinais exteriores não O encontrarão. Não, eles não O encontrarão. Apenas aqueles que aceitam os seus caminhos e desafios, sem queixas, sem suspeitas, sem críticas nem caras feias, O encontrarão. Jesus, por outras palavras, pede-nos que O acolhamos na realidade quotidiana que vivemos; na Igreja de hoje, como ela é; naqueles que estão próximos todos os dias; na vida concreta dos necessitados, nos problemas das nossas famílias, nos pais, nos filhos, nos avós, ali acolhemos Deus. Ali está ele, convidando-nos a purificar-nos no rio da disponibilidade e em muitos banhos saudáveis de humildade. Precisamos de humildade para encontrar Deus, para nos deixarmos encontrar por Ele.
E nós, somos acolhedores ou parecidos com os seus concidadãos, que pensavam saber tudo sobre ele? “Estudei teologia, fiz o curso de catequese... Sei tudo sobre Jesus!”. Sim, como um estulto! Não sejas estúpido, não conheces Jesus. Talvez, após tantos anos de fé, pensemos que conhecemos bem o Senhor, muitas vezes com as nossas ideias e julgamentos. O risco é acostumar-nos, acostumar-nos a Jesus. E como nos habituamos? Fechando-nos, fechando-nos à Sua novidade, ao momento em que Ele bate à porta e nos diz algo novo, Ele quer entrar em nós. Devemos sair deste permanecer fixados nas nossas posições. O Senhor pede uma mente aberta e um coração simples. E quando uma pessoa tem uma mente aberta, um coração simples, tem a capacidade de se surpreender, de se maravilhar. O Senhor surpreende-nos sempre, esta é a beleza do encontro com Jesus. Que Nossa Senhora, modelo de humildade e disponibilidade, nos mostre o caminho para acolher Jesus.
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