SEMANA VI DO TEMPO PASCAL- 2022
Quarta-feira VI da Páscoa - 25.05.2022
Evangelho Jo 16, 12-15
«Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena»
Estamos sob a promessa de um novo
ator no grupo dos discípulos de Jesus, o Espírito Santo. Estamos entre dois
mundos, o dos discípulos que não conseguem entender e o de Jesus que já vê
outra realidade. Estamos perante a verdade que Jesus comunicou e a mesma
verdade que será revelada pelo Espírito àqueles que ainda não conseguem
entender. O texto é muito interessante. Fala de uma verdade que não é deste
mundo e, por isso, os que ainda vivem os critérios deste mundo têm dificuldade
em entender. Esta verdade é a revelação da intimidade de Deus que só o Espírito
conhece e só Ele pode revelar. É algo que não se conhece agora, mas no futuro,
quando vier o Espírito, porque só Ele nos pode guiar para a verdade.
Hoje, gostaria
de meditar sobre a ação que o Espírito Santo realiza ao guiar a Igreja e cada
um de nós para a Verdade. O próprio Jesus diz aos discípulos: o Espírito Santo
«ensinar-vos-á toda a verdade» , dado que Ele mesmo é «o
Espírito da Verdade».
Vivemos numa
época em que se é bastante cético em relação à verdade. Bento XVI falou muitas
vezes de relativismo, ou seja, da tendência a considerar que não existe nada de
definitivo e a pensar que a verdade depende do consenso ou daquilo que nós
queremos. Surge a interrogação: existe verdadeiramente «a» verdade? O que é «a»
verdade? Podemos conhecê-la? Conseguimos encontrá-la? Aqui vem ao meu
pensamento a pergunta do Procurador romano Pôncio Pilatos, quando Jesus lhe
revela o sentido profundo da sua missão: «Que é a verdade?». Pilatos não consegue entender que «a» Verdade está diante dele, não
consegue ver em Jesus o rosto da verdade, que é o rosto de Deus. E no entanto,
Jesus é precisamente isto: a Verdade que, na plenitude dos tempos, «se fez
carne», veio habitar no meio de nós para que nós a
conhecêssemos. A verdade não se captura como uma coisa, mas a verdade
encontra-se. Não é uma posse, é um encontro com uma Pessoa.
Mas quem nos
faz reconhecer que Jesus é «a» Palavra da verdade, o Filho unigénito de Deus
Pai? São Paulo ensina que «ninguém pode dizer: “Jesus é o Senhor”, a não ser
sob a ação do Espírito Santo». É precisamente o
Espírito Santo, o dom de Cristo ressuscitado, que nos faz reconhecer a Verdade.
Jesus define-o o «Paráclito», ou seja, «aquele que vem em ajuda», que está ao
nosso lado para nos sustentar, neste caminho de conhecimento; e, durante a
última Ceia, Jesus garante aos discípulos que o Espírito Santo há-de ensinar
todas as coisas, recordando-lhes as suas palavras.
Então, qual é
a ação do Espírito Santo na nossa vida e na existência da Igreja, para nos
guiar rumo à verdade? Antes de tudo, recorda e imprime nos corações dos fiéis
as palavras que Jesus disse e, precisamente através de tais palavras, a lei de
Deus — como tinham anunciado os profetas do Antigo Testamento — inscreve-se no
nosso coração e em nós torna-se princípio de avaliação das escolhas e de
orientação nas obras quotidianas, torna-se princípio de vida. Realiza-se a
grande profecia de Ezequiel: «Derramarei sobre vós águas puras, que vos
purificarão de todas as vossas manchas e de todas as vossas abominações.
Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo... Dentro de vós
colocarei o meu espírito, fazendo com que obedeçais às minhas leis e sigais e
observeis os meus preceitos». Com efeito, é do íntimo de nós mesmos
que nascem as nossas obras: é precisamente o coração que deve converter-se a
Deus, e o Espírito Santo transforma-o, se nós nos abrirmos a Ele.
Além disso o
Espírito Santo, como Jesus promete, orienta-nos «para toda a verdade»; guia-nos não só para o encontro com Jesus, plenitude da Verdade, mas fá-lo
inclusive «dentro» da Verdade, ou seja, faz-nos entrar numa comunhão cada vez
mais profunda com o próprio Jesus, proporcionando-nos a compreensão das
realidades de Deus. E não a podemos alcançar só com as nossas forças. Se Deus
não nos iluminar interiormente, o nosso ser cristãos será superficial. A
Tradição da Igreja afirma que o Espírito da verdade age no nosso coração,
suscitando aquele «sentido da fé» (sensus fidei) através do qual, como
afirma o Concílio Vaticano II, o Povo de Deus, sob a guia do Magistério, adere
indefetivelmente à fé transmitida, aprofunda-a com juízo reto e aplica-a mais
plenamente na vida (cf. Constituição dogmática Lumen gentium, 12). Procuremos
perguntar-nos: estou aberto à acção do Espírito Santo, peço-lhe que me conceda
a luz, que me torne mais sensível às realidades de Deus? (...) Gostaria de dirigir uma
pergunta a todos: quantos de vós rezam todos os dias ao Espírito Santo? Serão
poucos, mas nós temos que satisfazer este desejo de Jesus e rezar todos os dias
ao Espírito Santo, para que abra o nosso coração a Jesus.
Pensemos em
Maria, que «conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração». Para que se torne vida, o acolhimento das palavras e das verdades da fé
realiza-se e desenvolve-se sob a obra do Espírito Santo. Neste sentido, é
necessário aprender de Maria, reviver o seu «sim», a sua disponibilidade total
a receber o Filho de Deus na sua vida, que se transforma a partir daquele
momento. Através do Espírito Santo, o Pai e o Filho passam a habitar em nós:
nós vivemos em Deus e de Deus. Mas a nossa vida é verdadeiramente animada por
Deus? Quantas coisas ponho antes de Deus?
Estimados
irmãos e irmãs, temos necessidade de nos deixarmos inundar pela luz do Espírito
Santo, para que Ele nos introduza na Verdade de Deus, que é o único Senhor da
nossa vida. (...) Interroguemo-nos se,
concretamente, demos alguns passos para conhecer mais Cristo e as verdades da fé,
lendo e meditando a Sagrada Escritura, estudando o Catecismo, frequentando com
constância os Sacramentos. Mas perguntemo-nos, contemporaneamente, que passos
estamos a dar a fim de que a fé oriente toda a nossa existência. Não se é
cristão «a tempo parcial», apenas em determinados momentos, em certas
circunstâncias, nalgumas escolhas. Não se pode ser cristão assim, somos
cristãos em cada momento! Totalmente! A verdade de Cristo, que o Espírito Santo
nos ensina e nos concede, diz respeito sempre e totalmente à nossa vida
quotidiana. Invoquemo-lo mais frequentemente, a fim de que nos oriente pelo
caminho dos discípulos de Cristo. Invoquemo-lo todos os dias. Faço-vos esta
proposta: invoquemos o Espírito Santo todos os dias, e assim o Espírito Santo
aproximar-nos-á de Jesus Cristo.
Esta é uma oração que devemos recitar todos os dias: «Espírito Santo, fazei com que o meu coração permaneça aberto à Palavra de Deus, que o meu coração esteja aberto ao bem, que o meu coração se abra à beleza de Deus todos os dias».
Audiência Geral, 15 de maio de 2013
Papa Francisco
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